O cantor e compositor Jarbas Mariz me apresentou e emprestou um dos livros de José Teles, “Do Frevo ao Manguebeat”, gostei do tema, conteúdo e forma de escrever desse experiente jornalista.
“Do Frevo ao Manguebeat” é um livro que mostra o panorama da música pernambucana e por tabela mostra o intercambio musical entre os músicos paraibanos e pernambucanos. E podemos ter uma ideia da importância musical e cultural pernambucana para o nordeste e para o Brasil.
Tratando de um gênero musical pouco conhecido atualmente por muitos brasileiros e um sinônimo de quem pensa em Pernambuco: O Frevo. E registra a cena musical pernambucana dos anos 60 que viu nascer Alceu Valença, Geraldo Azevedo, Robertinho do Recife, Quinteto Violado e muitos outros. E fecha com chave de ouro com o movimento mangueberat.
Segue abaixo a entrevista exclusiva com José Teles para a www.ritmomelodia.mus.br, entrevistado por Antonio Carlos da Fonseca Barbosa em 01 de setembro de 2005:
01) RitmoMelodia: Faça uma breve apresentação sua. Qual sua cidade de origem, Formação e data de nascimento. E Quando inicio no jornalismo?.
José Teles: Nasci no dia 12.08.1953 em Campina Grande – PB. Registrado como José Teles da Silva Filho. Vivo no Recife – PE desde 1960. Forme-me em jornalismo pela Unicap – Universidade Católica de Pernambuco, escrevo para o Jornal do Commércio desde 1980. Escrevo crítica musical desde 1986. Colaboro com vários jornais e revistas fora de Pernambuco – O Pasquim, Caros Amigos, International Magazine, Bizz, General, Continente Multicultural,entre outras. Como escritor publiquei cerca de 15 livros (não lembro bem) infanto-juvenis, pela Edições Bagaço. E tem outros quatro sobre música pernambucana, e mais participações em outros dois livros de música de Pernambuco. Sou autor de três livros de crônica e também cronista dominical do Jornal do Commércio. E estou atualmente trabalhando numa história do forró.
02) RM: Quando surgiu a ideia de escrever o livro: “Do Frevo ao Manguebeat”?
José Teles: Sempre nutri a ideia de escrever sobre a música pernambucana porque o Estado sempre foi muito forte culturalmente, em todos os sentidos, mas só se conhece o que se passa no Rio de Janeiro ou São Paulo.
03) RM: Você tem outros livros lançados?
José Teles: Vários infanto-juvenis e infantis de ficção, uns outros quatro sobre música pernambucana, e algumas edições especiais da revista Continente Multicultural (uma boa revista aqui de Pernambuco, tipo Bravo).
04) RM: Quais foram as fontes de pesquisa para a elaboração: “Do Frevo ao Manguebeat”?
José Teles: Jornais, entrevistados, discos e a minha vivência também.
05) RM: Houver alguma fonte, personagem real ou familiares do seu livro que se queixou depois da elaboração do mesmo por algum motivo?
José Teles: Não, apesar de ter vários errinhos no livro.
06) RM: Quanto tempo você levou para concluir o livro e como surgiu o interesse da editora 34?
José Teles: A editora me deu seis meses para concluir o livro, fiz no prazo.
07) RM: Em sua opinião porque o Manguebeat teve mais popularidade na cena musical recifense, nordestina e nacional que a maioria da turma dos anos 60 e 70?
José Teles: Porque teve grande cobertura da imprensa, porque as gravadoras do sudeste se interessaram e porque aconteceu no momento exato em que a indústria procurava um sucessor para o BRock.
08) RM: Você mostra no seu livro que as rádios locais nunca se reocuparam ou deram atenção a cena musical recifense. Em sua opinião esse fenômeno se dava pela falta de Jabá pago pelos artistas ou aculturação em colocar em evidencia a música de ressonância nacional?
José Teles: Acho que sobre tudo pelo jabá, e também porque a cultura das rádios mudou muito nos últimos 30 anos. Hoje são raros os apresentadores e programadores que gostam e sacam mesmo de música, principalmente no Norte/Nordeste.
09) RM: Em sua opinião porque Pernambuco mesmo tendo uma pujança musical ainda não teve a notoriedade em cena musical como a Bahia?
José Teles: Pernambucano é meio fechadão, tanto que sua música é geralmente muito séria, até mesmo o frevo é uma música séria, complicadíssima na execução. A massificação de ritmos popularescos conseguiu a adesão do povão pernambucano pela imensa veiculação no rádio. Já a Bahia é um Estado que sempre soube se promover bem.
10) RM: Em sua opinião os músicos pernambucanos conseguem dialogar mais com músicos de outros Estados como Paraíba, Rio Grande do Norte e Ceará por questão de proximidade geográfica ou porque é mais aberta aos vizinhos que a Bahia?
José Teles: Na verdade, há muito pouco intercâmbio entre os estados nordestinos. Aqui quase não se conhece a música que se faz, por exemplo, no Maranhão, ou no Piauí. Isto está mudando um pouco por causa dos Festivais de Música, como o Mada, em Natal, que congrega artistas de quase todo Nordeste.
11) RM: Você credita a falta de um movimento em comum o fraco desenvolvimento de uma cena musical em Pernambuco nos anos 60 e 70. Tinha muitos caciques e pouca tribo?
José Teles: No Recife movimentos musicais houve desde o século 19. Como terceira capital do país até final dos anos 60, teve no início do século 20 grandes pianista, exportou João Pernambuco, Luperce Miranda, Os turunas da Mauricéia, Meira. Até hoje o Choro é muito forte aqui. Nos anos 60, houve Bossa Nova, MPB, Gilberto Gil, Paulinho da Viola chegaram a passar alguns meses na cidade. Nos anos 70 aconteceu aqui um dos movimentos “udigrudi” mais importantes, o problema é que na época o rock era incipiente no Brasil, visto com preconceito no Rio de Janeiro ou São Paulo, quanto mais no Nordeste!
12) RM: Em sua opinião o Manguebeat teve mais projeção por conta do seu vínculo social com a população da periferia e universitária?
José Teles: A projeção primeiro por ter qualidade estética incontestável, agora não foi muito popular. Somente de uns cinco anos pra cá Chico Science começou a se assimilado pelos pernambucanos.
13) RM: Em sua opinião porque o Frevo ainda não se estabeleceu como uma música local ouvida o ano inteiro. E qual a cena atual do Frevo em Recife. Há o risco de o Frevo se tornar expressão musical folclórica?
José Teles: Nos anos 60, com a Rozenblit, o Frevo foi tocado exaustivamente em todo Nordeste. Até axé music, somente o Recife e o Rio tinha músicas próprias de carnaval. O problema principal do frevo é que ele é uma música de difícil execução, sobretudo o instrumental. Dificilmente um músico que não tenha vivência em Pernambuco conseguirá tocar frevo como deve ser tocado. Ele é uma música de carnaval, hoje já tem uma grande orquestra, a do maestro Spok que faz um frevo que vem sendo tocado o ano inteiro, mas não nas rádios. Carlos Fernando, no começo dos anos 80, fez um projeto de frevo de meio – de – ano, o Asas da América.
14) RM: Em sua opinião e pesquisa feita até que ponto a cobrança da paternidade por parte de alguns músicos pernambucanos de quer o embrião do movimento Tropicalista nasceu em Pernambuco, procede de verdade. Ou surgiram sentimentos tropicalistas em pernambucanos e baianos?
José Teles: Os tropicalistas quando começaram nem sabiam que seriam chamados assim. O Tropicalismo na verdade era um sentimento de mudança generalizado em pessoas que comungavam de uma mesma linha de pensamento. Jomard Muniz, aqui do Recife, conhecia os baianos por ter estudado em Salvador, era amigo de Glauber Rocha e tal. Houve influências pernambucanas no tropicalismo, mas obviamente ele é antes de mais nada uma elucubração de Caetano Veloso e Gilberto Gil, depois que sacaram que o lance deles poderia ser mesmo um movimento renovador na cultura nacional.
12) RM: Em sua opinião porque um Estado que tinha uma gravadora bem estruturada não conseguiu se impor na cena musical nacional?
José Teles: Quando havia aqui a gravador Rozenblit, o Recife era culturalmente autossuficiente. Tinha uma rede forte de TV e rádio (outra história que ainda não foi contada ao Brasil), A TV Jornal do Commércio. Todos os grandes artistas de nome nacional também se apresentavam ou tinham programas na TV Jornal. Tinha uma gravadora, uma rede de rádio, estendia-se por todo o Nordeste. Então dava pra se manter na região. É como acontece, por exemplo, nos EUA, que tem movimentos culturais importantes em várias regiões do país.
13) RM: Nos anos 90 a Bahia e o Ceará mostraram que é possível manter uma cena musical auto-suficiente em relação ao sudeste (Mesmo com suas contradições culturais). Em sua opinião o que falta para músicos de outros Estados nordestinos viverem e sobreviverem com sua cena musical local ou regional?
José Teles: Mas eles já vivem. Do Pará à Bahia a música regional domina as rádios e vendem mais do que qualquer um artista do Sudeste. Pena que seja uma música de má qualidade, do axé, do brega pernambucano, passando pelo Calypso do Pará. Hoje em dia, por exemplo, sertanejo não toca mais no nordeste. Só dá aqui essas bandas de pseudo forró. Agora a música de mais qualidade essa é meio cult, porque não paga jabá, não faz acerto com programadores de TV e rádio, ficou meio cult.
14) RM: José Teles, Hoje como anda a cena musical pernambucana?
José Teles: Bem forte, com uma tendência para o pop, Mombojó e cia. O mercado e a indústria mudaram hoje se pode viver de música sem necessariamente estar no Rio de Janeiro ou São Paulo nem ligado a uma grande gravadora.
15) RM: Faça algumas considerações e acrescente perguntas e resposta que achar necessária ao contexto da entrevista?
José Teles: O Brasil continua a desconhecer o Brasil. Em todo estado há uma cena pop Rock. Estão surgindo para a mídia artistas populares, há uma fortíssima cena popularesca (aqui no Recife rola um brega de nível semelhante ao do funkão carioca), enfim.
A falência da indústria motivou o nascimento e o crescimento da música periférica que, por não contar com uma máquina pro trás, virou-se e conseguiu impor seu trabalho. Se a música é boa ou não, aí é outra história.
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José Teles lança livro sofre o frevo e concede entrevista à TV JC: https://www.youtube.com/watch?v=VdsbpDcKI3w
Live da Avoada com José Teles: “Será que a juventude curte um rock rural?”: https://www.youtube.com/watch?v=QyG_RtCUl0k
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