More Kátya Teixeira »"/>More Kátya Teixeira »" /> Kátya Teixeira - Revista Ritmo Melodia
Uma Revista criada em 2001 pelo jornalista, músico e poeta paraibano Antonio Carlos da Fonseca Barbosa.

Kátya Teixeira

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A cantora, compositora, pesquisadora, instrumentista e designer paulistana Kátya Teixeira nasceu em uma família de músicos, compositores e pesquisadores da cultura popular.

Tem seis discos gravados:“KATXERÊ” (1997); “LIRA DO POVO” (2004/2005), teve três indicações ao PRÊMIO TIM DE MÚSICA/2005;“FEITO DE CORDA E CANTIGA”, teve uma indicação ao Prêmio da Música Brasileira/2012e ganhou o Troféu Catavento 2012 de Solano Ribeiro – Rádio Cultura/SP;“2MARES” (2013/2014) em parceria com Luiz Salgado com temas da tradiçãooral luso-brasileira, foi selecionado no 25º Prêmio da Música Brasileira/ 2014; “CANTARIAR”, comemorando seus 21 anos de Carreira (2015/2016) é uma compilação de algumas de suas participações em CDs de parceiros ao longo de sua trajetória; “AS FLORES DO MEU TERREIRO” (2016/2017), seu sexto disco da carreira e o primeiro CD autoral.Resgata neste trabalho a figura do menestrel/trovador. No repertório músicas compostas em parcerias com Consuelo de Paula, Paulo Nunes, Paulo Matricó, Catarina Basso, João Evangelista Rodrigues, Lígia Araújo, Rogério Santos, Gildes Bezerra, Beth Magalhães, Wander Porto e Victor Batista.

Kátya Teixeira participou nos discos de: “Carrancas II, Ação dos Bacuraus Cantantes”,50 anos de Carreira e “Cavaleiro Macunaíma” – comemoração dos 80 anos de João Bá. “LP – Fazenda” de Vidal França (quando ela tinha 13 anos de idade), “Sertão e Mar”, de Vidal França e Mazé; “São Sebastião do Tijuco Preto”, de Oswaldinho Vianna; “Concertoria e Sonhares”, de Ney Couteiro; “Em Cantos Brasileiros”, de Eliezer Teixeira;“Acústico”, de Adalto Bento Leal; “Conterrâneos”, de Carlinhos Piauí;“Mexericos da Rabeca”, de José Eduardo Gramani; “Monjolear e Cantos da Mata Atlântica”, de Dércio e Doroty Marques;“Espelho D’água, Cantigas de Abraçar, Folias do Brasil”, de Dércio Marques; “Vuelvo para Vivir” – 25 Anos do grupo Tarancón; DVD – “Nas Asas de Mercúrio” de Kátia Ripani em 2004 com composição, arranjos e direção artística de Trilha Sonora;“Intersecção a Linha e o Ponto”e “As Liras Pedem Socorro”de Socorro Lira;“Alma Caipira” deCláudio Lacerda; “Charrua” deNoel Andrade; “Venta Moinho”deJoão Arruda; “Capiau” deLevi Ramiro; “Folia” deVozes Bugras.

Kátya Teixeirase apresentou ao lado de artistas do cenário nacional e internacional como:Dércio Marques, Doroty Marques, Xangai, Raimundo Sodré, Zé Geraldo, Ednardo, Saulo Laranjeira, Caito Marcondes, Irene Portela, Vidal França, João Bá, Miltinho Edilberto, Alzira Espíndola, Sérgio Ricardo, Belchior, Tom Zé, Elza Soares, Paulo César Pinheiro, Nelson Sargento, Oswaldinho da Cuíca, Jarbas Maris, Giordano Mochel, Ubiratan de Souza, Vicente Barreto, Dona Ivone Lara, Paulinho Pedra Azul, Chico Teixeira, Grupo Barbatuques,Ratnabalicom o grupo Samiti numa fusão de música brasileira e indiana, com o grupo Nhambuzim, na Argentina shows com Ximena Villaro, Hierbacana e como convidada especial da Bomba delTiempo em CiudadKonexBuenos Aires, na Galiza/Espanha com UxíaSenlle, Alba Maria, Coral Polifônico da Ilha de Arousa, Sérgio Tannús entre outros.

Kátya desenvolve a sua música bebendo na fonte da música latina, da cultura popular brasileira e suas origens como um reflexo da música mundial, sons, timbres, instrumentos, vozes, que aqui se mesclam em perfeita harmonia. Nos shows canta, toca violão, rabeca, viola de cocho, cuatro e percussão, acompanhada por viola caipira, flauta, acordeon, percussão, bandolim (de acordo com o formato do espetáculo).

Segue abaixo entrevista exclusiva com Kátya Teixeira para a www.ritmomelodia.mus.br  , entrevistada por Antonio Carlos da Fonseca Barbosa em 29.05.2017:

01) Ritmo Melodia : Qual a sua data de nascimento e a sua cidade natal?

Kátya Teixeira : Nasci no dia 19/11/1971 em São Paulo – SP.

02) RM : Fale do seu primeiro contato com a música?

Kátya Teixeira :Não lembro da minha vida sem música. Minha família é muito musical, minha mãe (Carmem Pinheiro) canta para mim desde sempre (risos).

03) RM : Qual a sua formação musical e\ou acadêmica fora da área musical?

Kátya Teixeira : Fiz desenho artístico e publicitário, o que me ajudou muito depois nas produções de meus encartes e de outros músicos que tive o prazer de “embalar suas crias”. Estudo música desde os sete anos de idade com aulas de Violão com a professora Marili que sonhava me mandar para um curso superior de música, mas como ela mesma me dizia: “…Você só faz o que quer…” (risos).

Cheguei a cursar na ULM – Universidade Livre de Música por um tempo até chegar à conclusão que minha universidade é mesmo a do Povo; parafraseando meu tio Eliezer Teixeira, minha formação passa mais pela vivência com mestres populares e músicos que passaram na casa dos meus pais e depois na minha com quem tive a honra de conviver como meu mestre Vidal França, João Bá, Dércioe Doroty Marques, Dinho Nascimento, os maranhenses todos a quem ressalto Giordano Mochel e Ubiratan de Sousa, Juraildes da Cruz/Luz e Genesio Tocantins, Deo Lopes. E os mestres do povo do“Brasilzão” sem tamanho… O aprendizado da música para mim transcende e muito as formações “ortodoxas”, é uma extensão do que somos como sociedade, como indivíduos.

04) RM : Quais as suas influências musicais no passado e no presente. Quais deixaram de ter importância?

Kátya Teixeira : Não existe influência que deixa de ter importância tudo faz parte da formação de quem somos. As influências são muitas, vai desde a minha família e os mestres que citei ao rock dos anos 60, 70 e 80, música punk, dark/gótica. Sou paulistana não tem jeito de não receber influência de tudo e de todos. Graças a Deus (risos). Cito ainda algumas cantoras que são referências como Mercedes Sosa, Elis Regina, Diana Pequeno, Marlui Miranda, Miriam Makeba, Miriam Mirah, Clara Nunes, Doroty Marques, Carmem Pinheiro. Grupos que para mim foram definitivos na minha musicalidade como Raíces de América e Tarancón. E grandes mestres como AtahualpaYupanqui, Zeca Afonso e a grande Violeta Parra.

Hoje o que mais me influencia e me fala ao coração são as músicas ancestrais que vou encontrando pelo caminho, são as músicas que remontam a nossa memória genética e chega direto ao coração, gosto dos timbres e do que foge as convenções. Gosto, sobretudo do simples que nada tenha a ver com o simplório. Gosto da poesia e das letras que nos contam histórias, gosto do novo e de música feita com tesão. Não gosto de som muito “limpinho” e racional demais. Gosto de música que arrepia os pelos.

05) RM : Quando, como e onde você começou a sua carreira musical?

Kátya Teixeira : Apesar de me apresentar nos palcos e em  disco desde os 11/12 anos de idade, comecei mesmo profissionalmente aos 23 anos. Os momentos pra mim mais marcantes de meu inicio foram: aos 11 anos cantando uma música de meu avô João Pinheiro na escola. Ir para os estúdios de gravação aos palcos com Vidal França aos 12 anos. Aos 17 anos meu primeiro festival como compositora com a canção Kararaô. E finalmente meu primeiro show solo no Armazém Bar do Oswaldinho e Marisa Viana na Vila Madalena em São Paulo no dia 04/04/1994 que marco como o início de minha carreira profissional.

06) RM : Quantos CDs lançados, quais os anos de lançamento (quais os músicos que participaram nas gravações)? Qual o perfil musical de cada CD? E quais as músicas que entraram no gosto do seu público?

Kátya Teixeira : O primeiro CD – Katxerê (1997/1998). O segundo CD – Lira do Povo (2004/2005), resultado de cinco anos de pesquisas com algumas comunidades tradicionais pelo Brasil. O terceiro CD – Feito de Corda e Cantiga (2011/2012), escolhi quatro compositores brasileiros (e seus parceiros) que tem uma obra fundamental e ao mesmo tempo pouco conhecidos do grande público. São eles: Chico Branco, Jean Garfunkel, Giordano Mochel e Luís Perequê.O quarto CD -2Mares (2012/2013)feito em parceria com o cantador Luiz Salgadode Minas Gerais. Todo com temas do cancioneiro tradicional e herança luso brasileira. O quinto CD -Cantariar (2016) que comemora meus 21 anos de carreira em uma compilação com temas gravados em CDs de amigos e parceiros. O sexto CD – As Flores do Meu Terreiro (2016/2017). Todo inédito e autoral em parceria com compositores e poetas brasileiros. Em fase de pré-lançamento.

07) RM : Como você define o seu estilo musical?

KátyaTeixeira : Eis a questão(risos)

08) RM : Você estudou técnica vocal?

Kátya Teixeira : Não Mas de certa forma faço isso quando observo os cantares de cantadeiras/cantoras e quando percebo meu canto. Mas tenho buscado ultimamente apoio de voz terapeutas para acompanhar a saúde da minha voz.

09) RM : Qual a importância do estudo de técnica vocal e cuidado com a voz?

Kátya Teixeira : Acho importante você conhecer seu instrumento, cada um a sua maneira. O cuidado tem que ser com o todo, a voz precisa de um corpo e uma mente sã para fluir.

10) RM : Quais as cantoras(es) que você admira?

Kátya Teixeira : Vixe… Temos quanto tempo (risos). De primeira lembrança os cantos que me influenciaram foram: Carmem Pinheiro e Mazé Pinheiro; minha mãe e tia que foram minhas primeiras referências no canto.Mercedes Sosa, Elis Regina, Clara Nunes, Miriam Makeba, Mirian Miráh, Doroty e Dércio Marques, Diana Pequeno, Marlui Miranda, Clementina de Jesus, as cantadeiras e cantadores tradicionais… eita que vai longe (risos).

11) RM : Como é o seu processo de compor?

Kátya Teixeira : Deixo fluir. Faço letra e música, mas confesso que gosto mais de ouvir a música que existe nas palavras de meus parceiros. Não sinto obrigação em compor, deixo que aconteça quando venha naturalmente. Já passei quase dez anos sem compor uma única frase e de repente em dois meses surgiram mais de 30 canções. É assim cíclico e urgente quando acontece.

12) RM : Quais são seus principais parceiros de composição? Quem já gravou as suas músicas?

Kátya Teixeira : Tenho vários parceiros alguns mais assíduos que outros, como é o caso de Paulo Nunes e Consuelo de Paula, mas todos os parceiros são igualmente importantes. Tenho parcerias com: Amauri Falabella, Chico Branco, Vidal França, Mazé Pinheiro, Karina França, Dani Lasalvia, Luis Carlos Bahia, Ibys Maceió, Cátia de França, Juh Vieira, Eliezer Teixeira, Luiz Salgado, João Evangelista Rodrigues, Lígia Araújo, Rogério Santos, Déa Trancoso, Victor Batista, Paulo Matricó, Catarina Basso, Gildes Bezerra, Beth Magalhães, Kátia Drummond, Dulce Valverde, João Arruda me perdoe se esqueci de alguém. Que gravaram minhas músicas acho que Trem das Gerais, Dani Lasalvia, Amauri Falabella

13) RM : Quais os prós e contras de desenvolver uma carreira musical de forma independente?

Kátya Teixeira : Eu para falar a verdade não sei se existe uma forma de desenvolver uma carreira musical que não independente hoje (risos). A figura do empresário que contratava e financiava é quase lenda hoje. Talvez exista para algum “megastar” do mundo pop, mas esse artista, quando é artista, pois muitas vezes é só o famoso da vez, também está fadado a ser um produto descartável por um modelo do ano como qualquer produto no mercado…

Cada vez mais a meu ver o artista ingênuo-explorado-vítima vai perdendo espaço para um profissional que faz sua autogestão. Hoje o artista que não souber se produzir e tomar conhecimento do mercado vai sumindo na multidão ou na depressão de seus lares esperando a “fada madrinha” que vai descobrir seus talentos e revelar ao mundo como nos contos de fada. O artista tem que fazer seu caminho e se fazer respeitar como qualquer profissional de maior importância pra sociedade.

14) RM : Quais as estratégias de planejamento da sua carreira musical dentro e fora do palco?

Kátya Teixeira : O palco é o resultado de 30 horas de dedicação diária. Divido esse tempo entre estudar, compor, criar e buscar recursos para viabilizar. E aqui não falo só de dinheiro, pois esse ajuda e muito, mas não resolve (risos). E aprender como funcionam as burocracias que odeio, mas que possibilitam que minha arte aconteça. Em geral crio algumas metas e o caminho me leva e eleva. As vezes “trupico”, aprendo, levanto e recalculo a rota quando necessário e sigo com o pé o coração na estrada e os olhos no horizonte.

15) RM : Quais as ações empreendedoras que você pratica para desenvolver a sua carreira musical?

Kátya Teixeira : Acho que a maior ação empreendedora da minha carreira é buscar parcerias e criar espaços comuns e para todos. Compartilhar. O que as pessoas ainda estão descobrindo é que quando você cria espaço para o coletivo você está criando para si mesmo. A gente não foi criada para viver solitário. O Dandô – Circuito de Música Dércio Marques é o melhor exemplo das minhas iniciativas e ação pratica do que acredito.

16) RM : O que a internet ajuda e prejudica no desenvolvimento de sua carreira musical?

Kátya Teixeira : Ajuda na rapidez, agilidade, democratiza. Mas ao mesmo tempo é preciso saber utilizar. Se a gente não direciona o olhar, o foco você se torna uma gotinha no oceano. Ao mesmo tempo é um canal direto com meu público. Veja, tenho 23 anos de carreira e nesse tempo passei a maior parte na estrada pesquisando, fazendo shows, oficinas, mas até a internet ser o que é quando eu viajava um período maior – como no caso da época que fiz o meu segundo CD – Lira do Povo que envolveu cinco anos de pesquisas em campo – as pessoas achavam que eu tinha morrido ou parado de cantar. Hoje meu escritório está no meu smartphone. Não sei se, por exemplo, o Dandô seria possível sem a tecnologia que temos hoje, tendo em vista que minha primeira iniciativa do circuito foi no início dos anos 2000. E só foi sair do papel e tornar-se viável em 2012/2013.

Faço vídeo conferência para resolver questões de trabalho em quatro Estados brasileiros ou três países diferentes de onde quer que esteja.Como disse antes quando você sabe usar a seu favor é incrível. Agora, isso tudo pode se tornar uma Caixa de Pandora se não tomar cuidado.

17) RM : Quais as vantagens e desvantagens do fácil acesso a tecnologia  de gravação (home estúdio)?

KátyaTeixeira : A maioria das coisas que fazemos hoje só é possível por esse acesso a tecnologia. É claro que se não existisse daríamos um jeito, afinal de contas para isso somos artistas (risos). Meu CD mais recente “As Flores do Meu Terreiro” foi todo gravado em um estúdio móvel que o André Magalhães montou em meio à mata atlântica na Serra do Mar paulista – na Juréia. No meu quarto CD – 2Mares tivemos a participação da cantora galega Uxía que gravou do outro lado do Atlântico e me enviou para somar ao CD aqui no Brasil.

18) RM : No passado a grande dificuldade era gravar um disco e desenvolver evolutivamente a carreira. Hoje gravar um disco não é mais o grande obstáculo. Mas, a concorrência de mercado se tornou o grande desafio. O que você faz efetivamente para se diferenciar dentro do seu nicho musical?

Kátya Teixeira : Acho que o fundamental é ter realmente algo a dizer e caprichar em todas as fases da feitura da cria (risos). Proposta, repertório, arranjos, qualidade de gravação e principalmente apresentar bem a cria ao mundo, isso vai desde o cuidado no encarte/capa até a divulgação e distribuição. Mas no final onde vendo os CDs mesmo é em show. Com o streaming de música, download e etc, o CD foi perdendo espaço. Quem compra meus CDs são colecionadores, fãs. Eles querem qualidade, o meu público é muuuuuito exigente. E acho isso ótimo, por que me faz querer melhorar e me superar sempre.É importante ser sincero e verdadeiro no que se faz, não adianta inventar algo só para aparecer e ganhar dinheiro. Acho que a constância, o zelo e a coerência fazem toda a diferença em qualquer carreira e área que queira atuar e na música não é diferente.

19) RM : Como você analisa o cenário musical brasileiro. Em sua opinião quem foram às revelações musicais nas duas últimas décadas e quem permaneceu com obras consistentes e quem regrediu?

Kátya Teixeira : Tem gente boa demaaaaais nesse país! Eu tenho a sorte de conhecer um Brasil que a grande maioria não tem acesso. Acho que os artistas cada vez mais se profissionalizam e se fazem conhecer dentro do possível, pois se a internet ajuda a difundir a constância do jabá ainda é quem manda quando se trata da grande massa. Gosto de artista que tem o que dizer e que não faz a linha música para elevador (risos). Li um texto muito engraçado em um blog, falando das “cantoras(es) tofú” que não tem gosto de nada, é sempre igual, não faz bem e nem faz mal para saúde, mas tá na moda (risos).

20) RM : Qual ou quais os músicos já conhecidos do público que você tem como exemplo de profissionalismo e qualidade artística?

Kátya Teixeira : Acho que de primeira lembrança assim me vem:Lenine, Chico Buarque (Só aparece quando tem algo de bom para mostrar), Barbatuques

21) RM : Quais as situações mais inusitadas aconteceram na sua carreira musical (falta de condição técnica para o show, brigas, gafes, show em ambiente ou público tosco, cantar e não receber, ser cantado e etc)?

Kátya Teixeira : Já aconteceu de tudo o que você citou e mais um pouco (risos). Falta de condição técnica é sempre um problema, pois trabalho com instrumentos musicais que a maioria nem sabe que existe (risos). Tem muitas histórias, mas a que envolve quase tudo o que você citou foi em um dia frio e chuvoso um show em praça pública no bairro do Capão Redondo em um projeto da prefeitura de São Paulo em que uma mulher em frente ao palco para me defender deu uma surra em um homem bêbado que ficou azucrinando e insistindo que eu cantasse músicas do Roberto Carlos. Nesse mesmo show o técnico de som decidia qual instrumento da minha banda ia tocar e silenciava os demais. O boizinho (bumba-meu-boi) que levamos tomou uma voadora e arrancaram o rabo dele na multidão (risos). Enquanto isso, os seguranças faziam cara de paisagem no fundo do palco e no final o público não queria nos deixar sair do palco, queria que seguíssemos com o show (risos).

22) RM : O que lhe deixa mais feliz e mais triste na carreira musical?

Kátya Teixeira : Fazer o que amo é o maior presente. E em contrapartida o que me entristece são alguns egos inflados e a politicagem e falta de companheirismo que às vezes rola entre músicos. Mas acho que isso não é um privilégio da área artística isso faz parte dos males da humanidade.

23) RM : Nos apresente a cena musical da cidade que você mora?

Kátya Teixeira : Sou e estou em uma cidade onde converge arte e cultura de toda parte do mundo. Onde tudo é muito, tanto de bom quanto de ruim. Mas minha arte só é possível por ter nascido e vivido aqui.São Paulo meu amor é todo seu, com erros e acertos essa cidade é incrível quando se trata de cultura. O triste é que a maioria dos paulistanos não se dá conta disso e tratam tão mal essa senhora das possibilidades. Só me dei conta da minha terra quando estou fora dela, pois não é assim com todo mundo? (risos). A cena musical de Sampa do ponto de vista de público tem para todos os gostos e bolsos e do ponto de vista do artista/produtor tem muito espaço, qualidade/estrutura. Mas ainda assim é infinitamente maior a quantidade de artistas de toda parte do Brasil e que chegam do exterior em busca desses espaços que hoje em primeiro plano posso citar SESCs, SESIs e teatros mantidos por empresas, fora isso uma cena underground que vigora em São Paulo desde sempre, os guetos. Aqui é terra de ninguém e terra de todo mundo (risos).

24) RM : Quais os músicos, bandas da cidade que você mora, que você indica como uma boa opção?

Kátya Teixeira : Tem gente do mundo todo aqui, músicos de primeira qualidade. Mas se for pensar em paulistanos de prima me vem Ricardo Vignini, Matuto Moderno, Paulo Freire, Mawaca, Vozes Bugras, Trio que Chora, Dani Lasalvia, A Barca, Barbatuques. E mais um tantão de gente.

25) RM : Você acredita que sem o pagamento do jabá as suas músicas tocarão nas rádios?

Kátya Teixeira : Elas tocam e sem jabá. A questão é em quais rádios e quantas vezes (risos). As coisas têm mudado um pouco de figura com o streaming, os caras pagam o jabá para entrar nas listas mais tocadas, pois a grana entra direto.

26) RM : O que você diz para alguém que quer trilhar uma carreira musical?

Kátya Teixeira : Faça o que você gosta e seja sincero nas suas escolhas. Profissionalize-se e ame de verdade o que faz.

27) RM : Quais os prós e contras do Festival de Música?

Kátya Teixeira : Não gosto de festivais de competição, apesar de já ter participado de alguns no início da minha carreira. Prefiro as mostras de Músicas, que para mim arte é pra compartir e não pra competir.

28) RM : Hoje os Festivais de Música ainda tem a importância de revelar talentos?

Kátya Teixeira : Não acho, mas é só minha opinião.

29) RM : Como você analisa a cobertura feita pela mídia da cena musical brasileira?

Kátya Teixeira :Na mídia de massa (grande mídia) não existe uma cobertura, mas uma comercialização de quem paga mais (jabá) e oferece algo mais descartável, não interessa formar um público consciente. Arte além de entretenimento é perigosa, faz as pessoas mais críticas.

30) RM : Qual a sua opinião sobre o espaço aberto pelo SESC, SESI e Itaú Cultural para cena musical em São Paulo?

Kátya Teixeira :Acho muito importante pela qualidade e estrutura. É uma programação impecável em qualidade e conteúdo e de fácil acesso ao público.

31) RM : O circuito de Bar nos Bairros Vila Madalena, Vila Mariana, Pinheiros, Perdizes e adjacência ainda é uma boa opção de trabalho para os músicos?

Kátya Teixeira :Eu não gosto de ir um Barzinho com música ao Vivo, fico muito constrangida em ver um colega fazendo música de fundo pras pessoas beberem e conversarem, tendo que disputar em volume com as pessoas que se alteram. Não fico à vontade para conversar e nem para assistir a apresentação. Mas acho bacana quando as casas noturnas funcionam como “Café Concerto”em que existe uma pausa para um show.

32) RM : Quais os prêmios que você já ganhou na sua carreira musical?

Kátya Teixeira : Tive três CDs indicados ao Prêmio da Música Brasileira. Fui uma das finalistas do Prêmio Profissionais da Música em 2017 na categoria Artista – Raiz Regional. Ganhei oTroféu Catavento de Solano Ribeiro– Rádio Cultura/SP – 2012 e 2016.

33) RM : Nos apresente o projeto Dandô – Circuito de Música DércioMarques?

Kátya Teixeira : No início dos anos 2000 eu conversava com Luis Perequê a respeito de criarmos laços e espaços pra cantoria e desse papo surgiu a primeira ideia dessa caravana. Mas foi em 2012 com a partida de nosso menestrel Dércio Marques que o projeto tomou forma. Dércio, como dizia João Bá, sempre foi uma ponte que unia o Brasil. Ele deixou um grande legado para um Brasil que está à margem da mídia de massa, um Brasil de cantadores e tocadores, trovadores e menestréis. Gente cantando e tocando sua história e fazendo nossa cultura mais forte de sul a norte pelo país.

Fizemos um Arreuní em homenagem ao Dércio em um outro polo de resistência, o “Encontro de Culturas da Chapada dos Veadeiros” em julho 2012. E dali eu saí de cidade em cidade pelo país convidando o povo pra gente se juntar num mutirão de cantoria.

Em um dos Arreuní do Joãzinho Arruda em Barão Geraldo (Campinas/SP), o violeiro Levi Ramiro batizou carinhosamente o nosso “Circuito de Música Dércio Marques” de “Dandô”, termo que João Bá tão bem poetizou na “Canção do Ipês” eternizada pelo cantador.

De lá pra cá nosso mutirão cresceu numa ciranda de semear e já começar a extrapolar fronteiras. Hoje o circuito que é autossustentável e vive da realidade local de cada cidade sem grandes patrocinadores ou grandes editais. É gerido por um coletivo de artistas em que eu sigo de timoneira, se expande pro Chile onde ganha o nome Ruta de Violeta Parra e tem Tita Parra (neta de Violeta) à frente. E na Argentina um circuito muito forte vem surgindo e também Portugal e Galiza onde teremos um piloto em 2017.

Temos um CD – Coletânea Dandô – Um canto em cada canto do Brasil com alguns dos artistas do circuito feito em parceria com a Distribuidora Tratore em 2014/2015. Recebemos o Prêmio Brasil Criativo (Project Hub/MINC/SEBRAE) como melhor projeto de Artes e Espetáculos 2014. E agora somos finalistas no Prêmio Profissionais da Música 2017 na categoria Projetos Musicais Culturais.

A razão do nome “Dandô” se refere a um trecho da canção “Canto dos Ipês”. A palavra é uma corruptela do verbo andar, no linguajar dos pretos velhos – Dandar.

CANÇÃO DOS IPES: Parte 1 –“Roda Gigante”Guru Martins. Parte 2 –“Dandô”Circo das IlusõesJoão Bá e Klécius Albuquerque. “…Canção dos Ipês/Canto dos Ipês é uma junção espontânea de duas composições independentes: Roda Gigante (Guru Martins) e Circo das Ilusões(Klécius Albuquerque/João Bá) que com o tempo se fundiram nos nomes acima e se tornou o que se tornou nas nossas interpretações (Guru Martins/Dércio) e tantos outros…”, acrescenta Guru Martins.

34) RM : Quais os seus projetos futuros?

Kátya Teixeira :Planos é o que não me falta (risos), mas para esse momento pretendo lançar em 2017 o CD – “As Flores do Meu Terreiro”, o que deve acontecer muito em breve. Esse CD tenho a intenção de fazer uma versão com orquestra também. E dar andamento a expansão e fortalecimento do Dandô – Circuito de Música Dércio Marques dentro do Brasil e nos países parceiros na América Latina e Europa.

35) RM : Kátya Teixeira, Quais seus contatos para show e para os fãs?

Kátya Teixeira : [email protected]www.katyateixeira.com.br |www.facebook.com/katyateixeirabr


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Uma Revista criada em 2001 pelo jornalista, músico e poeta paraibano Antonio Carlos da Fonseca Barbosa.