Por Antonio Carlos da Fonseca Barbosa
Em 1984, em um domingo no mês de junho em uma reunião de família no sítio dos meus avós (José Barbosa e dona Amélia) em Campina Grande – PB, minha prima Tania chegou com um disco do Gonzaguinha (Luiz Gonzaga do Nascimento Júnior, que nasceu no dia 22/09/1945 no Rio de Janeiro – RJ e faleceu no dia 29/04/1991 em Renascença – PR), colocaram o disco em uma vitrola alimentada por pilhas, eu criança brincando pela casa parei para escutar o samba-exaltação: O que É, O que É (https://www.youtube.com/watch?v=IYZcsb706q8). Eu lembro do entusiasmo dos primos e primas escutando as músicas, todos perto da maior idade, tinha a consciência da crítica social que as letras exalavam que serviam como bandeira contra o governo Militar ainda vigente.
Em menos de uma década dessa primeira audição coletiva das músicas do Gonzaguinha, ocorreu o seu falecimento (em 1991) ao regressar de uma apresentação em Pato Branco – PR. Seu Monza colidiu com um Ford F-4000 por volta das 7:20 entre Renascença e Marmeleiro no Paraná. Ele dirigia o carro sentido a cidade Foz do Iguaçu – PR, de onde seguiria de avião para Florianópolis – SC, onde tinha um show.
No seu carro também estava seu empresário Renato Manoel da Costa, que ficou gravemente ferido e Aristides Pereira da Silva, que também faleceu, ele era dono de uma empresa de produções artísticas. Gonzaguinha morreu aos 45 anos deixando desolados parentes, amigos, fãs e colegas de profissão.
Em 1992, eu (Antonio Carlos) comprei uma fita K7 de Coletânea com músicas de Gonzaguinha e em 2006, comprei dois CDs da Coletânea – Bis que tem 28 clássicos do artista. Alguns dos seus sambas têm letras com duras críticas sociais e algumas letras que tratam de relacionamento amoroso é de sangrar o coração, pois cortar a própria carne relatando os conflitos de um casal. As minhas letras que se tornaram canções que tratam de relacionamento amoroso tem uma influência ou semelhança da obra do Gonzaguinha na forma crua e realista que trato sobre a vida e o dia a dia de um casal. Um amor real sem romantismo, saboreando o mel e superando o fel da vida a dois.
Através da ponte feita pelo cantor, compositor e amigo Marcus Lucenna (https://ritmomelodia.mus.br/entrevistas/marcus-lucenna) entrevistei o filho de Gonzaguinha, o cantor, compositor e produtor musical Daniel Gonzaga (https://ritmomelodia.mus.br/entrevistas/daniel-gonzaga) que tem um timbre de voz semelhante do pai. Esse fato, parece incomodar a individualidade do filho, que parece ter tido uma relação conflituosa com o pai, Daniel tinha 16 anos de idade quando o pai faleceu.
As obras de Gonzaguinha e Luiz Gonzaga andam com as próprias pernas sem a necessidade de ação de marketing dos seus herdeiros. Dois artistas que também não tiveram uma boa relação de pai e filho, mas que nos anos 80 fizeram uma reconciliação pública subindo ao palco para cantarem juntos que gerou em 1981 o CD – Luiz Gonzaga e Gonzaguinha – A Viagem De Gonzagão & Gonzaguinha (Ao Vivo). Os dois são moedas artísticas que nunca perdem o valor, um com o Samba Social e MPB da melhor qualidade e o outro criador do trio que encantava tocando Baião, Xote, Xaxado, Arrasta-pé. Dois ícones da Música Popular Brasileira e guardo suas obras no meu coração.
O samba Recado (https://www.youtube.com/watch?v=_v_G0Mwtwwo) traz uma letra que eu uso como “recado” para quem chega sem freio: “Se me der um beijo eu gosto / Se me der um tapa eu brigo / Se me der um grito não calo / Se mandar calar mais eu falo / Mas se me der a mão / Claro, aperto / Se for franco / Direto e aberto / Tô contigo amigo e não abro / Vamos ver o diabo de perto / Mas preste bem atenção, seu moço / Não engulo a fruta e o caroço / Minha vida é tutano é osso / Liberdade virou prisão / Se é mordeu e recebeu / Se é suor só o meu e o teu / Verbo eu pra mim já morreu / Quem mandava em mim nem nasceu / É viver e aprender / Vá viver e entender, malandro / Vai compreender / Vá tratar de viver / Viver e aprender / Vá viver e entender, malandro.”
A canção Um homem também chora – Guerreiro Menino (https://www.youtube.com/watch?v=OxvCwT5zlyw) é outra letra que eu assinaria a autoria: “Um homem também chora / Menina morena / Também deseja colo / Palavras amenas / Precisa de carinho / Precisa de ternura / Precisa de um abraço / Da própria candura / Guerreiros são pessoas / Tão fortes, tão frágeis / Guerreiros são meninos / No fundo do peito / Precisam de um descanso / Precisam de um remanso / Precisam de um sono / Que os torne refeitos / É triste ver meu homem / Guerreiro menino / Com a barra de seu tempo / Por sobre seus ombros / Eu vejo que ele berra / Eu vejo que ele sangra / A dor que tem no peito / Pois ama e ama /
Um homem se humilha / Se castram seu sonho / Seu sonho é sua vida / E vida é trabalho / E sem o seu trabalho / O homem não tem honra / E sem a sua honra /Se morre, se mata / Não dá pra ser feliz (7x) / É triste ver meu homem /
Guerreiro menino / Com a barra de seu tempo / Por sobre seus ombros / Eu vejo que ele berra / Eu vejo que ele sangra / A dor que tem no peito / Pois ama e ama / Um homem se humilha / Se castram seu sonho / Seu sonho é sua vida / E vida é trabalho / E sem o seu trabalho / O homem não tem honra / E sem a sua honra /
Se morre, se mata / Não dá pra ser feliz.”
Gonzaguinha era filho de Odaléia Guedes dos Santos, cantora do Dancing Brasil e foi registrado por Luiz Gonzaga, mas não é seu filho biológico. Gonzaguinha foi criado pelo padrinho e madrinha no morro de São Carlos, no Rio de Janeiro, um casal de amigos de Luiz Gonzaga, o violonista Henrique Xavier (que o ensinou a tocar violão) e Dina (Leopoldina de Castro Xavier que deu amor e coloco de mãe). Na época Luiz Gonzaga já era famoso e viajava por todo o Brasil.
Enquanto isso, Gonzaguinha vivia sua infância no morro de São Carlos, flertou com o mundo do crime e das drogas e possivelmente foi “salvo de entrar para criminalidade” ao ser colocado por Luiz Gonzaga em um colégio interno até ingressar em 1967 na Faculdade de Ciências Econômicas Cândido Mendes no Rio de Janeiro. Essas experiências forjaram o adulto que depois combateu as atrocidades da Ditadura Militar Brasileira. Gonzaguinha se tornou um letrista ácido que juntamente com Chico Buarque criaram clássicos sambas engajados ou de protestos e conscientização social.
Gonzaguinha e Chico Buarque também não tinham um “figurino artístico”, eles subiram ao palco com roupas que pareciam do dia a dia de “pessoas comuns”. Eram os anti-artistas e anti-heróis que dispensavam o glamour do mundo artístico e da fama. Podiam sair de uma mesa de bar e subir no palco ou descer do palco para ir para uma mesa de bar naturalmente. Dois intelectuais que não se distanciaram da vida simples do povo. Relatam o “pegue e pague” e perrengue dos trabalhadores através do ritmo do Samba.
Links: https://gonzaguinha.com.br/biografia
| https://www.ebiografia.com/gonzaguinha
Ensaio | Gonzaguinha: https://www.youtube.com/watch?v=eqCbJnvu–Y
Entrevista Gonzaguinha – Bar Academia – Completo: https://www.youtube.com/watch?v=b3ng5YsOV_4
Especial Gonzaguinha na TV: https://www.youtube.com/watch?v=Yptt9T4I16A
Gonzaguinha (1/2) – De Lá Pra Cá – 19/06/2011: https://www.youtube.com/watch?v=IEV0ebbKZtE
Especial Gonzaguinha – Parte 1: https://www.youtube.com/watch?v=IikfKpbnGI4
Especial Gonzaguinha – Parte 2: https://www.youtube.com/watch?v=aa0jTED1hfU
Luiz Gonzaga no programa Proposta em 1972 – Completo: https://www.youtube.com/watch?v=SsTxgG7olgo
Luiz Gonzaga rarissimo: https://www.youtube.com/watch?v=2R-pPy9IzNM
Luis Gonzaga Especial TV Record (Dominguinhos, Todos no Final ) Parte 4 Acervo Pessoal Guadalupe: https://www.youtube.com/watch?v=PgSAp-dNAJE
Luiz Gonzaga Raridade – Especial ‘ Proposta ‘ Pt.1 ( 1972 ) Partic. Gonzaguinha , Julio Lerner: https://www.youtube.com/watch?v=VU3q6oFGfS0
Luiz Gonzaga Raridade – ‘ Proposta ‘ Pt. 2 ( 1972 ) Partic. Gonzaguinha , Julio Lerner: https://www.youtube.com/watch?v=gaB44mQq8XE
Excelente artigo! Antônio Carlos, vc sempre sabe escrever com sensibilidade de forma ímpar e ponderada. Muito bom ler artigos dessa qualidade!
Muito bom o artigo. Bem escrito e unindo a experiência do autor ✍🏻 com a obra do artista. Trazendo a história como aditivo no texto.
Parabéns, Antonio Carlos! Mais um artigo muito especial para abrilhantar a ‘galeria’ da Revista Ritmo Melodia.