More Flores do mandacaru: a voz feminina no Forró »"/>More Flores do mandacaru: a voz feminina no Forró »" /> Flores do mandacaru: a voz feminina no Forró - Revista Ritmo Melodia
Uma Revista criada em 2001 pelo jornalista, músico e poeta paraibano Antonio Carlos da Fonseca Barbosa.

Flores do mandacaru: a voz feminina no Forró

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A voz feminina apareceu nas gravações regionais através do coro. Os artistas populares cantam mais com “o coração” e poucos estudam técnicas vocais. Alguns têm limitações de extensão e dicção vocal, por isso, o coro (conjunto de pessoas que cantam trecho musical em uníssono ou dividindo vozes) canta as partes de destaques ou repete toda a música para uma melhor compreensão da letra. Nos anos 1940 a voz feminina deu um passo à frente cantando música regional.

Nos anos 40, Carmélia Alves, uma cantora bonita e cativante começava a gravar músicas em diversos ritmos. Em 1950, Luiz Gonzaga a coroou como Rainha do Baião e em 1951, ela atua no filme “Tudo Azul” e interpreta “Eu Sou o Baião” (Humberto Teixeira). Na sequência grava outras músicas nesse ritmo. Mesmo ela cantando muito bem o ritmo do baião, a sua imagem parecia mais com o do caipira do interior do Sudeste e menos do vaqueiro nordestino. Ela era uma carioca filha do cearense Raimundo com a baiana Adelina, mas tinha a cultura musical e costumes urbanos do Sudeste e do Rio de Janeiro. Cantava um baião cool e clean.

Chiquinha Gonzaga (Francisca Januário Custódio), cresceu no ambiente machista em Exu – PE, começou a tocar escondida, a sanfona do pai Januário. Devido ao preconceito por ser mulher, ela só iniciou à vida artística nos anos 50, já casada e com filhos. O que a ajudou foi o apoio do marido paraibano José Custódio e de alguns irmãos, já que o pai era contra a filha tocar. No início dos anos 50, Luiz Gonzaga trouxe a família de Exu para seu sítio em Duque de Caxias – RJ e formou com eles o grupo “Os Sete Gonzagas” (com o pai Januário e os filhos Luiz Gonzaga, Severino, Zé, Aloísio, Socorro e Chiquinha). Em 1970, Chiquinha Gonzaga voltou atuar sozinha, gravou um disco e passou a fazer shows. Em 2002, lançou o CD – “Pronde Tu Vai, Luiz?”(Luiz Gonzaga e Zé Dantas), com produção e participação de Gilberto Gil.

A cantora, compositora, dançarina pernambucana Almira Castilho foi casada e parceira em composições, apresentações no rádio, no cinema de Jackson do Pandeiro entre 1955 e 1967 período que fizeram em parceria trinta músicas. Em 1954, quando ainda não estavam casados, foi convidada a participar do coro do coco “Sebastiana”, de Rosil Cavalcanti, que lançaria o casal para o estrelato e por isso recebiam muitos convites para apresentações em diferentes clubes de Pernambuco e em outros Estados do Nordeste. Em 1955, gravaram o primeiro disco. Em 1956, em um show no Clube Náutico Capibaribe, de Recife e durante o show, com Jackson cantando e Almira dançando, alguns rapazes embriagados começaram a pegar nos tornozelos da cantora e acabou provocando uma tremenda briga na qual Almira, Jackson e seus músicos quase foram linchados. E por conta desse fato se mudaram para o Rio de Janeiro. Almira, depois da separação com o rei do ritmo, viajou pela Europa fazendo apresentações como dançarina de ritmos latinos.

Nos anos 50 a pernambucana Marinês fazia shows pelo nordeste acompanhada do seu parceiro de vida e de palco Abdias do Acordeon. Ela cantava o repertório do “Rei do Baião”(Luiz Gonzaga) que conheceu o casal em Propriá-SE, os convidou para trabalhar no Rio de Janeiro. Eles aceitaram e trouxeram consigo a identidade de sua gente e gravaram em 1956 o primeiro disco, fazendo que que Marinês se tornasse a voz feminina que mais representa o Forró. Luiz Gonzaga a coroou como Rainha do Xaxado. Ela consolidou sua carreira, separou de Abdias _com quem teve Marcos Farias, também músico. Marinês, junto com Luiz Gonzaga, Jackson do Paneiro formavam a tríade que eram referências da música tradicional nordestina. Enfim, a música nordestina tinha a primeira mulher dando voz, corpo e alma aos ritmos: baião, xote, arrasta-pé.

Outra grande referência feminina, vem do Trio Mossoró, que era formado pelos irmãos João Mossoró, Hermelinda Batista, Carlos André Batista. Fundado no princípio dos anos 50, por Carlos André Batista, sanfoneiro que já havia atuado na Rádio Tapuyo de Mossoró-RN. Pouco depois, Carlos André mudou-se para o Rio de Janeiro, para onde chamou os irmãos para continuar o Trio Mossoró. No Rio de Janeiro, o líder e fundador do Trio já atuava nas rádios Mayrink Veiga e Nacional mantendo contato e intercâmbio com o compositor maranhense João do Vale. Em 1962 gravou o primeiro disco, o LP, “Rua do namoro”. Gravou ao longo da carreira cerca de 10 LPs.

Em 1960 a cantora e compositora Anastácia grava seu primeiro disco e se torna a maior compositora em qualidade e quantidade dos ritmos: baião, xote, arrasta-pé, entre outros. Em parceria com Dominguinhos são mais de 200 músicas, com alguns sucessos nacionais, sendo o maior deles: “Eu só quero um xodó”, uma declaração de amor de Anastácia para Dominguinhos, com quem viveu intimamente e profissionalmente por 12 anos. Anastácia é a autora das letras nas parcerias com Dominguinhos. Hoje com mais de 80 anos continua na ativa. Já gravou discos com suas músicas em outros ritmos.

Em 1964 apareceu a sergipana Clemilda (Clemilda Ferreira da Silva), gravando seu primeiro disco em 1965. Em 1985, fez sucesso com a música “Prenda o Tadeu”. Participou de vários programas de rádio e TV, como “Clube do Bolinha”, na Bandeirantes, “Cassino do Chacrinha”, na Globo. Ganhou dois discos de ouro: o primeiro ainda em 1985, já o segundo em 1987, com o disco “Forró Cheiroso”, mais conhecido como “Talco no Salão”. Na Encyclopedia of Latin American Popular Music Clemilda é citada na lista dos maiores intérpretes de Forró, junto com artistas como Luiz Gonzaga, Marinês, Genival Lacerda, entre outros.

Quando Antonio Barros voltou em 1971 à Campina Grande-PB, pois na época morava no Rio de Janeiro, conheceu Cecéu (Mary Araújo Ribeiro). A primeira parceria foi no amor e na convivência, mas foi descobrindo o dom musical que brotava dela, pois ela sempre admirou muito o mundo da música. Ela sempre teve um lado romântico muito forte, pois ouvia Ângela Maria, Dalva de Oliveira e foi surgindo naturalmente uma integração na hora de comporem. A partir daí surgiram tantas canções em parceria como: “Bate Coração”, gravada primeiramente por Marinês e depois fez sucesso nacional na voz de Elba Ramalho; “Por Debaixo Dos Panos” gravada por Ney Matogrosso e entre outros artistas. Outros cantores gravaram as suas músicas: Dominguinhos, Gilberto Gil, Alcione, Ivete Sangalo, Fagner, Gal Costa, MPB-4.

Em 1976, Sivuca conheceu sua esposa e parceira musical Glória Gadelha e voltou para o Brasil. Essa foi sua segunda etapa e começou seu grande sucesso como compositor. Glória Gadelha começou a cantar junto com Sivuca entrando para o hall das mulheres forrozeiras.

Em 1978, Amelinha lançou os discos: “Frevo mulher”; “Só Forró” em 1994; “Vento, Forró e Folia” em 2001. Tornando-se uma forrozeira da nova geração.

Elba Ramalho lançou os discos: “Ave de Prata” em 1979; “Do Jeito Que a Gente Gosta” em 1984; “Fogo na Mistura” em 1985; “Remexer” em 1986. Sendo também forrozeira da nova geração e a mais famosas no Brasil e no exterior. Considerada uma sucessora em vida da Marinês.

A partir dos anos 80 muitas mulheres soltaram a voz cantando baião, xote, arrasta-pé e compondo belas canções. A revista RitmoMelodia tem a satisfação de ter entrevistado alguns ícones e muitas da nova geração que se perpetuarão no livro Flores do Mandacaru. A mulher na música em qualquer ritmo enfrentou preconceito, assédio moral e sexual, mas no Forró o abismo foi e é mais profundo.


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Comments · 6

  1. Parabéns, Antonio Carlos! Muito relevante essa sua pesquisa e colaboração em dar os devidos créditos para essas artistas tão talentosas que muitas vezes são ofuscadas pelas mídias tradicionais.

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Uma Revista criada em 2001 pelo jornalista, músico e poeta paraibano Antonio Carlos da Fonseca Barbosa.