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Uma Revista criada em 2001 pelo jornalista, músico e poeta paraibano Antonio Carlos da Fonseca Barbosa.

Tom Zé, Zé Ramalho, Lenine, Chico César e Zeca Baleiro “salvos” aos 50 minutos do segundo tempo nos anos 90

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O Diretor Artístico e o Produtor Musical de uma Gravadora evitavam contratar um músico que se assemelhasse na voz (ex. Tom Zé, Zé Ramalho, Lenine, Chico César, Zeca Baleiro…), na obra, no gênero musical ou fisicamente com outro já famoso da gravadora, deixando a opção para as concorrentes contratarem um “genérico”. Mas alguns talentos tiveram a sua carreira abortada por esse motivo.

  • Roberto Carlos

    foi contratado para ser o “genérico” do João Gilberto, mas não deu certo e sendo ele mesmo se tornou o “Rei”. O genérico cantava um repertório diferente do famoso, mas dentro do mesmo gênero musical, letras com a mesma temática, alguma semelhança física e usava um figurino igual ao do artista de sucesso. As gravadoras não arriscavam dinheiro na diversidade musical, mas em repetir sucesso. Alguns talentos morriam no parto, por serem diferentes ou parecidos demais com algum artista famoso da época. Escolhi cinco talentos que foram “salvos” aos 50 minutos do segundo tempo nos anos 90: Tom Zé, Zé Ramalho, Lenine, Chico César e Zeca Baleiro.

  • Tom Zé

    era o diferente no talo que não se encaixava em nenhum nicho nem esquema de marketing de divulgação das gravadoras nos anos 60 e 70. Cantor limitado, compositor que desconstruía o senso comum buscando construir um sabor popular dentro de uma alegoria do caos. Único tropicalista que manteve o DNA da antropofagia musical e cultural alimentando-se de tudo para vomitar algo novo, mesmo que cheirando ao passado. Ele, depois de um sucesso com os tropicalistas, fez o voo solo e não pousou bem. Passou pelo inferno do ostracismo e dificuldade financeira para nos anos 90 através das mãos do norte-americano David Byrne, seus discos agradaram a juventude que gostava da atitude rock e da estética “Da Lama ao caos” do Manguebeat do Chico Science e companhia. Ele foi “Salvo” quando trabalhava de jardineiro no prédio que morou e já pensava em voltar para Bahia para ser frentista em um Posto de Gasolina de um primo. Hoje vende a imagem de anti-herói. Um “defeito” que deu certo. Mas o sistema só aceita um “louco” famoso, não tente imitá-lo para não se frustrar.

  • Zé Ramalho

    era uma colcha de retalhos de informações sem nicho definido para as gravadoras. Feio igual ao “cão chupando manga”. Uma “figura” que era uma mistura de hippie, punk e mendigo, chegou a dormir em banco de Praça no Rio de Janeiro na época em que “batia de porta em porta” das gravadoras com sua “fita demo”. Os Diretores Artísticos das gravadoras na melhor das hipóteses viram nele um “genérico” que era uma mistura de Fagner, Ednardo, Belchior, Alceu Valença, Geraldo Azevedo e Raul Seixas. E as gravadoras já tinham “nordestinos estranhos” demais fazendo sucesso e dando trabalho ao departamento de marketing e jurídico. As letras do Zé Ramalho trazem o misticismo de algumas letras do Raul, o som tem atitude rock. Mas a postura pessoal não era de um “Maluco Beleza”, estava mais para “Maluco Raivoso”. O ritmo, a melodia e arranjos de suas músicas lembram a obra dos citados. O produtor musical do Zé Ramalho sacou que ele podia ser “original” mantendo os clichês do senso comum misturando o cantador de Viola com roqueiro apocalíptico com cheiro de MPB nordestina. Ele era um obstinado, exigente e criativo que passou a fazer parte do grupo seleto do pessoal do nordeste que o inspirou. Mas o sucesso subiu a cabeça e a cocaína invadiu a narina e o “Maluco Raivoso” passou a ser antissocial no meio musical e com os chefes da gravadora. Curtiu um breve ostracismo e nos anos 90 voltou ao topo do sucesso. Segundo ele diz: “Tirei a poeira da minha cadeira e meu lugar reservado na historia da música brasileira, sentei e não sai mais”.

  • Lenine

    quase não arrumou nada. Existe a hipótese dos Diretores Artísticos terem visto mais um “Alceu Valença e um Geraldo Azevedo”. Mas Lenine não estava sozinho no Morro Santa Tereza no Rio de Janeiro, fez amizades e parcerias musicais com Bráulio Tavares, Ivan Santos, Lula Queiroga, dentre outros. Enquanto a porta de alguma gravadora não se abria viveu do ofício de fazer músicas para artistas de diversos gêneros musicais. O primeiro disco Lenine e Lula Queiroga – O Baque Solto bem pernambucano ficou na sombra do conterrâneo famoso Alceu Valença. Os outros discos do Lenine estavam mais para o “rock progressivo”, mas a cena rock nacional dos anos 80 era punk, pós-punk ou new age. E som do Lenine era “MPB” novo demais para entrar no grupo seleto da MPB Mineira, MPB nordestina ou MPB Clássica da época. Mas a juventude dos anos 90 e 2000 gostou do som híbrido de rock progressivo com cheiro de uma MPB moderna. Eu sou exceção, tinha 18 anos no inicio dos anos 90, mas meus ouvidos eram exclusivos para: Gilberto Gil, Chico Buarque, Caetano Veloso, Zé Ramalho, Alceu Valença, Geraldo Vandré, Geraldo Azevedo, Gonzaguinha, Raul Seixas, Milton Nascimento e Oswaldo Montenegro. As letras e a sonoridade do rock nacional dos anos 80, de Lenine, de Chico César e de Zeca Baleiro não me acrescentavam nenhuma informação a mais que os meus escolhidos. Os meus amigos da mesma idade me convenceram a abrir uma exceção para: Paralamas do Sucesso/Herbet Viana, Barão Vermelho/Cazuza e Legião Urbana/Renato Russo. Mas hoje eu lamentaria se Lenine, Chico César e Zeca Baleiro tivessem morrido no parto, vejo na obra deles muita influência dos que citei, mesmo eles buscando a própria originalidade e a tal MPB moderna.  

  • Chico César

    entrou para lista seleta dos citados acima no final dos anos 90 quando ouvi o seu primeiro disco – “Aos Vivos” gravado em 1995; aquele formato Voz e Violão com clima de ao vivo me chamou atenção. Em 1996 a música “Á primeira vista” foi gravada por Daniela Mercury fazendo grande sucesso e foi responsável por alavancar o primeiro disco e “salvou” a carreira do Chico Cesar, que igual a Lenine no Rio, ele vivia comendo “o pão amassado do capeta” nos anos 80 e inicio dos anos 90 nos Bares de São Paulo. Já a letra de “Á primeira vista” é uma boa cópia das imagens das letras do Caetano Veloso. Eu morava em Campina Grande e cursava Comunicação Social e Artes na UEPB quando em uma noite de 1996 passando por um trailer Bar que ficava ao lado do Teatro Municipal estava tocando no aparelho de som a música “Mulher Eu sei”, eu nunca tinha ouvido o timbre da voz do Chico Cesar. A letra me tomou de assalto, o dono do Bar (o Cunha) me falou que era o primeiro disco do paraibano Chico César. Pensei, o mesmo autor de “Á primeira vista”, nem tudo está perdido. Ouvi todas as 15 músicas do disco, que incluía “Á primeira vista” e fiquei impactado com a crueza e verdade das músicas. Em 1999 ou 2000 assistir o primeiro show do Chico César acompanhado por uma banda no Parque do Povo que tinha mais de 30 mil pessoas. O show estava lindo até que uma dúzia de pessoas na frente do palco começaram a gritar: “Toca Raul” e o Chico perdeu a calma e entrou em debate com o grupo e falou: ”Já toquei muita música do Raul nos Bares e hoje não tocarei uma música nem citarei um verso do Raul. Vocês estão no show do Chico César”.  O público apoiou o cantor e o show seguiu. Os outros discos do Chico César não me emocionaram nem impactaram tanto, mesmo sendo bem produzidos e arranjados. O Chico César sempre me lembra musicalmente o Caetano Veloso mesmo ela se declarando ser mais influenciado pela obra do Belchior.

  • Zeca Baleiro

    eu só ouvi os sucessos radiofônicos e como cantor, para mim, era um “Zé Ramalho” bem melhorado e um bom letrista e melodista. Igual a Chico César teve a carreira “salva” após suas duas canções fazerem sucesso, “Lenha”na voz de Rita Ribeiro, que de quebra “salvou” com sua interpretação uma música fraca. E “A Flor da Pele“, uma obra prima, foi seu salto para a fama com a sua participação no Acústico MTV de Gal Costa gravando com ela. Ele ao longo dos anos e discos se desapegou da semelhança com Zé Ramalho. E mantém uma carreira consolidada sem alarde e para alguns músicos é uma pessoa generosa.

Hoje com ou sem a influência das gravadoras um novo talento parecer com algum famoso prejudica mais que ajuda. E ser diferente dos famosos pode ser mais positivo. Ser “tosco”, mas original, pode valer mais apenas que ser um talento “genérico” de um famoso genial.


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