Por Antonio Carlos da Fonseca Barbosa
O nome Chico César chegou antes do sucesso da música À primeira Vista gravada por Daniela Mercury para a novela O Rei do Gado (em junho de 1996/997). O autor tinha gravado em 1995 no seu primeiro álbum Aos Vivos no formato Voz e Violão e Vania Abreu apresentou a música a sua irmã famosa.
Eu entrei no curso de Comunicação Social e Artes na Universidade Estadual da Paraíba – Campina Grande em março de 1996 e os artistas locais e os colegas de curso comentavam sobre o êxito do paraibano de Catolé do Rocha que desde 1985 morava em São Paulo atuava no jornalismo como revisor na Editora Abril (ele se formou na Universidade Federal da Paraíba – João Pessoa) e na música cantando nos bares paulistanos dos bairros do Bixiga, Vila Madalena, Vila Mariana, Pinheiros, Perdizes, etc. Em 1980 em João Pessoa participou do coletivo musical antropofágico Jaguaribe Carne liderado pelos irmãos Pedro Osmar e Paulo Ró.
No início de 1996 escutei as 16 músicas do álbum Aos Vivos no trailer do Cunha (que ficava ao lado do Teatro Municipal de Campina Grande – Severino Cabral) achando que era um cantor e compositor local. Eu tive misto de encantamento e estranhamento, as músicas que me chamaram mais atenção foram: Béradêro (https://www.youtube.com/watch?v=dqh_Bre7CCM ), Templo, Mamá África (https://www.youtube.com/watch?v=cMFhLhSgMRE), Mulher eu sei (https://www.youtube.com/watch?v=oLTBEpV7ly0), À Primeira Vista (https://www.youtube.com/watch?v=AH6TKjKCy3w), Alma não tem cor (https://www.youtube.com/watch?v=G5lUJhK6QRE).
Após terminar a audição paguei a conta e perguntei para Cunha quem era o cantor, violonista e compositor, ele me respondeu: Chico César, como se falasse o nome de Geraldo Azevedo, eu fui embora constrangido com a minha ignorância de não saber quem era Chico César, mas o nome ficou gravado na mente. Pensei será que Chico César participou dos álbuns Cantoria 1 e 2 com Elomar, Geraldo Azevedo, Vital Farias, Xangai?
Mas quando escutei: À primeira Vista com Daniela Mercury na novela e no seu álbum Feijão com Arroz lembrei da versão Voz e Violão de Chico César, mas não tinha visto a sua foto na capa do CD Aos Vivos e sua imagem física continuava desconhecida.
Em junho de 1997 assisti Chico César no seu primeiro show em Campina Grande no Parque do Povo no Maior São João do Mundo após lançar em 1996 seu álbum Cuscuz Clã produzido por Marco Mazolla. Ele acompanhado por uma excelente banda, era um artista bem resolvido em palco, um repertório autoral inaugural. Senti ele tenso ao chamar para o palco seus pais (Francisco Gonçalves e Emerina Gonçalves) que entraram cantando uma música regional.
O show estava com um clima pra cima, mais Rock que Forró, mas uma turma se aproximou do palco pedindo “Toca Raul”, eu estava longe do palco e tinha mais de 40 mil pessoas, mas Chico César se aborreceu e avisou aos descontentes que não iria cantar um verso de Raul Seixas, respeitava muito o roqueiro e já tinha cantado muitas músicas do Maluco Beleza nos barzinhos, mas eles estavam no show de Chico César.
A banda voltou a tocar com “os dois pés no peito” as músicas autorais de Chico César. Eu como ouvinte aprovei a atitude do artista que já tinha comido “o pão que o diabo rejeitou” e já vinha de experiência de shows pela Europa e buscava mostrar que existia música inteligente após os ícones da MPB, do Forró e do Rock. Após o show do Chico César, teve o show de Dominguinhos que chamou ao palco Biliu de Campina (que faleceu no dia 08/07/2024) para fazer abertura do show, o Dominguinhos alfinetou Chico César por não convidar nenhum artista local para abrir seu show, insinuando que a fama subiu à cabeça do Chico César.
Em 2005, eu já morando em São Paulo encontrei Chico César no Espaço Itaú Cultural na Avenida Paulista. Ele estava com Celso Viáfora e me aproximei para cumprimentar Celso que eu já tinha entrevistado para a RitmoMelodia, Celso me apresentou ao conterrâneo sugerindo que o entrevistasse e o Chico César meio desconfiado e com distanciamento, me cumprimentou timidamente e me passou o contato da sua empresária de origem alemã. Fiz o contato com a empresária e enviei as perguntas e três anos depois recebi as respostas de uma bela entrevista.
Antes de entrevistar Chico César, eu já tinha entrevistado alguns conterrâneos que eram seus amigos e parceiros musicais do tempo “das vacas magras” e todos “brindavam” o contato com o artista, como sendo uma moeda de troca. Mas ainda bem que um paulistano teve uma atitude generosa de me apresentar ao Chico César. E também antes da entrevista escutei os álbuns: Aos Vivos (1995), Cuscuz Clã (1997), Beleza Mano (1997), Mama Mundi (199), De uns Tempos pra Cá (2005), pois estava escrevendo um perfil biográfico de Jarbas Mariz. Eu gostei mais das músicas solares que as reflexivas que exigem mais dos recursos técnicos de um intérprete.
Chico César tem uma personalidade artística irreverente, descontraída, sarcástica e “debochada” e seu posicionamento político é mais “anarquista” que marxista. já ocupou a presidência da Fundação Cultural de João Pessoa (Funjope) em maio de 2009. De janeiro 2011 a dezembro de 2014 foi Secretário de Cultura da Paraíba.
Em 2023 e 2024 Chico César se apresentou em duo Voz e Violão com Geraldo Azevedo, encontro que achei inusitado, já que os dois artistas se resolvem bem acompanhados do próprio Violão. Nos anos 90 assisti alguns shows de Geraldo Azevedo (Voz e Violão) e parecia que ele tinha quatro mãos tamanha agilidade.
Em 2024, Chico César lançou um álbum (Ao Arrepio da Lei – https://chicocesar.com.br/ao-arrepio-da-lei-com-zeca-baleiro) com onze parcerias com Zeca Baleiro com quem nos anos 90 dividiu moradia em São Paulo, a maioria das parcerias foram compostas no período da pandemia do Covid-19. O álbum foi produzido por Swami Jr, exceto as músicas: Verão (produzida por Alexandre Fontanetti) e Lovers (produzida por Erico Theobaldo).
Sempre que alguém me contava algo sobre o Chico César, aparecia o nome de Zeca Baleiro, soava quase como uma dupla, Chico & Zeca. O que pode explicar só após 30 anos amizade se sentirem à vontade em lançar juntos um álbum, eles têm mais parcerias e quem sabe lançarão outros álbuns. Eles se apresentam acompanhados de uma excelente banda. São dois nordestinos que fogem da obrigação de serem identificados como autores exclusivos de música regional. Para os forrozeiros Chico César é um regueiro, e para os roqueiros é um artista da MPB.
Segue abaixo entrevistas que recomendo a leitura para conhecerem mais sobre Chico César: https://ritmomelodia.mus.br/entrevistas/chico-cesar/
Swami Jr: https://ritmomelodia.mus.br/entrevistas/swami-jr
Pedro Osmar: https://ritmomelodia.mus.br/entrevistas/pedro-osmar
Paulo Ró: https://ritmomelodia.mus.br/entrevistas/paulo-ro
Jarbas Mariz: https://ritmomelodia.mus.br/entrevistas/jarbas-mariz
Álbum Aos Vivos: https://youtu.be/53d1NZXjNxs?si=I5ymujS3UraG5KyB
SEM CENSURA ESPECIAL COM CHICO CÉSAR E ZECA BALEIRO: https://www.youtube.com/watch?v=faSurLdWWXA
Parabéns, Antônio Carlos! Muito bem escrito e um relato tão bonito sobre a música e suas influências positivas na vida do autor e seus ouvintes.
Parabéns. Saber sobre nossas jóias culturais enriquece muito nossos conhecimentos sobre a Cultura brasileira.
Parabéns, Antônio Carlos!
Foi muito bacana apresentar a obra e a trajetória do artista Chico César através de suas vivências e perspectivas pessoais. Isso deu um tom dinâmico e muito interessante ao artigo. Seu trabalho capturou a essência do artista de uma forma envolvente e autêntica.
Continue com esse excelente trabalho!
Adorei ler sobre sua experiência com Chico César. Sua jornada desde a descoberta de suas músicas até o encontro tímido, porém marcante, em São Paulo, revela a eclética carreira desse artista multifacetado.
É inspirador ver como um artista paraibano, (seu conterrâneo), que começou nos bares paulistanos, alcançou reconhecimento nacional e internacional, sempre mantendo sua essência e identidade cultural.
O relato do show no Maior São João do Mundo e o confronto com a plateia que pedia “Toca Raul” ilustra bem a integridade artística de Chico. Sua postura firme em apresentar seu próprio repertório, mesmo diante de expectativas contrárias, é um testemunho de seu compromisso com sua arte e com a inovação musical.
Encontros como o seu com Chico no Espaço Itaú Cultural, ainda que breves e inicialmente distantes, são preciosos para quem aprecia e divulga a música brasileira. É gratificante ver como você seguiu explorando e divulgando sua obra, culminando em uma entrevista que, apesar de demorada, trouxe insights valiosos sobre sua trajetória.
A colaboração com Zeca Baleiro, que emergiu depois de décadas de amizade, é um marco que celebra a força das parcerias musicais que transcendem o tempo. É maravilhoso ver como ambos conseguem se reinventar e colaborar de formas que desafiam as categorias rígidas de gênero musical.
Seu relato é um tributo sincero a um artista cuja obra continua a ressoar profundamente. É um lembrete de como a música pode conectar vidas, inspirar jornadas e perpetuar legados culturais. Obrigada por compartilhar essa narrativa tão rica e pessoal sobre Chico César.