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Uma Revista criada em 2001 pelo jornalista, músico e poeta paraibano Antonio Carlos da Fonseca Barbosa.

Forró eletrônico, a monocultura sexual

monocultura sexual
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As letras do forró eletrônico não me escandalizam. Posso fazer (e já fiz) poemas que deixariam essa rapaziada com o rosto enrubescido. São uns amadores. A crítica que faço à música deles, portanto, não é uma crítica moralista de quem se escandaliza com versos de safadeza.

Pelo contrário! O verso e o romance de safadeza são uma nobre arte. Olhem aqui na minha estante, e verão de Henry Miller a Aretino, do Marquês de Sade a Carlos Zéfiro, e de Bocage aos romances em versos que Ariano Suassuna, em seu estudo dos ciclos do cordel, classifica como “folhetos de safadeza e putaria”.

Essas coisas fazem parte da cultura, companheiros. Sempre fizeram e sempre o farão. O problema da pornografia é quando ela passa a ser usada sistematicamente, como uma monocultura arrasadora.

A pornografia pode virar algo como a cana-de-açúcar ou a soja, que precisam viabilizar lucros cada vez mais rápidos, mesmo que o preço seja a destruição de todas as outras culturas em volta. A pornografia tem seu lugar e sua função. Ela se transforma num problema quando vira uma indústria tão lucrativa que extingue tudo que há em redor.

Uma coisa é o forró malicioso, feito por um cara que teve uma boa idéia, uma idéia que admite uma dupla leitura com sentido erótico, e faz uma música com ela. Uma música que, no CD, vem ladeada por outra que fala em sertão, outra de sátira política, outra de amor, outra de descrição da vida urbana, e assim por diante. É o que vemos nos discos dos grandes forrozeiros.

Escutem o Trio Nordestino, Elino Julião, Maciel Melo, Biliu de Campina, Flávio José. Todos fazem, no meio de um repertório variado, que cobre todas as facetas da vida humana, músicas cujo tema é o sexo, a sedução, o corpo feminino, o xamego entre homem e mulher. É uma das coisas boas da vida, porque não falar dela – com humor, com graça, com uma piscada de olho para as meninas? Todo mundo gosta.

O que sou contra é esse samba-de-uma-nota só mórbido, doentio: safadeza, safadeza, safadeza… Também seria contra um movimento musical que falasse unicamente de futebol, futebol, futebol. Ou uma escola literária que quisesse impor como único tema a filosofia, filosofia, filosofia. Ou um cinema que se limitasse a repisar histórias sobre o sertão, sertão, sertão.

Tudo demais é veneno. Nada tenho contra a pornografia como gênero, mas sou contra a pornografia (ou qualquer outra coisa) como tema único, repisado de forma incessante. Sou contra a canção pornografia como monocultura, repetição obsessiva, com o único objetivo de esgotar o mais depressa possível um mercado cheio de gente ingênua.

Depois de exaurido esse mercado, os espertalhões (que não são do ramo, não são do forró) passarão adiante. Irão fazer música evangélica ou jingles de campanhas políticas. E deixarão atrás de si uma geração de jovens abobalhados, incapazes de entender uma música se ela não falar da única coisa que eles aprenderam a ouvir.

*Bráulio Tavares  – Jornalista, escritor e compositor paraibano. Este texto foi editado em 09/07/2008 na sua coluna diária no Jornal da Paraíba – Campina Grande – PB (http://jornaldaparaiba.globo.com).

Contatos: E-mail: [email protected] / http://mundofantasmo.blogspot.com


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