O cantautor Zeh Rocha reside em Recife – PE. Já residiu nos estados de São Paulo, Rio de Janeiro, Santa Catarina e Goiás, onde pôde diversas vezes apresentar à várias cidades brasileiras a nossa cultura popular pernambucana através de suas músicas.
Ele é um artista atemporal e que consegue se fazer presente de maneira renovada e inovadora, mantém alta qualidade artística em suas performances, até hoje.
Zeh Rocha é um exemplo de tenacidade e profissionalismo musical no atual cenário musical brasileiro. Possui canções gravadas por dezenas de artistas nacionais e locais, consagrados por críticos musicais do país.
O grupo Flor de Cactus, Lenine, Elba Ramalho, Boca Livre, Céu da Boca, Vicente Barreto, Trio Asas da América, Quenga de Coco, Geraldinho Lins, Geraldo Maia, Maciel Melo, Lucinha Menezes, entre outros já gravaram suas canções. Juliano Holanda, Bráulio Tavares, Xico Bizerra, Lenine, Jessier Quirino, Erasto Vasconcelos também são seus parceiros, em diversas músicas.
Zeh Rocha tem um legado registrado em quatro álbuns: “Festejos”; “Loas, Luas e Lendas”; “Tear” e o DVD “Transfinito”.
Sua carreira musical foi reconhecida pela Câmara dos Vereadores de Recife – PE, em 2023, através de um prêmio que recebeu, por sua contribuição à música popular brasileira.
Segue abaixo entrevista exclusiva com Zeh Rocha para a www.ritmomelodia.mus.br, entrevistado por Antonio Carlos da Fonseca Barbosa em 05.08.2024:
01) Ritmo Melodia: Qual a sua data de nascimento e a sua cidade natal?
Zeh Rocha: Eu nasci no dia primeiro de abril de 1954 em Recife, Pernambuco. Registrado como José Rocha de Albuquerque Filho.
02) RM: Fale do seu primeiro contato com a música.
Zeh Rocha: Meu primeiro contato com a música foi na infância, em Olinda – PE, na casa de meus avós maternos. Eles moravam no sítio histórico. Durante o eu sempre ia pra casa deles, e então, passei a ouvir, sentia muita atração e prazer em seguir os blocos com orquestras de frevo, do som dos caboclos de lança dos maracatus rurais, às loas, os sons dos metais, dos instrumentos de percussão me atraiam.
Com 11 anos de idade, ganhei um violão de meus pais, e comecei a estudar com um professor, peguei algumas músicas de ouvido, em revistas, e aprendi canções com um vizinho. Esse fato está intimamente ligado as minhas escutas em Olinda – PE.
03) RM: Qual sua formação musical e/ou acadêmica fora da área musical?
Zeh Rocha: Minha formação musical foi e permanece sendo espontânea, autodidata, na maior parte da minha vida musical, meus cinquenta anos de atividades musicais. Eu tive aulas de teoria musical, canto coral, no Colégio de Aplicação da Universidade Federal de Pernambuco, com os professores Edson Bandeira de Melo, e Clara Cavendish, ambos eram pianistas Foram muito importantes para desenvolver minha percepção musical.
Também me influenciou a oportunidade de ouvir os concertos da Orquestra Sinfônica de Pernambuco, sob a regência do maestro Mário Câncio. Eram concertos aulas, em que aprendíamos a diferenciar os nomes e timbres dos instrumentos que faziam parte da orquestra.
04) RM: Quais as suas influências musicais no passado e no presente. Quais deixaram de ter importância?
Zeh Rocha: Minhas principais influências na minha adolescência, foram o Quinteto Violado, Luiz Gonzaga, Edu Lobo, Chico Buarque, Gilberto Gil, João Gilberto, Geraldo Vandré, Milton Nascimento, junto com os músicos do Clube da Esquina. Eu também tive uma influência muito nítida na minha obra musical, que são os ritmos populares de Pernambuco, entre eles: o baião, a ciranda, o maracatu de baque virado, o afoxé, o frevo, o afoxé. Todos continuam tendo importância, fazem parte da construção de minha obra musical, estão presentes nas canções de meus álbuns: Festejos; Loas, lendas e Luas; Teatro, DVD Transfinito.
05) RM: Quando, como e onde você começou sua carreira musical?
Zeh Rocha: Eu considero marco zero do meu trabalho musical, a gravação do compacto vinil Festejos, com o grupo Flor de Cactus, com Lenine em 1974 gravação que foi feito de forma independente, com muita garra e amor.
06) RM: Quantos álbuns lançados?
Zeh Rocha: Tenho os seguintes CDs lançados: Festejos (1974), LOAS, Lendas e Luas (2000), Festejos (1974), CD Caminhantes com músicas espiritualistas, o DVD Transfinito (2012).
07) RM: Como você define seu estilo musical?
Zeh Rocha: Considero que que meu estilo musical é a música popular música popular brasileira, sendo uma síntese das expressões culturais de Pernambuco, com origem na cultura popular, a literatura e música mais elaborada harmonicamente.
O ponto de partida da minha composição é a célula rítmica que está no meu inconsciente coletivo, na minha memória, na minha alma ancestral. Esse processo de compor usando o violão é muito especial e cada vez mais raro. Isso faz parte do meu estilo musical.
Eu tenho ainda preservado o universo modal, frases melódicas e rítmicas que vem da minha ancestralidade e do que guardei na minha memória, histórica e minhas vivências.
Meu estilo musical é contemporâneo, moderno, orgânico, ecológico, híbrido, poético e livre. Não sigo modismos impostos pela grande mídia, exaltados pelos críticos de música.
08) RM: Você RM: Você estudou técnica vocal?
Zeh Rocha: Sim. Foi um processo de aprendizado lento e gradual, atendendo as minhas necessidades e busca de me aprimorar na minha justa e eficaz comunicação com o público que me admira, me acompanha cinquenta anos de atividades musicais.
Hoje, sou aluno e mestre de técnica vocal. Tenho pós graduação em Pedagogia Vocal, e as horas dedicadas aos ensaios, shows, gravações de meus álbuns e aulas para centenas de pessoas, durante mais de vinte anos.
09) RM: Qual a importância do estudo de técnica vocal e cuidado com a voz?
Zeh Rocha: É necessário que a gente mantenha a nossa vitalidade e expressividade vocal interpretativa. Só a técnica vocal não é suficiente para você ser cantor, intérprete vocal com excelência. Os cuidados com a voz são fundamentais, mas, tenho uma visão holística da minha atividade musical, da minha existência passageira nesse planeta maltratado.
Cuidar da voz é cuidar de si. Para mim, a descoberta da voz como instrumento musical de cura, através de uma oficina de musicoterapia, com o professor Ricardo Oliveira da UNB – Universidade de Brasília foi um marco de mudança de paradigma, na minha vida, um divisor de águas.
10) RM: Fale de atuação dando aula de técnica vocal e cuidado com a voz?
Zeh Rocha: Na década de 80 fui solicitado a compor as trilhas musicais de diversas peças de teatro no Recife – PE. Nesse encontro mágico com o teatro, eu além de compor as canções da peça teatral era convidado a ensinar as músicas. Nessa função didática, fui aprendendo na prática a importância de estudar técnica vocal, musicoterapia, de ter uma alimentação mais saudável, praticar Ioga.
E então, essas oportunidades com os atores e atrizes me levaram adiante, no sentido de investir no estudo da técnica vocal, descobri autores incríveis, bons livros da musicoterapia, cantoterapia, holomúsica, pedagogia vocal.
Hoje, dedico boa parte do meu tempo ao estudo e prática do canto, a arte do canta, ao potencial de cura dos sons musicais. Tenho uma turma com mulheres, que estão juntas a um ano, desenvolvendo o canto, desvendando suas vozes, e alunos e alunas com aulas on-line.
Tive a oportunidade de desenvolver a musicalidade de mais de trezentas pessoas durante dois anos no espaço do museu Willy Zumblick em Tubarão, Santa Catarina. Foi um projeto onde pude pôr em prática minhas ideias e conceitos dentro de uma abordagem holística.
Pretendo continuar nessa área da pedagogia vocal, com essa concepção sistêmica, ampliar minhas turmas. O ensino e o aprendizado da técnica vocal vão além da melhoria e aperfeiçoamento de quem canta.
No meu entendimento, através de uma abordagem holística, terapêutica, espiritualista, o aprender a cantar é um processo de libertação do ser humano e de crescimento espiritual.
11) RM: Quais as cantoras (es) que você admira?
Zeh Rocha: Gosto muito de cantoras que marcam época, são vozes sintonizadas com a liberdade, a qualidade de vida, com a preservação da natureza, respeito às liberdades, respeito às diferenças de todos os tipos: raça, cor, gênero.
Então, com base nesses critérios posso citar: Janis Joplin, Nina Simone, Edith Edith Piaf, Carmen Miranda, Elis Regina, Marlui Miranda, Rita Lee, Gal Costa, Maria Bethânia, Beth Carvalho, Nara Leão, Carminho.
Entre os cantores, destaco: Agostinho dos Santos, Nelson Gonçalves, João Gilberto, Caetano Veloso, Luiz Gonzaga, Ney Matogrosso, Taiguara, Geraldo Maia, Martins, Almério.
12) RM: Como é seu processo de compor?
Zeh Rocha: Existe uma motivação muito presente que é a célula rítmica, o suingue, a levada da frase inicial da canção. O processo pode iniciar com uma palavra tem sonoridade em si mesma, como podem vir à tona, vogais, fonemas, que sugerem uma bela construção melódica.
Não existe regra para iniciar uma canção. É talvez, a única regra: não ter regras. Normalmente, componho no tocando o Violão, que por ser um instrumento também onde as harmonias, o encadeamento de acordes pode nos inspirar a composição de uma bela obra musical.
Para compor é necessário desapego ao que você pode considerar belo inicialmente, mas, depois pode abandonar essa construção, seja melodia, ou harmonia. Mas compor com soltura, consistência, qualidade artística é um processo sofrido, solitário, de mergulho dentro de si.
Eu tive a sorte, a honra de conhecer e receber um conselho de um dos maiores compositores brasileiros, Herivelto Martins, em sua casa no Rio de Janeiro. Herivelto me disse: “Meu filho, nunca faça uma canção, uma letra, ou melodia sem se sentir inspirado”.
13) RM: Quais são seus principais parceiros de composição?
Zeh Rocha: Meus principais parceiros são: André Lobo Freire, com quem eu fiz diversas canções para o grupo Flor de Cactus. Ele me trouxe a influência do Edu Lobo. É primo de Edu. Em seguida, Lenine surgiu na minha vida, como novo integrante do grupo Flor de Cactus. Fizemos diversas canções juntos em Recife – PE. E sempre a nossa parceria fluía normalmente, como uma interação muito grande.
Em determinada canção, eu levava a ideia inicial, uma sugestão de uma sequência harmônica, e Lenine, em seguida, suingava mais ainda, sugerindo outro caminho, e vice versa. Tínhamos uma química muito boa, no momento de compor, que era sempre de forma presencial, em lugares inusitados, podia ser no palco de um festival, aguardando a passagem de som, foi assim que surgiu Baião fusion, Prova de Fogo. Fizemos música, numa calçada, no Alto da Sé, em uma a noite tranquila, sem quase ninguém por perto de perto de nós.
Tenho outros parceiros, com quem fiz composições que são que são apreciadas por nossos admiradores. Posso citar: Erasto Vasconcelos meu parceiro na canção Maracatu Silêncio, que foi gravada por Lenine, no álbum Baque Solto. Junto com ele e Lenine compus a canção Pintou o Tagarela, que foi gravada no meu álbum Tear.
Outros parceiros importantes são: Wilson Freire, Cláudio Noah, Gilvandro Gilvandro, Mozart Melo, Ivano, Jessier Quirino, Maciel Melo, Juliano Holanda, Manoel Nascimento, Henrique Macedo, Alex Mano, Sílvio Cavalcanti, Sílvio Cavalcanti, Marcelo Mário Melo.
14) RM: Quais os prós e contras de desenvolver uma carreira musical de forma carreira musical de forma independente?
Zeh Rocha: Acredito que sempre existirá mais prós do que contras na forma independente de seguir uma carreira musical no Brasil, ou em outro lugar do mundo. Se o artista escolhe ser independente, ele tem mais liberdade, e claro, lhe exige mais esforços para desenvolver a sua carreira musical. Mas, vale a pena tentar manter essa autonomia na sua arte, sem interferência, nem pressão dos modismos da indústria cultural. Essa pressão era da indústria fonográfica, hoje, das plataformas digitais.
Eu escolhi e sigo muito feliz com a minha independência artística, busco caminhos alternativos, encontro parceiros para produzir meus shows alternativos. Eu conto com uma rede de colaboradores nas minhas produções, que inclui músicos e produtores. Conto com minha produtora e namorada Jeanne Duarte, que tem sido muito importante nessa jornada do show e do meu trabalho musical mais recente.
A arte é coletiva, ninguém faz tudo sozinho. Nem mesmo com muita grana na produção dos seus shows, significa ter sucesso de público. O artista tem que contar com as suas qualidades e dons: talento musical, carisma com o público, bom caráter, ser comunicativo, ser agregador.
15) RM: Quais as estratégias de planejamento da sua carreira dentro e fora do palco?
Zeh Rocha: Eu estou lendo, me informando, fazendo oficinas sobre gestão de carreira musical, elaboração de projetos culturais, participo de grupos no whatsApp, fóruns sobre esses temas. Meu objetivo, ao investir meu tempo nessas pautas é me manter bem informado e pôr em prática minhas ações e um planejamento mensal, anual para minha carreira musical. No mínimo, para me manter motivado a seguir produzindo com amor, dedicação. Mas, nada funciona com muita pressão na área musical. Aí, sim, é importante um planejamento.
Uma reflexão crítica que sempre fiz sobre o planejamento dos editais de cultura. Será muito gratificante para toda a cadeia produtiva das artes, quando houver uma comunicação, interatividade, uma sintonia entre o poder público, entre gestores e atores da cadeia produtiva na elaboração e execução dos editais. Se tivermos essa sincronicidade, acho que o comando pode vir da discussão e ação dos artistas, produtores e técnicos da economia criativa, junto com o Ministério da Cultura, secretarias de Cultura, entidades públicas, privadas.
Nesse momento político, histórico, poderemos construir um plano de ação cultural em que a elaboração e produção de projetos, circulação de shows, oficinas, produção de álbuns, livros, e-books didáticos, literários. Nesse plano, as datas de entrega de projetos não fossem sobrepostas, restringindo o nosso tempo para elaborar, participar dos editais durante um ano.
16) RM: Quais as ações empreendedoras que você pratica para desenvolver a sua carreira musical?
Zeh Rocha: Posso dividir essa resposta em duas partes distintas, que podemos conceituar de tempo analógico e digital. No tempo analógico, antes da era tecnológica, nas décadas de 60, 70, nossa conduta, comportamento, relacionamento com o mercado musical exigia muito esforço do músico para conseguir “ter sucesso, estar em evidência” no meio artístico.
Apesar do suporte financeiro, promocional para alguns artistas por parte das gravadoras, indústria fonográfica, em que os produtos eram gravados de forma analógica. Os artistas sofriam muita pressão, eram dependentes dos ditames dos produtores de discos, donos das gravadoras, em sua maioria, indústrias multinacionais.
Nesse tempo analógico, eu não tive acesso direto a nenhuma gravadora estrangeira de forma direta. Não fui contratado para entrar nesse jogo comercial. Eu não tinha esse paradigma de ser um empreendedor cultural, um compositor que dominasse todos os mecanismos da produção musical. Não escolhi esse caminho. Mas, tive acesso a editoras em São Paulo e no Rio de Janeiro, quando minhas canções foram gravadas por Lenine, Elba Ramalho, Céu da Boca.
Recebi um convite para montar um repertório de trinta canções para escolher 11 e produzir um álbum. Essa proposta surgiu com o último produtor musical do Tim Maia. Não lembro mais de seu nome, infelizmente. Essa ideia não vingou, pois, com a morte do Tim Maia, o tal produtor sumiu. Então, nesse tempo analógico, a vida ia fluindo mais tranquila pra mim. Nunca incorporei o conceito de “fazer sucesso”, de competição, de ser “um empreendedor”.
Hoje, talvez, tenho absorvido informações sobre empreendedorismo. Mas, tenho uma visão crítica sobre essa imposição ideológica capitalista. Vivemos há décadas, o tempo da virtualidade, do descartável, às mercadorias culturais tem etiquetas variadas com prazo de validade menor.
17) RM: O que a internet ajuda e prejudica no desenvolvimento de sua carreira musical?
Zeh Rocha: A internet não prejudica ninguém, se for utilizada com objetivos salutares, para deleite, prazer, aprendizado. A internet tem sido uma ferramenta de trabalho na minha carreira musical, até me proporcionou a construção de relacionamentos com parceiros, parceiras que resultaram em intercâmbio musical.
Hoje, as plataformas digitais e as redes sociais podem ser aliadas, impulsionam às nossas vidas e atividades musicais. Durante a pandemia do covid-19, eu produzi pelo meu canal no Instagram dezenas de lives solidárias, em que as pessoas colaboraram financeiramente, além de ampliar o número de pessoas que passaram a me seguir.
Nesse tempo em que precisávamos permanecer isolados, construí ótimas amizades, relacionamentos profissionais, parcerias novas com poetas, entre eles, Lula Tavares e reacendi minha parceria com João Lyra, um músico excepcional.
18) RM: Quais as vantagens e desvantagens do acesso à tecnologia de gravação vantagens e desvantagens do acesso à tecnologia de gravação (home estúdio)?
Zeh Rocha: Existem boas vantagens no uso da tecnologia avançada, às gravações feitas com mesas digitais, com diversos recursos de edição de áudio e vídeo.
Às vantagens são: democratização do acesso a ferramentas de produção musical, musical, maiores canais de divulgação das músicas e dos seus autores, visibilidade nas redes sociais, plataformas digitais, que também são espaços gratuitos, mais possibilidade de exposição e amplitude do universo de universo de admiradores do nosso trabalho musical.
Hoje, outra vantagem, é que o custo de tempo e dinheiro para expormos nossa música é accessível, é menor, em termos relativos. Em pouco espaço de tempo, você posta um vídeo de performance musical, ou faz uma live no meu Instagram, e pessoas vão apreciar o meu trabalho musical.
Hoje, é mais viável, o custo é mais baixo, existem mais parcerias, trocas entre músicos para se utilizar a tecnologia. Evidente que o músico precisa extrapolar o universo das mídias sociais, streamings, do seu canal no YouTube para ir ao encontro de mais pessoas, formar o seu público através do contato mais próximo, corpo a corpo, olho no olho, numa troca saudável de energia, nos seus shows. nos seus shows. Não existe desvantagens no acesso à tecnologia digital, as ferramentas podem ser bem utilizadas por nós.
19) RM: No passado a grande dificuldade era gravar um disco e desenvolver evolutivamente a carreira. Hoje gravar um disco não é mais o grande obstáculo. Mas, a concorrência de mercado se tornou o grande desafio. O que você faz efetivamente para se diferenciar dentro do seu nicho musical?
Zeh Rocha: O desafio hoje é gravar um álbum virtual, também ter uma pequena quantidade do CD ou Disco vinil e utilizar esses produtos para documentar, servir aos seus admiradores com algo palpável. Essa produção de álbuns virtuais com suas canções pode ser viabilizada através de projetos aprovados em diversos editais.
O atual governo Lula, iniciado em 2023 tem investido mais em cultura, através de editais nacionais via o MinC. Existem os editais de música nos Estados e nos municípios brasileiros. Esse investimento vai aumentar e se firmar como uma política pública de fomento cultural.
Eu tenho tido apoio em editais desde a década de 90 quando gravei meu CD – Tear, com apoio financeiro da CHESF. Em seguida, produzi meu DVD Transfinito, com apoio da Fundarpe e através de edital do Funcultura em 2012. A grana veio dos cofres públicos do Estado de Pernambuco.
Em 2023 iniciei a gravação do álbum Deixa a Mata não Desmata, a convite do produtor musical, guitarrista, Mário Sérgio Oliveira, no Studio Malunguim Records, em Recife – PE. Nessa parceria, selamos um acordo de uma parceria colaborativa, uma permuta justa de trabalhos musicais, marketing cultural. Esse encontro entre nós foi mais do que, simplesmente, promover nossos nomes e trabalhos musicais. Faz parte da construção com solidariedade, afinidades éticas, estéticas, valores espirituais.
Contei também, e tenho ainda a parceria de músicos experientes, como meu irmão Alex Mono, que é guitarrista, produtor musical do Coração Tribal; André Eugênio, percussionista e musicoterapeuta; Eliano Macedo, baixista; Mavi Pugliesi, saxofonista, flautista, pifeiro; Tomás Melo, percussionista. Agora Vamos dar continuidade a gravação do álbum Deixa a Mata não Desmata, contando maestro Carlinhos Lua e o trompetista Márcio Oliveira e mais convidados.
Nós estamos com um outro show: Linhagens, que estreou no Teatro de Santa Isabel no dia 16 de março de 2024. Vamos seguir, fazendo esse show em diversos lugares.
20) RM: Como você analisa o cenário da Música Popular Brasileira. Em sua opinião quais foram as revelações musicais nas últimas décadas? Quais artistas permaneceram com obras consistentes e quais regrediram?
Zeh Rocha: A MPB vai bem, apesar da dificuldade de novos compositores de colocarem os seus trabalhos musicais e serem reconhecidos dentro do mercado cultural, do cenário artístico e conseguirem realizar circuito de shows dentro do seu Estado.
Existe uma exposição cada vez maior e diversificada a nível de estilos musicais, artistas novatos e veteranos exibindo seus atos e produtos musicais: álbuns virtuais, reels, vídeos de seus shows nas plataformas digitais, CDs e Vinis.
As principais revelações musicais foram: Cláudio Rabeca, Hugo Lins, Juliano Holanda, Lins, os integrantes do Reverbo, AnaVitória, Vanessa Moreno, Tiganá, Lucas dos Prazeres, Gilu Amaral, Renato Bandeira, guitarrista, violonista da Orquestra Spok de Frevo, Escurinho, Vitória Ohara.
Em sua carreira artística o cantor, compositor, tem momentos de mais visibilidade, outros de menor exposição, fases mais difíceis. Não sei te dizer quem regrediu, é uma questão até ética. O público sente que regrediu que um ou outro artista que esteve em evidência, pode chegar ao ostracismo. Mas, isso não é regressão. Esse termo não cabe, dentro de uma carreira artística.
O que pode acontecer é que um determinado artista pode chegar ao auge do sucesso, ter milhares de fãs e em um momento, não realizar o número de shows que realizava. Mas, os seus fãs não irão deixar de admirar o seu trabalho. Existem artistas que estão mantendo suas carreiras em alta, fazendo shows, estão na mídia, como por exemplo, Maria Bethânia, Alceu Valença, Lenine, Zeca Baleiro, Quinteto Violado, a Banda de Pau e Corda, Chico César, e tantos outros.
21) RM: Quais as situações mais inusitadas aconteceram na sua carreira musical (falta de condição técnica para show, brigas, gafes, show em ambiente ou (falta de condição técnica para show, brigas, gafes, show em ambiente ou público tosco, cantar e não receber, ser cantado, etc)?
Zeh Rocha: Eu considero que posso destacar pelo lado positivo, o meu encontro com Antônio Mousinho, que era um jovem com 19 anos de idade, estudante de violão, no Rio de Janeiro. A gente se encontrou numa loja de instrumentos musicais no shopping no shopping Guararapes. Nós tornamos amigos e me lançou a proposta de patrocinar, com apoio de seu pai, Manoel Emídio Leão, meu primeiro álbum CD – Loas, lendas e Luas.
A falta de condições técnicas, por exemplo, a qualidade de equipamentos de som, boa acústica, são adversidades comuns que enfrentamos. E já levamos calotes de empresários inescrupulosos, sacanas.
22) RM: O que lhe deixa mais feliz e mais triste na carreira musical?
Zeh Rocha: O que me deixa feliz na minha carreira é a legião de admiradores que me seguem nas redes sociais, plataformas digitais, nos meus shows.
No dia 16 de março de 2024, celebrei meus cinquenta anos de atividades musicais. Essa celebração foi realizada com a presença de quatrocentas pessoas confirmada no Teatro de Santa Isabel em Recife – PE, o templo da música.
O show Linhagens que foi apresentado ao público pernambucano tem um repertório formado por canções que gravei nos álbuns: Festejos (com o grupo Flor de Cactus); Loas, lendas e Luas; Tear; DVD.
Estou muito feliz por esse legado musical, por estar com o show Linhagens pronto para circular mundo afora, contando com músicos excelentes, que são: Alex Mono (guitarrista), André Eugênio (percussionista, guitarrista), Eliano Macedo (baixo), Márcio Oliveira (no trompete), Carlinhos Lua (tocando sax soprano e tenor, flauta).
No meio musical me entristece o individualismo, o narcisismo, a existência de privilegio dos guetos musicais, os gestores culturais.
23) RM: Existe o Dom musical? Como você define o Dom musical?
Zeh Rocha: Existe o dom musical. E podemos definir como um atributo do espírito, habilidades inatas ao ser espiritual, que é desenvolvida em cada encarnação espiritual. Evidente que somente a existência do Dom musical não é suficiente para se formar o músico, o artista. Outros fatores contribuem para o desenvolvimento e reconhecimento do talento musical. É preciso que a sociedade, o Estado, suas instituições culturais, nós artistas participamos da formatação de ação de políticas públicas de fomento às artes, a cultura.
24) RM: Qual é o seu conceito de Improvisação Musical?
Zeh Rocha: Considero o improviso musical um estágio superior para o músico. É necessário que ele tenha uma percepção musical desenvolvida, às vezes, nasceu com esse dom. O estudo e a prática da improvisação musical traz muito prazer ao músico, proporciona deleite e até êxtase no público ouvinte da performance musical.
Eu curto muito Hermeto Paschoal, Pat Metheny, Paco de Lucia, Chick Corea, Yamandu Costa, Michel Pipoquinha, Salomão Soares, Vanessa Moreno, Amaro Freitas.
25) RM: Existe improvisação musical de fato, ou é algo estudado antes e aplicado depois?
Zeh Rocha: Evidente que para improvisar o músico precisa de muita intimidade com seu instrumento, muita prática em grupo, num dueto, ou mesmo sozinho, estudos de escalas, modos. Daí, ele pode aplicar bem, ter excelência no seu desempenho como solista ao improvisar.
26) RM: Quais os prós e contras dos métodos sobre Improvisação musical?
Zeh Rocha: Acredito que o músico, seja autodidata ou estude num conservatório com seu mestre, sozinho, como por exemplo, do Ian Guest. Não vejo pontos negativos nos métodos de improvisação musical. Podem existir livros sobre o assunto que não são recomendáveis. Não os conheço. Sempre é prudente, mesmo que você seja autodidata, consultar algum músico mesmo experiente no improvisar.
27) RM: Quais os prós e contras dos métodos sobre o Estudo de Harmonia musical?
Zeh Rocha: Existem métodos e métodos. É preciso ter boa orientação de um músico, mestre na escolha dos livros sobre harmonia musical.
28) RM: Você acredita que sem o pagamento do jabá as suas músicas nas rádios?
Zeh Rocha: Hoje, existem rádios online, que utilizam as nossas músicas. Por exemplo, na Spotify, podendo ser um espaço pago, o que permite maior exposição de sua obra musical. O Jabá é um termo ultrapassado, não se usa mais. A relação do artista, sua produtora é comercial e legalizada. Às empresas de televisão, sistemas de rádio possuem uma tabela de inserção de música na sua programação, e tudo é negociado.
No passado, o jabá era muito utilizado e mal visto, uma ação escondida, uma negociação entre o programador da rádio e a gravadora era também uma ação comercial, quase como um lobby, porque o número de artistas era muito maior. Hoje, você tem muitas ferramentas, espaços virtuais para divulgar a sua música sem necessidade de pagar Jabá, mas trocar favores.
29) RM: O que você diz para alguém que quer trilhar uma carreira musical?
Zeh Rocha: Nunca desista de seu sonho. Você precisa ter paciência, resiliência, determinação, mas, principalmente, muito amor e a sua atividade musical, sua arte.
30) RM: Como você analisa a cobertura feita pela grande mídia da cena musical brasileira?
Zeh Rocha: Existe uma carência de especialistas, profissionais da área de comunicação, que entendam de música, da História da música. O espaço para novos artistas, instrumentistas podem ser ampliado.
A mídia privilegia os grandes nomes, nas suas programações, sensacionalismo, essas pessoas não incentivam os novatos, às revelações musicais. Felizmente, temos espaços virtuais, como o Instagram, tweet, Facebook, Spotify, às redes sociais que servem de palco, vitrine para a oferta de novos talentos.
31) RM: Qual a sua opinião sobre o espaço aberto pelo SESC, SESI e Itaú Cultural para cena musical?
Zeh Rocha: Estão cumprindo objetivos de divulgação de novos talentos, dos veteranos a contento. São espaços importantes para revelarem novos artistas, tendências musicais de vanguarda, formação de plateia.
32) RM: Quais os seus projetos futuros?
Zeh Rocha: Tenho vários projetos para esses próximos dez anos, pelo menos. Na área da música, quero seguir com o meu show Linhagens, circular com o show pelo interior de Pernambuco, outros estados e na Europa. Já estamos trabalhando nesse sentido, oferecendo esse espetáculo musical, que vem sendo aplaudido, reconhecido por seu belo valor artístico.
Na literatura tenho dois livros para concluir e buscar suas edições, lançamentos no mercado. Pretendo continuar desenvolvendo meu trabalho pedagógico, com meus alunos e alunas de técnica vocal e canto, aprofundar minhas experiências dentro de abordagens holísticas.
33) RM: Quais seus contatos para show e para os fãs?
Zeh Rocha: Para contrato de shows, aulas de técnica vocal online ou presencial: 81 – 99849 – 8685 | [email protected] | [email protected]
Canal: https://www.youtube.com/@ZehRocha
Paranambuca (Zeh Rocha): https://www.youtube.com/watch?v=ot0GifOXcTU
Playlist de Músicas autorais: https://www.youtube.com/watch?v=zgDy-Rjy2eQ&list=PLNz5ulooX4bcvXch51QNUE50i_EEPdqwG
Viva!!! Grande.
Gostei muito da abordagem espiritualista desse artista. E que coisa boa as entrevistas oferecidas aqui com tantos artistas talentosos.