More Papete »"/>More Papete »" /> Papete - Revista Ritmo Melodia
Uma Revista criada em 2001 pelo jornalista, músico e poeta paraibano Antonio Carlos da Fonseca Barbosa.

Papete

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Nascido José de Ribamar Viana (Papete), em Bacabal – Maranhão, foi em sua terra natal que começou a se identificar com os sons dos tambores, das matracas e dos maracás afro-indígenas, além de haver ali iniciado seu gosto pelas canções e cantos provenientes da mais diversificada fusão étnica existente no Brasil.

Vindo para São Paulo nos anos 70, rapidamente foi se encaixando no mundo musical da metrópole. Trabalhou por sete anos na famosa casa de MPB “O JOGRAL” e conviveu com alguns dos melhores artistas brasileiros, como Edu Lobo, Geraldo Vandré, Paulinho da Viola, Toquinho, Jorge Bem Jor, Luis Carlos Paraná, Chico Buarque, Gilberto Gil, Claudete Soares, Clara Nunes, Gonzaguinha, Ivan Lins, Luiz Gonzaga, Marília Medalha, Lupicínio Rodrigues e tantos outros que naquela casa se apresentavam. Em Sampa ganhou o apelido de Papete por conta de sua fisionomia asiática.

No Jogral aprendeu a tocar a maioria dos instrumentos de percussão e conheceu o publicitário, jornalista produtor musical Marcus Pereira, que na época abria sua produtora e gravadora. Na gravadora de Marcus Pereira, foi um dos integrantes da equipe que pesquisou e mapeou musicalmente todo o território brasileiro e gravou seus quatro primeiros discos, todos premiados pela critica especializada da época.

Foi o primeiro músico brasileiro a fazer um show exclusivamente voltado para a percussão brasileira, em que se destacava o manejo do Berimbau, instrumento no qual se especializou e que lhe rendeu posteriormente, no Brasil e no exterior, prêmios da critica musical, tendo sido então considerado pela Revista “DOW BEAT” um dos três melhores percussionistas do mundo, ao lado de Naná Vasconcelos e Airton Moreira.

Por ser especialista nos ritmos e na percussão brasileira, trabalhou com Renato Teixeira, Almir Sater, Diana Pequeno, Paulinho Pedra Azul, Olga Ribeiro, Clara Nunes, Paulinho da Viola e Martinho da Vila, artistas conhecidos por seu trabalho musical voltado para as raízes nacionais.

Papete acompanhou, como baterista e percussionista: César Camargo Mariano e gravou com Marília Medalha, Tom Jobim, Paulo Jobim, (Família Jobim), Gilvan Oliveira, Alzira Espindola, Tetê Espindola, Grupo Bendegó, Nilson Chaves, Divino Arbués,Toquinho e Vinicius de Moraes,  Chico Buarque, Francis Hyme, Rita Lee, Sá e Guarabyra, Ney Matogrosso, Alaíde Costa, Tavito, Jane Duboc, Vânia Bastos, Eduardo Gudim, Dominguinhos, Simone, Marília Gabriela, Fafá de Belém, entre outros. Com Toquinho, realizou mais de mil apresentações em doze anos de trabalho no Brasil e no exterior, e também tocou com os artistas Ornella Vanoni, Angelo Branduardi, Sadao Watanabe e Sadé Adouh. Participou de festivais internacionais como Montreux, Berlin, Strasbourg e Tóquio.

Em sua participação em disco e shows da cantora italiana Ornella Vanoni, foi escolhido pela critica como o melhor percussionista do mundo graças ao seu trabalho no álbum “Uomini”. No Brasil, foi vencedor por quatro vezes consecutivas pela APCA do prêmio de melhor percussionista brasileiro. Sua discografia é composta de vinte e dois títulos, sendo que dez são dedicados exclusivamente à pesquisa, registro e divulgação da cultura musical maranhense.

De 1993 a 1998, retirou-se do cenário musical brasileiro para dedicar-se a uma pesquisa mais aprofundada sobre os ritmos do Maranhão, o que resultou num projeto intitulado “TAMBOR DE MINA”, em que os sons, ritmos e melodias da música maranhense são mostrados de uma forma universal, moderna e agradável. Devido à persistência e ao modo com que desenvolveu sua produção musical nesse período, a música dos compositores maranhenses passou a ser conhecida e reconhecida pela população do Estado, promovendo a chance de um trabalho digno e remunerado daqueles artistas.

Segue abaixo entrevista exclusiva com Papete para a www.ritmomelodia.mus.br , entrevistado por Antonio Carlos da Fonseca Barbosa  em 01/05/2011:

01) Ritmo Melodia: Qual a sua data de nascimento e a sua cidade natal?

Papete: Nasci no dia 08/11/1947, nas “brenhas”, no “sembal” do interior do Maranhão, chamado Bacabal. Fui batizado como José de Ribamar Viana (nascido sob o manto protetor do Santo Padroeiro dos maranhenses, São José de Ribamar). Em um almoço com o artista plástico Aldemir Martins e outros músicos no centro de São Paulo, Aldemir olhou pra mim e, em tom de brincadeira, falou que eu não tinha cara de maranhense, mas de um taitiano, país cuja capital é Papeete. Eu não gostei, preferia ser chamado de Ribinha, mas quando não gostamos do apelido, ele pega na hora. Do almoço pra rua virei Papete.

02) RM: Fale do seu primeiro contato com a música.

Papete: Em minha casa, uma “meia morada” no Largo de Santiago, em São Luís – MA, minha falecida mãe adorava comprar as “bolachas” de vinil 78 rotações e ficar horas escutando os cantores de sucesso da época. Além de ficarmos ouvindo no velho rádio Philips os programas de rádio do Rio de Janeiro, São Paulo e as emissoras do Caribe e América Central. Fora isso, tinha o serviço de alto-falantes do bairro da Madre Deus que tinha seu som peculiar trazido pelo vento com as canções de sucesso da época e os sons dos vários grupos de Bumba-meu-Boi e de Tambor-de-crioula do bairro da Fonte do Bispo, ali perto de onde eu morava. Tudo trazido pelas lufadas de vento que amenizavam o calor da Ilha de São Luís.

03) RM: Qual a sua formação musical e acadêmica fora música?

Papete: Tive o prazer e a honra de estudar no Colégio Marista de São Luís por oito anos, onde aprendi quase tudo, inclusive o francês e inglês. Estudei Latim, que me ajudou no conhecimento pleno da língua portuguesa. E fiz um curso livre de reportagem fotográfica na FAAP, em São Paulo. Fotografar é meu hobby. Além de ter aprendido a ser verdadeiramente um músico trabalhando por sete anos na melhor casa de música do Brasil que foi O JOGRAL. Meu aprendizado musical foi e é como autodidata.

04) RM: Quais as suas influências musicais no passado e no presente? Quais deixaram de ter importância?

Papete: Minhas influências musicais vão de Waldick Soriano a Luiz Gonzaga e Tears for Fear. Sempre escutei de tudo sem preconceito. Até naquilo que se considera o lixo da música existem coisas a descobrir e que nos surpreendem. Sempre gostei de rock, música latina, africana, baladas italianas, mantras indianos e por aí vai. Meu grande ídolo sempre foi o Gilberto Gil – o mais brasileiro dos compositores. Mas nunca deixei de apreciar o trabalho do Ivan Lins, do Clube de Esquina – MG, do Djavan, do genial Paulinho da Viola e outros sambistas. A Clementina de Jesus, com quem gravei um excelente disco de Jongos. Sempre fui antenado em tudo e em todos, fui alicerçando meu conhecimento musical universal. O trabalho do Chico Buarque deixou de ter importância para mim. Uma decepção! Eu jamais esperei que alguém como ele, que arrastou multidões em torno de sua obra musical, tenha pouco interesse em compor ou fazer apresentações ao seu grande público. Isso me soa um tanto incoerente com tudo aquilo que por ele foi pregado em momentos que lhe foram oportunos.

05) RM: Quando, como e onde  você começou sua carreira profissional?

Papete: Como já disse, no O JOGRAL em São Paulo iam os melhores artistas brasileiros e internacionais, estes de passagem por aqui para shows. Ali aprendi de tudo. Foi o início de uma trajetória que jamais seria como foi, caso eu não tivesse dado meus primeiros passos lá. Não sabia ainda tocar muito bem, mas fui observando um e outro e daí pro aperfeiçoamento foi um pulo só.

06) RM: Quantos CDs lançados e quais os anos de lançamento (quais os músicos que participaram nas gravações)? Qual o perfil musical de cada CD? E quais as músicas que se destacaram em cada CD?

Papete: Vinte e dois álbuns gravados. Os vinis foram todos convertidos em CD, dos quais 11 dedicados exclusivamente ao registro da música do Maranhão. Os discos que fiz para extinta gravadora Marcus Pereira ganharam todos os prêmios dados pela critica na época. E tem um disco que se chama “Planador” em 1982, que vendeu mais de 100 mil cópias, coisa rara. Tem um disco de 1978 intitulado “Bandeira de Aço” que foi um divisor de águas na música maranhense, pois até o seu lançamento ninguém sabia que no Maranhão se fazia música, ou melhor, aquelas músicas tão boas e poéticas.

Alguns CDs que produzi contaram com a parceria de empresas como Caixa Econômica Federal, Alumar e Banco do Estado do Maranhão:

DISCOGRAFIA:

1975 – PAPETE, BERIMBAU E PERCUSSÃO (lançado também na Europa e Japão)

1978 – BANDEIRA DE AÇO (lançado na Europa)

1979 – ÁGUA DE CÔCO (lançado também na Europa)

1981 – TAMBORES E RITMOS DO MARANHÃO

1982 –  PLANADOR

1987 – PAPETE – Mascavo

1989 – ROMPENDO FOGO

1991 – BELA MOCIDADE

1992 – VOZ DOS ARVOREDOS

1993 – ROSA AMARELA (lançado também na França)

1994 – LAÇO DE FITA / Patrocinado pelo BEM

1995 – MUSICA POPULAR MARANHENSE

1997 – PAPETE – Estrela do Norte

1998 – O MELHOR DE PAPETE

1999 – CORAÇÃO JUNINO

2002 – TAMBÔ

2003 – JAMBO

2004 – NO BRILHO DAS ESTRELAS /Patroc. CAIXA

2005 –  RELANÇAMENTO DE ‘BANDEIRA DE AÇO’

2007 –  ERA UMA VEZ… Instrumental

2008-APRENDIZ DE CANTADOR – Musica Maranhense

07) RM: Como você define seu estilo musical?

Papete: Universal, com um pé nos terreiros do Maranhão.

08) RM: Como você se define como cantor/intérprete?

Papete: Razoável, mas com muita garra. Com estilo próprio e limitado pela ausência de agudos na voz. Mas tento de vez em quando improvisar compensando essas ausências com nuances de homem do interior, com as lendas e mistérios nas interpretações.

09) RM: Você estudou técnica vocal?

Papete: Não, mas aprendi muito ouvindo o Gilberto Gil e o Milton Nascimento.

10) RM: Quais os cantores e cantoras que você admira?

Papete: Se pensarmos em “cantores” de verdade e não compositores que cantam, no Brasil sou fã de Cauby Peixoto, Waldick Soriano, Emilio Santiago, Elis Regina, Gal Costa e uma cantora maranhense que vive na França chamada Anna Torres. Além destes tem a Ornella Vanoni, a Sarah Brightman, o Art Garfunkel, o Paul MacCartney. O Milton Nascimento é fenomenal, mesmo nesta fase sem a mesma voz de outros tempos. Penso que o Gilberto Gil canta melhor que o João Gilberto, principalmente quando o assunto são músicas lentas ou em ritmo, digamos, Sambinha quieto ou Bossa Nova. Acontece que o Brasil é terra de cego, portanto quem tem um olho é Rei.

11) RM: Como é seu processo de compor? Quem são seus parceiros musicais?

Papete: Há algum tempo vem escasseando meu processo de compor. Estou devendo isso a mim mesmo. Mas quando eu componho sinto que as coisas acontecem de forma rápida e precisa, sem muito a mexer. Nunca tive parceiros musicais, salvo um ou outro que se conta nos dedos como Chico Saldanha, Celso Borges, Mano Borges, Beto Pereira e etc.

12) RM: Quando e como você começou os seus estudos de percussão?

Papete: Eu estudei muito pouco enquanto metodologia musical. Apenas fiz de meu senso de observação e de meu ouvido atento minha sala de aula. Ouvi muito Rubens Bassini, Ayrton Moreira, Chacal e tudo o que me era permitido ouvir de música afro-brasileira. E quando escutava algo que ainda não conhecia corria pra praticar até tocar igualzinho a quem havia gravado aquele ritmo.

13) RM: Quem são as suas referências na percussão?

Papete: Rubens Bassini, Ayrton Moreira e o Chacal.

14) RM: Como você se define como percussionista?

Papete: O melhor tocador de berimbau do mundo. E alguém que realmente entende de música brasileira, não só como execução rítmica, mas também como referência de cidadania e associação na vida entre artista e homem do povo.

15) RM: O que tem de influência cultural maranhense na sua percussão?

Papete: Tudo. Os tambores, os cantos, a cultura afro-brasileira, a “MINA”, o tambor-da-mata, os pandeiros. Enfim, os terreiros onde podemos apreciar coisas inacreditáveis como pessoas que tocam desde meninos e improvisam sem nunca ter estudado aquilo. Apenas sentimento passado pelo Santo da Nação a que pertencem.

16) RM: Como percussionista cite a sua participação nos CDs de outros músicos?

Papete: Desde que gravei pela primeira vez na vida, em um LP do Benito di Paula. Durante mais de 20 anos me tornei o percussionista com mais participações em discos de músicos brasileiros, o que me rendeu os maiores prêmios dados pela crítica musical. Gravei com Diana Pequeno, Almir Sater, Martinho da Vila, Chico Buarque, Fafá de Belém, Simone, Marília Gabriela, Renato Teixeira, Oswaldinho do Acordeon, Dominguinhos, Elba Ramalho, Sergio Ricardo, Cesar Camargo Mariano, Paulinho da Viola, Clementina de Jesus, Toquinho e Vinícius de Moraes (e depois só com o Toquinho), Inezita Barroso, Rolando Boldrin, Jane Duboc, Miúcha, Rosinha de Valença, Camisa de Vênus. E os músicos estrangeiros como Sadao Watanabe, Ornella Vanoni, Angelo Branduardi, Mercedes Sosa, Ariel Ramirez, Sadé Aduh.

17) RM: Você trabalhou como percussionista em gravadoras e rádios? Quais?

Papete: Em gravadoras apenas. Em todas as existentes no País.

18) RM: O que você admira e lamenta na atuação de alguns percussionistas?

Papete: A falta de compromisso com a identidade nacional por não ter a experiência adquirida pelas viagens pelos mais distantes rincões de nossa terra e convivendo com o povo simples, seus costumes e sua criatividade. O músico brasileiro, de modo geral, ainda vive aquele complexo de vira-lata de querer tocar igual aos músicos de jazz dos Estados Unidos. Esquecem que vivem em um país em que as nuances musicais são bem mais interessantes e criativas do que nos EUA, mesmo reconhecendo ser o jazz a maior escola para a técnica e os improvisos, mas nada, além disso, pois a sensibilidade brasileira supera tudo isso com sua ginga, sua fantasia e sua ancestralidade.

19) RM: Você também toca bateria? Prefere a percussão?

Papete: Como baterista sou um ótimo tenista (sem ser profissional), mas adoro sentar numa bateria e tocar à minha maneira, com duas vassourinhas médias de nylon, onde crio e executo as coisas de modo próprio e diferente, sempre procurando compensar a ausência de uma boa técnica com a capacidade de inventar levadas novas, tirando o melhor da sonoridade das peças do instrumento…, nem sei o que prefiro, mas  deve-se reconhecer na bateria o melhor instrumento de percussão que existe, fora o piano…

20) RM: Quais dicas profissionais você daria para um iniciante em percussão?

Papete: Primeiramente, viajar pelo Brasil e conhecer as coisas do país em termos de criação e criatividade. E depois escutar ao máximo os grandes percussionistas, aqueles que já se foram e os que ainda atuam. Nada de modismos, pois sempre passa. É preciso ouvir músicos como César Camargo Mariano, pianista que executa seu instrumento como se este fosse um tamborim, com todo aquele suingue e divisão bem marcantes, sincopados. E de outro lado a mãe África será sempre uma boa pedida…

21) RM: Quais os prós e contras de desenvolver uma carreira musical de forma independente?

Papete: Os contras são a eterna falta de apoio, seja institucional ou privada. No Brasil quem deveria se importar e se preocupar em patrocinar novos talentos opta sempre pelo que já está pronto, ao contrário da verdadeira razão do Marketing, que é lançar coisas novas.

22) RM: Como você analisa o cenário musical brasileiro? Em sua opinião quem foram as revelações musicais nas duas últimas décadas, quem permaneceu com obras consistentes e quem regrediu?

Papete: Eu não tenho medo em afirmar que esses movimentos existentes atualmente como o Funk do morro carioca, o “New forró” do Nordeste ou algumas “revelações” que pontuam na mídia nacional não correspondem ao verdadeiro espírito da cultura popular brasileira. Mas lhes falta adubo de qualidade e uma ressonância autêntica para justificar o sucesso alcançado. São fruto da ação de oportunistas de plantão que manipulam um povo mal informado, sem conhecimento de suas reais referências culturais. Daí tudo ser transforma em um produto de rápido consumo,patrocinado pelo pagamento altíssimo do “jabá” a canais de rádio e TV que não se preocupam em pesquisar ou apresentar em sua programação coisas de maior valor. Tudo tende a se transformar em resultados imediatos, sem a preocupação em adubar, plantar, regar, ver crescer, colher e saborear o que realmente tem vida de fato.

23) RM: Qual ou quais os músicos já conhecidos do público que você tem como exemplo de profissionalismo e qualidade artística?

Papete: Dominguinhos, Gilson Peranzzeta, César Camargo Mariano, Carlinhos Bala, Maguinho (baterista), Arthur Maia, Marçalsinho, Marcos Suzano, Kiko Freitas, Israel Pinheiro, Zeppa, Zé Américo Bastos, Camilo Mariano, Arismar do Espírito Santo, Oswaldinho do Acordeon, Eraldo do Monte, Carlão de Sousa, Osvaldinho da Cuíca, Armandinho, Kiko Loureiro, Wandre Taffo.

24) RM: Quais as situações mais inusitadas aconteceram na sua carreira musical?

Papete: Ah…, se eu for contar essas coisasnão tem espaço que sirva. Mas tem fatos gozados que aconteceram, como por exemplo:, no Japão tive de imitar uma galinha cacarejando para dizer ao garçom no restaurante que queria comer frango. Outra vez contar uma piada e não saber a mesma da metade pra frente. E sempre chorar ao cantar músicas dos cantadores de bumba-meu-boi em shows por amar demais e saber o tanto que aquelas pessoas representam para mim, pro Maranhão e pro Brasil e não serem reconhecidos ou valorizados.

25) RM: O que lhe deixa mais feliz e mais triste na carreira musical?

Papete: Feliz é a chance de ter viajado pelo mundo e conhecer mais de 30 paísesaprendendo com suas diferentes culturas e tocando com muita gente boa durante mais de 15 anos, além de viajar pelos quatro cantos do Brasil, pelos cerrados, pelas veredas e pelos sertões mais escondidos, pelos pantanais, caatingas e gerais, cidades e litorais, conhecendo nossa gente simples, criadora e criativa e aprendendo tudo o que sei e sou. O que me deixa mais triste é ter de topar com pessoas que receberam a dádiva divina de ser músico e não sabem corresponder ao Dom nem tão pouco ser grato. É um total desrespeito ao seu público, traduzido na intolerância, no ato de não proporcionar sequer um BIS às pessoas. Não atender aos pedidos daqueles que saíram do conforto de seus lares para prestigiar um artista que “não está nem aí”. Sem o público não existe o artista, pois é do público que vem as únicas e reais respostas ao trabalho de quem se mete a fazer arte: a vaia e o aplauso.

26) RM: Nos apresente a cena musical na cidade que você mora?

Papete: Ah…, eu moro em São Paulo, mas vivo no mundo e pelo mundo. Sou um gira mundo daqueles. São Paulo é tudo, tem tudo e de tudo. O que se precisa esta cidade possui. E em nada perde para outras cidades do mundo. Tem vida cultural intensa como Nova Iorque, Londres, Paris, Los Angeles, Amsterdan, Tóquio, Zurique ou Frankfurt, só para citar algumas. Aqui tem público para todo mundo, de tão cosmopolita que a cidade é. E aqui se pode armar um “showsinho” em qualquer lugar que sempre terá público para assistir, isso é muito bom.

27) RM: Quais os músicos ou/e bandas que você recomenda ouvir?

Papete: Essa pergunta é tendenciosa (risos). Eu recomendaria as apresentações do trio que toca no Bareto, com o Mutinho, o Moacir Machado e um baixista (não lembro o nome, desculpe). Qualquer apresentação da Fernanda TakaiFernanda Porto, Arismar do Espírito Santo (o cara é fantástico) e qualquer show em que estejam o Gilson Peranzetta, o Carlinhos Bala ou o Arthur Maia. Das bandas, eu recomendo sempre o Skank, Os Paralamas do Sucesso e o Capital Inicial e a banda Mantiqueira, com o incomparável saxofonista Proveta.

28) RM: Você acredita que sem pagamento do jabá as suas músicas tocarão nas rádios?

Papete: NUNCAAAAAAA! No Brasil o jabá já é uma instituição. Entendo que sem ele as rádios continuariam funcionando, salvo alguns exageros. É uma vergonha ter de pagar por um serviço que é a expressão cultural do país.

29) RM: O que você diz para alguém que quer trilhar uma carreira musical?

Papete: No atual quadro em que se encontra nossa tão combalida MPB, com esses gêneros elevados à condição de “movimentos culturais”, fica difícil seguir por uma estrada em que o bom gosto e a qualidade sejam sinônimos de dever cumprido. As pessoas sempre são atraídas para outras direções, mais apetitosas, no sentido de ganhar a grana de modo mais rápido. Nada contra, o Sol nasceu pra todos. Mas não entendo como num país com tanta diversidade cultural, ainda se tem de escutar a exaustão os “CRÉUS” da vida (e da morte…), os forrós com letras pornográficas. Músicas e interpretes todos iguais, além das bailarinas que mais parecem saídas daqueles bordéis de beira de estrada. O Tom Jobim já disse uma vez que a única saída para o músico brasileiro é o aeroporto internacional. E eu de vez em quando fico pensando que isso ainda é uma verdade maior para quem está ingressando numa carreira musical. E que possa servir de exemplo para tantos outros que nela queiram se aventurar.

30) RM: Quais os seus projetos futuros?

Papete: Continuar com minha teimosia em pesquisar, registrar ao máximo possível a cultura popular de minha terra, o Maranhão. Apesar de tudo e de todos os contrários, e fazer minhas apresentações onde mesclo música e poesia. Além de remeter momentos à obra de nosso maior escritor, João Guimarães Rosa, com causos ocorridos na vida do brasileiro simples. Aprender sempre, observar e tentar entender os critérios pelos quais as pessoas vivem à margem dos acontecimentos, dos sinais, da vida enfim. Continuar acreditando que Deus existe. Apesar da extrema popularidade que goza o Demônio nos dias de hoje. Com a extensa proliferação de certas Igrejas que consideram nossas festas populares coisas do Diabo, contribuindo assim para a diminuição do processo de valorização de nossas referências e valores ancestrais.

PS:  Papete faleceu em São Paulo no dia 26 de maio de 2016.

 


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Uma Revista criada em 2001 pelo jornalista, músico e poeta paraibano Antonio Carlos da Fonseca Barbosa.