Ney Couteiro desde cedo respira música e sua mãe a maior incentivadora para ele manter logo cedo o conato com Violão.
Daí para frente Ney foi desvendando o mundo dos sons. Absorveu várias influências rítmicas, por morar em lugares de cultura musical distinta que expressavam de forma peculiar à diversidade musical brasileira.
Ney como uma esponja sensível foi se alimentando desse universo sonoro e na seqüência veio o contato com o computador, com o domínio e uso do mesmo a serviço da música.
O som acústico foi tomando conta dos chips do seu computador. Ney tem formação musical acadêmica em Composição pela UFG – Universidade Federal de Goiás e mestre em Música pela UFG e já ensinou na ULM – Universidade Livre de Música de São Paulo.
Lançou quatro CDs lançados: “Concertoria” em 1998; “Sonhares” em 2012; “Lendas de Quintal” com Sabah Moraes em 2014; “Trilhas Veredas e Outros Caminhos” em 2015. Os dois primeiros discos são canções regionais autorais e terceiro disco voltado para o público infanto-juvenil e o mais recente, são trilhas feitas para o cinema, teatro e bales.
Segue abaixo entrevista exclusiva com Ney Couteiro para a www.ritmomelodia.mus.br, entrevistado por Antonio Carlos da Fonseca Barbosa em 01.05.2019:
01) Ritmo Melodia: Qual a sua data de nascimento e a sua cidade natal:
Ney Couteiro: Nasci no dia 26.08.1970 em Guajará-Mirim – RO.
02) RM: Fale do seu primeiro contato com a música.
Ney Couteiro: Eu comecei aos 13 anos de idade no interior da Bahia, eu sou de Rondônia (Guajará-mirim) e lá desde pequeno eu tinha um ambiente musical. E minha mãe foi minha maior incentivadora a tocar o Violão. Ela tocava violão. Eu aos 13 anos, ela me perguntou se eu não queria um Violão. Eu falei que queria.
Então o desenvolvimento foi mais autodidata quando morava no interior, em Euclides da Cunha próximo de Canudos. Eu vim estudar música mesmo quando tinha 18 anos, quando fui para Goiânia e lá foi quando comecei estudar música por partitura, mas a parte auditiva já era bem desenvolvida porque já tocava muito em Seresta, Bailes. Daí para cá sempre estudando muito.
03) RM: Qual a sua formação musical e\ou acadêmica fora da área musical?
Ney Couteiro: Sou bacharel em Composição pela UFG – Universidade Federal de Goiás e mestre em Música, também pela UFG. Em São Paulo estudei com pessoas como Hans-Joachim Koellreuter que é um Alemão que veio para o Brasil na segunda Guerra Mundial (ele nasceu em Freiburg, 02 de setembro de 1915 e faleceu em São Paulo em 13 de setembro de 2005).
Um grande mestre que introduziu no Brasil o dodecafonismo foi professor do Tom Jobim, Júlio Medaglia, Tom Zé e muitos outros. Hoje deve está com oitenta e poucos anos. Estudei Arranjo com Ciro Pereira. Tudo que eu pude aproveitar da experiência dessas pessoas em São Paulo, eu desenvolvi.
04) RM: Você além da formação musical sólida, usa os recursos da tecnologia para desenvolver o seu trabalho. Quais as vantagens do home estúdio?
Ney Couteiro: Eu sempre adorei a Tecnologia, desde pequeno quando ouvia músicos usando instrumentos e recursos eletrônicos que modificava um pouco o timbre do violão, como por exemplo, o Geraldo Azevedo que na época lançou um Disco ao vivo, Voz e Violão e usava pedal Feize e Chorus no Violão, eu ficava louco para tirar aquele som. Então eu comprava pedais, mexia com os números para descobri as freqüências que modulava aquele som.
Então desde pequeno eu sempre gostei desse lance de Computador e principalmente no início de 2000 pra cá, que eu resolvi fazer o meu home estúdio. Eu sempre produzir, fiz direção e produção, mas em outros estúdios. Era horrível, pois, tinha sempre um horário para a gravação, naquela pressão do tempo; vamos gravar o violão agora e faltam cinco minutos ou aproveitava que um músico não tinha chegado para fazer o violão e nunca ficava legal.
No início dos anos 2000 em São Paulo no apartamento que morava eu montei o meu home estúdio. Com equipamento portátil usei um quarto como Estúdio. E tive que estudar bastante alguns programas de computador para gravações (exemplo Pro tools) e saiu o meu primeiro trabalho dessa forma, o CD – “Canção Matinada” e o CD – “Voa Canção” da cantora e minha esposa Sabah Moraes. Eu ficava madrugada adentro pesquisando e estudando muito. Cinquenta por cento do trabalho, eu que fazia. Desde Gravação e Edição.
Eu pego os instrumentos que domino e toco e vou montando o trabalho. Mas a minha grande preocupação é de ter sempre a participação dos amigos dentro da sua área. Eu toco um pouco de Baixo, mas prefiro chamar um amigo que domine mais o instrumento para fazer o trabalho. Tenho pequenas participações de Violeiros, mesmo gostando muito das Cordas, mas tenho amigos que são especialistas no instrumento.
05) RM: Quais as suas influências musicais no passado e no presente. Quais deixaram de ter importância?
Ney Couteiro: Minhas primeiras lembranças musicais foram gravações que meus pais faziam em serenatas e nelas, cantam muito Chico Buarque entre outros da MP3 da época. Ouvia Heitor Villa Lobos e Dilermando Reis e eu ficava tirando de ouvido as peças. Atualmente, escutar música de cinema e de países orientais é a minha maior preferência.
06) RM: Quando, como e onde você começou a sua carreira musical?
Ney Couteiro: Comecei em Goiânia em 1989 com participações em Festivais de Música pelo país e pequenas apresentações em Bares.
07) RM : Quantos CDs lançados?
Ney Couteiro: Tenho quatro CDs lançados: “Concertoria” em 1998. Nesse período criei O Concertoria nasceu da ideia do primeiro CD. Na verdade foi um show que eu fiz em Goiânia, profissionalmente como músico e que se chamava “Concertoria” em 1991. Esse show era a fusão do Concerto com a Cantoria.
Eu sempre trabalhei muito com o violão e estudei muito o violão erudito. E gostava muito das canções regionais do Elomar, Xangai, Geraldo Azevedo e Vital Farias. Então era um show que refletia isso. Por isso o titulo “Concerto e Cantoria”.
Depois surgiu o CD com essa fusão, de um lado música mais estudada e trabalhada de forma erudita, com músicas com Quarteto de Cordas junto com Aboé e uma Viola caipira; “Sonhares” em 2012; “Lendas de Quintal” com Sabah Moraes em 2014; “Trilhas Veredas e Outros Caminhos” em 2015. Os dois primeiros discos são canções regionais autorais e terceiro disco voltado para o público infanto-juvenil e o mais recente, são trilhas feitas para o cinema, teatro e bales.
08) RM: Fale do Ney como produtor.
Ney Couteiro: Como produção cem por cento, tenho o disco “Concertoria” e “Canção Matinada”, os discos “Pedra” e CD – “Voa Canção” de Sabah Moraes. Fiz um trabalho com o compositor e cantor Francisco Afa de Goiás. Que é um trabalho fantástico. Fiz uma parte da produção do CD de Ton Oliveira. E participei na produção de outras pessoas direta ou indiretamente.
09) RM: Como você define seu estilo musical?
Ney Couteiro: Sou compositor de canções populares e de trilhas. A maior parte da minha trajetória musical foi em vários lugares diferentes. Então na minha mente tem uma fusão rítmica muito grande, porque quando eu estava no Pará, eu ouvia Carimbó, convivi com a tradição do Boi do Pará; mesmo sendo mais característico no Maranhão, mas como morava próximo do Maranhão tinha a influência do Boi, corria de medo; os sons das Matracas estavam sempre juntos. Quando fui para Bahia conheci mais o Repente, o maracatu. Em Caruaru (PE) conheci o Forró.
Depois fui para Goiânia que era totalmente diferente dos lugares que vivi, era Pantanal e muita Guarânia, e ritmos mais típicos daquela região. Então meu trabalho, principalmente esse último está muito em cima da parte rítmica quente do nosso povo. No disco você vai encontrar Maracatu, Maracatu-Rural, Boi, Ciranda dentro de um Compasso Ternário, que dá uma característica mais moura. Meu som é uma fusão dessa miscigenação rítmica brasileira.
10) RM: Fale de sua experiência como solista de Orquestra. Quais as Orquestras que já atuou?
Ney Couteiro: Já regi algumas orquestras sinfônicas de Goiânia, principalmente para musica popular.
11) RM: Quais as cantoras(es) que você admira?
Ney Couteiro: Sabah Moraes, Maria Bethânia, Milton Nascimento, são os que eu mais admiro.
12) RM: Como é o seu processo de compor?
Ney Couteiro: Não tenho nada especial, trabalho muito com a técnica, fruto de estudos, mas deixo a intuição sempre em primeiro plano.
13) RM : Quais são seus principais parceiros de composição?
Ney Couteiro: Tonzeira, Carlos Brandão, Sabah Moraes, entre outros
14) RM: Quem já gravou as suas músicas?
Ney Couteiro: Sabah Moraes, Dercio Marques (nasceu em Uberlândia em 19 de agosto de 1947 e faleceu em Salvador em 26 de junho de 2012), Katya Teixeira, Consuelo de Paula, “As 4 Vozes”, Vidal França, Maria Eugenia, entre outros.
15) RM: Quais os prós e contras de desenvolver uma carreira musical de forma independente?
Ney Couteiro: Só vejo vantagens! A principal é você ter controle de sua carreira e conduzi-la como achar que deve ser conduzida, sem amarras com a grande mídia, etc.
16) RM: Quais as estratégias de planejamento da sua carreira dentro e fora do palco?
Ney Couteiro: Sempre vivi de música, então ela foi conduzida de forma natural. Penso no meu público, nas pessoas que admiram minha música, e principalmente no preparo técnico para execuções dos shows.
17) RM: Quais as ações empreendedoras que você pratica para desenvolver a sua carreira?
Ney Couteiro: Não penso muito nisso. Acho que quando você busca esse tipo de caminho, vender e somente vender, o caminho musical perde toda a liberdade, pois tem que ficar presa num perfil comercial.
18) RM: O que a internet ajuda e prejudica no desenvolvimento de sua carreira musical?
Ney Couteiro: A internet veio para agregar. É um veiculo que se souber usar, só traz benefícios, pois oferece sua musica para muitos, para o mundo.
19) RM: Quais as vantagens e desvantagens do acesso a tecnologia de gravação (home estúdio)?
Ney Couteiro: Hoje, os equipamentos chegaram em um nível de qualidade muito alta por um preço acessível. Todos podem ter um Home estúdio em casa com qualidade que antes não existia, somente em grandes gravadoras. Só vejo vantagens.
20) RM: No passado a grande dificuldade era gravar um disco e desenvolver evolutivamente a carreira. Hoje gravar um disco não é mais o grande obstáculo. Mas, a concorrência de mercado se tornou o grande desafio. O que você faz efetivamente para se diferenciar dentro do seu nicho musical?
Ney Couteiro: Sou o mais fiel possível com minha consciência. Não vendo ou faço nada que não estiver de acordo com ela. Se eu me proponha a gravar um disco voz e violão, faço o meu melhor, se for orquestra, idem.
21) RM: Como você analisa o cenário musical brasileiro. Em sua opinião quem foram às revelações musicais nas duas últimas décadas e quem permaneceu com obras consistentes e quem regrediu?
Ney Couteiro: A música midiática que toma conta do país me preocupa, pois mostra exatamente o nível de desenvolvimento pessoal e principalmente espiritual, fruto de falta de programa de educação eficiente, dentre outros fatores.
22) RM: Quais os músicos já conhecidos do público que você tem como exemplo de profissionalismo e qualidade artística?
Ney Couteiro: Todos os que têm uma carreira consolidada, tem minha admiração, pois só se consegue chegar num local mais visto se esse trabalho tem profissionalismo.
23) RM: Quais as situações mais inusitadas aconteceram na sua carreira musical?
Ney Couteiro: Não tive muitas surpresas em apresentações, mas as dificuldades estão sempre em trabalhar para o governo e está na expectativa de levar cano. Nunca levei, mas é sempre uma espera demorada.
24) RM: O que lhe deixa mais feliz e mais triste na carreira musical?
Ney Couteiro: Como aprendi a não colocar expectativas na minha carreira musical, sempre estou de bem com ela, pois tudo eu tenho e tudo eu posso com minha música. Sobre felicidade, posso dizer que quando termino de apresentar, alguém me diz que se inspirou com algo, ou saiu motivado ou mudado. Isso é o que se deve esperar de qualquer carreira. O financeiro é consequência disso tudo.
25) RM: Nos apresente a cena musical da cidade que você mora?
Ney Couteiro: Aqui em Goiânia temos muitos artistas maravilhosos: Sabah Moraes, Maria Eugenia, Chico Aafa, Juraildes da Cruz, Luiz Augusto e Amauri Garcia, Padua, Kleuber Garces, Bororo, Luiz Chafin, muitos, muitos.
26) RM: Você acredita que sem o pagamento do jabá as suas músicas tocarão nas rádios?
Ney Couteiro: Minha música não é para esse tipo de rádio (comercial). O jabá, eu vejo como algo démodé. Hoje com a internet, isso diminuiu muito. Claro, pra quem trabalha com música comercial deve existir, mas estou fora desse mundo.
27) RM: O que você diz para alguém que quer trilhar uma carreira musical?
Ney Couteiro: Aconselho a todos a dedicação pra alguma arte. Seja qual for. De preferência, várias. Qualquer carreira é fruto de muitas coisas outras coisas, como dedicação, vocação entre outras. O importante é fazer exatamente o que gosta, seja qual profissão for.
28) RM: Quais os prós e contras do Festival de Música?
Ney Couteiro: Tudo é bom quando não vira exagero e dependência. Comecei nos Festivais de Música, ganhei alguns, perdi outros. Aconselho participar como mais um meio de trabalho, como bares, shows etc. A dependência é que complica. A desvantagem é quando as pessoas sofrem desse problema e entra a rivalidade doentia, brigas e desarranjos que acontecem, mas isso é em qualquer área.
29) RM: Na sua opinião, hoje os Festivais de Música revelar novos talentos?
Ney Couteiro: Sim, acredito ser um dos caminhos para os músicos iniciantes e experientes.
30) RM: Como você analisa a cobertura feita pela grande mídia da cena musical brasileira?
Ney Couteiro: A grande mídia não está interessada em coisas que não vendem. Esse é o problema! Ela deixa de mostrar outras músicas que poderiam dar um caminho mais consciente e analítico para todos. Quanto mais fácil for essa música e descartável, pra não dizer degradante, como muitas, mais retorno financeiro se adquire e isso é o caminho oposto do discernimento pessoal, politico e intelectual que precisaríamos para mudar nosso país. Confúcio (o pensador) há muitos anos antes de Jesus Cristo já falava: “Queres ver a evolução de seu país? Veja a música que ele faz/ouve”. Claro que não exatamente essas palavras, mas o conceito é o mesmo, com isso a gente vê como anda nosso Brasil atual.
31) RM: Qual a sua opinião sobre o espaço aberto pelo SESC, SESI e Itaú Cultural para cena musical?
Ney Couteiro: Eles são nossos atuais mecenas. Em todos os tempos, os artistas sempre precisaram deles, e hoje, vejo como os principais divulgadores e produtores de nossa música e outras artes.
32) RM: Quais os melhores teatros que você já se apresentou?
Ney Couteiro: O teatro da Paz em Belém é a coisa mais linda e mágica!
33) RM: Quais os seus projetos futuros?
Ney Couteiro: Meu principal projeto de estudo é entender as propriedades da música e do som. Como eu posso utilizar em prol de um bem maior para quem me ouve. Fazer uma música que ajude o indivíduo a descobrir, sentir o seu Caminho.
34) RM: Quais seus contatos para show e para os fãs?
Ney Couteiro: (62) 98127 – 2696 | [email protected] | Podem me encontrar nas redes sociais como facebook e Instagran.