Marcelo de Sousa é artisticamente conhecido como Marcelo Baião. Não é de família artística, mas sempre foi um ferrenho fã do rei do Baião Luiz Gonzaga.
Ainda criança teve a experiência de encontrar Luiz Gonzaga na Associação da Embrapa, vizinha a sua residência no bairro do Centenário, onde Marcelo assistiu a passagem de som do Show do Rei do Baião.
Em sua infância ouvia todos os dias na Rádio Borborema a música A Vida do Viajante, que na letra diz: “chuva e sol poeira e carvão” que se confundia com a missão frequente do garoto Marcelo, que a pedido da mãe sempre ia a uma difusora vizinha a sua residência comprar carvão para ela cozinhar um mocotó e fazer um pirão que seu pai tanto amava.
Isso marcou sua vida e foi determinante para Marcelo enveredar definitivamente no mundo do baião de Gonzaga. E assim, com 13 anos de idade o menino fez sua primeira composição: Lampião Cabra da Peste, já em alusão a Luiz Gonzaga utilizar a indumentária dos Cangaceiros, cujo rei foi Lampião.
Depois disso, Marcelo começou a participar dos festivais de música, tendo sua primeira participação no Festival de Música Popular Brasileira, que aconteceu no ano 2000, produzido pelo Teatro FACMA. Daí em diante se autodefiniu como artista, se inspirando em Marinês e sua Gente que inclusive fora jurada no Festival.
O Garoto foi tão ousado no festival, que criou toda uma coreografia teatral da música. Vendo aquilo Marinês se apaixonou por Marcelo, e como boa discípula do Rei do Baião, instantaneamente o adotou artisticamente. Daí surgiu o grupo regional Baião de Cordas, com base em instrumentos de cordas, fazendo uma referência ao grupo pernambucano Quinteto Violado. Imerso neste trabalho aprendeu a tocar rabeca. Segundo Marcelo, o apoio de Marinês foi fundamental, inclusive Marinês o apresentou a Elba Ramalho.
Em 2010 teve uma grande decepção ao ver sua arte excluída dos eventos públicos. Muito triste presenciou paulatinamente sua arte ser escanteada aos palcos secundários, periféricos da cidade, mesmo em meio ao reconhecimento de grandes empresas como Master Card, que sempre o contratava para participar da publicidade da empresa.
Desse modo, Marcelo sempre foi muito cultural e trabalhou com o resgate da rabeca e do aboio. Conta com tristeza que certa vez chegou a ser coagido, por resistir e não querer mudar seu repertório diante da imposição do contratante. Esse fato foi tão grave que chegou até a envolver uma denúncia policial.
Depois disso, em dezembro de 2013 Marcelo gravou um DVD com o apoio da UEPB e do SESC, fazendo uma releitura da música moderna com base na tradicional. Marcelo relembra toda essa história com muita tristeza e está disposto a defender sua raiz cultural até o último dia de sua vida.
É produtor musical, cultural e fonográfico. Possui um home studio, de onde tira seu sustento, fazendo jingles comerciais e gravando suas músicas e prestando assessoria a outros artistas. Tem fomentado sua arte investindo o que pode nas redes sociais.
Também é membro concursado da Orquestra Municipal de Campina Grande: Filarmônica Epitácio Pessoa. Marcelo está muito feliz com a chegada dos editais da Lei Paulo Gustavo e em breve da Lei Aldir Blanc 2 e tem muita esperança de poder ver sua trajetória de vida e arte, enaltecendo o baião, o aboio e a rabeca em um dos episódios da websérie objeto deste projeto.
Segue abaixo entrevista exclusiva com Marcelo Baião para a revista www.ritmomelodia.mus.br, entrevistado por Antonio Carlos da Fonseca Barbosa em 05/03/2025:
01) Ritmo Melodia: Qual a sua data de nascimento e a sua cidade natal?
Marcelo Baião: Nasci no dia 05/03/1979 em Campina Grande – PB. Registrado como Marcelo Sousa.
02) RM: Fale do seu primeiro contato com a música.
Marcelo Baião: Um piano de parede com partituras, e a música da banda RPM que despertou o meu desejo pela guitarra.
03) RM: Qual a sua formação musical e/ou acadêmica fora da área musical?
Marcelo Baião: Nível técnico, musicalização infantil, ensino médio.
04) RM: Quais as suas influências musicais no passado e no presente. Quais deixaram de ter importância?
Marcelo Baião: Luiz Gonzaga influência direta, música estilizada faz não parte da minha carreira.
05) RM: Quando, como e onde você começou a sua carreira profissional?
Marcelo Baião: Comecei nos anos 2000 no Festival de Música Popular no Teatro Municipal de Campina Grande – PB.
06) RM: Quantos álbuns lançados?
Marcelo Baião: Dois de forma independente, cantado e instrumental.
07) RM: Como você define seu estilo musical?
Marcelo Baião: Regional.
08) RM: Você estudou técnica vocal?
Marcelo Baião: Sim.
09) RM: Qual a importância do estudo de técnica vocal e cuidado com a voz?
Marcelo Baião: O estudo de técnica vocal é importante para a saúde vocal, afinação, performance.
10) RM: Quais as cantoras (es) que você admira?
Marcelo Baião: Luiz Gonzaga, Marinês, Elba Ramalho, Jackson do Pandeiro, João da Vale, Jorge de Altinho, Alcymar Monteiro, Genival Lacerda, Nando Cordel, Luiz Calda, Zé Ramalho, Fagner, Luiz Vieira.
11) RM: Como é o seu processo de compor?
Marcelo Baião: Instantâneo letra e melodia ao mesmo tempo, não gosto de parcerias, por conta desse processo.
12) RM: Quais são seus principais parceiros de composição?
Marcelo Baião: Poeta Ulisses Azevedo e o ativista cultural e letrista Alfranque Amaral.
13) RM: Quem já gravou as suas músicas?
Marcelo Baião: Sandra Belê, Ulisses Azevedo, Targino Gondim, João Lacerda.
14) RM: Quais os prós e contras de desenvolver uma carreira musical de forma independente?
Marcelo Baião: Falta de apoio financeiro.
15) RM: Quais as estratégias de planejamento da sua carreira dentro e fora do palco?
Marcelo Baião: Fazer inscrição em editais.
16) RM: Quais as ações empreendedoras que você pratica para desenvolver a sua carreira?
Marcelo Baião: Produção musical e fonográfica atualmente.
17) RM: O que a internet ajuda e prejudica no desenvolvimento de sua carreira?
Marcelo Baião: A internet acrescentou de forma positiva de todas as formas.
18) RM: Quais as vantagens e desvantagens do acesso à tecnologia de gravação (home estúdio)?
Marcelo Baião: A rapidez do processo de produção de fonogramas através do home estúdio.
19) RM: No passado a grande dificuldade era gravar um disco e desenvolver evolutivamente a carreira. Hoje gravar um disco não é mais o grande obstáculo. Mas, a concorrência de mercado se tornou o grande desafio. O que você faz efetivamente para se diferenciar dentro do seu nicho musical?
Marcelo Baião: Destaco meu trabalho, como produtor musical.
20) RM: Como você analisa o cenário do Forró. Em sua opinião quais foram as revelações musicais nas últimas décadas e quais permaneceram com obras consistentes e quais regrediram?
Marcelo Baião: Santanna – O cantador que vem resistindo, Assisão, Flávio José que vem sumindo do cenário do Forró, entre outros.
21) RM: Qual ou quais os músicos já conhecidos do público que você tem como exemplo de profissionalismo e qualidade artística?
Marcelo Baião: Dominguinhos, Marcos Farias, Luizinho Calixto, Mestrinho, Genaro, Flávio José e outros.
22) RM: Quais as situações mais inusitadas aconteceram na sua carreira musical (falta de condição técnica para o show, brigas, gafes, show em ambiente ou público tosco, cantar e não receber, ser cantado e etc)?
Marcelo Baião: Ser interditado por não aceitar tocar Forró Estilizado, quando minha proposta era tocar música tradicional nordestina.
23) RM: O que te deixa mais feliz e mais triste na carreira musical?
Marcelo Baião: Feliz tocar nos palcos, infeliz não ter os palcos para tocar a verdadeira música Nordestina.
24) RM: Qual a sua opinião sobre o movimento do “Forró Universitário” nos anos 2000?
Marcelo Baião: Acredito que não existe esse gênero, Forró só o formato tradicional estilo Jackson do Pandeiro e Luiz Gonzaga.
25) RM: Quais os grupos de “Forró Universitário” chamaram sua atenção?
Marcelo Baião: Nenhum.
26) RM: Você acredita que sem o pagamento do jabá as suas músicas tocarão nas rádios?
Marcelo Baião: Só as rádios que faz com consciência que é o caso da que participei recentemente, rádio Queimadas FM 87.9, sobre o comando de Juarez Alves e Marcelo Lopes, que apresentam o programa Luiz Gonzaga.
27) RM: O que você diz para alguém que quer trilhar uma carreira musical?
Marcelo Baião: Ser focado, ter muito amor pelo que faz, isso se não desiste nos primeiros dias (risos).
28) RM: Quais os prós e contras do Festival de Música?
Marcelo Baião: Festival de música é sucesso momentâneo e periódico, apenas para montagem de portfólio e aprendizado musical.
29) RM: Festivais de Música ainda é relevante para revelar novos talentos?
Marcelo Baião: Não.
30) RM: Como você analisa a cobertura feita pela grande mídia da cena musical brasileira?
Marcelo Baião: A cobertura feita pela grande mídia da cena musical brasileira tem as portas fechadas para nossa cultura musical tradicional. É uma fábrica de enlatados para consumo de músicas descartáveis.
31) RM: Qual a sua opinião sobre o espaço aberto pelo SESC, SESI e Itaú Cultural para cena musical?
Marcelo Baião: Perfeito para nossa cultura e artistas brasileiros.
32) RM: Qual a sua opinião sobre as bandas de Forró das antigas e as atuais do Forró Estilizado?
Marcelo Baião: Cada um tem a sua função sociocultural, porém vejo que o Forró das antigas (as bandas dos anos 90) fortalece o compromisso com nossa educação, e o Forró Estilizado, enfraquece a formação da educação das nossas crianças com letras que não fortalece o progresso e o caminho do saber.
33) RM: Qual a sua opinião sobre o uso do Teclado no Forró?
Marcelo Baião: Sou contra o uso do Teclado substituindo a banda e trio de Forró.
34) RM: Quais os seus projetos futuros?
Marcelo Baião: Educação musical, resgatar nossas tradições através do ativismo cultural e pontos de cultura.
35) RM: Quais seus contatos para show e para os fãs?
Marcelo Baião: https://www.instagram.com/baiaorec
Canal: https://www.youtube.com/channel/UChuT3rIFhslY83mD5o__LCw
Playlist: https://www.youtube.com/watch?v=bs99ODKrCqc&list=PL9nKujhDICMLofeaB5P935Y3dm0nNurk5
Mestre Marcelo Baião | Websérie: Mestres das Matrizes Tradicionais do Forró da Borborema: https://www.youtube.com/watch?v=FH0eWJKGm6o
