More Gau Pass »"/>More Gau Pass »" /> Gau Pass - Revista Ritmo Melodia
Uma Revista criada em 2001 pelo jornalista, músico e poeta paraibano Antonio Carlos da Fonseca Barbosa.

Gau Pass

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A cantora e compositora paulistana Gau Pass lançou a nova versão da canção “Lean On Me” (1972), de Bill Withers em agosto do ano passado (2022). O som é uma parceria da artista com os músicos californianos Quino McWhinney – integrante da banda de reggae Big Mountain -, e seu filho Jakob McWhinney. O trabalho já está disponível em todas as plataformas digitais e é um lançamento do selo musical Marã Música.

“Lean On Me” é um single que estourou no ano de 1987, quando a banda norte-americana Club Nouveau lançou um remix dele, que lhe rendeu um Grammy no mesmo ano como “Melhor Música R&B”. O trabalho foi gravado por Gau em 2018, quando Quino McWhinney e Jakob McWhinney estiveram no Brasil para uma série de shows da turnê solo de Quino.

“Eu estava começando a gravar profissionalmente, e por meio de um amigo em comum, surgiu a ideia de gravarmos juntos. A escolha do tema foi minha, pois eu tinha ouvido Quino cantar essa música em shows, mas o Big Mountain nunca gravou. Quino é uma figura tão humana, tão generosa, tão doce, tão grande, que aceitou a escolha e eu acho que a canção caiu como uma luva para o nosso encontro”, afirma a artista.

A música fala sobre como mesmo com as dificuldades da vida, sempre há alguém em quem se apoiar. A canção é como um hino à verdadeira amizade. Segundo o compositor Bill Withers, ela foi escrita quando ele se mudou da Virgínia para Los Angeles, nos Estados Unidos. Era uma fase em que o mesmo sentia muita falta do ambiente amigável, onde todos se ajudavam na sua cidade natal. “Essa faixa fala sobre a importância de expressarmos as nossas necessidades, de enxergarmos o outro, sabendo que ninguém é autossuficiente sempre, que sempre temos a necessidade do outro”, completa Gau.

A nova versão da premiada faixa também ganhou um videoclipe que está disponível no canal do youtube da artista. O audiovisual conta com uma parte gravada nos estúdios da Casa Beatz – com direção de Thiago Beatriz -, e outra parte tendo o estúdio caseiro de um amigo como cenário e direção de Ivan Cruz.

“A gente apresenta uma ‘reunion’ de estúdio entre os instrumentistas que me acompanharam. Adriano ‘Magoo’ Oliveira nos arranjos e teclados, Glecio Nascimento no baixo, e eu, Quino e Jakob nos vocais”, finaliza.

Irmã de um baterista e de um contrabaixista e filha de um cantor que administrava uma loja de discos, Gau Pass tomou gosto pela música, sobretudo a mpb, o jazz e a música instrumental brasileira, por influência da família extremamente musical na qual cresceu.

Formada em Letras, em 1998 iniciou sua carreira como Curadora Musical em uma instituição cultural brasileira, e em 2016, inspirada pela obra de Djavan, David Sanborn, Mike Stern, Manhattan Transfer e George Duke, criou o quarteto vocal Living By Vocalease, formado por ela e por mais 3 cantoras, e com o qual desenvolveu um trabalho baseado na criação de linhas vocais, os “scats”, para temas instrumentais de jazz e fusion. O quarteto gravou três músicas, sendo a primeira do saxofonista norte americano David Sanborn e dos irmãos Sembello “Port Of Call”, depois “Street Rhyme”, do guitarrista norte americano Mike Stern e a terceira “Cravo e Canela”, de Milton Nascimento, com o arranjo do tecladista norte americano, já falecido, George Duke.

Em 2018, estreando seu trabalho solo, gravou com o guitarrista Mike Stern um dos temas do artista, “As Far As We Know”, já disponível no Youtube e nas plataformas digitais.

Em dezembro de 2021 a artista lançou o single “Você Me Faz Ir Além”, que é a faixa de estreia do primeiro disco da cantora e compositora, e que é uma versão em português de “You Got Me Going On”, do cantor, compositor, baterista e produtor musical jamaicano Jubba White.

A regravação faz parte de um projeto do artista jamaicano no qual cantoras do mundo inteiro gravaram suas próprias versões da música, em inglês. A única cantora que regravou no seu idioma de origem foi Gau Pass. “É uma honra e uma alegria imensas integrar esse projeto para o qual fui carinhosamente convidada, e, principalmente, poder gravar em Português. Me sinto muito abençoada”, relata a cantora.

Gau conheceu o trabalho de Jubba White em 2020, por meio de Kumar, outro artista jamaicano com o qual a artista mantém contato, e o convite para regravar “You Got Me Going On” partiu do próprio Jubba, inclusive o desejo de que a música fosse regravada em português.

Convite aceito, e Gau chamou o cantor, compositor e multi-instrumentista paulistano Juninho V, seu parceiro em outras composições, para escrever a versão em Português. A gravação ficou a cargo da Unidade 76, banda de Brasília que está gravando o primeiro disco de Gau, e que também se encarrega da Produção Musical, liderada por Rafael Paz.

O videoclipe, que tem a participação de Jubba White nos vocais, você também confere no canal do Youtube da artista e a música, em todas as plataformas de streaming. Em abril de 2021, Gau Pass também lançou o cover de Rock it Tonight, música do jamaicano Jesse Royal, que ganhou uma releitura na voz da artista. O single, também disponível em todos os aplicativos de música, ganhou uma versão em videoclipe, com direção e produção de Gau, e que pode ser visto no canal oficial da cantora, no YouTube.

Fã do cantor e compositor Jesse Royal, Gau tinha o desejo de gravar uma música do artista desde 2019, quando escutou o disco “Lily Of Da Valey” (2017). Desde então, passou a acompanhar a obra do artista até surgir a oportunidade de gravar o cover de Rock It Tonight.

Superando os desafios de gravar e lançar novos trabalhos numa fase cheia de restrições, Gau reinventou-se e foi buscar em suas principais influências a força necessária para seguir adiante em sua carreira, planejando e produzindo suas próximas músicas. “Gerenciar a própria carreira, e pensar em cada passo a ser dado é o que tem me movido nestes últimos anos, e me motivado a continuar seguindo em frente no meu propósito de gravar músicas que levem mensagens de amor, paz, harmonia, igualdade, gratidão e compaixão para as pessoas”, conta.

Vivendo um momento de grande proximidade com cantores e personalidades ligadas ao reggae, Gau tem bebido intensamente dessa fonte para buscar inspirações e montar o repertório de seu primeiro álbum de inéditas, que já está em fase de gravação, e que trará canções de compositores da Nigéria, Gâmbia, Jamaica, Marrocos e Brasil, cantadas em inglês, árabe e português.

Em fevereiro próximo, a artista lançará sua versão de “Jerusalema”, cujo riddim é do DJ nigeriano Master KG e cuja interpretação na versão original é da cantora nigeriana Nomcebo. Na versão de Gau Pass, os refrões são cantados em Português e o restante da música é cantado em Iorubá, como na original.

Com muitos planos de expandir suas fronteiras através de parcerias com artistas que integram o momento atual da cena reggae, Gau se apoia nas experiências de sua trajetória para colocar em prática o maior legado de sua vida: a paixão pela arte da música. É possível acompanhar as novidades e próximos lançamentos da artista por suas redes sociais. Vale conferir!

Segue abaixo entrevista exclusiva com Gau Pass para a www.ritmomelodia.mus.br, entrevistada por Antonio Carlos da Fonseca Barbosa em 17.03.2023:

01) Ritmo Melodia: Qual a sua data de nascimento e a sua cidade natal?

Gau Pass: Nasci no dia 20/09/1971 em São Paulo – SP. Registrada como Glauce Passeri.

02) RM: Fale do seu primeiro contato com a música.

Gau Pass: Meu primeiro contato com a música foi por meio dos discos que chegavam em casa, diretamente da loja de discos que meu pai administrava.

03) RM: Qual a sua formação musical e/ou acadêmica fora da área musical?

Gau Pass: Sou formada em Letras-Português pela Universidade de São Paulo.

04) RM: Quais as suas influências musicais no passado e no presente. Quais deixaram de ter importância?

Gau Pass: Minhas maiores influências musicais no passado são Djavan, Mike Stern, David Sanborn, Manhattan Transfer, George Duke (do nicho instrumental e jazz fusion); Pato Banton, Papa Winnie, Jimmy Cliff, Inner Circle, Steel Pulse (reggae music); Stevie Wonder, Sting, Aerosmith (pop e rock). Nenhum desses deixou de ter importância. Atualmente, estou mergulhada na obra de Jesse Royal, Koffee, Romain Virgo (Jamaica); Burna Boy (Nigéria), Sona Jobarted (Gâmbia) e Namadingo (Malawi).

05) RM: Quando, como e onde você começou a sua carreira musical?

Gau Pass: Eu ganhei uma bolsa de estudos em Canto Popular em uma escola de música em São Paulo em 2015. Fiz um ano, e mudei para a EM&T para continuar cursando Canto Popular. Mas lá, a minha professora me encorajou para me matricular no Canto Lírico, e iniciei o Canto Lírico em 2018, com a cantora, compositora e instrumentista Daniela Lasalvia, com que estudo até hoje. Mas em 2017, dei meu o primeiro “pontapé” profissional, quando gravei o que eu chamo de “experimentos musicais” com mais três cantoras, já profissionais, e cujo resultado está no meu canal do Youtube. Nós gravamos três músicas, mas disponibilizei somente uma por enquanto. Na sequência, vieram os outros singles.

06) RM: Quantos CDs lançados?

Gau Pass: No momento, tenho cinco singles lançados, e estou terminando o meu álbum.

07) RM: Como você define seu estilo musical?

Gau Pass: Defino-me como uma artista de World Music, uma vez que meu som tem influências musicais de várias culturas e continentes.

08) RM: Você estudou técnica vocal?

Gau Pass: Sim, eu iniciei os estudos no Canto Popular, mas hoje estudo Canto Lírico.

09) RM: Qual a importância do estudo de técnica vocal e cuidado com a voz?

Gau Pass: Eu não teria tido coragem de me assumir como cantora sem os estudos de Canto Popular e, menos ainda, sem os estudos de Canto Lírico, que foi quando eu realmente consegui me descobrir musicalmente. E entender o funcionamento da minha respiração, do meu diafragma, da minha extensão vocal, das minhas paranoias e potencialidades como artista. Sem falar das Fadas Mestras que cruzaram o meu caminho como as cantoras Lu Vitti (Canto Popular) e Dani Lasalvia (Canto Lírico). Os cuidados com a voz são imprescindíveis não só nos momentos de estudar, gravar e se apresentar, mas também no dia a dia. Eu parei de ingerir bebida alcoólica com frequência, não fumo, não bebo nada gelado nem muito quente, evito friagem, e cuido do meu emocional, pois afeta diretamente a minha performance.

10) RM: Quais as cantoras(es) que você admira?

Gau Pass: Daniela Lasalvia, Gal Costa, Marisa Monte, Koffee (Jamaica), Lila Iké (Jamaica), Naomi Cowan (Jamaica), Sona Jobarted (Gâmbia), Nomcebo (Nigéria), Raoui (Argélia).

11) RM: Como é o seu processo de compor?

Gau Pass: Eu ainda não tenho um processo para compor, pois por enquanto compus somente uma música, em parceria com Marcelo Mira da banda Alma Djem. Eu comentei com ele que tinha receio de escrever, e ele me disse: “Quando vierem os pensamentos, coloque tudo em um papel, sem ordem, somente registre o que vier à cabeça. Depois, você tenta ordená-los.” E assim foi. Uma noite eu comecei a pensar sobre determinado assunto, e achei que daria uma bela letra. Comecei a escrever, e já em formato de poesia mesmo. Mandei pro Mira, ele curtiu, e a gente se encontrou em um estúdio em São Paulo para colocar a melodia. Ele pediu permissão para fazer algumas alterações na letra, e óbvio que a contribuição melhorou e muito a letra. Estará no meu primeiro álbum.

12) RM: Quais são seus principais parceiros de composição?

Gau Pass: O meu primeiro álbum terá parcerias com o Bloco do Caos, Fauzi Beydoun, Marcelo Mira, Jubba White (EUA), Mequiah Alm’Alak (Gâmbia), Chijioke (Nigéria), Juninho V, entre outros. Posso dizer que eles são meus parceiros de composição, por enquanto.

13) RM: Quais os prós e contras de desenvolver uma carreira musical de forma independente?

Gau Pass: Acho que tem mais prós do que contras, pois eu gravo o que eu quero, com quem eu quero, no momento em que eu acho propício. Não sofro pressão externa, somente interna mesmo (risos). Os contras são aquilo que a gente já sabe: eu banco tudo, invisto o tempo inteiro, não tenho secretários, assistentes, alguém que fale ou brigue por mim. Isso é um pouco cansativo, pois em meio a tanta questão para resolver, você também tem que criar, estudar, ensaiar, gravar, se apresentar, fazer fotos, estar bem, etc.

14) RM: Quais as estratégias de planejamento da sua carreira dentro e fora do palco?

Gau Pass: Fora do palco, a minha estratégia é a de criar um bom conteúdo digital e divulgá-lo para o mundo. Foco bastante em uma carreira fora, batalho para que o meu som chegue nos outros continentes. Estou nesse processo. Dentro do palco, a estratégia é a de levar um som pesado. Pesado no sentido de ter uma banda boa, com músicos bons, que tirem o som e que entreguem ao vivo. E mostrar uma sonoridade que remeta às mais diversas culturas e vertentes musicais.

15) RM: Quais as ações empreendedoras que você pratica para desenvolver a sua carreira?

Gau Pass: Acho que existe uma grande confusão ao se tratar do assunto, pois muitas pessoas acreditam que empreender é abrir uma empresa, o que não é verdade. Na realidade, empreendedorismo está mais ligado a uma postura, como a de encarar os problemas como uma oportunidade. Assim, temos o empreendedor corporativo e o social. E o primeiro é o que mais se destaca, pois ele movimenta a economia. Porém, precisamos lembrar de que o Brasil e o mundo estão em uma enorme crise financeira, há sérios problemas políticos no mundo, ameaças às concorrências, etc. Então, eu não posso ter a ilusão de querer empreender como um artista já estabelecido, para quem tudo vem mais fácil.

Eu tenho que procurar caminhos alternativos para fazer a minha música chegar ao maior número possível de ouvintes, nos 4 cantos do mundo. Por exemplo, o fato de eu cantar em português, inglês, espanhol, árabe e em alguns idiomas africanos, faz com que mais pessoas compartilhem o meu som. E para além das plataformas digitais, eu tenho um network muito extenso e sólido com artistas e produtores de várias partes do mundo, o que me propicia vários convites para gravar e me apresentar fora do país. Mas o mais interessante é que essas ações não foram pensadas, aconteceram naturalmente, mas eu enxerguei nelas estratégias para empreender.

16) RM: O que a internet ajuda e prejudica no desenvolvimento de sua carreira?

Gau Pass: Por enquanto, a internet tem ajudado bastante. O triste é que hoje em dia o algoritmo dita o que a maioria deve ouvir. Mas vários artistas sofrem com isso, não sou a única sorteada.

17) RM: Quais as vantagens e desvantagens do acesso à tecnologia de gravação (home estúdio)?

Gau Pass: Ah, o home studio é uma bênção, né!? Meu sonho de consumo, ainda não tenho um. A vantagem é a rapidez com que conseguimos gravar algo, e obter a sonoridade desejada (dependendo do equipamento que se tem, claro). A desvantagem é um trabalho que se torna cada vez mais individual quando antes era coletivo.

18) RM: No passado a grande dificuldade era gravar um disco e desenvolver evolutivamente a carreira. Hoje gravar um disco não é mais o grande obstáculo. Mas, a concorrência de mercado se tornou o grande desafio. O que você faz efetivamente para se diferenciar dentro do seu nicho musical?

Gau Pass: Sim, pois é. Acho que o fato de eu cantar em mais de uma língua, de gravar com artistas internacionais, e de escolher uma sonoridade e repertório que remeta às mais diversas culturas me diferenciam, e faz despertar a curiosidade dos ouvintes.

19) RM: Quais os músicos já conhecidos do público que você tem como exemplo de profissionalismo e qualidade artística?

Gau Pass: Djavan, Marcelo Mira (Alma Djem), Banda Afrodizia, Jesse Royal, Burna Boy, Koffee.

20) RM: Quais as situações mais inusitadas aconteceram na sua carreira musical (falta de condição técnica para show, brigas, gafes, show em ambiente ou público tosco, cantar e não receber, ser cantado etc)?

Gau Pass: Eu fui cantar em um evento de reggae, juntamente com outras bandas, no qual não havia camarim para os artistas (e absolutamente nada para comer), e tínhamos que trocar de roupa no banheiro que o público usava. Um tanto desconfortável, mas a vibe foi ótima.

21) RM: O que lhe deixa mais feliz e mais triste na carreira musical?

Gau Pass: O que me deixa mais feliz é a possibilidade de conhecimentos e de trocas com artistas e públicos das mais diversas etnias e culturas. O que me deixa triste são os rótulos que às vezes são impostos aos artistas.

22) RM: Você acredita que sem o pagamento do jabá as suas músicas tocarão nas rádios?

Gau Pass: Eu tenho músicas que tocaram e ainda tocam em algumas rádios como USP FM e MIX FM, sem o pagamento de jabá. Além das rádios mais alternativas, rádios de outros estados do Brasil como o Ceará, Bahia, que também tocam as minhas músicas sem qualquer pagamento. Só posso falar por essas rádios, mas sei que são exceções.

23) RM: O que você diz para alguém que quer trilhar uma carreira musical?

Gau Pass: Acredito que quando seguimos o caminho da arte é porque recebemos um Chamado. Não acredito no envolvimento aleatório com qualquer forma de arte, sem ter o sentimento de que se trata de uma missão para além do divertimento, do prazer, da fama e da prosperidade financeira, pois caso você não obtenha nenhuma dessas coisas, você se frustra, entra em depressão, desiste, e acha que o problema é com você. A arte é algo tão precioso e divertido, mas que demanda um esforço e uma entrega gigantescos. Acho que saber disso de antemão ajuda bastante.

24) RM: Como você analisa a cobertura feita pela grande mídia da cena musical brasileira?

Gau Pass: A cobertura feita pela grande mídia da cena musical brasileira acho pobre, óbvia e tendenciosa (como sempre foi). Nada de novo no front. Já as mídias alternativas seguem dando um banho de descobertas, diversidade e oportunidades.

25) RM: Qual a sua opinião sobre o espaço aberto pelo SESC, SESI e Itaú Cultural para cena musical?

Gau Pass: São espaços importantíssimos, pois “abrem as portas” com dignidade na medida em que oferecem uma ótima estrutura de palco, som, luz, camarim, divulgação, e pagam cachês honestos.

26) RM: Como você analisa o cenário do reggae no Brasil. Em sua opinião quais foram as revelações musicais nas últimas décadas e quais permaneceram com obras consistentes e quais regrediram?

Gau Pass: Sinto falta de mais apoio da grande mídia, sinto falta de bons patrocínios para grandes eventos, com nomes nacionais e internacionais, sinto falta da veiculação do gênero e de todas as suas vertentes nas rádios brasileiras. Uma pena mesmo. Como revelação nas últimas décadas, dentre outras bandas, eu citaria a Banda Afrodizia, de Itanhaém – SP. A banda existe há mais de 20 anos, e o trabalho dela só cresce. A cada ano, a banda se supera em termos de composição, de arranjos, de melodia, de performance, dignos de aplausos. Sou muuuuito fã do trabalho deles. Também gosto de ver a evolução e consistência do trabalho do Nazireu Rupestre e da Alma Djem. Não sinto que nenhum trabalho tenha regredido. Sinto que todos os artistas/bandas têm fases e momentos brilhantes, outros nem tanto. Acho que isso faz parte do processo artístico de criação.

27) RM: Você é Rastafári?

Gau Pass: Eu não uso dreadlocks, não me visto com as cores do reggae a todo momento, enfim, fisicamente não. Mas sinto que minha alma é Rastafári, uma vez que creio e sinto a presença do Mais Alto agindo sobre aminha vida a todo instante. Eu procuro amar ao próximo como a mim mesma, estou a todo instante não só não fazendo o mal, mas procurando fazer o bem, no sentido de ajudar (materialmente e espiritualmente) a quem me ajuda e a quem não me pede ajuda também. E acredito que Deus está em cada ser vivo da natureza, por isso também os amos.

28) RM: Alguns adeptos da religião Rastafári afirmam que só eles fazem o reggae verdadeiro. Como você analisa tal afirmação?

Gau Pass: Não adianta você ser adepto de qualquer religião, mas não carregar a verdade dentro de si, não agir com verdade com os outros e consigo próprio. Se você não é verdadeiro, sendo adepto ou não de determinada religião, nada do que fizer soará verdadeiro, nem mesmo o seu som.

29) RM: Na sua opinião quais os motivos da cena reggae no Brasil não ter o mesmo prestígio que tem na Europa, nos EUA e no exterior em geral?

Gau Pass: Infelizmente, o Brasil ainda não entendeu e não se conectou com a reggae music. Fico chocada de ver nomes da nova cena reggae jamaicana como Jesse Royal, Protoje, Koffee, Lila Iké, Kabaka Pyramid, dentre inúmeros outros estourados na Europa, EUA e em alguns países africanos, e as pessoas nunca terem ouvido falar aqui. A não ser quem é do reggae mesmo. Repetindo, acho que parte disso se deve aos veículos de comunicação de massa, sobretudo as rádios, que não se interessam em divulgar o gênero, sinto que há um preconceito em torno do gênero, muito vinculado à questão da maconha, do tipo “fazer show de reggae é atrair maconheiro, e ter de lidar com isso é um problema, então não faremos”. E acho que países como os EUA, alguns países da Europa e os países africanos, de um modo geral, têm uma educação religiosa muito sólida, o que faz com que esse público cresça com um ouvido mais apurado para letras mais conscientes, que nos elevam espiritualmente. É só você pegar o exemplo de Alpha Blondy, que é sucesso até hoje em toda a Europa, África, países do Oriente Médio, e aqui no Brasil ninguém mais fala desse artista genial, gigante, único, que faz um reggae pra lá de consistente.

30) RM: Quais os pros e contras de se apresentar com o formato Sound System? Quais as diferenças de se apresentar com banda em relação ao formato com Sound System?

Gau Pass: Os prós do formato Sound System são o barateamento dos custos para quem contrata, e a leveza de não ter que se relacionar com muitas pessoas para decidir o que fazer no show (risos). Os contras são a falta de sinergia e de emoção que há quando estamos em grupo, com a banda, além da ausência de um som mais orgânico e as chances de se improvisar também diminuem.

31) RM: Como você analisa a relação que se faz do reggae e o uso da maconha?

Gau Pass: Acho infantil e rasa essa “tradução” do gênero, pois o reggae não se define por isso. Acredita-se sim, que por meio da erva cannabis sativa, consegue-se transcender espiritualmente (e conseguimos mesmo). No entanto, como kardecista que sou, posso afirmar que também conseguimos transcender e sem o uso de maconha ou de qualquer outra substância.

32) RM: Como você analisa a relação que se faz do reggae com a cultura Rastafári?

Gau Pass: O Rastafarianismo nasceu na Etiópia, quando, no início do século XX um garoto de 12, chamado Makoonney Tafari foi coroado Rei do país. “Ras”, no idioma etíope, significa “Rei”, ou seja, RAS +TAFARI = RASTAFARI. O Rei Tafari Makoonney ou RASTAFARI se autodenominou Haillé Selassié, que significa “O Poder da Santíssima Trindade”, e que prega o amor à natureza, o amor ao próximo e o amor a Deus. Nesse mesmo período, na Jamaica, o líder sindical e ativista pelos Direitos do Negro Marcus Garvey, pregava a volta do povo negro para a África, a formação de uma raça pura, sem misturas, e que a humanidade estaria salva quando um homem negro fosse coroado Rei em algum país do mundo. Assim, as suas palavras foram tidas como “proféticas” na Jamaica, após a coroação de Tafari Makoonney na Etiópia.

Quando o gênero reggae surgiu na Jamaica, explodiu com Bob Marley, pois ele pregava o rastafarianismo em suas letras, como o amor a todos os seres da natureza (fauna e flora), amar ao próximo como a um irmão e o amor incondicional a Jesus (Jeová = Jah) e a Deus. E até hoje é assim: ainda que tenhamos reggaes mais políticos, outros mais românticos, todos levam à mesma mensagem de amor ao próximo, a Deus ou à natureza.

33) RM: Quais os seus projetos futuros?

Gau Pass: Dentre os meus projetos futuros estão concluir o meu primeiro álbum, terminar o meu site, gravar um Tributo a Alpha Blondy, e me apresentar em alguns países africanos.

34) RM: Quais seus contatos para show e para os fãs?

Gau Pass: para show [email protected] | [email protected] e contatos para show e fãs: https://www.instagram.com/glaupass

Canal: https://www.youtube.com/c/GauPass 

Gau Pass – Jerusalema (Cover – Master KG): https://www.youtube.com/watch?v=o6hOw_md-Yk

Lean On Me – Gau Pass (Feat: Quino McWhinney e Jakob McWhinney): https://www.youtube.com/watch?v=j3P43-rxjrI

Gau Pass feat. Jubba White – Você me faz ir além | Clipe Oficial Version of “You Got me Going On”: https://www.youtube.com/watch?v=nzmZZkrvLRk 

Gau Pass – Rock It Tonight | Cover: https://www.youtube.com/watch?v=zOkunpp_HnA

Coral Belezinha – Década de 50: https://www.youtube.com/watch?v=05ehF026rBM&list=PLci7bO3WnWBO7PKXdfjwh4ZoXZ0gF0y2Q&index=3 

Lean On Me – Gau Pass: https://onerpm.link/leanonme 

As far as we know: https://open.spotify.com/track/5cd5BKJbCf8x9iXGICqOxz?si=qID164nuTUuixVQIGvEbdA&nd=1


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Uma Revista criada em 2001 pelo jornalista, músico e poeta paraibano Antonio Carlos da Fonseca Barbosa.