O cantor, compositor, percussionista paraibano Fúba de Taperoá pode ser classificado como uma pessoa folclórica, não de forma pejorativa.
Fúba com sua criatividade nata e rítmica como quem bebe água. Esse artista de origem humilde e vida simples têm histórias hilárias e tristes para contar nos seus mais de quarenta anos como forrozeiro. Traz no seu nome artístico o da sua cidade de natal. Gravou seis discos e participou em vários paus de sebo (coletâneas da gravadora do sanfoneiro Pedro Sertanejo). A sua semelhança física e rítmica com o mestre Jackson do Pandeiro é pura coincidência e do caldeirão rítmico do Coco, Samba, Forró, Bolero.
Em 2003 lançou seu novo CD – “Chamego do Forró”. Fúba já comeu o pão que o diabo amassou e cuspiu no Rio de Janeiro e em São Paulo. Chegou ao Rio de Janeiro na década de 60 em cima de um caminhão que carregava sacos de sal. Foram treze dias de viagem, literalmente a água e sal. Em São Paulo dormiu em bancos da Praça da Sé. Aos sessenta anos luta para não cair no esquecimento tão comum no mundo artístico. Fúba toca no Trio de Dominguinhos desde 1985 e trilha a sua carreira musical com um vigor de um jovem e a maturidade de quem conhece as pedras do caminho. Com um coração generoso e muito Forró nas veias vai cantando para espantar as dificuldades e não ser engolido pelo modismo.
Juberlino Martins Levino, nasceu em Taperoá – PB no dia 03.11.1942, filho de João Martins Levino e Maria de Carmo Basílio, casado com Maria de Lourdes Nomeriano (também Taperoaense) e tem 2 filhos: Ronaldo e Carlos. Sua cidade é berço de gente famosa como: Ariano Suassuna, Vital Farias, Abdias (Pai e Filho) e Zito Borborema. O menino humilde conheceu o caminho da roça e a música logo cedo. No roçado ajudava seu pai e saboreava melancia quebrada no canto da pedra e outras frutas silvestres.
Descendente da família Martim. Fubá de Taperoá por sua vez foi pedreiro, agricultor enfim um homem batalhador. Sua vida foi um pouco sofrida, tinha de ter que sair de as cidades em cima de jumento para a Marcação cantando forró com seu pandeiro de lata. Ele começou sua carreira tocando pandeiro com Abdias e foi para o Rio de Janeiro com Zito Borborema tocando Zabumba e a seguir começou com Pedro Sertanejo cantando seus forrós e agora segue sua carreira com Dominguinhos.
Não viveu só de secas prolongadas, mas da fartura das invernadas responsáveis pelos frutos polpudos, canjicas, pamonhas, cuscuz e feijão verde na manteiga-da-terra servido em prato de barro. Sua vida artística começou no período de infância, influenciado pelos pais. A mãe compunha músicas carnavalescas para o bloco Campo Louro, do pai de Fubá. Com doze anos de idade, tocava zabumba nos forrós nos sítios da região ao lado de sanfoneiros locais como o velho Abdias e depois seu filho Abdias. Os sanfoneiros faziam de tudo para o menino poder tocar nos inferninhos (Cabarés), pois se não o fizesse a festa estava ameaçada e não poderia acontecer.
Suas primeiras músicas foram: Asa Branca Cantadeira, Coqueiro Velho, Pisa Devagar, Minha Campina, Na Casa do Fazendeiro, Dormir Demais, Lá Vai, A Boiada, etc. E hoje ele tem seus CDs gravados com várias participações.
Segue abaixo entrevista exclusiva com Fúba de Taperoá para a www.ritmomelodia.mus.br, entrevistado por Antonio Carlos da Fonseca Barbosa em 01.05.2001:
01) Ritmo Melodia: Fale do seu primeiro contato com a música.
Fúba de Taperoá: Eu nasci no dia 03.11.1942 e fui registrado como Juberlino Martins Levin. Eu comecei tocar ainda criança. Minha mãe Maria do Carmo Basílio é compositora, mas ninguém gravou as suas marchinhas de carnaval que ela fazia para o bloco de carnaval do meu pai João Martins Levino (O Bloco saía na rua com Pandeiro, Triângulo e zabumba). Aos 12 anos comecei a tocar zabumba com o sanfoneiro Abdias, pai de Abdias Filho, que foi o marido de Marinês que já conheci no Sudeste. Em 1957 tocava em Taperoá e Campina Grande (PB) nos forrós e em casamento. Campina Grande em 1960 era o celeiro cultural da Paraíba e tinha muitos artistas no lugar. Naquela época o sucesso era o samba. O forró e os forrozeiros eram discriminados, como sendo festa e música para pobre. Tocávamos nos casamentos e aniversários samba e bolero. Depois com o sucesso das músicas de Luiz Gonzaga, o Forró foi deixando de ser marginalizado. Na sequência apareceu as músicas de Jackson do Pandeiro, Ary Lobo, Zito Borborema, Gordurinha e muitos outros. Em Campina Grande toquei zabumba por uns tempos com Zito Borborema (que é meu Primo) quando estava no auge do sucesso da música: “Mata Sete”.
02) RM: Fale da sua primeira viagem para o Rio de Janeiro.
Fúba de Taperoá: No final da década 60 cheguei ao Rio de Janeiros, depois de treze dias de viagem em cima do Pau de Arara. A ditadura corria solta e com muita gente presa. O rádio divulgava que ninguém podia sair de casa. Eu trabalhei de pedreiro por um ano. Comprei uma roupa bacana, óculos escuros, um relógio e coloquei um dinheiro no bolso e voltei para Paraíba. E de volta para o Rio de Janeiro trabalhei mais três anos de pedreiro, pois levantando parede ganhava mais dinheiro que tocando Pandeiro ou Zabumba na época. Em 1970 voltei para o Rio de Janeiro, passei três anos e vim mora em São Paulo e conheci outros forrozeiros Dominguinhos, Ary Lobo, Zé Gonzaga, Luiz Gonzaga, Pedro Sertanejo, Jackson do Pandeiro no Salão de Forró de Pedro Sertanejo.
03) RM: Fale dos seus primeiros discos gravados.
Fúba de Taperoá: Gravei quatro discos em vinil: Em 1981 “Lembrança de Taperoá”. Em 1983 “Na Pisada do Forró”. Em 1985 “Cantando e Sorrindo”. Em 1988 “Forró Temperado”. Quatro CDs: Em 1995 “Pra Virar Xodó” pela Velas. Em 1998 “Tributo a Jackson do Pandeiro” pela Atração. Em 2000 “Vai Lá no meu Forró”. Em 2002 “Chamego do Forró” pela CD Center. Minhas músicas que se destacaram: “Bela menina” (com Lereu do Pandeiro), “Me engana que eu gosto” (com Durval Vieira), “Minha terra é assim” (com Luiz Amorim), “Ouro em pó” (com Professor do Ritmo), “Quem eu quero bem” (com Olímpio Porfírio), “Quero sambar”.
04) RM: Você começou a tocar nos cabarés?
Fúba de Taperoá: Eu aprendi a tocar Pandeiro nos cabarés de Taperoá e de Campina Grande, com o velho sanfoneiro Abdias. A minha escola foi tocar nos cabarés do Nordeste e Sudeste. Hoje a rapaziada do “Forró Universitário” quer me ver tocar o Pandeiro.
05) RM: A sua primeira viagem para Rio de Janeiro é capaz de deixar qualquer aventureiro e mochileiro pasmo. Conte como foi?
Fúba de Taperoá:
Quando eu lembro desses treze dias de viagem as lágrimas caiem em rios. Saí de Taperoá – PB em cima de uma carga de sal de um caminhão sem um tostão no bolso nem comida. A viagem foi a sal, Sol e chuva literalmente. Quando cheguei no Rio de Janeiro no início dos anos 60. No endereço do meu tio só tinha certo o nome da cidade e a favela que ele morava. Ele tinha se mudado da casa. Um vizinho vendo minha aflição deixou ficar na casa dele e fui pintando e reformando a casa desse vizinho, enquanto não encontrava o meu tio. Depois encontrei o meu tio. E comecei procurar trabalho com a música frequentando a Feira de São Cristóvão, reduto dos nordestinos naquela época. Tocávamos “passando o prato” no final; que era pedindo aos ouvintes uma contribuição espontânea de quem gostou da apresentação e dividíamos o dinheiro que “caia no prato” pelos integrantes dos Trios de Forró. E quando eu tocava Pandeiro com sanfoneiro, dividia o dinheiro por dois. Na divisão “justa” dois pra ele e um pra mim.
06) RM: Qual as diferenças e semelhanças da feira de São Cristóvão no Rio de Janeiro para a feira do Brás em São Paulo?
Fúba de Taperoá: A feira de São Cristóvão era mais animada. Primeiro porque é uma feira mesmo e tem a presença efetiva do povo e da cultura nordestina. Enquanto que no bairro do Brás tinha e tem mais armazém. Em São Cristóvão a feira é no meio da rua. No Brás o local é mais urbanizado. Hoje o Brás está um pouco modificado, mas na minha época (anos 70) tinha mais Forró.
07) RM: Fale das suas composições que foram gravadas por outros cantores.
Fúba de Taperoá: São poucas gravadas por outros cantores. Elba Ramalho gravou recentemente “No vai vem do Forró” uma música minha em parceria com João Gonçalves e participei desse CD que é uma homenagem a Luiz Gonzaga. Dominguinhos sempre grava uma ou outra música minha.
08) RM: Fúba de Taperoá, Fale da permuta de trabalho como pedreiro que você fez para gravar o seu primeiro Disco.
Fúba de Taperoá: Eu vendi um terreno para gravar o meu primeiro disco. E falei com Pedro Sertanejo que tinha a gravadora Canta Galo. Eu já tinha feito uns serviços para ele. Então no momento ele tinha uma reforma na casa para fazer. O valor da reforma era no valor de três discos, fizemos um acordo e fiz a reforma e ele gravou o primeiro disco: “Lembrança de Taperoá”, com meu nome de batismo: Juberlino.
No programa Ensaio: https://www.youtube.com/watch?v=vMQl3HvfS-s
Fúba de Taperoá (Juberlino Martins Levin) faleceu aos 75 anos no dia 17.10.2017 na cidade de Guarulhos (SP) por falência múltipla de órgãos.