Digo Ferreira, representante da nova geração da música instrumental brasileira. Músico e compositor reconhecido por ter uma identidade singular e criativa.
Em 2016 lançou o seu primeiro CD – “Renascendo” no SESC Sorocaba – SP. O álbum tem participações de Arismar e Thiago Espirito Santo.
Digo Ferreira lançou em 2019 o seu segundo CD – “Conexões” com participações de grandes nomes da música brasileira como Toninho Horta e Oswaldinho do Acordeon. O álbum foi mixado e masterizado por Dave Darlington em Nova Iorque. Além desse trabalho, também é integrante da banda “Vintena Brasileira”, Enok Virgulino, Trio “A Vácuo” e Banda da Feira. Músico premiado nos concursos: Primeiro lugar no Concurso Souza Lima / Bass Festival em 2007 e terceiro lugar no Souza Lima / Guitar Festival em 2008.
Digo Ferreira com 18 anos de carreira já tocou ou gravou ao lado de Elba Ramalho, Bocato, Toninho Horta, Oswaldinho do Acordeon, Flávio José, Arismar do Espírito Santo, Anastácia, André Marques, Thiago Espirito Santo, Mariana Aydar, Heraldo do Monte, Nelson Faria, Tato Cruz (Falamansa), Vinícius Dorim, entre outros.
Segue abaixo entrevista exclusiva com Digo Ferreira para a www.ritmomelodia.mus.br, entrevistado por Antonio Carlos da Fonseca Barbosa em 16.01.2020:
01) Ritmo Melodia: Qual a sua data de nascimento e a sua cidade natal?
Digo Ferreira: Nasci no dia 22.08.1985 em Belo Horizonte – MG e registrado como Rodrigo Ferreira de Souza.
02) RM: Fale do seu primeiro contato com a música.
Digo Ferreira: Meu primeiro contato com a música foi com 13 anos de idade quando passava as férias na casa de meu primo e ele tinha comprado uma guitarra. Foi paixão a primeira vista, assim que voltei pra casa pedi aos meus pais uma guitarra e eles compraram e nunca mais parei de tocar.
03) RM: Qual a sua formação musical e\ou acadêmica fora da área musical?
Digo Ferreira: Sou formado no Conservatório Musical de Tatuí – SP em guitarra e contrabaixo elétrico na área de MPB/ Jazz. Também sou formado em Licenciatura em Música pela Universidade Federal de São Carlos e atualmente estou fazendo mestrado em música na Unicamp, com o tema: A guitarra no forró pé-de-serra.
04) RM: Quais as suas influências musicais no passado e no presente. Quais deixaram de ter importância?
Digo Ferreira: Tenho muitas influências, na minha caminhada musical passei por vários estilos, rock, música clássica, brasileira, jazz, fusion, etc. As maiores são da música brasileira, que adoro e pesquiso bastante: Dominguinhos, Heraldo do Monte, Hermeto Pascoal, Egberto Gismonti, Arismar do Espírito Santo, Toninho Horta, Luiz Gonzaga, Oswaldinho do Acordeon. Também gosto muito de jazz: Pat Metheny, John Scofield, Chick Corea, Jaco Pastorius, George Benson, etc. Tudo que ouvi e me influenciou em determinada fase da vida tem importância na minha formação. Claro que de uns tempos pra cá não ouço as mesmas coisas, mas tudo isso que forma o meu som e minha identidade.
05) RM: Quando, como e onde você começou a sua carreira musical?
Digo Ferreira: Comecei com 15 anos de idade dando aula de violão, logo depois com 16 anos comecei a tocar na noite profissionalmente em bandas e com cantores de vários estilos, dali não parei mais.
06) RM: Quantos CDs lançados?
Digo Ferreira: Lancei dois CDs: “Renascendo” (em 2016) que teve participações de Arismar do Espírito Santo, Thiago Espirito Santo, Fabio Gouvea entre outros e “Conexões” (em 2019) que teve as participações de Toninho Horta, Oswaldinho do Acordeon, entre outros.
07) RM: Cite os CDs que já participou tocando guitarra?
Digo Ferreira: Já gravei mais de 50 CDs como músico de estúdio, tenho gravado muita coisa atualmente. Poderia citar o CD da Orquestra Vintena Brasileira, Banda da Feira, Enok Virgulino, Vim, Ramon Vieira, etc.
08) RM: Como você define o seu estilo musical?
Digo Ferreira: Música brasileira.
09) RM: Como é o seu processo de compor?
Digo Ferreira: Componho muito intuitivamente, não penso em nada. Acredito que a composição é uma conexão com algo maior onde apenas transmitimos o que nos conectamos. É como se não fossemos o compositor, talvez um receptor ou co-autor. As músicas surgem como uma inspiração, alguma melodia, groove, harmonia, e depois vou desenvolvendo. É sempre bom estar em um estado de espírito mais tranquilo e concentrado.
10) RM: Quais são seus principais parceiros de composição?
Digo Ferreira: Geralmente componho sozinho, tenho poucas parcerias, mas poderia citar um grande amigo Cláudio Silva que temos algumas músicas juntos.
11) RM: Quais os prós e contras de desenvolver uma carreira musical de forma independente?
Digo Ferreira: Os prós são a liberdade de criar, de direcionar a carreira, de gravar o que acredita, de não ter que ceder a alguma imposição comercial, etc. A internet ajudou muito nesse sentido, a divulgarmos nossa arte para o mundo todo. Os contras é ter que fazer praticamente tudo, compor, arranjar, ser produtor executivo, vender show, dirigir os projetos, divulgar, assessoria de imprensa, etc. São muitas funções que às vezes não damos conta. Mas vejo que esse é o futuro, o músico tocar e gerenciar sua carreira.
12) RM: Quais as estratégias de planejamento da sua carreira dentro e fora do palco?
Digo Ferreira: A melhor estratégia é fazer uma música de boa qualidade e estudar muito pra evoluir e se tornar um bom músico. De nada adianta fazer marketing, divulgação se o principal material que é a música não fizer com carinho. Nesse caso tenho buscado essa evolução como músico que está intimamente ligada a evolução como ser humano. Falando de planejamento, busco novos desafios, tocar e gravar com músicos que admiro e em projetos que me desafiem a crescer. A carreira precisa ser cuidada dia a dia, penso em gravar muitos CDs com propostas diferentes, solo, orquestra, big band.
13) RM: Quais as ações empreendedoras que você pratica para desenvolver a sua carreira musical?
Digo Ferreira: Faço praticamente tudo em prol da minha carreira musical. Produzo o material, escrevo o release, mapas de palco, vendo os shows, escrevo editais, divulgo nas redes sociais. Procuro sempre aprender essas coisas novas de streamings, plataformas, redes sociais e como divulgar melhor a música, creio que o futuro será isso.
14) RM: O que a internet ajuda e prejudica no desenvolvimento da sua carreira musical?
Digo Ferreira: A internet ajuda muito, é maravilhoso você criar uma música e divulgar, dependendo só de você, sem ter algum atravessador ou intermediário. A música atravessa o continente e é importante saber colocar sua música na internet. Não sei dizer no que exatamente prejudica, mas percebo que as pessoas estão um pouco saturadas pelo excesso de conteúdo e não tem mais paciência de ouvir um disco todo, apreciar com calma como era na época sem internet. Talvez esse seja o problema a ser enfrentado pelos artistas.
15) RM: Quais as vantagens e desvantagens do acesso à tecnologia de gravação (home estúdio)?
Digo Ferreira: Vantagens são muitas. O acesso à gravação e produção musical ficou muito mais fácil e barato gravar música. Não dependo mais de gravadora ou de “curadores” para poder gravar, antigamente era assim, só quem caia nas graças dessas gravadoras que conseguia produzir sua obra. Não vejo desvantagens, já ouvi falar que tem material de pouca qualidade sendo produzido, por conta dessa facilidade. Mas quanto mais opções, melhor, aí cada um escolhe o que quer ouvir, cada pessoa se torna curadora do que gosta.
16) RM: No passado a grande dificuldade era gravar um disco e desenvolver evolutivamente a carreira. Hoje gravar um disco não é mais o grande obstáculo. Mas, a concorrência de mercado se tornou o grande desafio. O que você faz efetivamente para se diferenciar dentro do seu nicho musical?
Digo Ferreira: Busco uma identidade musical, indo cada vez mais pra dentro do que eu acredito; da minha música interior, e creio que estou conseguindo. Fico muito feliz quando alguém ouve minhas músicas e fala que têm a minha cara, e que percebem que são minhas. Isso só nos mostra que estamos no caminho certo.
17) RM: Quais os músicos já conhecidos do público que você tem como exemplo de profissionalismo e qualidade artística?
Digo Ferreira: Hamilton de Holanda e Yamandú Costa são meus exemplos de músicos, qualidade artística e um foco na carreira que é inspirador.
18) RM: Quais as situações mais inusitadas aconteceram na sua carreira musical (falta de condição técnica para show, brigas, gafes, show em ambiente ou público tosco, cantar e não receber, ser cantado e etc)?
Digo Ferreira: Já aconteceu praticamente tudo citado na pergunta (risos), infelizmente. Mas a pior de todas é você tocar e não receber. Na minha carreira aconteceu duas ou três vezes apenas, mas é muito revoltante.
19) RM: Como você analisa o cenário musical brasileiro e da música instrumental. Em sua opinião quem foram às revelações musicais nas últimas duas décadas e quem permaneceu com obras consistentes e quem regrediu?
Digo Ferreira: Tem muitos artistas, bandas fazendo um trabalho excelente, poderia dizer que nunca houve uma produção tão grande, diversificada e de qualidade, como a maioria dos artistas não tem espaço nas grandes mídias como TV, Rádios, dá a impressão contrária. Mas é só pesquisar na internet ou ir a circuitos alternativos que nota-se essa quantidade de músicas boas sendo feitas na atualidade. O cenário da música instrumental brasileira, eu também posso afirmar que nunca se teve uma quantidade de produção tão grande e com tanta qualidade. Acredito que as facilidades para gravar despertou isso. São muitos trabalhos bons mesmo. A música instrumental brasileira está muito bem representada. Nas últimas duas décadas quem permaneceu com obras consistentes foram: Guinga, Spok Frevo, Hamilton de Holanda, Yamandu Costa, Michael Pipoquinha, Filpo Ribeiro, Antonio Freire, Pedro Martins, Dani Black, Criolo, Emicida, etc. Não sei quem regrediu, acredito que a música é só evolução.
20) RM: O que lhe deixa mais feliz e mais triste na carreira musical?
Digo Ferreira: Mais feliz é fazer música, é o que mais amo nessa vida e poder tocar em lugares inspiradores, viajar, compartilhar música e aprender. Tocar com músicos que eu admiro. Triste é a desvalorização que algumas pessoas têm com a arte e a falta de condições financeiras pra realizar algum projeto e perceber que os próprios brasileiros não valorizam a nossa música brasileira.
21) RM: Você acredita que sem o pagamento do Jabá as suas músicas tocarão nas rádios?
Digo Ferreira: Nas rádios de grande audiência é impossível. Em rádios menores consigo ótimas parcerias, pra tocar a música na programação.
22) RM: O que você diz para alguém que quer trilhar uma carreira musical?
Digo Ferreira: Incentivo muito, pois é maravilhoso ser músico. Digo que tem que estudar muito, se dedicar, pois não é fácil, tem que amar a música. É como um chamado divino, como ser padre, alguém que vai dedicar a vida ao sacerdócio.
23) RM: Quais os guitarristas que você admira?
Digo Ferreira: Heraldo do Monte, Pat Metheny, John Scofield, George Benson, Jim Hall, Fábio Leal, Fabio Gouvea, etc.
24) RM: Quais os compositores eruditos que você admira?
Digo Ferreira: Bach, Villa Lobos, Beethoven, Radamés Gnattali, Chopin, Strawinsk, Leo Brouwer, etc.
25) RM: Quais os compositores populares que você admira?
Digo Ferreira: Luiz Gonzaga, Dominguinhos, Hermeto Pascoal, João do Vale, João Silva, Anastácia, Cartola, etc.
26) RM: Quais grupos e artistas de forró que você já acompanhou?
Digo Ferreira: Já dividi o palco com Enok Virgulino, Anastácia, Bernadete França, Tato Cruz (Falamansa), Mariana Aydar, Janaina Pereira, Genaro, Quininho de Valente, Trio Sabiá, Neide Garapé, Flavinho Lima, etc.
27) RM: Quais as principais diferenças e semelhanças de tocar Guitarra e Violão?
Digo Ferreira: São dois instrumentos que apesar da afinação ser igual são diferentes, cada um tem a sua escola, suas técnicas, sonoridades.
28) RM: Quais os outros instrumentos que toca além de Guitarra e Violão?
Digo Ferreira: Cavaquinho, Contrabaixo elétrico e Viola caipira.
29) RM: Quais as principais técnicas que o aluno deve dominar para se tornar um bom Guitarrista e Violonista?
Digo Ferreira: Ele precisa desenvolver a sua musicalidade, percepção musical, ouvido, quando o músico aprende a ouvir ele toca qualquer instrumento e em qualquer situação. Falando de técnicas acredito que o mais importante é estudar repertório, aprender uma infinidade de músicas de cor, e o desenvolvimento técnico vem junto com arpejos, escalas, ligados, estudar com metrônomo, etc.
30) RM: Quais os principais vícios e erros que devem ser evitados pelo aluno de Guitarra e Violão?
Digo Ferreira: O erro de só tocar e ouvir um estilo musical. Esse é o pior, deixa a mente fechada e não evolui. Cada música e ritmo tem sua riqueza.
31) RM: Quais os principais erros na metodologia de ensino de música?
Digo Ferreira: O ensino retrógrado com excesso de teoria, sem vivência musical. Baseado apenas em partituras, onde o aluno não assimila nada e não pratica o ato de tocar.
32) RM: Existe o Dom musical? Como você define o Dom musical?
Digo Ferreira: Acredito que tenha sim, mas o dom é 1% e os 99% é trabalhar e estudar muito pra desenvolver essa facilidade e musicalidade.
33) RM: Qual é o seu conceito de Improvisação Musical?
Digo Ferreira: O conceito é o de primeiro sentir pra depois tocar, ter o feeling (sentimento), me considero um músico mais musical do que técnico. É importante conhecer todas as escalas, modos em todos os tons, arpejos, tríades, tétrades, campos harmônicos, intervalos, mas nada disso terá valor se você não ouvir os acordes, as melodias e não achar a sua música interior. Vai acabar tocando licks, frases prontas sem emoção nenhuma.
34) RM: Existe improvisação musical de fato, ou é algo estudado antes e aplicado depois?
Digo Ferreira: Com certeza existe sim, conheço excelentes improvisadores, que criam a música na hora, passando de dentro pra fora. O estudo é importante também, conhecer harmonia, escalas, ter a técnica embaixo do dedo, tudo isso ajuda, são ferramentas pra tirar a música de dentro de você para o instrumento.
35) RM: Quais os prós e contras dos métodos sobre Improvisação musical?
Digo Ferreira: Prol: toda metodologia mostra um caminho a ser seguido didaticamente. Os contras é ficar preso em uma única metodologia, não existe apenas uma receita, tem vários caminhos pra se chegar a infinitos lugares. A maior metodologia, a meu ver, é estudar e praticar o que aprendeu tocando em um repertório diverso.
36) RM: Quais os prós e contras dos métodos sobre o Estudo de Harmonia musical?
Digo Ferreira: Prol é incentivar o aluno a se desenvolver e buscar nas músicas essa evolução. Por exemplo, se você tirar uma música do Ivan Lins, do Milton Nascimento, do Toninho Horta, quer melhor aula de harmonia que essa, entender os caminhos que o compositor trilhou para fazer a canção. Contras é estudar a teoria musical só como regras e conceito matemático sem aplicar na criação musical o que se aprendeu na teoria.
37) RM: Quais os métodos que você indica para o estudo de leitura à primeira vista?
Digo Ferreira: Têm vários, mas estou meio por fora das novidades, então deixo pra cada um char o melhor pra si.
38) RM: Como chegar ao nível de leitura à primeira vista?
Digo Ferreira: Ideal seria ler todos os dias, ter uma rotina de leitura, mas para guitarristas isso é meio difícil, porque historicamente nosso instrumento não se toca lendo o tempo todo. Um violinista ou trompetista usa a leitura muito mais que guitarrista, por isso eles vão ler muito melhor. Mas acredito que podemos nos desenvolver praticando em casa algumas vezes por semana.
39) RM: Quais os seus projetos futuros?
Digo Ferreira: Pretendo gravar no ano que vem um disco de forró instrumental, com sonoridades raiz e modernas, misturando isso, com destaque para guitarra, será um forró de guitarra. Também quero gravar um disco solo e outro com orquestra, isso no futuro.
40) RM: Quais seus contatos para show e para os fãs?
Digo Ferreira: [email protected]
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