O cantor e compositor Cardo Peixoto, nascido e criado em Pelotas – RS, cidade que fica a menos de 200 km da fronteira com o Uruguai e que atualmente mora em Caxias do Sul. É um músico forjado nos banquinhos dos Bares desde o final dos anos 80. Um filho da mais pura MPB.
Desde sempre ouviu muito o som de Caetano Veloso, Chico Buarque, Gilberto Gil, Alceu Valença, Sivuca, Ednardo, Belchior, Milton Nascimento, Beto Guedes, Toninho Horta, Lô Borges, 14BIS, A cor do som, Pink Floyd, Genesis, Jethro Tull, Prokofiev e Bach, além da música regional gaúcha.
Essas sonoridades formaram as referências do músico. Ele estudou canto lírico por quatro anos e viveu muito tempo entre o teatro e a música.
Com o teatro foi ator e chegou a dirigir vários espetáculos. Na música, assumiu-se compositor em 1993, com seu show Sob as luzes de neon e complementando em 1996 com o espetáculo Sândalo, este todo autoral.
Em 2000, gravou ao vivo, em duas noites o CD – Rota da estrela, lançando em 2002.
Em 2006, é o produtor musical doCD – Um canto pá ‘ocê, disco de tendência afro da cantora Giamarê. Em maio de 2007 lança o segundo CD, disco assinado juntamente com o poeta Martim César e o compositor Ricardo Fragoso, com o título Canções de a(r)mar e desa(r)mar.
Atualmente está compondo para alguns intérpretes da região sul. E através do Clube Caiubi de Compositores (www.clubecaiubi.ning.com) nasceram novas parcerias musicais, em que o compositor musicou letras e poemas de membros do Caiubi.
Além de preparar um CD com música para crianças. Em março de 2008 o lançou seu selo independente OMNE Discos. Ele além de talentoso, original é um trabalhador que produz diariamente. Um Hércules com mais de doze trabalhos musical.
Quando ouvi o som desse gaúcho me surpreendi como há muito tempo não acontecia. Pensei comigo: existe ainda vida inteligente, criativa e original na “nova MPB”.
Essa sensação de arrepio na alma, aceleramento cardíaco que só me acontecia ouvindo os clássicos da MPB citados acima pelo compositor. E o mais importante ele bebeu da fonte mais pura, mas a sua obra nasceu diferente, é um avanço das suas influências e não uma cópia melhorada.
Um cantor com voz e interpretação excelente. Um compositor profundo nas letras; de sua autoria ou dos seus parceiros e nas melodias. Ele veste a letra buscando a melodia e a alma da letra. Ouvi suas músicas me deixou mais humano, sensível, inteligente e me fez ver que vale a pena não ter alma pequena na vida nem na arte.
Segue abaixo a entrevista exclusiva com Cardo Peixoto para a www.ritmomelodia.mus.br , entrevistado por Antonio Carlos da Fonseca Barbosa em 03.02.2009:
01) Ritmo Melodia: Qual a sua data de nascimento e a sua cidade natal?
Cardo Peixoto: Nasci no dia 04 de julho em 1964 em Pelotas – RS, a 250 km, ao sul, de Porto Alegre e 130 km antes da fronteira com o Uruguai. Fui registrado como Paulo Ricardo Gonçalves Peixoto.
02) RM: Fale do seu primeiro contato com a música?
Cardo Peixoto: Minha lembrança mais antiga é de minha avó cantando enquanto fazia as tarefas de casa. Lembro-me claramente de ouvir Noel Rosa pela primeira vez na voz dela: “Quando eu morrer, não quero choro nem vela / Quero uma fita amarela gravada com o nome dela…”
Mais tarde a escola fez toda a diferença. Sempre participei de orfeões e coros nas escolas por onde passei, desde o primário até o segundo grau.
03) RM: Qual a sua formação musical e\ou acadêmica em música ou em outra área?
Cardo Peixoto: Minha vida acadêmica foi interrompida em 1982, quando cursava a Escola Técnica Federal de Pelotas – RS, hoje CEFET-RS, no curso técnico de Edificações. Só concluí meu segundo grau neste mês de dezembro de 2008. Quanto à música, ainda na década de 80, eu cursei quatro anos de Canto Lírico no Conservatório de Música de Pelotas (o curso tinha duração de oito anos).
Antes da música, conheci o teatro e atuei dos 13 aos de idade aos 40 anos, tendo também dirigido e ministrado inúmeros cursos de formação de atores. A necessidade de trabalhar e a ânsia em vivenciar novas experiências fizeram com que eu atropelasse o processo de aprendizado formal. Hoje, tanto tempo depois, e tendo concluído o ensino médio, penso em seguir estudando.
04) RM: Quais as suas influências musicais no passado e no presente. Quais deixaram de ter importância?
Cardo Peixoto: Minhas referências na música são bastante diversas e universais. Já ouvi de tudo e gosto de muitas coisas diferentes entre si. Sou simplesmente louco por J.S. Bach, também aprecio Vivaldi e Paganini. Adoro a música celta de Loreena McKeneth.
A música regional do meu estado me presenteou o lirismo de Noel Guarani, Cenair Maicá, Mário Bárbara, Peri Souza. Passei, e até toquei e cantei, o folclore latino-americano de Atahualpa Yupanqui, Mercedes Sosa, Violeta Parra, José Carbajal e tantos outros. Na adolescência absorvi Jetro Thul, Gênesis, Rick Wakemann. E, por fim, minha maior referência, que é a MPB.
Tanto a nordestina, com Alceu Valença, Gilberto Gil, Caetano Veloso, Geraldo Azevedo, Zé Ramalho, Ednardo, Belchior, Luiz Gonzaga, Jackson do Pandeiro, Djavan, Lenine, Chico César, Zeca Baleiro. Como a música mineira de Milton Nascimento, Beto Guedes, Flávio Venturini, Toninho Horta, Lô Borges. Também a carioca de Tom Jobim, Chico Buarque, Vinícius de Moraes, Luiz Melodia, Ivan Lins, Gonzaguinha, Paulinho da Viola, Noel Rosa, Cartola, João Nogueira. Ainda a paulista de Itamar Assumpção, Arrigo Barnabé, Guilherme Arantes, Rita Lee.
E completando com a MPB gaúcha de Nei Lisboa, Bebeto Alves, Almôndegas, Kleiton & Kledir. Acho que nossas influências estão sempre conosco, nunca deixam de ter importância. Estão sempre por perto para que possamos lançar mão delas quando precisemos.
05) RM: Quando, como e onde você começou a sua carreira musical?
Cardo Peixoto: Tenho orgulho em contar, que o meu primeiro Violão, eu ganhei com uma composição minha em um Festival de Música. Quando adolescente, eu cantarolava melodias e compunha as letras. Então, ganhei meu primeiro instrumento, aos 17 anos de idade.
Na década de 80 comecei a frequentar Barzinho com música ao Vivo e, como se pode imaginar, ficava cantando e dando canjas com os músicos. Acabei convidado para tocar em um deles e nunca mais parei, desde 1985. Sempre toquei MPB. Em 1996 fiz meu primeiro show autoral, chamado Sândalo.
06) RM: Quantos discos lançados (músicos que participaram nas gravações)? Qual o perfil musical de cada CD? E quais as músicas que caiu no gosto do seu público?
Cardo Peixoto: Em 2000, gravei ao vivo o CD – Rota da estrela, que foi lançado somente em 2002. A gravação foi em um bar e café onde trabalhava em Pelotas – RS.
E foi tudo de propósito, pois a minha inexperiência com estúdio tinha me deixado preocupado, então gravei em um ambiente onde me sentia à vontade. No palco somente instrumentos de cordas: violões clássicos e com cordas de aço, guitarra semi-acústica e contrabaixos elétrico e eletroacústico.
Os músicos na gravação: Cardo Peixoto, Egbert Parada e Fabrício Moura. No repertório canções compostas por mim, à exceção de “Alguém que me agrade”, com melodia minha e letra de Sidney Bretanha e a música instrumental “Don Quixote”, composta juntamente com os músicos do show. As músicas que mais chamam a atenção do público são: Ébano; luz; Manha, sendo que a segunda já esteve participando em Festival de Música no interior de São Paulo.
No ano de 2007, foi lançado o CD – Canções de a®mar e desa®mar. Um projeto que reuniu o compositor Ricardo Fragoso, o poeta Martim César e eu. Todas as letras são do Martim e as melodias divididas entre eu e o Fragoso. É um trabalho de estúdio, onde cada um dos compositores fez também a direção de suas músicas.
Eu procurei diversificar a minha participação e compus duas canções: “Sombras de Morfeu” e “Tigre no jardim”, uma pop “Sol na vidraça”, uma beebop “Quase morro de saudade” e uma blues “Navio fantasma”. Nas minhas canções participam: Jucá De Leon (percussão e bateria), Fabrício Moura (contrabaixo), e os convidados especiais Leonardo Oxley (quarteto de cordas), Neco Eidelwein (sax soprano), Egbert Parada (violão) e Hélio Mandeco(guitarra).
As músicas mais comentadas pelo público são: “Quase morro de saudade” e “Sombras de Morfeu”, sendo que “Tigre no Jardim” já esteve em Festivais de Músicas nos estados de São Paulo e Minas Gerais.
07) RM: Como você define o seu estilo musical?
Cardo Peixoto: Eu sempre acho muito complicado definir estilo musical. Eu faço música.
08) RM: Como é o seu processo de compor?
Cardo Peixoto: Antes de fazer música eu já escrevia poesia, mas eu nunca musiquei uma poesia minha. Meu processo sempre partiu do encadeamento harmônico, sobre ele uma melodia e, por fim a letra. Depois do CD – “Rota da estrela”, eu comecei a experimentar musicar letras de outros escritores.
A coisa deu tão certa, que é o que mais faço hoje. E gosto muito de fazer, pois. o processo de compor fica menos solitário. O único problema é que fiquei preguiçoso para fazer letra. Tenho que trabalhar para aproximar os dois processos.
09) RM: Quais são seus principais parceiros musicais?
CP: Tenho vários parceiros. Tenho mais canções em parceria com Sidney Bretanha, meu amigo e compadre, de Arroio Grande – RS. Depois com o Martim César. Mas hoje tenho muitos parceiros e espero que o número cresça ainda mais.
Só do Clube Caiubi de Compositores (www.clubecaiubi.ning.com) já são oito novos parceiros, todos surgidos ao longo deste segundo semestre de 2008 (dentre eles, Antonio Carlos que está me entrevistando agora).
10) RM: Quais os prós e contras de desenvolver uma carreira musical de forma independente?
Cardo Peixoto: A carreira independente não é uma escolha, mas uma contingência do mercado musical brasileiro. Ao mesmo tempo acho que toda carreira deveria ser independente no sentido dos titulares terem autonomia sobre a sua obra, mesmo que tenham empresas que lhes represente.
A independência é salutar. É preciso que o mercado entenda que o artista é que move o sistema ao invés de tratá-lo como um empregado. Hoje estamos em um momento de transição, mas ainda não se sabe pra onde isso vai. Eu confesso que enxergo o futuro com bons olhos.
11) RM: Como você analisa o cenário musical brasileiro. Em sua opinião quem foram às revelações musicais nas duas últimas décadas e quem permaneceu com obras consistentes e quem regrediu?
Cardo Peixoto: Como já disse, estamos num momento de transição. A queda dos grandes monopólios face á uma democratização do acesso á tecnologia, nos legou um mercado bastante amplo. Com várias pequenas empresas assumindo papéis antes delegados a grandes corporações. Ainda não nos habituamos a tudo isso. Ainda estamos aprendendo a lidar, mas chegaremos lá.
Quanto a revelações musicais, eu prefiro analisar pelo que vejo hoje e não pela lógica da mídia institucional. Eu vejo muita gente boa trabalhando e batalhando pelo seu espaço. Sobre quem vendeu mais discos no Brasil ou deixou de vender, sinceramente é uma informação que não toma o meu tempo.
12) RM: Qual ou quais os músicos já conhecidos do público que você tem como exemplo de profissionalismo e qualidade artística?
Cardo Peixoto: Pra falar dos novos: Vitor Ramil, Lenine, Paulinho Moska, Zeca Baleiro.
13) RM: O que lhe deixa mais feliz e mais triste na carreira musical?
Cardo Peixoto: O que me deixa mais feliz é a possibilidade de compartilhar, tanto com os parceiros quanto com o público. O que me entristece é vê grandes artistas partindo para outras áreas profissionais por que não conseguem sobreviver de seu trabalho musical.
14) RM: Nos apresente a cena musical da sua cidade natal e da cidade que você mora hoje?
Cardo Peixoto: Infelizmente nossa cultura está pasteurizada. Na cidade onde nasci (Pelotas – RS) ou onde vivo (Caxias do Sul – RS) o senso comum é o mesmo de qualquer cidade brasileira. Música pra dançar, pra balada.
As pessoas que produzem ou curtem músicas que não estejam na moda, estão apartadas em guetos. Na minha adolescência, vivi em uma Pelotas em que se tocava MPB em todos os Barzinhos noturnos. Essa foi minha escola.
15) RM: Você acredita que sem o pagamento do jabá as suas músicas tocarão nas rádios?
Cardo Peixoto: Não sei. Ainda não tive experiência real com o jabá. Acho que o mercado musical brasileiro carece de legislação que regulamente algumas coisas, entre elas exata questão do jabá. Acho que os meios de comunicação têm que divulgar os grandes artistas, mas também, de forma democrática, manter espaços para os novos.
16) RM: O que você diz para alguém que quer trilhar uma carreira musical?
Cardo Peixoto: Respire fundo e vai em frente. Mas, sobretudo, seja o mais profissional possível. Música é inspiração, mas também é negócio.
17) RM: Como a internet ajuda e prejudica sua carreira musical?
Cardo Peixoto: É o que mais uso, hoje, pra encontrar parceiros musicais e divulgar meu trabalho. Participo de vários sites e clubes de compositores e tenho músicas em várias webradio, é onde mais tenho tido resultados é no Clube Caiubi de Compositores.
18) RM: Fale da sua experiência como produtor musical?
Cardo Peixoto: Minha principal experiência foi produzindo o CD – Um canto pá ‘ocê, da cantora pelotense Giamarê. O show do disco foi contemplado no edital Caixa Cultural 2007 e estivemos fazendo shows em Salvador – BA, em maio de 2008, e estaremos no Rio de Janeiro em 2009.
Afora isso produzi meus próprios álbuns e, hoje produzo algumas canções individuais de outros artistas de minha região.
19) RM: Quais os projetos futuros?
Cardo Peixoto: Estou compondo muito e buscando intérpretes pra minhas novas canções. Também estou na pré-produção de meu próximo disco, que se chamará Batuque sem trégua. E criei um site (www.compositoresdosul.ning.com) pra reunir compositores gaúchos.
20) RM: Quais os seus contatos?
Cardo Peixoto: (54) 99114 – 3556
E-mail: [email protected] e MSN: [email protected]
Sites:www.clubecaiubi.ning.com/profile/CardoPeixoto e www.cardopeixoto.blogspot.com