Banda Banda Adão Negro fez uma imersão para compor um dos álbuns mais maduros da sua carreira: “Alma Leve”, que já é um título sugestivo.
O álbum lançado em 2019 chega quatro anos depois do último disco de inéditas e conta com 12 canções. Entre os compositores, nomes como Ivete Sangalo, Ramon Cruz, Tenison Del Rey, Peu Del Rey, Fábio Alcântara, Rafa Chagas, Samir Trindade, Jau, Manno Góes e Gerson Guimarães, além de Sergio Nunes e Marcos Guimarães, que junto a Aurelino Fábio formam a linha de frente da banda.
O novo álbum foi mixado e masterizado por Daniel Félix no Zeroneutro Studios em Brasília – DF, do cantor Alexandre Carlo, vocalista da banda Natiruts, na primeira metade do mês de junho de 2019. “Este foi o primeiro disco que a gente contou com outros compositores”, disse Serginho. “Chuva ou Sol” de Tenison Del Rey e Sergio Nunes é a única regravação que está presente no álbum. A direção musical é do carioca Marcel Souza, multi-instrumentista e produtor musical, que já dividiu palco com artistas de diversos segmentos a exemplo de Toquinho, Marcelo D2 e Maria Gadú.
“Fomos para um estúdio projetado especificamente para a sonoridade do reggae e que tem toda equipe ambientada a este estilo musical”, comentou Serginho. Durante as gravações, toda equipe ficou por 15 dias em um sítio próximo à capital federal pensando em música e neste trabalho. “Esta imersão fez a diferença, nos emocionamos muitas vezes, o que fez este o disco mais maduro da nossa carreira”, completa o vocalista. “Ser acolhido por Alexandre Carlo e sua equipe também é extremamente importante e isso poderá ser conferido na qualidade do resultado final”, completa.
Entre as novas estão: “Quando toca um reggae” (Tenison Del Rey, Peu Del Rey e Marcos Guimarães), “Acende a vela” (Roberto Neves, Brinco de Ouro e Martin Buffer), “Que o amor floresça” (Ramon Cruz e Ivete Sangalo), “Pra você ficar feliz” (Tenison Del Rey, Jauperi, Manno Góes e Gerson Guimarães), “Tudo azul” (Fábio Alcântara, Rafa Chagas e Samir Trindade), “Vem com tudo” (Tenison Del Rey e Sergio Nunes), “Baby” (Felipe Barros e Dja Luz), “Lamento moderno” (Marcel e Sergio Nunes) e “Fora” (Sergio Nunes).
De acordo com a banda Adão Negro, o álbum é universal e se comunica com diferentes públicos sem perder a essência original. A canção “Alma Leve” (Sergio Nunes), que também dá título ao trabalho, para Serginho representa este momento. “Já Real” (Adilmar Borges e Sergio Nunes) apresenta a sutileza, consciência e crítica do reggae. “O Adão é levante e lute que você vai conseguir”, disse Serginho. “A palavra é maturidade. Tivermos que nos reescrever, fomos mais autênticos e fiéis ao nosso tempo. São novas lutas, não levantamos mais bandeiras que não precisam ser levantadas, nos resignificamos, mas continuamos lutando pelo amor. Aqui um álbum de reggae brasileiro com as necessidades de hoje”, concluiu o artista.
Adão Negro fundado em meados do ano de 1996 gravou dois anos depois o primeiro disco. Impulsionado pelos amantes do reggae, o grupo começou a tornar-se conhecido nas grandes capitais do país. A partir do ano de 2000, começa a incluir na agenda cidades de diversos estados brasileiros desde Fortaleza – CE a Porto Alegre – RS, dividindo o palco com grandes nomes da música nacional como Planet Hemp, Natiruts, Cássia Eller e Capital Inicial, além de ícones internacionais do reggae como Israel Vibration e Alpha Blondy. Na discografia da banda liderada por Serginho, álbuns como Adão Negro e Pele Negra se tornaram os grandes sucessos, trazendo músicas como: “Anjo Bom”, “Eu Louvei”, “Louco Louco”, “Adão Negro”, “Bota Um”, “Boa Malandragem”, “Feed Back” e “Pele Negra”.
Segue abaixo entrevista exclusiva com a banda Adão Negro para a www.ritmomelodia.mus.br, entrevistada por Antonio Carlos da Fonseca Barbosa em 13.12.2019:
01) Ritmo Melodia: Qual a data de nascimento e cidade natal dos membros da banda Adão Negro?
Banda Adão Negro: Sérgio Nunes (Guitarrista e Vocalista) nasceu no dia 27.03.1971 em Ubaitaba – BA. Aurelino Fábio “Bandido” (Baterista) nasceu no dia 13.12.1971 em Cachoeira – BA. Marcos Guimarães “Guima” (Guitarrista) nasceu no dia 10.10.1969 em Itaberaba – BA. Valterson “Cabeça” (Baixista) nasceu 14.11.1976 em Alagoinhas – BA. Pablo Antonio (Tecladista) nasceu no dia 13.06.1980 em Salvador – BA.
02) RM: Como foi o primeiro contato dos membros da banda com a música?
Banda Adão Negro: Sergio: Comecei a tocar Violão aos 16 anos de idade por influência de um vizinho que gostava de punk rock e que tinha uma banda underground. Aurelino: Meu contato com a música foi através do meu padrasto. Marcos Guimarães “Guima”: Foi através dos discos dos meus pais. Valterson “Cabeça”: Foi tocando em colégios, gincanas, etc. Pablo Antonio: Meu primeiro contato com a música foi através da banda “Raízes da ressureição” no bairro do IAPI em Salvador – BA.
03) RM: Qual a formação musical e acadêmica fora música dos membros da banda?
Banda Adão Negro: Sergio: Sou músico autodidata. Estudei 6 meses de Violão clássico. Tenho graduação em Letras (UFBA), pós-graduação em Legendagem para Surdos e Ensurdecidos (UECE). Aurelino: Sou músico autodidata e conclui o Ensino Médio. Marcos Guimarães “Guima”: Sou músico autodidata. Bacharel em Ciências Sociais (UFBA), especialista em Ensino de Sociologia no ensino médio (UFBA). Valterson “Cabeça”: Sou músico autodidata e conclui o Ensino Médio. Pablo Antonio: Músico autodidata e conclui o Ensino Médio.
04) RM: Quais as influências musicais no passado e no presente dos membros da banda? Quais deixaram de ter importância?
Banda Adão Negro: A principal e que continua até hoje é Bob Marley. Além dele, Os artista de reggae de Cachoeira, Bahia: Edson Gomes, Nengo Vieira, Sine Calmon. No mais, todo tipo de música que agradasse. Sem preconceitos.
05) RM: Quando, como e onde começou a carreira musical da banda? E qual o significado do nome da banda?
Banda Adão Negro: A banda começou a tocar no Pelourinho, em Salvador em 1996. Desejávamos um nome emblemático, como a maioria das bandas/artistas de reggae. Um nome que sinalizasse a proposta de engajamento da banda. Saindo de Salvador, a maior cidade africana fora da África, natural que o nome Adão Negro indicasse essa ideia.
06) RM : Quantos discos lançados e quais os anos de lançamento (quais os músicos que participaram das gravações)? Qual o perfil musical de cada álbum? E quais as músicas que você acha que caíram no gosto do seu público?
Banda Adão Negro: O primeiro álbum foi Adão Negro, gravado em 1998 e lançado em 2000. Este disco contou com uma tiragem de apenas 4.000 cópias, distribuídas entre Salvador – BA e Curitiba – PR. O álbum Adão Negro – “Só Diretoria”, ele foi gravado às pressas e gravado em condições técnicas possíveis, teve a primeira edição lançada em 1999 e é o disco oficial mais vendido do grupo.
O álbum Adão Negro – “Vence Tudo” é o segundo álbum gravado em estúdio, lançado em maio de 2003. O álbum Adão Negro – “Vence Tudo” (ao vivo) foi o primeiro disco da banda distribuído por uma gravadora, lançado em 2005, pela Atração Fonográfica. O álbum de 2007 Adão Negro –“Pele Negra” foi produzido por Clive Hunt produtor jamaicano que trabalhou com grandes artistas como Alpha Blondy, Stevie Wonder e outros. Esse disco contou também com a participação/produção de Márcio Mello, produtor musical de destaque no cenário musical baiano, autor da música que fez sucesso: “Nobre Vagabundo”.
O álbum de 2010 Adão Negro – “Mais Forte”, sexto álbum da carreira da banda é parte de uma longa transição de sons e ideias dos 15 anos de trajetória da banda. O álbum Adão Negro – “#AdãoNegro” após cinco anos sem gravar um álbum de estúdio gravamos 11 músicas. Nove delas inéditas e duas versões de canções gravadas anteriormente.
O álbum Adão Negro 20 Anos comemorativo aos 20 anos da banda, gravado e lançado em 2016 pela Sony Music em parceria com a Planet Music. Em 2019 lança o Adão Negro – “Alma Leve”. Basicamente o perfil dos álbuns é o da banda. As influencias não mudaram tanto. Acho que estamos cada vez mais no caminho de fazer um reggae brasileiro. Sem formulas jamaicanas prontas. Há muitos clássicos desde: “Adão Negro”, “Botar um”, “Feedback”, Anjo bom””, Pele negra” e mais recentemente, do álbum “Alma Leve”, a canção “Acende a vela”.
07) RM: Como define o estilo musical da banda dentro da cena reggae?
Banda Adão Negro: Um estilo Próprio. Com a maturidade dada pelos anos, buscamos cada vez mais a nossa identidade enquanto regueiros brasileiros.
08) RM: Como você se define como cantor/intérprete dentro da cena reggae?
Banda Adão Negro: Eu (Sergio) busco identidade própria, esse é um desejo maior do que de parecer, de soar ou parecer como qualquer uma das referências musicais do reggae citadas acima.
09) RM: Quais os cantores e cantoras que vocês admiram?
Banda Adão Negro: Pensamos menos em estilo musical e mais em originalidade. Os artistas de reggae normalmente ouvem quase que exclusivamente reggae. Não reconhecemos essas barreiras. O importante pra nós é que soe bem e verdadeiro. Então, quase todos e todas da MPB, reggae, jazz, enfim, sem fronteiras.
10) RM: Como é o processo de composição musical dentro da banda? Quem faz a letra e melodia?
Banda Adão Negro: Todo o processo, desde as letras até os arranjos, é coletivo.
11) RM: Quais os prós e contras de desenvolver uma carreira musical de forma independente?
Banda Adão Negro: Uma vantagem é a autonomia de fazer do nosso jeito, sem imposições. Como desvantagem é o fato de ter que produzir tudo praticamente sozinho, sem estar em um movimento hegemônico de mercado musical. O importante é lidar com as adversidades sendo consciente do desejo final de fazer uma música fortemente autoral e desvinculada de qualquer limite imposto pela carreira.
12) RM : Quais as ações empreendedoras que vocês praticam para desenvolverem a carreira musical?
Banda Adão Negro: Atualmente, essa função está a cargo de nosso competentíssimo empresário e amigo Israel Mizrach que tem sido grandemente importante para a cena reggae BRASIL nos últimos 20 anos. Nesse exercício, Israel também nos auxilia com estratégias musicais do que lançar e quando lançar, etc. Enfim, é um trabalho de equipe, onde ninguém tem todas as respostas e a confiança é uma palavra chave.
13) RM: O que a internet ajuda e prejudica no desenvolvimento da carreira musical?
Banda Adão Negro: A internet é o atual modelo de negócio, não só para a música, mas para várias atividades humanas. Como é recente, certamente esse modelo irá evoluir. Mas não há mais como viver de música sem ela.
14) RM – Como vocês analisam o cenário reggae brasileiro? Em sua opinião quem foram às revelações musicais nas duas últimas décadas e quem permaneceu com obras consistentes e quem regrediu?
Banda Adão Negro: O Maneva e Adonai, ex vocalista, compositor e guitarrista do “Cidade Verde Sounds” são dois grandes exemplos de renovação. Creio que Todos os artistas do nosso tempo tiveram alguma dificuldade de acompanhar as mudanças que chegaram com a internet. Isso prejudicou a carreira de uns mais do que de outros, mas estamos todos aprendendo.
15) RM: Quais as vantagens e desvantagens do acesso à tecnologia de gravação (Home Studio)?
Banda Adão Negro: Só vejo vantagens. A criatividade e o talento agora estão mais ao alcance de todos.
16) RM: Quais os músicos já conhecidos do público que vocês têm como exemplo de profissionalismo e qualidade artística?
Banda Adão Negro: Natiruts, Maskavo, Planta & Raiz, Vibrações, a lista é grande. Perdoem-nos os que não foram citados (risos).
17) RM: Quais as situações mais inusitadas aconteceram na sua carreira musical (falta de condição técnica para o show, brigas, gafes, show em ambiente ou público tosco, cantar e não receber, ser cantado e etc)?
Banda Adão Negro: Temos inúmeros exemplos de todas essas situações citadas na pergunta (risos)…
18) RM: O que lhe deixa mais feliz e mais triste na carreira musical?
Banda Adão Negro: O que me deixa feliz é o fato de que nós, do Adão Negro, podemos nos considerar vitoriosos de poder viver dignamente do que fazemos. Triste é ver que muitos companheiros, a despeito da qualidade de seus trabalhos, nem sempre conseguem viver disso.
19) RM: Nos apresente a cena musical na cidade que vocês moram?
Banda Adão Negro: Salvador – BA é plural. A terra da música. A lista é imensa. Desde Dorival Caymmi, passando por Caetano Veloso, Gilberto Gil. Atualmente há um movimento chamado Bahia Bass, cujo principal expoente é o Baiana System. Muita coisa acontecendo sempre.
20) RM: Quais os músicos ou/e bandas da cidade que vocês moram que recomendam ouvir?
Banda Adão Negro: Do reggae, há vários que são desconhecidos do grande publico reggae do país. “Leves e Soltos”, “Banda O Cativeiro”, “Backs e Finos”, “Alpha Negra”, “Prince Áddamo”, Victor Badaró, Pali. Perdoem-nos os que não foram citados, pois, são muitos.
21) RM: Quais os cantores, cantoras e bandas que gravaram as suas canções?
Banda Adão Negro: Artistas populares de vários estilos como Silvano Sales, Bandas de forró tais como: Estaka Zero, Além de Márcio Mello em parceria com X.
22) RM: Vocês acreditam que sem o pagamento do jabá as suas músicas tocarão nas rádios?
Banda Adão Negro: Não. Com os canais de streaming, as coisas estão mudando.
23) RM: O que você diz para alguém que quer trilhar uma carreira musical?
Banda Adão Negro: Persista e seja feliz!
24) RM: Como vocês analisam a relação que se faz da música reggae com o uso da maconha?
Banda Adão Negro: Inevitável. Eu não fumo, apesar de ser a favor da descriminalização.
25) RM: Como você analisa a relação que se faz da música reggae com a religião Rastafari?
Banda Adão Negro: Inevitável também. Mas à medida que o tempo passa, novas informações se juntam ao pacote.
26) RM: Você usa os cabelos dreadlock? Você é adepto a religião Rastafári?
Banda Adão Negro: Não usamos dread. Não somos rastas. Exercitamos o respeito para com os irmãos rastafáris.
27) RM: Alguns adeptos da religião Rastafári afirmam que só eles fazem o reggae verdadeiro. Como vocês analisam tal afirmação?
Banda Adão Negro: Respeito, mas penso diferente.
28) RM: Na sua opinião quais os motivos da cena reggae no Brasil não ter o mesmo prestígio que tem na Europa, nos EUA e no exterior em geral?
Banda Adão Negro: Um dos fatos é o nosso reggae ser cantado em português. Ainda assim, isso tem mudado. Cada vez mais temos artistas excursionando e representando bem o nosso reggae brasileiro.
29) RM : Quais os prós e contras de usar o Riddim (do inglês rhythm é o termo usado na Jamaica para designar bases sonoras comumente usadas. São usados principalmente no reggae, dub, ragga, dubwise, jungle e dancehall) como base instrumental para composição de reggae?
Banda Adão Negro: Acho legal. Característica fundamental do estilo. Nada contra.
30) RM: Quais os prós e contras de fazer um show usando o formato Sound System (base instrumental sem voz)?
Banda Adão Negro: A logística é bem mais fácil. Acho que é um modelo que pode coexistir com o formato de banda completa. Nossa vibe é tocar com banda.
31) RM: Quais os seus projetos futuros?
Banda Adão Negro: Continuar divulgando nossa música e ir tocando nosso reggae até morrer.
32) RM: Banda Adão Negro, Quais os seus contatos para show e para os fãs?
Banda Adão Negro: http://www.adaonegro.com.br |
https://www.facebook.com/AdaoNegroOficial | https://www.instagram.com/adaonegrooficial