More Alexandre Porto »"/>More Alexandre Porto »" /> Alexandre Porto - Revista Ritmo Melodia
Uma Revista criada em 2001 pelo jornalista, músico e poeta paraibano Antonio Carlos da Fonseca Barbosa.

Alexandre Porto

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O cantor paraibano Alexandre Porto participou de vários movimentos culturais na Paraíba, ajudou a fundar o grupo de capoeira Consciência Negra dos Palmares em 1988 com o Movimento Negro Campinense, Fundou a Banda Cultural Afro-Brasil, banda Tribo do Sol em 1989.

Em 2003, idealizou um projeto musical interpretando canções clássicas da música popular brasileira, projeto Momentos de Saudade, em 2004 participou com a banda Baião de Cordas, idealizou e produziu vários encontros em homenagem a Raul Seixas, foram três edições em todo o Estado da Paraíba sendo o último realizado em 2014 em Sousa – PB.

Segue abaixo entrevista exclusiva com Alexandre Porto para a www.ritmomelodia.mus.br, entrevistado por Antonio Carlos da Fonseca Barbosa em 14/03/2025:

01) Ritmo Melodia: Qual a sua data de nascimento e a sua cidade natal?

Alexandre Porto: Nasci no dia 14 /03/1969 em Campina Grande – PB. Registrado como Alexandre Santos Porto de Sousa.

02) RM: Fale do seu primeiro contato com a música.

Alexandre Porto: O meu primeiro contato com a música foi através de programas de rádio ainda muito novinho (risos), minha mãe (Dirce Santos Porto, falecida no dia 26 de outubro de 2024, ela foi professora de História da Escola Premem) me levava para o seu trabalho, enquanto ela costurava roupas, me colocava em uma caixinha de papelão embaixo da máquina de costura com um radinho de pilha ligado dentro da caixa.

03) RM: Qual a sua formação musical e/ou acadêmica fora da área musical?

Alexandre Porto: Sou Formado em Licenciatura em História pela Universidade Estadual Vale do Acaraú – Ceará.

04) RM: Quais as suas influências musicais no passado e no presente. Quais deixaram de ter importância?

Alexandre Porto: Eu sou bem eclético, gosto da música brasileira que fez parte da minha formação musical: Luiz Gonzaga, Raul Seixas, Alceu Valença, João do Vale, Antonio Carlos Jobim.

05) RM: Quando, como e onde você começou a sua carreira musical?

Alexandre Porto: Em 1988, começou minha carreira musical, eu tive a oportunidade de fazer uma viagem a Salvador – BA e assistir pela primeira vez a apresentação da Banda Cultural Olodum, fiquei impressionado com os tambores do Olodum e o movimento cultural da cidade baiana e todos os envolvidos na festa. E quando retornei a Campina Grande – PB fundei com outros colegas a Banda Cultural Afro-Brasil, eu já engajado no movimento negro e com o centenário da abolição em 1988, conseguimos aprovar um projeto no Ministério da Educação e compramos instrumentos de percussões e começamos a ensaiar nas periferias da cidade.

06) RM: Quantos álbuns lançados?

Alexandre Porto: Com a Banda Afro-Brasil lançamos dois álbuns: um LP – Campina Afro-Brasil (1989) e um CD – A força da Cor (1992), pela empresa ZAM.

Em 2002, o flautista Gilson Ricarte me apresentou o cantor e compositor Marcelo Baião (https://ritmomelodia.mus.br/entrevistas/marcelo-baiao), juntos começamos um projeto musical ousado com o repertório de clássicos da música popular e da Bossa Nova das décadas de 40, 50, 60 com compositores consagrados da MPB, Tito Madi, Herivelto Martins, Chico Buarque, Dorival Caymmi, Antonio Carlos Jobim, João Gilberto, Elis Regina, Chiquinha Gonzaga e outros. Esse show foi apresentado no mine teatro Paulo Pontes de Teatro Severino Cabral de Campina Grande, com o nome: Momentos de Saudade.

Depois desse projeto fui convidado por Marcelo Baião para fazer um grupo regional “O Baião de Cordas” tocando músicas autorais e começamos a produzir a cada dia de ensaios na casa do Marcelo Baião, era uma, duas e até três músicas composta por Marcelo.

Naquele momento foi muito proveitoso para o meu amadurecimento musical, o projeto foi antes de tudo uma escola de experimentos musicais. Esse projeto me proporciono uma total liberdade para cantar vários ritmos musicais. Nesse projeto gravamos cinco músicas.

07) RM: Como você define seu estilo musical?

Alexandre Porto: Eu canto música brasileira, eu aprecio a boa música e a nossa cultura musical é muito eclética.

08) RM: Você estudou técnica vocal?

Alexandre Porto: Sim, o estudo da técnica vocal é muito importante para quem deseja cantar profissionalmente. Eu estudei de 1985 até 1986 no coral do DART – Departamento de Arte e Tecnologia d UFPB.

09) RM: Qual a importância do estudo de técnica vocal e cuidado com a voz?

Alexandre Porto: O estudo de técnica vocal e cuidados com a voz são importantíssimos. A voz é um músculo do nosso corpo que precisa de cuidados e quando a pessoa decide cantar tem que fazer alguns exercícios de aquecimento vocal para não prejudicar as pregas vocais e manter a longevidade do uso da voz.

10) RM: Quais as cantoras (es) que você admira?

Alexandre Porto: São muitos cantores e cantoras que tem a minha admiração, cada um com suas características: O rei do Baião Luiz Gonzaga, eu o admiro pela forma de interpretar a linguagem do sertanejo nordestino com sua irreverência fugindo da formalidade do cantar da sua época.

Quando uma música é gravada por vários artistas, eu costumo ouvir todas as gravações observando a interpretação, a entonação, tonalidade que foi gravada e o sentimento do intérprete, e a sua entrega para um produto.

11) RM: Como é o seu processo de compor? Quais são seus principais parceiros de composição?

Alexandre Porto: Eu não componho (risos), gostaria muito de ser também um compositor, um poeta, mas na música me identifiquei como um intérprete. Tenho um samba em parceria com Marcelo Baião, na época dos ensaios do Baião de Cordas, ficávamos depois brincando com o violão, mas eu nem me lembro da letra (risos).

12) RM: Quais os prós e contras de desenvolver uma carreira musical de forma independente?

Alexandre Porto: O artista tem que ser tudo e mais um pouco: empresário, produtor, compositor, cantor, negociador, elaborador de projetos, entender das leis de incentivo à cultura, estar conectado aos vários editais.

E interagir com sua equipe de trabalho, com os músicos e convencer a si que tudo dará certo no seu projeto e convencer a sua família, pois se a família não embarcar com você nos seus projetos, dificilmente acontecerá algo positivo.

13) RM: Quais as estratégias de planejamento da sua carreira dentro e fora do palco?

Alexandre Porto: O artista vive de projetos, a estratégica é a elaboração de um bom projeto e é muito importante a escolha de uma boa equipe, pois quando não se tem um produtor que olhe seu trabalho, vamos fazendo dessa maneira.

14) RM: Quais as ações empreendedoras que você pratica para desenvolver a sua carreira?

Alexandre Porto: Como já trabalhei como produtor, eu vejo que as redes sociais é uma ótima ferramenta para divulgação de trabalhos artísticos, somado a uma boa gravação e divulgação, as coisas vão acontecendo gradativamente e de forma planejada.

15) RM: O que a internet ajuda e prejudica no desenvolvimento de sua carreira?

Alexandre Porto: A internet só prejudica quando não temos acesso a ela, ela é uma ferramenta importantíssima para o nosso trabalho. É através da internet que estou concedendo uma entrevista para a RitmoMelodia.

16) RM: Quais as vantagens e desvantagens do acesso à tecnologia de gravação (home estúdio)?

Alexandre Porto: O meu primeiro álbum gravei em analógico e digital, no final dos anos 80 e anos 90 gravamos em um estúdio em Campina Grande e edição, mixagem, masterização eram feitas em Recife – PB, para mandar a fita para prensagem em São Paulo.

Quem viveu nessa época sabe como era difícil para o artista. Hoje tudo é gravado em casa no home estúdio e lançamos nas plataformas digitais e começamos a divulgação pelas redes sociais, é uma maravilha (risos).

17) RM: No passado a grande dificuldade era gravar um disco e desenvolver evolutivamente a carreira. Hoje gravar um disco não é mais o grande obstáculo. Mas, a concorrência de mercado se tornou o grande desafio. O que você faz efetivamente para se diferenciar dentro do seu nicho musical?

Alexandre Porto: Quando eu fizer o meu trabalho que está em processo de produção, sei que hoje é bem mais fácil gravar música, mas não me preocupo com essa história de concorrência, a arte é única, exclusiva.

E não importa se o artista está gravando uma música inédita ou já gravada por outros, será sempre diferente a nova gravação. Eu costumava ouvir a mesma música gravada por vários cantores.

18) RM: Como você analisa o cenário do Forró. Em sua opinião quais foram as revelações musicais nas últimas décadas e quais permaneceram com obras consistentes e quais regrediram?

Alexandre Porto: O Forró é a mola mestra da cultura Nordestina nas festas juninas, sem desmerecer os outros notáveis da música brasileira que fazem suas programações de turnê por nossa região nas festas juninas, mas nessa época quando os artistas locais deveriam ser valorizados, eles são desvalorizados, o cachê cai de preço.

É impressionante na cidade que promove “O Maior São João de Mundo” não ter espaço para os artistas locais. E esse problema não é só de Campina Grande, mas de quase todas as cidades e capitais do Nordestes que tem festas juninas.

As revelações na música regional temos: Flávio José, Santana – O cantador, que trazem em seu trabalho musical, o legado de Luiz Gonzaga. E Juliete ex-BBB que teve um sucesso repentino.

E Campina Grande temos muita gente boa que não tiveram oportunidade ainda na grande mídia: Marcelo Baião, Vats e Viola do Cariri paraibano, os filhos do grande poeta Zé de Cazuza de Sumé.

É muita gente na Paraíba que daria para fazer festas juninas só com a prata da casa. Recentemente Cátia de França, foi indicada a um prêmio importante da música latina e a grande mídia não deu a ênfase. Ainda está centralizada no Sudeste a força da grande mídia, mesmo depois da internet, ainda muito a ser melhorado.

19) RM: Qual ou quais os músicos já conhecidos do público que você tem como exemplo de profissionalismo e qualidade artística?

Alexandre Porto: Aqueles que se propõem em fazer um trabalho de qualidade, como: Alceu Valença, Elba Ramalho, Zé Ramalho, Geraldo Azevedo, Nando Cordel, Jorge de Altinho, Alcymar Monteiro, Santana – O cantador.

Esses são as minhas referências que ainda levam a sanfona, triângulo e Zabumba, como resistência e o legado de sua majestade Luiz Gonzaga, são poucos, mas ainda resistem.

20) RM: Quais as situações mais inusitadas aconteceram na sua carreira musical (falta de condição técnica para o show, brigas, gafes, show em ambiente ou público tosco, cantar e não receber, ser cantado e etc)?

Alexandre Porto: Seria necessário escrever um livro para registrar e ficar para história, mas vou te contar uma delas: Logo quando comecei na carreira musical, A Banda Afro-Brasil tinha muitos ritmistas/percussionistas, trabalhávamos com as crianças da periferia e algumas crianças de rua.

Uma vez quando ensaiávamos no antigo Cinema 1, Hoje Teatro Rosil Cavalcante, no Centro Cultural de Campina Grande. O espaço na época era esquecido e conseguimos ensaiar lá por quase dois anos de 1991 a 1993.

Uma vez, na sala que guardávamos os instrumentos, um belo dia por acaso a chave quebrou dentro da fechadura e um dos meninos da banda teve a louca ideia de subir na parte interna do Cinema para ver se conseguia abrir a sala por dentro.

A sala em cima era um forro de isopor, ele subiu e não sei como aconteceu, mas ele se perdeu em cima do forro do Cinema e terminou caindo de uma altura de quase nove metros na plateia do Cinema, meu Deus!

Ele caiu sentado em uma das cadeiras, sorte que a careira amorteceu o impacto e por pouco não aconteceu uma tragédia. Na época não existia SAMU, levamos ele para hospital da Clipsi e foi feito todos os exames, raio X e ele só teve pequenas escoriações. Nesse dia acreditei em milagre e graças a Deus, deu tudo certo.

21) RM: O que te deixa mais feliz e mais triste na carreira musical?

Alexandre Porto: Creio que é o sonho de todo artista sentir o seu trabalho ser reconhecido pelo público, é muito gratificante. E o mais triste é você com um bom trabalho gravado na mão e vê as portas se fechando, pois você não tem condições financeira de promover, de monta sua própria produção, hoje uma equipe de músicos tem que ter dinheiro, amizade não paga cachê no final do show e sem dinheiro para a divulgação na mídia em geral. O artista tem que ter dinheiro para dá o primeiro passo em seu trabalho. Não basta só ter um bom trabalho gravado, a não ser que esse trabalho caia no gosto do público rapidinho ai TUDO ACONTECE, é como ganhar em uma loteria esportiva…

22) RM: Qual a sua opinião sobre o movimento do “Forró Universitário” nos anos 2000?

Alexandre Porto: Foi importantíssimo esse movimento do Forró Universitário para o Nordeste, trouxe a juventude do sudeste para curtir o Forró. Esse movimento que surgiu no Sudeste no início dos anos 2000, encabeçado por: Falamansa, Trio Virgulino, Bicho de pé e na mesma época no Nordeste surgiram: Cabruêra, Chão e Chinelo, Baião de Cordas, Tocaia, e outras mais…

23) RM: Quais os grupos de “Forró Universitário” chamaram sua atenção?

Alexandre Porto: A banda Falamansa ficou conhecida nacionalmente!

24) RM: Você acredita que sem o pagamento do jabá as suas músicas tocarão nas rádios?

Alexandre Porto: Acredito que sem dinheiro não se faz produção artística, essa história ter músicas tocando nas programações de rádio no 0800 não cola mais…

25) RM: O que você diz para alguém que quer trilhar uma carreira musical?

Alexandre Porto: Primeiramente tenha conhecimento musical, estude música independente do instrumento que queira tocar.

26) RM: Quais os prós e contras do Festival de Música?

Alexandre Porto: É muito importante festivais de música no bairro, na escola, na rua ou na fazenda (risos).

27) RM: Festivais de Música ainda revelam novos talentos?

Alexandre Porto: Sim, os festivais revelaram: Oswaldo Montenegro, Elis Regina, Clara Nunes, Chico Buarque, Gilberto Gil, Elba Ramalho, quase todos os notáveis da música vieram de festivais…

28) RM: Como você analisa a cobertura feita pela grande mídia da cena musical brasileira?

Alexandre Porto: Hoje temos programas de Reality show, temos os programas de calouros, com o advento das plataformas digitais, ou seja, muitas opções de emplacar um trabalho musical.

29) RM: Qual a sua opinião sobre o espaço aberto pelo SESC, SESI e Itaú Cultural para cena musical?

Alexandre Porto: Importante demais esses espaços abertos, quisera ter mais empresas que tivesse esse olhar para as produções e promovessem mais editais de ocupação de seus espaços culturais pelo Brasil a fora.

30) RM: Qual a sua opinião sobre as bandas de Forró das antigas e as atuais do Forró Estilizado?

Alexandre Porto: As bandas de Forró das antigas, acredito que trilharam caminhos mais árduos que estamos trilhando agora em todos os seguimentos que envolvem a produção cultural de um show. Era tudo mais difícil e você tinha que desbravar esse Brasil continental ou ficar para trás. O Forró Estilizado, em que o próprio nome descreve o que na realidade se propõe, o modismo, dando a característica de moderno, as letras com temas atuais da sociedade descrevendo uma juventude sem preocupações políticas, com o simples propósito de curtir e aproveitar o momento a vida, é bem do Forró Estilizado, também é um recorte de um Nordeste diferente e moderno.

31) RM: Qual a sua opinião sobre o uso do Teclado no Forró?

Alexandre Porto: Na Sanfona tem teclas e ninguém abriu questionamentos sobre isso (risos). Quando Luiz Gonzaga comprou o acordeon só disseram para ele respeitar a sanfona de 8 baixos do seu pai (Januário). O que importa é a qualidade da música, se tocada com Teclado ou não, vai muito de quem fez a música!

32) RM: Quais os seus projetos futuros?

Alexandre Porto: Projetos nós temos muitos, digo nós porque para realizá-los não depende só de minha pessoa, depende de um contexto, mas digo que venho escutando muita música portuguesa (FADOS), muitos tangos argentinos e se me dê na telha farei um tributo a Nelson Gonçalves, não um show, mas umas gravações com imagem, mais ainda é uma ideia que tem que ser amadurecida ainda (risos).

33) RM: Quais seus contatos para show e para os fãs?

Alexandre Porto: (83) 98831 – 3052 | [email protected]

https://www.instagram.com/bandaexecuteshow/#

https://www.facebook.com/1previaraulseixasforever2014emsousa

Canal: https://youtube.com/@alexandresantosportodesousa?si=yabMI7EJYJ0E4Sa6

Lampião cabra da peste: https://youtu.be/VxHQN-tTQr0?si=uJ4lBYElnyApRwLN

https://open.spotify.com/intl-pt/track/5v2m9bW7sCcf2vAWOfdyi1?si=ee669a5ade59432a


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Uma Revista criada em 2001 pelo jornalista, músico e poeta paraibano Antonio Carlos da Fonseca Barbosa.