More Gilberto Gil »"/>More Gilberto Gil »" /> Gilberto Gil - Revista Ritmo Melodia
Uma Revista criada em 2001 pelo jornalista, músico e poeta paraibano Antonio Carlos da Fonseca Barbosa.

Gilberto Gil

gilberto gil
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O cantor, compositor e violonista baiano Gilberto Gil é um escolhido pelas musas da arte. No dia 26/06/2002 completou sessenta anos se mostrando um intelectual afinadíssimo para uns e verborrágico, prolixo para outros, mas ninguém coloca em dúvida sua genialidade musical reconhecida de dentro e fora do Brasil.

Ele classifica sua obra como: Música Popular feita no Brasil, dando liberdade a sua expressividade musical para transitar livre por todos os ritmos. Ele coloca sua alma musical em plenitude com a música de terreiro, tribal e pop. Nos anos 60, Gil idealizou junto com Caetano Veloso, Gal Costa, Nara Leão, Os Mutantes e Tom Zé), o álbum Tropicalista que absorvia influências musicais, estética, política e cultural do mundo trazendo as novas informações musicais para esse trabalho.

Sua obra vasta é um importante registro da sua pluralidade dentro do cancioneiro brasileiro: Louvação (1967 – Philips Records), Tropicália ou Panis et Circencis com Gal Costa, Caetano Veloso, Nara Leão, Os Mutantes e Tom Zé (1968 – Philips Records), Gilberto Gil (1968 – Philips Records), Gilberto Gil (1969 – Philips Records), Gilberto Gil (1971 – Philips Records), Gilberto Gil – Expresso 2222 (1972 – Philips Records), Gilberto Gil – Cidade do Salvador (1973 – Philips Records),Gilberto Gil – Refazenda (1975 – Philips Records), Gil & Jorge: Ogum, Xangô com Jorge Ben Jor (1975 – Philips Records), Gilberto Gil – Refavela (1977 – Warner Records), Gilberto Gil – Nightingale (1979 – Warner Records), Gilberto Gil – Realce (1979 – WEA, Elektra Records), Gilberto Gil com João Gilberto, Maria Bethânia e Caetano Veloso (1981 – Philips Records), Gilberto Gil – Luar – A Gente Precisa Ver o Luar (1981 – Warner Records), Gilberto Gil – Um Banda Um (1982 – WEA), Gilberto Gil – Extra (1983 – WEA), Gilberto Gil – Raça Humana (1984 – Warner Records),Gilberto Gil – Dia Dorim Noite Neon (1985 – WEA), Gilberto Gil – O Eterno Deus Mu Dança (1989 – Warner Records), Gilberto Gil – Parabolicamará (1991 – WEA),Gilberto Gil – Quanta (1997 – Warner Records), Gilberto Gil – Brasil – Quanta Gente Veio Ver (1998 – Warner Records), Gilberto Gil – O sol de Oslo (1998 – Biscoito Fino), Gil & Milton com Milton Nascimento (2000 WEA), Gilberto Gil – Kaya N’Gan Daya (2002 – Warner Records), Gil Luminoso (2006 – Biscoito Fino),Gilberto Gil – Banda Larga Cordel (2008 – Biscoito Fino), Gilberto Gil – Fé na Festa (2010 – Universal Music, Geléia Real), Gilbertos Samba (2014 – Sony Music),Gilberto Gil – OK OK OK (2018 – Geléia Geral).

Gilberto Gil é um intérprete versátil e um compositor recursos melódicos simples e complexos. Ele canta com a naturalidade da fala e se expressa intensamente de corpo e alma quando sobe no palco. Ao longo da carreira se mostrou um marqueteiro criativo que se recria a cada álbum lançado. Tornou-se político, mas abandonou a tempo sem compartilhar com as falcatruas corriqueiras dos gabinetes e assembleias legislativas.

Sua genialidade é proporcional a sua humildade ao transitar entre os fãs e a imprensa. Um canceriano que cantou a maternidade, o amor e a família de forma singela e profunda. É admirado em todos os requisitos musicais por músicos e fãs. Suas composições merecem notas máximas em letras, melodias e acordes. Artista acima do bem e do mal que não exala arrogância da fama. Nos últimos anos realizou com felicidade antigos sonhos musicais e realizações pessoais que foram reproduzidos nos álbuns: “Milton & Gil” (2000).

Gilberto Gil lançou no início de junho de 2002, o documentário: “Viva São João”, gravado em 2001, o documentário foi dirigido por Andrucha Waddington e mostra Gil no palco e em passeios por comunidades rurais no Nordeste e teve a participação de ícones da música nordestina, como Dominguinhos e Marinês, entre outros. O documentário foi produzido pelas empresas Conspiração Filmes, Estúdios Mega e Gege Produções.

Gilberto Gil, gravou em 1977 Não chore mais, uma versão de “No Woman No Cry” (Vincent Ford / Bob Marley). Em 1984, lançou o single “Vamos Fugir” (Liminha / Gilberto Gil) no álbum Raça Humana. A música foi gravada no estúdio Tuff Gong, na Jamaica, com a participação de músicos da banda The Wailers. Gil é considerado um dos responsáveis pela popularização do reggae no Brasil.

Gilberto Gil lançou em 30/11/2002, “Kaya N’ Gan Daya”. No repertório: “Buffalo Soldier”, “One Drop”, “Waiting In Vain”, “Table Tennis Table”, “Three Little Birds”, “Não Chore Mais (No Woman, No Cry)”, “Positive Vibration”, “Could You Be Loved”, “Kaya N’gan Daya (Kaya)”, “Rebel Music (3 O’Clock Road Block)”, “Them Belly Full (But We Hungry)”, “Tempo só (Time Will Tell)”, “Easy Skankin'”, “Turn Your Lights Down Low”, “Eleve-se alto ao céu (Lively Up Yourself)”, “Lick samba”. O conta com a participação de vários artistas, como Os Paralamas do Sucesso, I-Three, Rita Marley, Henrique Portugal e Samuel Rosa.

Gilberto Gil ao longo da carreira gravou nos seus álbuns reggae e algumas músicas que flertam com o ritmo reggae: Extra, Esotérico, A Raça Humana, Índigo Blue, Nos Barracos da Cidade, Oração Pela Libertação da África do Sul, A Novidade, Punk da Periferia, Andar com Fé, Zumbi, Felicidade Guerreira, Metáfora, Drão, A Mão da Limpeza, Ganga Zumba, O Poder da Bugiganga, Tempo Rei.

Segue abaixo a entrevista exclusiva com Gilberto Gil para a www.ritmomelodia.mus.br, entrevistado por Antonio Carlos da Fonseca Barbosa no dia do lançamento do documentário: Viva São João, no início de junho no Espaço Unibanco, na Rua Augusta em São Paulo e publicada no dia 26/06/2002:

01) Ritmo Melodia: Gil, Fale da influência da música nordestina no seu trabalho.

Gilberto Gil: Em princípio na infância no sertão da Bahia com a sua paisagem física, social e cultural que o universo dos signos nordestinos. Cresci sob o som da sanfona, da viola e comecei a tocar Acordeon aos dez anos de idade. A música nordestina fazia parte do meu habitat em forma de osmose. Estou sempre ligado a terra e água do sertão.

02) RM: Fale do seu álbum – “Viva São João”, dedicado a música nordestina.

Gilberto Gil: Como falei, eu tenho um envolvimento direto com a música nordestina. E Luiz Gonzaga foi meu primeiro ídolo e mestre. A primeira impressão de encantamento absoluta com a canção popular veio através da música dele. Eu sei as canções do Luiz Gonzaga melhor do que as minhas. E canto com mais naturalidade pelo fato de terem as impressões deixadas pela voz dele, pelo modo dele cantar.

É uma coisa de DNA cultural e fazer esse disco foi um brincar de ciranda, recordar minha memória afetiva do tempo de menino. O álbum tem essa coisa de recuperação do meu coração infantil e adolescente. Fazer esse álbum com canções do Gonzaga foi umas das coisas mais gratas que tive.

03) RM: Fale sobre o Movimento Tropicalista.

Gilberto Gil: Naquela época (final dos anos 60), era a busca por deslocamento natural da própria história de alguns da minha geração e da sua comunidade, de sua nação e do planeta. A gente vivenciava em conjunto as experiências estéticas, políticas, místicas e etc, que o mundo passava naquele momento. Os deslocamentos do sistema cultural internacional que vinha sendo feita naquele momento.

O Tropicalismo foi uma maneira de dizer que estávamos participando e vivendo as transformações do mundo dentro do próprio país. O Brasil tinha no tropicalismo o correspondente no processo de pós-modernização que se estalava no mundo inteiro. Negávamos valores tradicionais e indicava possibilidades de mudança de rumo no campo da canção, do cinema, do teatro, da poesia, da literatura, da dimensão filosofal considerado a filosofia dos modernos autores.

O Tropicalismo era a fronteira do moderno e pós-moderno. Com o fim do velho socialismo, se esgotava a experiência clássica do primeiro estante do existencialismo, da época Sartreana. As filosofias pós-marxistas começavam a ter seu lugar.

O Tropicalismo estava presente a essas transformações de uma forma muito rápida e de forma condensada através das canções populares e de um discurso conciso. Com uma poesia de slongs e foi muito interessante dando a medida da inserção do Brasil nesse contexto da transição da modernidade para pós-modernidade.

Foi um movimento que se colocou nessa fronteira e se tornando um movimento histórico. O Pós-tropicalismo mostra que o que aconteceu foi oportuno, fazia parte daquele momento histórico sem está equivocados.

04) RM: Fale do álbum em Parceria com Milton Nascimento.

Gilberto Gil: Eu e Milton não tínhamos parcerias musicais. E realizar um álbum em parceria com Milton foi extraordinário. Eu tenho no Milton uma das minhas referências de excepcional, excelência, grandeza, beleza única.

Ele é um operador da própria estética da sua música popular envolvido com a poesia. Ele além de um parceiro brilhante, o Milton é meu ídolo. E fazer o álbum com ele teve o sabor de quem compartilha no modo de operar de forma contemporânea e na emoção de tê-lo como um homem que me produz encantamento.

Fizemos canções novas, escolhemos canções antigas e reverenciamos mestres e obras que consagraram esses mestres. Cantamos músicas de: Dorival Caymmi, Ari Barroso, Beatles. E foi lindo.

05) RM: Fale do novo álbum – “Kaya N’ Gan Daya” em homenagem ao jamaicano Bob Marley.

Gilberto Gil: Eu queria muito fazer essa homenagem. Bob Marley é meu ídolo e mestre mais recente. De uma área muito importante que é a área periférica da diáspora negra do Caribe e do campo da língua inglesa que é atraente para nós pela distância de sermos latinos.

Ele é o elo da cultura local, no caso a ilha da Jamaica, com a sua tipicidade e a recuperação da densidade religiosa através do rastafarianismo que é uma espécie de neojudiaismo.

A obra do Marley tem aspectos muito curiosos dentro da estética, política, religião. Eu queria prestar um depoimento intenso emocionado e nada melhor que cantando as suas canções, mesmo não tendo o conhecido pessoalmente. Depois da sua morte (em 11 de maio de 1981) tive um contato com a família, com a viúva (Rita Marley) e com os filhos (Sharon Marley, Cedella Marley, Ziggy Marley, Stephen Marley, Robbie Marley, Rohan Marley, Karen Marley, Stéphanie Marley,Julian Marley, Ky-Mani Marley, Damian Marley, Cindy Breakspeare, Makeda Jahnesta). Infelizmente, não conheci pessoalmente Bob Marley.

06) RM: Gil, você vai da música de terreiro ao pop com habilidade inigualável. Nunca houve interesse por parte da gravadora em fazer um trabalho para o mercado internacional?

Gilberto Gil: Houve tentativas no decorrer da minha carreira, se pensou nisso. A gravadora, estruturas de produção que me cercam e eu mesmo. Mas a gente se confronta com problemas sérios nesse campo, um deles é cantar na língua portuguesa.

A língua inglesa foi um facilitador para o Bob Marley, não é o nosso caso. A língua portuguesa dificulta esse acesso, enquanto a língua inglesa é a língua do Império, do predomínio, do comércio e das relações internacionais. Então cantar em inglês é um facilitador. Mesmo que eu cante minhas músicas em inglês, por não ser uma música originalmente inglesa é complicado.

07) RM: Fale um pouco sobre o Filme: “Viva São João” e de sua participação.

Gilberto Gil: Eu estava fazendo shows pelo Nordeste em 2000 no período de divulgação do álbum com músicas nordestinas, recebi o convite do Andrucha Waddington e em 2001, começamos a gravar. Eu intercalava as apresentações de shows as gravações. Não deu para filmar tudo que queríamos pelo corre, corre.

Alguns artistas que participam do elenco do filme foram indicação minha como: Marinês, Chiquinha Gonzaga, Dominguinhos, Alexandre Pires, Margarethe Menezes. Participaram falando ou cantando. A receptividade do público com o filme está sendo muito boa.

O São João tem um significado muito forte e o povo nordestino se identificam com as imagens e com os relatos. O Filme retrata a festa na Cidade e principalmente no Campo. O São João é uma festa rural e ao mesmo tempo urbana. Uma festa terna e com nível de erotização mais espalhado e não centrado no prazer carnal diferente do Carnal nesse aspecto. Tem os aspectos religiosos, místico e infantil.

O filme busca trazer a identificação dos que moram nos grandes centros, mas que tem sua origem no campo, vão poder se reconhecer na narrativa dos personagens, que na grande maioria são anônimos e pessoas humildes do local. Eu fazia os shows das Festas de São João e no dia seguinte estava entrevistando essas pessoas.

08) RM: Não é preocupante os estereótipos reforçados no Filme sobre o povo nordestino?

Gilberto Gil: Acho que o filme deve trazer estereótipos de todas as épocas retratadas e o São João é uma festa que retrata várias épocas. O São João tem uma vigência em plenitude de pelo menos cinquenta anos como força cultural. É uma festa aglutinadora que representa uma cultura ampla de um povo e de uma região inteira do Brasil. Por isso, eu acho natural trazer esses estereótipos e acredito ser uma das virtudes do filme.

O filme começa em uma grande festa no Rio de Janeiro, com todos os elementos cosmopolitismo pós-moderno com todo uso das tecnologias semelhante as grandes festas juninas que ocorrem em: Caruaru, Garanhuns, Campina Grande, Amargosa. Filme joga com o lado mais rústico da Festa Campesina e as tradições mais cosmopolitas das festas nas grandes urbes nordestinas e das grandes capitais.

09) RM: Gil, eu senti a falta de artistas como Anastácia no elenco e de registro da importância de forrozeiros como: Pedro Sertanejo (falecido em 1997). Fale um pouco sobre essa lacuna.

Gilberto Gil: Um filme tem lacunas inevitáveis, não conseguimos conversar e trazer todo mundo para o filme. É uma lacuna mesmo, enfim. Mas ao mesmo tempo foi importante contar com os exemplares que estão. Não temos a biblioteca inteira, mas temos alguns exemplares (risos).

Anastácia é uma grande autora e Pedro Sertanejo é um pioneiro que trouxe a festa nordestina para São Paulo sofreu com a discriminação. É um homem extraordinariamente importante. O filme é muito interessante e feito com muito carinho, apesar das possíveis falhas, mas tem muitas virtudes. Alguns exemplares da cultura nordestina estão presentes.

10) RM: Você acredita que é dado o merecido reconhecimento a sua obra musical?

Gilberto Gil: Eu não sei se devo pertencer a uma galeria de grandes mestres; caso seja justo que eu pertença, virá com o tempo. Se for em vida ou após minha morte, não tem a menor importância.

11) RM: Gil, no decorrer de sua trajetória profissional você teve incidentes com a polícia por uso de droga. Como você vê propagação na mídia de casos de artistas envolvidos em casos de polícia?

Gilberto Gil: Não tenho uma avaliação sobre a possível diferença de comportamento da polícia em relação a casos de artistas envolvidos com drogas ou crimes civis. O delegado que me prendeu em uma ocasião de uso de maconha, tinha um excesso de zelo com o trabalho dele e não necessariamente alguma perseguição particular comigo.

Ele perseguia a garotada que fuma maconha em Florianópolis – SC em 1977, uma ilha muito visada pelo delegado e que marcava duro em cima da moçada e como eu estava junto como os mesmo que eram amigos e fãs, fui preso. Depois da prisão eu e o delegado saímos de cena e entraram a advogados, enfermeiros, a justiça, juiz, medicina, repórter, a mídia em geral.

Recentemente o cantor e compositor Belo, (que foi alvo de investigação policial), mas com elementos diferentes, nesse caso, ele não se enquadra como usuário de drogas, mas envolvimento com tráfico (por tentativa de comprar uma arma de um traficante) e não tenho nenhuma opinião formada condenatória ou não.

Contato: www.gilbertogil.com.br


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Comments · 24

  1. Que maravilha de entrevista com o grande Gilberto Gil! Parabéns ao exímio jornalista Antonio Carlos! E viva a Revista Ritmo Melodia!!

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