Chico de Abreu é um típico nordestino que sai muito cedo do seu torrão natal e vem buscar melhores oportunidades na grande cidade. Na bagagem poucas roupas, muitos sonhos e na chegada o choque com a realidade.
Ao chegar à década de setenta no Rio de Janeiro como muitos artistas vindo do Ceará. Chico de Abreu trazia uma boa experiência, mesmo com seus vinte e dois anos de idade. Tinha iniciado a sua vida artista vendo o pai trabalhar no circo. Cantava nos programas de calouros das rádios locais.
Ainda adolescente já compunha e era baixista de bandas de Baile. Ganhou Festival de Música, fez toda a trajetória conhecida por muitos artistas da Música. Mas sabia que tinha que abrir seu horizonte para desafios maiores e sentindo na pele que Cantor na sua casa não Obra Milagre. Ele apontou o nariz no cheiro do Sul Maravilha.
Mas teve que trabalhar pesado fora da área musical para manter a carreira de cantor e compositor. Do Rio de Janeiro mudou para São Paulo e fez dos palcos a sua morada.
É uma pessoa sensível e bem humorada, faz piada e humor a todo instante. Em trinta anos de carreira conquistou o respeito no meio artístico-musical. Representar o Selo Camarati de Belchior em São Paulo e vai voltar para o litoral do Ceará em busca de tranqüilidade e para realização de outros projetos.
Segue abaixo entrevista exclusiva com Chico de Abreu para a www.ritmomelodia.mus.br , entrevistado por Antonio Carlos da Fonseca Barbosa em julho 2001:
01) RM: Como foi seu primeiro contato com a música?
Chico de Abreu: Meu pai era do Circo Garcia, era domador e meu primeiro contato com a música foi na Igreja Católica na época estava fazendo a primeira comunhão e aquelas coisas de estudar o catecismo no Nordeste.
E lá em Fortaleza no colégio Stella Maris, no Natal eu recebi uma cornetinha de presente, eu tinha oito anos e fiz a primeira comunhão com oito anos e recebia aquela cornetinha.
E fiquei com a cornetinha até uns doze anos e brincando e tocando a corneta o som já foi entrando e daí com dez anos eu me apresentava em Programas de Rádio, naquela época tinha programas de Rádio de auditório.
Eu cantava sucesso da época, eu hoje acho interessante um garoto com dez anos cantando Silvio Caldas, Francisco Alves. Então meu começo com a música foi por ai com oito anos de idade.
02) RM: Como você começou a carreira musical?
Chico de Abreu: Comecei no Ceará em 1969, participando de Festival de Música. Ganhei Festivais em 1969, 70 e 71.
Nessa época eu já tocava em conjunto de baile como baixista. Eu ganhava meu dinheiro em Conjunto de Baile e era compositor.
Em 1973 vim para o Rio de Janeiro para trabalhar como profissional da música, tentar a carreira artística como cantor e compositor. Quando a gente chega numa cidade grande, muda tudo. Porque não tinha condições de viver como vivia no Ceará. Ai trabalhei de Porteiro, Carpinteiro, Jardineiro.
No Rio de Janeiro eu trabalhei de tudo que você possa imaginar para poder sustentar a minha carreira de compositor. Mas foi em São Paulo em 1981 que eu dei um grande passo. São Paulo tem um público carente de coisas novas.
Em 1982 gravei meu primeiro disco um compacto. E daí não parei mais. Hoje eu vivo do meu trabalho, dos meus shows e dos meus cinco discos. E agora estou lançando pelo selo Camarati do cantor e compositor Belchior, meu próximo CD.
03) RM: Quais foram as principais dificuldades para você manter a sua carreira musical e quais dificuldades enfrenta hoje?
Chico de Abreu: Eu nunca achei dificuldade. Quando eu comecei a desenvolver meu trabalho em São Paulo foram se abrindo às portas para o meu projeto de ser cantor e compositor dentro da minha sintonia.
Eu sou um sucesso e as dificuldades talvez por não está na grande mídia, eu não posso dizer nada, porque eu nunca batalhei para estar. Eu nunca corri atrás de uma gravadora nem de Programa de TV para se apresentar.
Eu sempre fui convidado para fazer essas coisas. Eu ia aos lugares e deixava meu currículo e em todos os lugares que deixe noventa e nove por cento fui bem recebido e fiz show em todos os lugares. Eu não via dificuldades, eu apenas via desafios que tinha que administrar. Quanto mais difícil melhor. A gente se torna mais criativo.
Tinha lugares que diziam: “por bicho eu preciso de um show de humor”. Eu dizia humor eu faço, eu sou do Ceará, eu faço, faço sátira. Emfim, eu sempre encontrei alternativa para superar as dificuldades. Eu sempre via desafios a serem superados.
A música sempre me deu o que eu consegui até hoje. São os meus seis discos. Vivo da minha música. O meio musical está ai. Hoje com quarenta e nove anos eu entendo o mercado. É chato quando você não entende como o mercado fonográfico funciona.
Mas a partir do momento que você entende como as coisas funciona, tudo fica claro. Eu sou um produto musical e tento divulgar meu trabalho.
04) RM: Como você define o seu trabalho musical?
Dentro da música eu me considero um repórter das coisas que vejo no dia a dia. Como um jornalista faz a entrevista oral e passa para o papel. Eu canto a minha entrevista. Eu ponho a melodia e canto minha entrevista.
05) RM: Existe a possibilidade real de fazer um trabalho com êxito longe dos grandes circuito comercial?
Chico de Abreu: Quando se fala de grande mídia, se fala em matéria paga (jabá). Eu acho que existe os artistas que foram feito e criado pela grande mídia.
E existem artistas que a grande mídia nem consegue alcançar eles porque não é interesse dele estar dentro dessa mídia. Existem artistas que surgem para aparecer à imagem e existem artistas que surgem para mostrar uma obra.
Tem muitos artistas que tem belas obras, mas que o grande público não conhece. Como no passado as pessoas achavam que quem cantava era o autor da música, quando muitas vezes era um compositor que ninguém conhecia.
Eu tenho certeza que existe campo e mercado para todos os tipos de trabalho. Muitas vezes se você vai a um programa que tem um público que não pode interessar seu trabalho é inútil aparecer. O artista deve acreditar no público que ele vende seu trabalho, que vai assisti ao show e possa conquistar.
06) RM: Você atualmente vem divulgando o CD – “TELA”. Qual é o perfil desse CD?
Chico de Abreu: Os meus trabalhos são diferentes um dos outros. Eu não consegui ser rotulado. Como quem gravou samba e vai ter que gravar samba a vida inteira. Meu primeiro trabalho tinha uma Guarana de um lado e do outro um Forró. O outro disco que fiz com um bom time de músicos é pop, totalmente eletrônico.
Em que eu canto coisas do Nordeste de minha região com uma roupagem e um universo de músicos paulistana da escola do jazz. Fizemos uma fusão do meu modo de escrever e do meu modo de falar. Os outros discos é mais instrumental com Chorinhos e o CD – “Tela”, eu fiz sozinho.
Eu toquei o Teclado, o Cavaquinho e toquei todos os instrumentos, porque eu queria passar pela experiência de dentro de um estúdio, sabe como estava meu universo musical. Quando eu terminei o disco, refleti que meu universo musical está pobre.
Eu cheguei à conclusão que precisaria trabalhar com mais músicos. Achei os arranjos das músicas muito parecidos. Foi um disco que eu fiz quando eu dava aulas nas escolas de periferias em São Paulo. Noventa por cento das músicas falam do dia a dia das crianças. O nome “Tela” é pelo fato de eu trabalhar com uma pessoa das artes plásticas.
Essa pessoa dava cor às aulas da gente. O disco tem a coisa do artista plástico. Eu fiz oito músicas de presente para essa artista plástica. Não era para sair em CD, mas as pessoas da escola e a artista plástica, diziam: !”bicho esse trabalho é um disco”.
A gente optou por fazer o disco que está com três mil copias vendidas. É uma reportagem dentro das escolas e do dia a dia e da rua. Foram coisas que fui vendo e transformando nesse trabalho que virou disco.
07) RM: Fale do projeto de você voltar à terra natal.
Chico de Abreu: São vinte e seis anos sem voltar para o Ceará. Quando eu sai de lá, tem sempre aquela coisa que “Santo de casa não obra milagre”. Então, você tem que provar para as pessoas do seu dia a dia que você vai ser alguém com a música e conseguir alguma coisa.
Eu estou vinte seis anos entre o Rio – São Paulo. E é raro uma noite de eu não sonhar com a minha terra. Estou sempre sonhando. Eu sempre gostei da terra e dessa coisa da enxada, dessa coisa de cuidar do jardim e de planta alguma coisa.
Eu venho plantando aqui em São Paulo vinte seis anos e já colhi o que plantei aqui. Não sou conhecido do grande público. Mas eu sou um sucesso para o meu público e perante aquelas pessoas que estão ao meu alcance. E essa volta não vai me fazer parar com a música.
Eu vou apenas voltar para minhas origens e mudar de endereço e de CEP. Hoje você chega a qualquer lugar em poucas horas e vou levar o meu computador e ficar ligado com as pessoas pela Internet. Eu não consigo ficar sem a Internet, eu adoro a Internet.
Eu vou voltar a conviver com o mar. Vivi muito tempo de frente ao mar e sinto falta do cheiro do mar. Não é nem para tomar banho no mar, mas sentir a brisa e o cheiro do mar. Eu continuo vivendo com costume que eu nunca larguei como: Comer minha castanha, comer minha rapadura, minha farinha. Eu mesmo faço minha comida. Adoro fazer minha comida.
Vivo comendo tapioca. E vivo muito lá ainda. Um pedaço meu ficou lá. Eu quero recuperar isso e compor de outra maneira. Eu preciso compor os vinte seis anos que vivi aqui. Vivi vinte dois anos no Ceará e trouxe para aqui. Então, estou levando vinte e seis anos de Rio de Janeiro e São Paulo. E quero mostrar essa experiência para a minha região.
Com o tempo aqui eu fui perdendo um pouco da sensibilidade, de quando vê alguém deitado no chão, passar tão despercebido. Quando cheguei aqui me chocava muito ver pessoas morando nas ruas. Então quero voltar para as minhas origens.
Visitar todas as Igrejas. Eu adoro vê as Igrejas com suas imagens, não sei se sou católico ou ateu, mas eu gosto de Igreja e acredito em um Deus. Gosto da arquitetura das Igrejas. Como pinto algumas coisas, eu quero voltar a fazer isso lá pela paz e tranqüilidade.
Morando de frente pro mar. E trabalhando mais porque nada vai cai do céu. Vou trabalhar mais ainda. (Ele voltou para Crateús – CE em 2003).
08) RM: Chico de Abreu, além de Cantor e Compositor você também trabalhou como ator. Conte-nos um pouco dessa experiência.
Chico de Abreu: O meu trabalho com o teatro nos anos setenta, foi mais como ator cômico. É mais o lance do humor. Fiz trilha sonora para peças de teatro de setenta e nove até oitenta e um. Eu me considero um artista de palco. A música foi o veículo que encontrei para está em cima do palco.
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