Obra independente
Estou lendo a obra não independente do filosofo, filólogo e músico Nietzsche (indico o livro Humano, demasiado humano para todos os artistas). No livro Genealogia da Moral, ele afirma que o músico não é independente.
É bom distinguir o termo independente que Nietzsche fala e do conhecido pelo senso comum. A partir dos anos 90 o músico independente era quem com seus próprios recursos gravava, prensava e distribuía seu CD. Alguns destes músicos deixaram ou foram demitidos das grandes gravadoras e já eram conhecidos no mercado e pelo público.
Seguindo este exemplo começou aparecer músicos que já nasceram “independentes” e muitos usando o primeiro CD como cartão de visita para chamar a atenção de uma grande gravadora. Alguns músicos já conhecidos criaram seus Selos. E distribuíam através do seu Selo os CDs de outros músicos independentes. Eles virariam patrões ou parceiros de músicos desconhecidos do grande público, situação que merece um artigo futuro.
Músico e obra independente
Para o Nietzsche nunca existiu. Nos tempos mais remotos, na época do filosofo, aos dias atuais as manifestações artísticas de qualquer natureza sempre refletiam o estado de dependência dos artistas: financeiramente, culturalmente, politicamente, religiosamente e socialmente. Financeiramente dependiam de mecenas (comerciantes, religiosos, reis, nobres e políticos).
E conseqüentemente o produto artístico era permeado com o gosto e pensamento dos mecenas. Camões fez Os Lusíadas para agradar o rei de Portugal com o intuito de ser aceito pela corte. Eu passaria anos dando exemplos iguais em todas as áreas artísticas. Então, ponto para a conclusão do Nietzsche que artista não tinha liberdade criativa. Até mesmo as expressões artísticas revolucionárias atendiam a um gosto ideológico dos seus mecenas e idealismo.
Para o artista ser e ter sua obra independente teria que descer do muro do politicamente correto e tomar partido só pela: arte. Mesmo que tenha que contrariar a visão, os gostos, os costumes e os preconceitos dos seus mecenas e do público. A arte seria senhora do seu destino sem quaisquer amarras. Um artista com visão crítica com seu tempo, com sua obra independente, livre da autocensura e boa formação cultural. Um artista filósofo. Um ser cidadão, antes de ser um artista, alguém que reflete sobre a evolução humana, da sociedade e da arte.
Imaginar uma independência desta na arte popular é praticamente impossível nos tempos modernos. Nem na área erudita encontraremos uma arte verdadeiramente independente, nesse sentido. Se a obra de Richard Wagner não passou no crive do Nietzsche nesse quesito (mas detalhes no livro O Caso Wagner), imagine os artistas medianos. Alguns músicos que hoje são identificados como “gênios”, não passariam de uma piada de mau gosto. Existem obras geniais, mas que não são independentes. Uma obra genial, original, criativa, evolutiva e independente seria o ideal.
Ter uma obra a frente do seu tempo
Reflexiva, inteligente, com humor inteligente, com leveza e sensualidade é o primeiro passo para a independência de fato. O artista sem autocrítica terá uma obra alienada, fútil, repetitiva, descartável e estará enganando o seu ouvinte e a si mesmo. Sua obra morrerá no futuro. Quem exercita a criação musical de obra independente dá um salto para a evolução da arte musical.
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