Em segundo EP, cantor Fael abraça o indie pop, o cantor e compositor gaúcho amadurece em seu segundo álbum.
Em busca da experimentação artística, Fael reuniu as músicas do seu novo EP, “Questão de Tempo”, lançado de forma independente. Diferentemente do trabalho de estreia, “Aqui e Agora” (2021), que trazia uma pegada mais rock e MPB, o artista se entrega ao pop, com canções mais curtas, com beats eletrônicos, camadas e synths. Representando o amadurecimento pessoal e musical, o novo disco conta com seis faixas, incluindo o single “Setembro”, que também ganhou um clipe. O compacto já está disponível nas principais plataformas de streaming.
“Acredito que esse é um trabalho de amadurecimento artístico, enquanto o primeiro EP era muito sincero e até exagerado, este é mais racional, mais refinado. Aprendi que menos às vezes é mais, criando arranjos mais inteligentes, explorando novas texturas. Sinto que tenho uma alma um pouco maximalista na forma que faço música, querendo encaixar muitas ideias em um lugar só. Nesse projeto busquei tratar cada canção de forma mais contida, para que a produção servisse à canção e não o contrário. De alguma forma sinto que também é uma forma de encerrar esse primeiro ciclo da minha carreira para, no futuro próximo, investir em um álbum completo.”, avalia Fael.
O EP “Questão de Tempo” é um apanhado de composições que datam desde 2010, e que hoje se comunicam com o momento de Fael, como se fosse “uma carta do meu eu de hoje para o meu eu adolescente, que escreveu estas melodias”, descreve. É o caso de “Pelas Ruas”, escrita em 2010 e “Cosmonauta” (2013), recuperadas para dar coesão a este universo reflexivo criado pelo artista.
“Por isso acho que o grande tema do EP é amadurecimento e a passagem do tempo, a música “Setembro” de certa forma começa de onde ‘Aqui e Agora’, do disco anterior, terminou que era aceitação de ser você mesmo, e as músicas seguintes são um olhar para o passado e, de certa forma, uma aceitação da própria história. ‘Pelas Ruas’ é sobre romances antigos; ‘Questão de Tempo’ fala sobre nostalgia; ‘São Tomé’ sobre aceitar o que passou e seguir em frente; ‘Cosmonauta’ sobre um astronauta refletindo sobre o destino da Terra após sua destruição. O tempo é uma grande constante tanto nas temáticas das letras quanto na minha relação com essas músicas escritas em épocas tão diferentes, por isso também o título.”, define Fael.
Enquanto no primeiro trabalho, em 2021, Fael buscava sua identidade musical, em “Questão de Tempo”, o artista se sente livre para experimentar, para brincar com as notas musicais e com as suas influências. Desta vez, ele traz uma mistura de The Strokes e The Weeknd, como na faixa “Pelas Ruas”; e também vai do pop rock noventista, em “Questão de Tempo”; até o contraste entre o minimalismo e a explosão em “Eu Não Nasci Pra Ser Herói”.
O EP “Questão de Tempo” traz Fael como cantor, compositor e também é dele a arte presente na capa. A produção é de Cezar Tortorelli, com mixagem e masterização de Leonardo Braga. A música “Pelas Ruas” é uma composição em parceria com Gabriel Farias. Participam os músicos Cezar Tortorelli (guitarras e violões) e Giancarlo Gaudio (baixo).
Abaixo entrevista exclusiva com Fael para a www.ritmomelodia.mus.br, entrevistado por Antonio Carlos da Fonseca Barbosa em 20.03.2024:
01) Ritmo Melodia: Qual a sua data de nascimento e a sua cidade natal?
Fael: Nasci no dia 31/05/1995 em Porto Alegre, Rio Grande do Sul. Registrado como Rafael Freitas Duarte.
02) RM: Fale do seu primeiro contato com a música.
Fael: Desde criança sempre se ouviu muita música na minha casa, meu pai tinha diversos CDs de rock internacional no carro como Queen e The Verve, afinal era o fim dos anos 90. Já minha mãe ouvia mais MPB e samba.
O momento que realmente virou a chave pra mim e a música passou a ser algo muito importante foi na adolescência, quando me apaixonei pelo rock britânico começando pelo Coldplay e os Beatles, também foi nessa época que comecei a fazer aulas de piano e compor minhas primeiras canções.
03) RM: Qual sua formação musical e/ou acadêmica fora da área musical?
Fael: Fiz aulas de piano por dois ou três anos apenas. Minha formação acadêmica é a Publicidade.
04) RM: Quais as suas influências musicais no passado e no presente. Quais deixaram de ter importância?
Fael: Como eu disse, meu primeiro contato com a música foi por meio do rock internacional, especialmente o britânico, bandas como Beatles, Oasis, Coldplay, Blur. Meu interesse pela música brasileira é um pouco posterior, lembro de me apaixonar por Los Hermanos ali pelos meus 18 anos (2013) e a partir daí buscar mais MPB, Samba e Bossa Nova como Vinícius, Toquinho, Martinho da Vila, Caetano Veloso, alguns da nova geração como Rubel e Silva também me tocaram profundamente.
Hoje em dia ainda ouço regularmente muitos desses artistas, mas meu interesse pelo rock diminuiu um pouco e cada vez mais escuto artistas hispânicos de diversos gêneros como C. Tangana, Fito Páez e Pau Vallvé.
05) RM: Quando, como e onde você começou sua carreira musical?
Fael: Eu comecei a compor ainda na adolescência, aos 20 e poucos tive algumas tentativas de formar bandas que foram infrutíferas e deixei a coisa meio de lado, até que em 2020 a vontade de fazer música se tornou insustentável e resolvi gravar meu primeiro EP que lancei em 2021.
06) RM: Quantos CDs lançados?
Fael: Tenho dois EPs lançados: “Aqui e Agora” (2021) e “Questão de Tempo” (em janeiro de 2024). Ainda estou hesitando em lançar um álbum completo porque sinto que deve ser algo importante e queria acumular um pouco de experiência antes de embarcar nessa empreitada.
07) RM: Como você define seu estilo musical?
Fael: Acho que, por vocação, meu estilo é mais pop rock, gosto de escrever canções que tenham melodias marcantes, tenho uma alma pop, mas também gosto de algo um pouco mais pesado às vezes.
Apesar disso, não gosto de me prender a um estilo só, nos EPs que lancei sempre tentei experimentar com alguns gêneros diferentes, no primeiro há uma música com uma pegada mais disco, uma tentativa de fazer um samba, agora nesse novo explorei um pouco o rock progressivo em “Cosmonauta”, a última música do EP mais recente. No fim eu faço a música que me dá gosto fazer, geralmente é pop rock, mas se tiver vontade de fazer um tango não vou me podar e farei um tango.
08) RM: Você estudou técnica vocal?
Fael: Não, tenho alguma noção, mas nunca estudei a fundo.
09) RM: Qual a importância do estudo de técnica vocal e cuidado com a voz?
Fael: Não sei se sou muito indicado para responder essas perguntas dado que nunca estudei técnica vocal, me considero mais um compositor-cantor do que um cantor-compositor, mas o cuidado com a voz é sempre importante e saber dosá-la é essencial para tirar o melhor dela por mais tempo.
10) RM: Quais as cantoras(es) que você admira?
Fael: Falando de voz e performance vocal, no momento, ando muito fascinado com o irlandês Hozier que é um artista incrível e menos reconhecido do que deveria por sua voz.
11) RM: Como é seu processo de compor?
Fael: Geralmente tenho uma pequena ideia pra alguma música, uma frase, uma melodia, até mesmo um título ou história que queira contar. A partir dessa pequena ideia eu sento ao piano e começo a procurar os acordes que conversem com aquele universo. É um processo bastante intuitivo, até porque não tenho um estudo formal em música.
As minhas melhores músicas tomam forma em meia hora ao piano, depois passo muito tempo polindo, principalmente a letra, mas geralmente o corpo da música nasce assim e muito da música final já está estabelecida nesta primeira versão.
Outras demoram mais tempo, especialmente quando tomo a decisão de experimentar algo diferente, fazer uma música com mais acordes, com um tempo diferente ou uma estrutura fora do comum, essas músicas mais “cerebrais” tomam mais tempo e são um trabalho de mais esforço e menos inspiração, mas igualmente recompensador.
12) RM: Quais são seus principais parceiros de composição?
Fael: Escrevo sozinho quase todas minhas músicas, até por isso elas se tornam bastante confessionais. Gosto de compor sozinho, me sinto confortável em errar e mudar qualquer coisa, a única pessoa que tenho que agradar é a mim mesmo.
13) RM: Quais os prós e contras de desenvolver uma carreira musical de forma independente?
Fael: A maior vantagem é a liberdade criativa de produzir o que te dá tesão, perseguir sua própria musa sem ter que responder a outras pessoas que investem em você.
A desvantagem é justamente não ter alguém pra investir em você e ter que tirar dinheiro do próprio bolso, isso acaba limitando muito suas possibilidades e alcance, às vezes existe um público pra sua música, mas ela não chega até ele porque não há investimento o suficiente, o que pode ser frustrante.
14) RM: Quais as estratégias de planejamento da sua carreira dentro e fora do palco?
Fael: Eu tento sempre fazer um lançamento que tenha o máximo de visibilidade possível, conto com a ajuda de uma assessoria de imprensa pra isso, mas acho que o mais importante é acreditar no que você faz, se você acredita na arte que faz fica muito fácil.
15) RM: Quais as ações empreendedoras que você pratica para desenvolver a sua carreira musical?
Fael: A principal ação é de divulgação, colocar a cara pra bater e enviar a música pra todo canto possível, pagar anúncios em redes sociais se possível também. Você vai ouvir muitos “nãos”, mas algumas pessoas vão te acolher e te ajudar é isso que importa.
16) RM: O que a internet ajuda e prejudica no desenvolvimento de sua carreira musical?
Fael: Hoje a internet é o espaço onde o artista se expressa, é onde o público está, a internet hoje é o mercado musical. Isso tem vantagens e desvantagens, sem ela talvez eu nem conseguisse divulgar meu trabalho e estaria tocando minhas músicas pra mim mesmo no meu quarto, mas, por outro lado, a internet tem tanta gente e tanto ruído que é muito difícil se destacar e ser ouvido em meio a tanta gente, ainda mais na era do streaming em que um algoritmo escolhe quem vai ser ouvido por quem.
17) RM: Quais as vantagens e desvantagens do acesso à tecnologia de gravação (home estúdio)?
Fael: Hoje em dia é muito mais fácil produzir música em home estúdio, gravei meus dois EPs na casa do meu produtor Cezar Tortorelli. É ótimo que não precise pagar um estúdio e poder gravar por quanto tempo for necessário, o que abre espaço para testar mais ideias sem a pressão do tempo e deixa todo o processo mais leve.
Ainda assim, um grande estúdio tem seu valor e por vezes passamos muito tempo tentando replicar qualidades do estúdio com equipamento inferior e não conseguindo, mas as vantagens são muito maiores.
18) RM: No passado a grande dificuldade era gravar um disco e desenvolver evolutivamente a carreira. Hoje gravar um disco não é mais o grande obstáculo. Mas, a concorrência de mercado se tornou o grande desafio. O que você faz efetivamente para se diferenciar dentro do seu nicho musical?
Fael: Eu não penso muito nisso quando estou fazendo música, pra ser sincero, e talvez isso seja um problema. Faço a música que me dá gosto fazer e tento ivulga-la com todos recursos possíveis, mas não moldo minha música ao mercado pra tentar me destacar, faço o que gosto e mostro por aí na esperança de que algumas pessoas se identifiquem e levem a música pra si.
19) RM: Como você analisa o cenário da Música Popular Brasileira. Em sua opinião quais foram as revelações musicais nas últimas décadas? Quais artistas permaneceram com obras consistentes e quais regrediram?
Fael: Acho que quando saímos do mainstream a música brasileira vive um grande momento, na verdade. Tem muita coisa boa sendo criada na chamada “nova mpb”, no rap, no funk e até no pop.
O problema é que, muitas vezes, esses artistas não conseguem chegar ao grande público porque o sistema de rádio e mídia em geral tá meio embargado pelo monólito cultural que se tornou o sertanejo. O problema não é o gênero em si, mas o quão onipresente e inescapável ele se tornou.
Meus artistas brasileiros favoritos no momento são Rubel e Ana Frango Elétrico que vêm numa crescente constante nos seus trabalhos desde meados da década passada.
Falando em obra consistente impossível não mencionar Caetano Veloso que consegue se manter relevante aos 80 anos, um alienígena. Quanto aos meros mortais adoro como Rodrigo Amarante, do Los Hermanos, aparece uma vez a cada meia década, lança o melhor disco do ano e some em seguida.
Acho difícil falar em “regressão”, mas acho que uma decepção minha nos últimos anos foi o Silva, que começou com três discos incríveis e depois de alcançar sucesso comercial parece ter optado por se acomodar em discos que até tem qualidades, mas estão muito abaixo de seu trabalho inicial.
20) RM: Quais as situações mais inusitadas aconteceram na sua carreira musical (falta de condição técnica para show, brigas, gafes, show em ambiente ou público tosco, cantar e não receber, ser cantado etc)?
Fael: Vou ficar te devendo essa (risos).
21) RM: O que lhe deixa mais feliz e mais triste na carreira musical?
Fael: A melhor parte é receber respostas das pessoas dizendo que se identificaram com uma música que escrevi, acho que todo compositor escreve com esse objetivo, tornar a nossa tempestade interna visível para os outros e mostrar que ninguém tá sozinho. O mais triste é justamente a falta de apoio, o perrengue, a falta de retorno financeiro, pode ser muito complicado.
22) RM: Existe o Dom musical? Como você define o Dom musical?
Fael: Acho que existe uma sensibilidade musical, pessoas mais propensas a entender e ter gosto por música, mas ao mesmo tempo também acho que isso é facilmente superado com estudo, qualquer um pode fazer música, tocar um instrumento, compor. Exceto quando falamos de voz, algumas vozes são quase como um presente pro mundo, às vezes ouço alguma voz que me transporta direto para outra dimensão, essas pessoas têm realmente um dom especial.
23) RM: Qual é o seu conceito de Improvisação Musical?
Fael: Eu particularmente tenho receio de improvisar, não me sinto confortável, mas acho incrível ver outros artistas improvisando, você percebe a tensão e a confiança exalando na performance e isso produz alguns momentos mágicos.
24) RM: Existe improvisação musical de fato, ou é algo estudado antes e aplicado depois?
Fael: Existe, mas é preciso falar aquele idioma musical, seja de jazz ou qualquer outro gênero, improvisar sem conhecer o idioma é tentar ter uma conversa em búlgaro sabendo apenas português.
25) RM: Quais os prós e contras dos métodos sobre Improvisação musical?
Fael: Como disse, para improvisar é preciso conhecer o idioma.
26) RM: Você acredita que sem o pagamento do jabá as suas músicas tocarão nas rádios?
Fael: Se já era difícil sem jabá antigamente, hoje em dia é quase impossível, ainda há algumas rádios de nicho que podem tocar músicas sem jabá de artistas menos conhecidos, mas da forma que o mercado está hoje é muito difícil, mas ao mesmo tempo acho que o rádio vem se tornando menos relevante frente ao streaming, que apresenta suas próprias dificuldades.
27) RM: O que você diz para alguém que quer trilhar uma carreira musical?
Fael: Faça o que te dá prazer, já tem gente o suficiente por aí fazendo o que o mercado quer que elas façam.
28) RM: Festival de Música revela novos talentos?
Fael: Acho que ajuda a popularizar alguns que já foram garimpados e escolhidos antes, por gravadoras, produtores, etc. O problema são os talentos que não conseguem passar por essa porta estreita por não ter nenhuma ajuda, padrinho ou algo assim.
29) RM: Como você analisa a cobertura feita pela grande mídia da cena musical brasileira?
Fael: A cobertura feita pela grande mídia da cena musical brasileira em geral é extremamente pobre, a grande maioria dos veículos faz uma cobertura chapa branca sem qualquer jornalismo envolvido, apenas reproduzindo releases. E quando não é chapa branca a cobertura costuma ser azeda e caça-cliques para capitalizar no ódio por esse ou aquele cantor ou gênero específico, falta nuance e análise de verdade.
30) RM: Qual a sua opinião sobre o espaço aberto pelo SESC, SESI e Itaú Cultural para cena musical?
Fael: Acho que são movimentos importantes, mas insuficientes para dar visibilidade a artistas menos conhecidos.
31) RM: Quais os seus projetos futuros?
Fael: Tenho um álbum praticamente escrito que quero começar a gravar, usei esses dois primeiros EPs para testar coisas e aprender antes de investir no meu álbum de estreia propriamente dito e agora me sinto pronto pra começar isso, é o objetivo do caminho que venho trilhando até aqui.
32) RM: Quais seus contatos para show e para os fãs?
Fael: [email protected]
Instagram: https://www.instagram.com/eusoufael/
Facebook: https://www.facebook.com/EuSouFael/
Twitter: https://twitter.com/soufael
Julia Ourique – Assessora de imprensa – (24) 99224 – 2473
Ouça o EP – Questão de Tempo: https://tratore.ffm.to/faelquestaodetempo
Canal: https://www.youtube.com/@eusoufael
“Setembro” – Fael: https://youtu.be/PxfLmL4XUFM?si=_E0ihfdJ3ET4ar3D
Playlist do álbum Aqui e Agora: https://www.youtube.com/watch?v=pR5-PSVIMZ0&list=PLE63cbKlWAvPdGFuge6p5SwF45QqBeG5g
Playlist: https://www.youtube.com/watch?v=1QszuaWYFAE&list=PLE63cbKlWAvMuMA0GdrFBOt9b2kVZGkx4