O violonista, compositor, produtor, arranjador e palestrante carioca Zeh Netto produzindo e criando música para audiovisual há quase três décadas.
Proprietário da PLANETA ZEN, produtora artística, já tendo trabalhado para várias grandes agências de publicidade e clientes em todo Brasil e exterior além de produzir música para TV, cinema e teatro e arranjos para cantores e instrumentistas.
Participação em festivais de Jazz de Montreux e Zelt Musik Festival, como violonista mostrando seu trabalho autoral. Gravou com estrelas como George Moustaki em Paris. Produtor da Niterói Discos. Dois trabalhos solos lançados. Trio com Sebastião Tapajós e Robertinho Silva. Acompanhou Fátima Guedes e Suely Costa.
Formado em Arranjo pela UNIRIO. Curso “Composing for film and TV” da Berklee. Curso de música para cinema com David Tygel.
Trabalho mais recente para cinema a animação de longa metragem BRUXARIAS. Uma co-produção Brasil/ Espanha. Premiado no Rio Cine. Ex-presidente da Musimagem Brasil, associação de compositores para audiovisual. Palestrante e professor de Produção e Tecnologia Musical em cursos on e off line.
Na publicidade, vem trabalhando para a AMIL, DuLoren, entre outras marcas. Foi convidado para fazer a música dos 100 anos da Renault em Paris.
Um dos organizadores do Festival Musimagem Brasil, o único festival de trilhas sonoras das Américas, e o único no mundo feito por compositores.
Assistência de direção musical nos espetáculos MAGAL EU TE AMO e CLARA, UMA DECLARAÇÃO DE AMOR, ambos dirigidos por Francisco Nery, e direção musical de Nico Rezende. Ambos aclamados pela crítica e público.
Atualmente, além das atividades acima, dedica-se ao seu trabalho autoral e aos concertos de violão solo e com banda.
Segue abaixo entrevista exclusiva com Zeh Netto para a www.ritmomelodia.mus.br, entrevistado por Antonio Carlos da Fonseca Barbosa em 09.09.2024:
01) Ritmo Melodia: Qual a sua data de nascimento e a sua cidade natal?
Zeh Netto: Nasci no dia 01/10/1959 no Rio de Janeiro – RJ. Registrado como José Gonçalves Sozinho Neto.
02) RM: Fale do seu primeiro contato com a música.
Zeh Netto: O primeiro contato talvez ninguém se lembre, porque a audição é o primeiro sentido a se formar completamente no feto, querendo dizer que não sei qual foi realmente o meu primeiro contato.
O que posso dizer é que, desde que me lembro, me interessei pela música. Não talvez como objeto de estudo, mas como algo que me atraía. Mas, um sinal inequívoco de que a música significava algo de especial para mim, foi quando meu pai trouxe para dentro de casa uma vitrola Telefunken da pesadíssima! Um som que nunca tinha escutado e que causou grande influência na minha vida.
Meu pai adorava a mpb, jazz e música clássica. Cresci escutando esse repertório num ótimo som! Talvez venha daí essa minha tendência dupla música/ tecnologia. Isso foi aos 8 anos de idade. Aos 10 ganhei um violão, mas que só comecei a estudar aos 13 anos e daí tudo veio vindo.
03) RM: Qual sua formação musical e/ou acadêmica fora da área musical?
Zeh Netto: Tive aulas particulares de violão no início da adolescência e mais tarde comecei a frequentar a Escola Vila Lobos, o que começou a abrir a minha cabeça pra teoria, arranjo, orquestração, escrita e tal.
Ingressei na faculdade de Composição e Regência aos 18 anos de idade, mas aos vinte, por questões pessoais, precisei abandonar o curso. Mais tarde, retornei à UNIRIO e me formei em arranjo. Também fiz o curso da Berklee de composição para cinema e tv, como foco em linguagem orquestral.
04) RM: Quais as suas influências musicais no passado e no presente. Quais deixaram de ter importância?
Zeh Netto: Passado: Focus, Sebastião Tapajós, Jimi Hendrix, YES, Milton Nascimento, Chico Buarque, Tom Jobim, Astor Piazzola… Atualmente, Egberto Gismonti, Hermeto Pascoal, Toninho Horta, Claus Ogerman. Na realidade, tudo se mistura. Revisito a todos constantemente. Ninguém deixou de ter importância. Sem eles, eu não seria o que sou hoje.
05) RM: Quando, como e onde você começou sua carreira musical?
Zeh Netto: Comecei aos 18 anos de idade (em 1977) mais ou menos, formando uma banda de música instrumental, com amigos que hoje são grandes músicos e alguns já não estão entre nós, como o Arthur Maia. Paralelamente, tocando em bailes, bares da vida e dando aulas de violão.
06) RM: Quantos CDs lançados?
Zeh Netto: CD, nenhum. Só vinis. O DESCENDO A RUA, com Otávio Garcia e Ozias Gonçalves, lançado no Festival de Jazz de Montreux em 1987 e em 1992 o FANTAZIA, trabalho solo, lançado pela Niterói Discos. Atualmente estou estruturando um novo trabalho. Sempre instrumental, mas pode ter algo vocal também.
07) RM: Como você define seu estilo musical?
Zeh Netto: Não o defino. Deixo que as pessoas que escutam o façam, se assim o desejarem. Mas busco a expressão e uso os recursos que disponho para isso. Sem nenhum compromisso com complexidades ou simplicidades. O que precisa da complexidade, terá complexidade. O que precisa de simplicidade, a terá. Pelo menos é assim que sinto.
Sou o meu primeiro público. A coisa tem que me agradar em primeiro lugar. Se acontecer de agradar aos outros, maravilha! Se não agradar, paciência. Mas devo dizer que sou um romântico e acho que isso fica claro na música que gosto de compor e executar. Por fim, eu diria que a música que faço, exige atenção e comprometimento de escuta. Não é um simples entretenimento.
08) RM: Você estudou técnica vocal?
Zeh Netto: Não estudei técnica vocal. Tenho umas aulas de vez em quando com a grande cantora/ professora de canto/amiga, Fátima Regina. Mas sou um aluno displicente (risos).
09) RM: Qual a importância do estudo de técnica vocal e cuidado com a voz?
Zeh Netto: Para quem tem a voz como instrumento principal, é fundamental! A voz é como qualquer outro instrumento. Precisa de estudo, manutenção e prática.
10) RM: Quais as cantoras (es) que você admira?
Zeh Netto: Milton Nascimento, Elis Regina, Djavan, Leny Andrade, Ella Fitzgerald, Jane Monheit, Mônica Salmaso, só para citar alguns.
11) RM: Como é seu processo de compor?
Zeh Netto: Eu componho com facilidade. Faz parte da minha vida diária compor sob demanda, com prazos apertados. Nesse caso, eu mergulho nas informações e referências, busco emular a linguagem e estilo e algo surge (sim, tem sempre uma parte inexplicável).
No caso da parte autoral que eu chamo de “espontânea”, a coisa é mais misteriosa e eu nunca forço a barra. Faz parte de um impulso natural que tem seus momentos de alta e baixa produção. Mas posso dizer que quase em 100% dos casos, minhas composições são baseadas em melodias que me veem ao coração.
12) RM: Quais são seus principais parceiros de composição?
Zeh Netto: Nenhum.
13) RM: Quais os prós e contras de desenvolver uma carreira musical de forma independente?
Zeh Netto: O termo “independente” é uma contradição em termos, porque na realidade, dependemos de muita coisa! Eu gosto de ser dono do meu destino; na realidade não somos, isso é só uma fantasia que a gente finge que acredita e não gostaria que fosse diferente. Nada posso afirmar sobre uma carreira dentro de uma gravadora, porque nunca a tive.
14) RM: Quais as estratégias de planejamento da sua carreira dentro e fora do palco?
Zeh Netto: Me manter em forma musical e tecnologicamente. Pronto para as demandas, atualizado. Rede de contatos sempre em dia e comparecer às apresentações de teatro, shows, filmes, concertos, constantemente. Manter atitude positiva, sempre! Ser o mais profissional possível. Gosto também de trabalhar com gente jovem e aprendo com eles, além de ampliar a minha rede.
15) RM: Quais as ações empreendedoras que você pratica para desenvolver a sua carreira musical?
Zeh Netto: Estou sempre investindo em informação e equipamentos. De resto, acho que está na resposta à pergunta anterior.
16) RM: O que a internet ajuda e prejudica no desenvolvimento de sua carreira musical?
Zeh Netto: Pode ajudar ou prejudicar, dependendo da forma como se usa. No meu caso, que tenho uma música muito nichada, no boca à boca continua sendo a melhor estratégia. No caso do meu lado “compositor sob demanda”, uso a Internet para me manter atualizado sobre o mercado e oferecer meus serviços à novos clientes em potencial.
Mas, na minha opinião, depois de ter estudado bastante e feito alguns cursos de marketing digital, voltados para a música, é algo que pode ajudar muito, mas você precisa de alguém para fazer isso para você.
Não dá para ter o dia que eu tenho em termos de trabalho e estudo e ainda gerenciar redes sociais. Pelo menos, não deu certo para mim. Não é só questão de tempo físico, mas de tempo emocional e de mudança de mentalidade.
17) RM: Quais as vantagens e desvantagens do acesso à tecnologia de gravação (home estúdio)?
Zeh Netto: Só vejo vantagens em home estúdio. Você poderia dizer, citando o que poderia ser uma desvantagem, que hoje qualquer um pode gravar qualquer coisa e lançar para o mundo inteiro. Isso é bom e ruim ao mesmo tempo.
Como qualquer ferramenta, ela não se define por si mesma, mas pelo seu uso. O que me incomoda é essa busca pelo “sucesso”. Não se pensa muito mais musicalmente, mas em alcançar o sucesso. É claro que existem exceções na nova geração como Vanessa Moreno, Michael Pipoquinha, e tantos outros.
18) RM: No passado a grande dificuldade era gravar um disco e desenvolver evolutivamente a carreira. Hoje gravar um disco não é mais o grande obstáculo. Mas, a concorrência de mercado se tornou o grande desafio. O que você faz efetivamente para se diferenciar dentro do seu nicho musical?
Zeh Netto: Buscar quem se interessa pela minha música. E nisso a internet é sensacional. Hoje podemos encontrar o nosso nicho com relativa facilidade e trabalhar tendo esse nicho em foco. Não preciso fazer sucesso para um milhão de pessoas. Vinte ou 30 mil pessoas, são suficientes para patrocinar a minha carreira. Não, não cheguei lá e ainda busco uma estratégia para isso. Na real, as estratégias existem. Só falta eu contratar um bom profissional para levar essa tarefa à cabo.
19) RM: Como você analisa o cenário da Música Popular Brasileira. Em sua opinião quais foram as revelações musicais nas últimas décadas? Quais artistas permaneceram com obras consistentes e quais regrediram?
Zeh Netto: Essa análise eu não saberia fazê-la de forma profunda. Tenho só minhas opiniões, baseadas na minha experiência, que é parcial. Existe o chamado “main stream”, que sinceramente, acho muito ruim. Não vale de absolutamente nada e presta um desserviço à humanidade.
Mas os movimentos que estão acontecendo de forma paralela, são riquíssimos! Bandas como Francisco El Hombre e outras, compositores e instrumentistas como André Mehmari, Marcelo Caldi, e tantos mais, além dos já citados, são um sinal inequívoco da vitalidade da nossa música.
Acho que a palavra de ordem é “nicho”. Muitos colegas dizem que a música atual está muito ruim. Eu sempre respondo: “depende de pra onde você estiver olhando”. Se olharmos na direção certa, tem muita coisa boa acontecendo. Pelo menos que eu julgo boa.
Pessoas como a Vanessa Moreno e o Michael Pipoquinha, que já mencionei, me impressionam muito, falando de gente nova. Tem o Jean Chamoux que é um super violonista e por aí vai. Muita gente boa. Os artistas que se mantiveram consistentes? Cito com louvor, Chico Buarque. Quem regrediu? Prefiro não comentar.
20) RM: Quais as situações mais inusitadas aconteceram na sua carreira musical (falta de condição técnica para show, brigas, gafes, show em ambiente ou público tosco, cantar e não receber, ser cantado etc)?
Zeh Netto: Olha, foram muitas! Desde esquecer o violão em casa, até ser convidado para tocar no espaço que o Egberto Gismonti ia tocar, mas que, por um acidente, não pode comparecer. Foi no Zelt Musik Festival em Freiburg, na Alemanha. Toquei para o público dele! Foi inesquecível.
21) RM: O que lhe deixa mais feliz e mais triste na carreira musical?
Zeh Netto: Felicidade é o contato com o universo da música. Segundo Aldous Huxley, “depois do silêncio, a música é o que mais se aproxima de expressar o inexprimível”. Tristeza é ver a utilização da música como simples entretenimento. E, por vezes, prestando, como já disse, um desserviço à humanidade.
22) RM: Existe o Dom musical? Como você define o Dom musical?
Zeh Netto: Não sei dizer se existe o dom, algo que se nasce com. Acredito que sim, mas também acredito em ambientes favoráveis ao desenvolvimento desse “dom”.
Existem pessoas que conseguem desenvolver seu dom em ambientes absolutamente incompatíveis e gente, aparentemente sem dom, que estudando muito, consegue resultados fantásticos. Acho que rola um mistério por aí. Não tenho opinião formada.
23) RM: Qual é o seu conceito de Improvisação Musical?
Zeh Netto: Estuda-se muito, domina-se o instrumento, todas as escalas, fraseado, melodias, em todos os tons. Estuda-se harmonia e suas possibilidades. Experimenta-se muito e então você pode improvisar. Ou então você é George Benson, ou Paco de Lucia, que não leem uma nota na partitura, mas tem um ouvido inacreditável, uma noção rítmica invejável e mandam ver. Mais uma vez, a questão do “dom”, reaparece.
24) RM: Existe improvisação musical de fato, ou é algo estudado antes e aplicado depois?
Zeh Netto: Existem graus, na minha opinião. Você pode copiar frases e “licks” e os aplicar. Introduzir alguma taxa de improvisação, coisas que te vem à cabeça na hora. Agora dizer que é 100% improvisado, eu não acredito. Vai ter sempre um grau de repetição do que você já aprendeu, estudou e escutou.
25) RM: Quais os prós e contras dos métodos sobre Improvisação musical?
Zeh Netto: Podem ser libertários ou uma prisão. É bom estudar os métodos, mas em algum momento, você vai ter que fechar o livro e confiar no seu instinto e talento. Se não tiver essa coragem, vai se restringir a repetir fórmulas.
26) RM: Quais os prós e contras dos métodos sobre o Estudo de Harmonia musical?
Zeh Netto: Os mesmos de acima. Tudo pode ajudar ou atrapalhar. Usando uma metáfora futebolística, apesar de não ser fã do esporte, “para o mau jogador, até a bola atrapalha”.
27) RM: Você acredita que sem o pagamento do jabá as suas músicas tocarão nas rádios?
Zeh Netto: A quais rádios você se refere? Se forem as rádios que só tocam “sucessos”, elas estão claramente ligadas às gravadoras e editoras. Sem chance de tocar um artista independente.
Nas rádios de menor audiência ou independentes, eles tocam, mas como pouca gente escuta, você recebe praticamente nada dos direitos de reprodução. Existem muitas rádios de Internet que não pagam nada de direitos. Dizem que é só pela divulgação, que não tem receita e tal.
28) RM: O que você diz para alguém que quer trilhar uma carreira musical?
Zeh Netto: Eu sempre digo: “desista”. Mas, se isso for de importância crucial na sua vida, uma questão de sobrevivência emocional, vá com tudo e arque com as consequências. Estude muito, se entregue, esteja pronto e positivo, faça rede de contatos, faça disso a sua vida.
29) RM: Festival de Música revela novos talentos?
Zeh Netto: Sem dúvidas. Desde que o festival seja descomprometido com gravadores e editoras.
30) RM: Como você analisa a cobertura feita pela grande mídia da cena musical brasileira?
Zeh Netto: Baseada em lucro. As grandes mídias vivem dos patrocinadores. Se não houver uma quantidade grande de gente assistindo os comerciais dos patrocinadores, eles saem do esquema. A grande mídia não está preocupada com a arte nem a verdade. A questão é só lucro.
31) RM: Qual a sua opinião sobre o espaço aberto pelo SESC, SESI e Itaú Cultural para cena musical?
Zeh Netto: Certamente positivo. Não conheço os critérios de curadoria, mas de forma geral, acho positivo.
32) RM: Quais os seus projetos futuros?
Zeh Netto: Remontar a minha banda, ensaiar, gravar o novo trabalho, participar dos editais e tocar por aí, além de tudo que já faço, que é música pra filmes, teatro, publicidade e produção musical para artistas independentes.
33) RM: Quais seus contatos para show e para os fãs?
Zeh Netto: (21) 98797 – 6544 | [email protected]
Canal: https://www.youtube.com/@ZehNettoOficial
LIVE com Sergio Saraceni: https://www.youtube.com/watch?v=AYfCw0__dCM
LIVE HOJE ÀS 20H COM MAURICIO GAETANI: https://www.youtube.com/watch?v=8_tgZNPH8So
Show Niteroi LIVE Sala Nelson Pereira dos Santos – Completo: https://www.youtube.com/watch?v=D4Qh5JE0dOs
Music in the forest Festival 2022: https://www.youtube.com/watch?v=x7iw7_SLLiQ
Playlist do programa Logic: https://www.youtube.com/watch?v=jwcfi32dP0M&list=PLrWPmyqi9iBgkS7canzCIHxF0NmB1tzl1
Gostei muito da proposta do artista de não definir o estilo musical praticado, principalmente por deixar que seja definido por cada um que escutar a música. Ótima entrevista!