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Uma Revista criada em 2001 pelo jornalista, músico e poeta paraibano Antonio Carlos da Fonseca Barbosa.

Yuri Garfunkel

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HQ “A Viola Encarnada” traz narrativa visual inspirada no cancioneiro caipira. Projeto contemplado pelo ProAC retrata a música caipira com roteiro e artes visuais de Yuri Garfunkel e participação do violeiro Ivan Vilela.

“Faz sentido trazer para o desenho uma música que tem uma narrativa tão imagética”. A afirmação de Ivan Vilela, violeiro, compositor, arranjador e pesquisador da música caipira contextualiza o enredo de “A Viola Encarnada: Moda de Viola em Quadrinhos”, uma HQ baseada em temas sugeridos em mais de 80 canções do repertório caipira. Com roteiro e artes visuais do desenhista, músico e educador Yuri Garfunkel, o projeto contemplado pelo Programa de Ação Cultural (ProAC), da Secretaria de Cultura e Economia Criativa do Estado, foi lançado em 09.11.2019 na Livraria do Espaço, em São Paulo.

Dividida em 10 capítulos, conforme as 10 cordas da viola caipira, que também lhes dão título, “A Viola Encarnada: Moda de Viola em Quadrinhos” retrata as aventuras dos amigos Vaqueiro e Violeiro em diversas situações recorrentes do cancioneiro caipira em viagens pelo interior do país. “A narrativa aborda a função social da viola desde suas origens rurais, o trabalho no campo e com o gado, as pescarias, o próprio ofício do violeiro que toca nas festas e nas fazendas. O ponto de partida da trama é o assassinato do Chico Mineiro.

A partir daí busquei outras modas que esclarecesse esse mistério”, explica Yuri Garfunkel. Como a maioria das pessoas, Garfunkel teve seu primeiro contato com a música caipira quando era criança por conta das canções que suas avós cantavam. Com o passar dos anos, seu interesse pelo gênero aumentou e há 5 anos começou a tocar viola. “Desde então, o roteiro da HQ foi se formando na minha cabeça a partir do repertório que conheci ao longo da vida”, comenta. Para ele, a música caipira destaca-se por sua sonoridade única. “Ela engloba uma grande variedade de ritmos e a qualidade das composições é impressionante”, declara.

Garfunkel já possuía o conhecimento do repertório caipira como músico, flautista e violeiro. Para contextualizar o enredo, convidou Ivan Vilela para compartilhar seu conhecimento histórico na introdução do livro. “Yuri Garfunkel teve a genial ideia de trazer este universo histórico da formação cultural do nosso povo para os quadrinhos. Ele traduziu em belas imagens tais narrativas reproduzindo cenas icônicas de modas e momentos. Além disso, a linguagem dos quadrinhos atinge um público diverso, inclusive mais jovem, e que desconhece essa história e essa música”, descreve Vilela.

Em suas 172 páginas, a obra conduz o leitor para uma viagem sonora afinada com as características históricas e visuais da flora e da fauna dos estados brasileiros,  fundamentais na formação da cultura caipira, numa jornada que percorre os sertões até chegar à cidade grande. Um dos diferenciais da produção é que os acontecimentos e paisagens descritos nas letras propõe ao leitor um encontro com a imaginação já que estão interligados visualmente, ou seja, sem textos ou balões de falaDesta forma, o leitor pode induzir o conteúdo do texto sugerido pelos títulos das canções de referência que são indicadas no rodapé das páginas e dispostas para conferência em uma playlist digital no Canal ‘A Viola Encarnada’ no Youtube: https://www.youtube.com/playlist?list=PLvcPsRrO7n0ud-bsTU1ljWts_cRRNzx-d  Com sua obra, Garfunkel pretende apresentar uma visão do universo da música de viola diferente da proposta pelo mercado cultural atual. Confira o vídeo: https://www.youtube.com/watch?v=IbdfACh3xG8&feature=youtu.be

Yuri Carlos Garfunkel (autor e ilustrador): Desenhista, músico e educador desde 2004, é criador do Sopa Art Br, estúdio de artes visuais, ilustração e design, com mais de 10 anos de experiência em comunicação visual ligada à cultura. O Sopa desenvolve seu trabalho autoral a partir de pesquisas na união de linguagens artísticas, expandindo o formato das histórias em quadrinhos através de relações com a arte urbana, música e educação. Com quatro exposições criadas nesse conceito, Música-Visual (2009), X-Sampa (2011), Lendas na Rua (2013) e Centenário do Samba (2016), circularam por diversas galerias, parques e estações do Metrô de São Paulo, e expuseram na Argentina, Itália e Espanha.

Como profissional autônomo, Yuri ilustrou uma série de projetos de comunicação visual para artistas e festivais, além de diversas publicações, livros, revistas e histórias em quadrinhos, entre elas a HQ promocional da série Supermax, lançada na CCXP 2015. Como músico, flautista e violeiro, Yuri integra desde 2008 o grupo instrumental Kaoll e, recentemente, passou a integrar o grupo Pequeno Sertão, de música caipira autoral, dos quais também é responsável pela comunicação visual. Como educador, Yuri desenvolve oficinas de desenho e criação artística, entre elas a oficina Lendas na Rua para crianças e Memória Musical, voltada para o público da 3ª idade, ambas com circulação no Estado de São Paulo pela rede do SESC. Portfólio online: www.sopa.art.br

Ivan Vilela (texto):  Violeiro, compositor, arranjador, e pesquisador da música caipira. É professor da Escola de Comunicações e Artes da USP e também diretor da Orquestra Filarmônica de Violas. Foi tema de um especial da TV Cultura em 2010. Cursou a faculdade de História antes de ingressar no curso de Composição musical da Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP), onde conclui o bacharelado em Artes, Composição Musical em 1994, e o mestrado em Composição Musical em 1999. Obteve o doutorado em Psicologia Social pela Universidade de São Paulo, com a tese ‘Uma história social da música caipira’, em 2011. Foi indicado para o Prêmio Sharp 1998, na categoria Revelação Instrumental, pelo CD Paisagens. Em 2002, foi agraciado com a Medalha Carlos Gomes. É autor do livro ‘Cantando a Própria História’, onde descreve o desenvolvimento da viola caipira no país desde o século XIV e as transformações sociais que culminaram no evento da cultura caipira.

Segue abaixo entrevista exclusiva com Yuri Garfunkel para a www.ritmomelodia.mus.br, entrevistado por Antonio Carlos da Fonseca Barbosa em 09.11.2019:

01) Ritmo Melodia: Qual a sua data de nascimento e a sua cidade natal

Yuri Garfunkel: Nasci no dia 06 de maio de 1982 em São Paulo.

02) RM: Fale do seu primeiro contato com a música.

Yuri Garfunkel: Essa é fácil: meu pai o Paulo Garfunkel é músico e compositor.

Ouço música desde a barriga da minha mãe e tenho lembranças bem remotas de uns ensaios na garagem de casa do meu pai com meu tio Jean Garfunkel e a banda que eles tinham na época. De moleque já gostava de ouvir os discos de vinil da minha mãe. Sempre pedia pra alguém colocar algum disco pra mim e ficava o vendo girar na vitrola. Eu curtia muito Gilberto Gil e Rita Lee e já preferia os rocks, mas ali me acostumei com vários estilos.

03) RM: Qual a sua formação musical e\ou acadêmica fora da área musical?

Yuri Garfunkel: Formei-me em licenciatura em Artes Visuais pela FPA – Faculdade Paulista de Artes – SP. Na época eu já trabalhava com desenho e acabei não aproveitando 100% das aulas, mas aprendi muito de desenho e pintura com ótimos professores e colegas de classe grafiteiros, tatuadores… Minha formação musical é mais autodidata. Tive aulas de Violão Popular na adolescência e logo comecei a tocar guitarra em bandas de rock, mas não tinha o mesmo empenho pra estudar como meus parceiros. Ouvindo muito Jethro Tull resolvi passar pra Flauta e meu pai (Paulo Garfunkel) me passou alguns toques. Depois de quase dez anos como flautista em vários projetos, me fixei na banda Kaoll onde foi sugerido que eu tocasse Violão pra fazer base harmônica em algumas músicas. Na época eu conheci o trabalho da banda “Moda de Rock” que me instigou a pegar a viola. Tive algumas aulas com o Índio Cachoeira, Ricardo Vignini e Zé Helder, e deixo sempre a viola ao lado da mesa, sempre que posso dou uma repicada nela. Mas o meu maior estudo musical sempre foi tirar o repertório e tocar com os grupos e parceiros músicos.

04) RM: Quais as suas influências musicais no passado e no presente. Quais deixaram de ter importância?

Yuri Garfunkel: Só heavy metal que eu escutava na adolescência hoje não me interessa mais. No mais guardo algumas influências da vida toda que ainda escuto com muito prazer: no rock Jimi Hendrix, Black Sabbath, Pink Floyd; chegando no Brasil Mutantes, Som Imaginário, Lanny Gordin; na música caipira Zé Carreiro e Carreirinho, Vieira e Vieirinha, Pena Branca e Xavantinho; no samba Cartola, Geraldo Pereira, Moreira da Silva; sou fã de Bob Marley, Bob Dylan e Raul Seixas. A verdade é que escuto uma quantidade enorme de música enquanto desenho. O que me faz gostar ainda mais dessa profissão, já que enquanto toco sou obrigado a ouvir só o meu instrumento. Então geralmente mergulho de cabeça em algum estilo e escuto até não aguentar mais. Passei por Samba, Reggae, Blues, RAP nacional, Rock progressivo. Atualmente deu uma recaída em escutar a obra da dita vanguarda paulista e do “Clube da Esquina”.

05) RM: Quando, como e onde você começou a sua carreira profissional?

Yuri Garfunkel: Na escola sempre desenhei em todas as aulas, o que atrapalhou minha formação nas matérias exatas. Quando tinha 18 anos o Líbero Malavoglia, que fez com meu pai (Paulo Garfunkel) a série de HQ O Vira Lata, me passou meu primeiro trabalho: o storyboard do longa metragem Desmundo, do Alain Fresnot. O resultado não ficou muito bonito, mas serviu pro filme e eu aprendi muito de enquadramento e decupagem. Depois fui assistente do Líbero por uns três anos, até montar com meu parceiro Bruno Mestriner o estúdio Sopa Art Br, em 2007, e a partir daí fizemos uma variedade grande de trabalhos gráficos, a maioria ligado a música.

06) RM : Quantos CDs lançados?

Yuri Garfunkel: Entrei no grupo Kaoll em 2009, convidado pelo guitarrista e fundador Bruno Moscatiello, que já tinha gravado um disco solo e formado a banda pro lançamento. Em 2010 lançamos “Auto-Hipnose” na companhia do mestre Lanny Gordin. Tocávamos em muitos Clubes de Jazz em São Paulo, e esse primeiro trabalho tem uma pegada mais fusion. Em 2011 o Kaoll passou a circular com um tributo instrumental ao Pink Floyd, com arranjos diferentes dos originais, influenciados por jazz e música brasileira, e com isso chegamos a tocar por muitos estados do país. Em 2014 os anos de estrada influenciaram o disco “Odd”, que tem uma pegada heavy prog. Desse disco participaram o lendário Billy Cox, que tocou com Jimi Hendrix no Woodstock, além dos grandes João Parahyba, Ricardo Vignini e Paulo Garfunkel. Em 2016 fomos convidados pelo filósofo Renato Shimmi a compor uma trilha sonora pro seu livro “Sob os Olhos de Eva”, que acabou virando o quarto álbum do Kaoll. Esse disco tem uma pegada mais prog folk, com inspiração afro latina. Com o Sopa Art Br – http://www.sopa.art.br desenvolvemos um trabalho que liga música, artes visuais e educação, como é o caso do “Lendas na Rua”, onde compusemos músicas instrumentais para lendas do folclore brasileiro a partir de escalas inusitadas, relacionadas aos tons de cores. Desenvolvo também um trabalho de música caipira autoral com o grupo Pequeno Sertão, encabeçado pelo meu parceiro Mathias Zae. Temos um CD ao vivo gravado em 2017 e seguimos compondo.

07) RM: Como você define seu estilo musical?

Yuri Garfunkel: Considero-me um artista músico-visual porque meu ponto de vista considera elementos de ambos os meios de expressão, lidando com um ou outro. Tião Carreiro dizia que só existem dois tipos de música: a boa e a ruim… Eu acredito que ultimamente pra fazer música boa é importante considerar os elementos visuais que ela evoca.

08) RM: Você estudou técnica vocal?

Yuri Garfunkel: Um pouco, com meu tio Jean Garfunkel!

09) RM : Qual a importância do estudo de técnica vocal e cuidado com a voz?

Yuri Garfunkel: A voz é o instrumento natural do ser humano e o único que conseguimos tocar sem usar as mãos (a gaita do Bob Dylan de qualquer forma ele tem que prender no pescoço…) mesmo não sendo cantor, cantar sempre me ajuda muito a desenvolver minha parte musical quando não estou tocando: acompanhar as músicas, mesmo que instrumentais, abrir vozes, imitar os trejeitos, decorar as letras. Às vezes consigo tirar uma música inteira sem pegar no instrumento, quando vou tocar já sei ela toda.

10) RM: Quais as cantoras(es) que você admira?

Yuri Garfunkel: Inúmeros, mas como flautista, Milton Nascimento e Robert Plant me ensinaram muito a fazer melodias.

11) RM: Como é o seu processo de compor?

Yuri Garfunkel: Componho por demanda. É sentar e fazer. A inspiração existe, mas se você estiver fazendo ela vem mais fácil.

12) RM: Quais são seus principais parceiros de composição?

Yuri Garfunkel: Bruno Moscatiello no Kaoll, Bruno Mestriner no Sopa, Mathias Zae no grupo Pequeno Sertão.

13) RM: Quais os prós e contras de desenvolver uma carreira musical de forma independente?

Yuri Garfunkel: Os prós é que quando entra dinheiro ele é só nosso. Contra é que nunca entra dinheiro… Como não me interessa o que circula no mainstream, não chega a ser uma opção. Sendo filho do meu pai (Paulo Garfunkel) não consegui escapar do envolvimento com a música, mas também nunca esperei ganhar muito dinheiro com ela. Nesse sentido a carreira de desenhista é um pouco mais proveitosa.

14) RM: Quais as estratégias de planejamento da sua carreira dentro e fora do palco?

Yuri Garfunkel: Seguindo a questão anterior, são poucas. Mas entender quem é o seu público e estar próximo dele são fundamentais.

15) RM: Quais as ações empreendedoras que você pratica para desenvolver a sua carreira?

Yuri Garfunkel: Poucas. Uma coisa que aprendi é levar a minha carreira junto com a minha vida pessoal, não dar férias pro artista. Assim pelo menos a carreira me acompanha aonde eu vou, as pessoas conhecem o trabalho cara a cara.

16) RM: O que a internet ajuda e prejudica no desenvolvimento de sua carreira?

Yuri Garfunkel: Antigamente as pessoas não tinham entretenimento em casa e iam pra rua, assistiam apresentações. Hoje tá todo mundo na internet, então o artista tem que estar também. Claro que preferíamos ver as pessoas nas apresentações, mas acho importante entender os pontos positivos da internet e saber aproveitá-los, até pra conseguir encher uma apresentação. Como desenhista, gosto de ficar em casa, e nisso a internet ajuda muito!

17) RM: Quais as vantagens e desvantagens do acesso a tecnologia  de gravação (home estúdio)?

Yuri Garfunkel: As vantagens são enormes, principalmente no que se refere à pré-produção de áudio. Como desvantagem posso citar que as bandas se reúnem menos, dá pra fazer muita coisa cada um na sua casa e isso acaba influenciando no resultado musical. Como fã dos anos 70, vejo a dificuldade que é pra se conseguir aquela sonoridade de um tempo em que as bandas viviam ensaiando, criando junto, gravando junto em um take só! Mas realmente não é a forma mais prática de produção.

18) RM: No passado a grande dificuldade era gravar um disco e desenvolver evolutivamente a carreira. Hoje gravar um disco não é mais o grande obstáculo. Mas, a concorrência de mercado se tornou o grande desafio. O que você faz efetivamente para se diferenciar dentro do seu nicho musical?

Yuri Garfunkel: Transito muito entre nichos musicais, então trago sempre referências de outras áreas. O mais difícil é que alguns nichos musicais são bem apegados a formatos, e muitas vezes o público não é muito receptivo a algo diferente.

19) RM: Como você analisa o cenário musical brasileiro. Em sua opinião quem foram às revelações musicais nas duas últimas décadas e quem permaneceu com obras consistentes e quem regrediu?

Yuri Garfunkel: O país regrediu e está regredindo mais e isso afeta a produção artística, principalmente aquela administrada pelo grande mercado musical. Nesse sentido a internet outra vez me ajuda, eu encontro material em abundância para as pesquisas musicais mais diversas que esteja fazendo e ignoro o que acontece no mercado. Existe um lado negativo nessa ignorância, mas a parte positiva compensa, os ouvidos agradecem. Nos circuitos que frequento, principalmente de música instrumental, rock e música de viola, a cena independente tem uma produção maravilhosa, criativa e crescente nas últimas décadas. A questão é que a maior parte do público é direcionada a escutar os artistas mais rentáveis para o mercado, e essa produção ignorada pelo grande público muitas vezes não consegue se sustentar.

20) RM : Quais os músicos já conhecidos do público que você tem como exemplo de profissionalismo e qualidade artística?

Yuri Garfunkel: Lá em casa a Elis Regina sempre foi exemplo de integridade. Infelizmente não tive tempo de conhecê-la pessoalmente.

21) RM : Quais as situações mais inusitadas aconteceram na sua carreira musical?

Yuri Garfunkel: Como toco a música que gosto, sempre foi um prazer circular entre pessoas de ideia semelhante, e apesar de pouco rentável, alguns percalços que passamos são rapidamente relevados.  Posso citar uma vez que o Kaoll fez ao vivo a trilha sonora para o filme O Mágico de Oz, com versões instrumentais do Pink Floyd. Tocamos o Darkside of the Moon inteiro, de forma bem livre, mesmo assim quando terminamos ainda faltava mais de uma hora de filme e aí tocamos tudo que sabíamos dos outros discos. No final deu certo porque não tivemos que repetir nenhum tema, mas foi uma maratona bem cansativa.

22) RM: O que lhe deixa mais feliz e mais triste na carreira musical?

Yuri Garfunkel: Fico feliz em ver que toda a batalha que travamos serviu pra consolidar um trabalho coerente e admirado por ótimas pessoas. Só me deixa triste quando esse trabalho não tem um retorno à altura, mas isso faz parte da escolha que fiz em ser artista.

23) RM: Nos apresente a cena musical da cidade que você mora?

Yuri Garfunkel: Em São Paulo. Honestamente nem tenho certeza o que é a cena musical daqui. Mas indico fortemente alguns rolês como o Festival PIB, a Violada, o Slam da Guilhermina… Pra mim já é a cena!

24) RM: Você acredita que sem o pagamento do jabá as suas músicas tocarão nas rádios?

Yuri Garfunkel: Sim!

25) RM: O que você diz para alguém que quer trilhar uma carreira musical?

Yuri Garfunkel: Faça por que você gosta, sem esperar muito dinheiro e vai dar tudo certo.

26) RM: Quais os prós e contras do Festival de Música?

Yuri Garfunkel: Não vejo contras. A não ser quando o Festival de Música se promove a partir dos participantes, mas dá pouquíssimo suporte aos mesmos.

27) RM: Na sua opinião, hoje os Festivais de Música ainda revela novos talentos?

Yuri Garfunkel: Sim! Mas não só…

28) RM: Como você analisa a cobertura feita pela grande mídia da cena musical brasileira?

Yuri Garfunkel: A grande mídia está vinculada ao grande mercado, não são da minha turma. Só me incomoda quando vejo uns jornalistas considerados sérios, tratando produções descartáveis como se fossem geniais.

29) RM: Qual a sua opinião sobre o espaço aberto pelo SESC, SESI e Itaú Cultural para cena musical?

Yuri Garfunkel: Importantíssimo. Eles sustentam a maior parte da cena que fica à parte do mercado. O problema é serem só eles, o artista fica muito dependente dessas instituições.

30) RM: O circuito de Bar ainda é uma boa opção de trabalho para os músicos?

Yuri Garfunkel: Depende do trabalho musical e do Bar. Alguns são feitos um para o outro, como é o caso do Raul Rural, um trio que formei com Téo Garfunkel e Renato “Bigorna” Pires. É um repertório de viola do “Maluco Beleza” Raul Seixas, não pretendemos ir muito além de bons bares pelo país. Mesmo assim falta chão…

31) RM: Como foi o processo de elaboração da sua publicação Historia em Quadrinho: “A Viola Encarnada: Moda de Viola em Quadrinhos” contemplado pelo Proac?

Yuri Garfunkel: A criação mesmo foi um processo de muitos anos ouvindo música caipira. No final de 2017 eu já tinha clara a estrutura do roteiro. Aí fui a uma palestra do Ivan Vilela e me apresentei depois. Ele se interessou imediatamente pelo projeto e inscrevemos no ProAC. Aprovados, começamos a trabalhar e aí ele sugeriu com toda razão que a história fosse além dos temas mais faroeste que eu trazia: tinha muito boi e bala. Aí ampliamos o roteiro com a origem da viola, derivada de instrumentos mouros, vinda ao Brasil com as primeiras caravelas e tal e a construção da Viola Encarnada, protagonista da história. Pra isso busquei ajuda do Luiz Armando da luthieria Trevo, que construiu efetivamente a viola em um mês!

Também mudou o desfecho da história, que termina na cidade grande, completando todo o trajeto percorrido pela música caipira. Com o roteiro pronto rascunhei a história inteira, que é o processo mais demorado porque é onde o texto vai ser distribuído em desenhos, enquadramentos etc. durante todo processo eu fui lendo livros sobre música caipira e ouvindo muita moda, e muitas vezes consultando o Ivan, que foi “parceirasso” o tempo todo! a partir daí o processo dos desenhos e cores finais fica mais solto quando a criação já está feita. fiz toda a arte em uns três meses, mas trabalhando com foco e com a ajuda de parceiros: o Mathias Zaeslin meu parceiro de viola fez boa parte da aquarela; meu chapa Zé Otávio tratou os finais no photoshop e o Bruno Mestriner meu irmão no Sopa diagramou as páginas. Meu pai Magrão Garfunkel também é roteirista e supervisionou toda a história.

32) RM : Você teve dificuldade em selecionar as 80 músicas que são o enredo da Historia em Quadrinho “A Viola Encarnada: Moda de Viola em Quadrinhos”?

Yuri Garfunkel: Dificuldade não, mas é trabalhoso. As modas que estruturam a história são as mesmas desde as primeiras ideias, mas fui descobrindo músicas que abriram novos caminhos durante o processo. Depois entraram várias modas que não influenciam diretamente o roteiro, mas indicam paisagens, bichos e determinadas reações dos personagens. Por fim muitas músicas descrevem situações semelhantes, então entre essas eu escolhi as que me dessem um leque mais abrangente de compositores pro repertório. Eu procurei citar músicas dos compositores mais significativos do gênero, sendo que alguns são especialistas em canções mais poéticas, que não se encaixam tão bem numa narrativa de quadrinhos.

33) RM: Quais os ritmos mais populares que são tocados na Viola?

Yuri Garfunkel: Moda de viola, toada, cateretê, cururu, pagode de viola, polca, guarânia. Esses são bem comuns no repertório, mas ainda tem muitos outros! Ritmicamente a música caipira é das mais ricas do país.

33) RM: Quais são os violeiros que você admira?

Yuri Garfunkel: Uma viola em ação é sempre admirável, mas com certeza me impressionam nossos contemporâneos: Ivan Vilela, Pereira da Viola, Ricardo Vignini e Zé Helder, Levi Ramiro, João Paulo Amaral, João Arruda, Cassio Nobre, Fabio Miranda, Caio de Souza, Leticia Leal. Dos antigos, o mestre Índio Cachoeira, Helena Meirelles, Gedeão da Viola, Antônio Madureira, Zé Mulato… E ainda faltam muitos!

34) RM: Quais as principais técnicas para se tornar um bom violeiro?

Yuri Garfunkel: Saberei responder quando eu for um. Por enquanto diria que a escola da música caipira é fundamental pro aprendizado de viola, mesmo que o instrumentista pretenda pegar outras ondas com ela. Muita rica em rítmica pra mão direita e recursos com a disposição das cordas que é inusitada pra quem vem do violão.

35) RM: Qual afinação da Viola é de sua preferência?

Yuri Garfunkel: O clássico cebolão em Mi.

36) RM: Quais os seus projetos futuros?

Yuri Garfunkel: Por enquanto espero circular a Viola Encarnada, não só a HQ, mas a própria viola e as oficinas que tenho desenvolvidas sobre o tema. O ambiente de viola acaba impulsionando a produção de material pro Pequeno Sertão, onde experimentamos compor a partir da tradição da viola, mas a maior prazo enxergamos material novo tanto para o Kaoll quanto para o Sopa Art Br. E temos uma HQ de fantasia com forte crítica social, já bem desenvolvida em parceria com o editor e filósofo Renato Shimmi. Esperamos finalizá-la em 2020!

37) RM: Quais seus contatos para show e para os fãs?

Yuri Garfunkel: [email protected] | www.facebook.com/yuri.sopa | www.sopa.art.br | www.facebook.com/kaoll

No link abaixo há fotos:
Link do vídeo sobre o projeto: https://youtu.be/IbdfACh3xG8

 


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Uma Revista criada em 2001 pelo jornalista, músico e poeta paraibano Antonio Carlos da Fonseca Barbosa.