More Victor Passarim »"/>More Victor Passarim »" /> Victor Passarim - Revista Ritmo Melodia
Uma Revista criada em 2001 pelo jornalista, músico e poeta paraibano Antonio Carlos da Fonseca Barbosa.

Victor Passarim

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Victor Passarim é cantor, guitarrista, produtor musical, letrista e compositor de música brasileira inspirada no eixo Minas-Bahia, revisitando a guitarra como instrumento fundamental da música mineira com abertura aos ritmos nordestinos, nortistas e latino-americanos.

Apresenta o resgate à guitarrada mineira, outrora presente no Clube da Esquina, também flertando com o samba, o jazz até chegar no afoxé, trazendo também instrumentos de sopro e metais presentes em toda a obra, reforçando a união da música latina com a guitarra.

Resgata também a possibilidade de novos compositores incorporarem poemas e poesias às melodias e harmonias, complementando a amplitude e a sofisticação da música brasileira contemporânea e de sempre. Celebra a diversidade e traz nas letras a identidade de quem ama escrever e escreve para cantar e comunicar.

Em 2019 lançou o Projeto Célula Cerrado, audiovisual apresentando novos compositores da região do triângulo mineiro, como Jack Will e Fernanda Vital entre outros, tornando-se figura importante na produção artística da região. Também em 2020 lançou o single “Além de Futebol” ao lado de Henrique Lomônaco e Vaine, compondo em conjunto como forma de união de conteúdo audiovisual e participações mesclando MPB e hiphop.

Em 2022 lança ‘Encandeia’ com participação da multiartista paulistana Bruna Caram, samba de força e leveza com lançamento também em videoclipe, abrindo o primeiro álbum solo do cantautor, chamado ‘Entre Minas e o Mar’, com 06 canções lançadas single a single.

Entre Minas e o Mar: Das canções surgidas no período de 2019 a 2021, junto ao amigo e grande produtor musical Pablo Cândido, desenvolveram a identidade e o álbum ‘Entre Minas e o Mar’, EP com 06 canções autorais com convidades especialíssimos que compuseram um álbum impecável do início ao fim, com enredo focado nos instrumentais brasileiros e latino-americanos, reivindicando Minas Gerais e o Brasil como parte latente da América Latina e seus ritmos e texturas.

Segue abaixo entrevista exclusiva com Victor Passarim para a www.ritmomelodia.mus.br, entrevistado por Antonio Carlos da Fonseca Barbosa em 25.12.2023:

01) Ritmo Melodia: Qual a sua data de nascimento e a sua cidade natal?

Victor Passarim: Nasci no dia 09 de julho de 1988, em Londrina – PR. Criado, crescido e formado em Uberlândia – MG desde 2001, tendo passado um tempo também no interior de São Paulo, em Cachoeira Paulista – cidade de origem da minha família. Registrado como Victor Amaral de Castro Souza.

02) RM: Fale do seu primeiro contato com a música.

Victor Passarim: Quando criança eu só pensava em praticar esportes. Lembro de minha mãe cantando sempre os clássicos da música brasileira, mas meu mundo era de torneios e competições até a transferência da família para Minas Gerais, onde tive a sorte de começar a estudar em um colégio com muitos músicos e artistas em formação e que tinham – no próprio ambiente do colégio – espaço aberto para apresentar seus projetos.

A partir daí conheci a guitarra e comecei tocando rock e punk, talvez pelo instrumento que me escolheu naquele momento, e fiz parte de bandas autorais e tive meus primeiros contatos com ensaios e palco. Me apaixonei de cara e fui dando meus primeiros passos na composição rodeado de amigos que tanto admirava e me inspiravam.

03) RM: Qual sua formação musical e/ou acadêmica fora da área musical?

Victor Passarim: Sou formado em Engenharia Civil, pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU) – por acaso (ou não!) da vida. Fui desestimulado à graduação em Música pelo meu pai, que na época, não via como melhor opção.

Prestei Arquitetura no vestibular, mas não passei na prova de habilidade específica, e como segunda opção coloquei Engenharia Civil sem saber muito bem onde estava indo. Após a graduação também me formei como Alpinista Industrial e trabalhei com segurança do trabalho em altura com acesso por cordas por mais de 10 anos.

04) RM: Quais as suas influências musicais no passado e no presente. Quais deixaram de ter importância?

Victor Passarim: Certa vez brinquei que dentro da Música Popular Brasileira eu gostaria de ter sido gerado em uma orgia entre Chico Buarque, Elis Regina, Lenine e Maria Bethânia – sem me importar com quem seja o pai ou a mãe, mas sendo a família musical e ideológica que mais me identifico.

Sou fã da doçura forte do violão e letras de Lenine, da escrita e melodia de Chico, da poesia imponente da voz falada e cantada de Maria Bethânia, e da força da melancolia e presença de Elis.

Também deixo em registro a admiração pela psicodelia das guitarras de Omar Rodriguez e do Mars Volta, que sempre me encantaram e influenciaram na busca pelo diferente. E também pela pluralidade artística de René e a Calle 13, que levantam a bandeira da América Latina como unidade política e cultural como poucos.

O que deixou de ter relevância ao longo dos tempos, pra mim, foi o rock clássico. De muito que já escutei, pouco ficou nesse lugar de buscar como referência ou inspiração.

05) RM: Quando, como e onde você começou sua carreira musical?

Victor Passarim: Comecei a tocar guitarra aos 13 anos de idade (1991), em Uberlândia/MG em bandas de colégio, cover. Aos 15 anos ingressei em uma banda já ativa chamada Você é Livre!? – na qual passei a compor e tocar guitarra e abrir vozes em backing vocals.

Já nessa fase gravamos nosso primeiro EP e tive as primeiras oportunidades de gravar em estúdios profissionais e fazer turnês regionais. Com o fim da banda e graduação de Engenharia, voltei a gravar um primeiro EP ‘Essencialma’ – agora também assumindo os vocais – com 06 canções que havia composto nesse período, já em transição do rock para a MPB, mesmo com guitarras presentes e duetadas em quase toda a obra. Somente em 2020 inicie as gravações do primeiro disco solo como Victor Passarim, o EP ‘Entre Minas e o Mar’, lançado em 2023.

06) RM: Quantos CDs lançados?

Victor Passarim: Tenho um álbum solo e dois álbuns com banda.

2008: Split Você é Livre!? x Fadiga

2017: Desencontrário – Essencialma

2023: Victor Passarim – Entre Minas e o Mar

07) RM: Como você define seu estilo musical?

Victor Passarim: A pergunta mais difícil (risos). Algo entre música brasileira inspirada no eixo Minas-Bahia, revisitando a guitarra como instrumento fundamental da música mineira com abertura aos ritmos nordestinos, nortistas e latino-americanos flertando com o samba, o jazz até chegar no afoxé, trazendo também instrumentos de sopro e metais presentes em toda a obra, reforçando a união da música latina com a guitarra.

Tento também um certo resgate da possibilidade de novos compositores incorporarem poemas e poesias às melodias e harmonias, pra celebrar a diversidade e a identidade de quem ama escrever e escreve pra cantar e comunicar.

08) RM: Você estudou técnica vocal?

Victor Passarim: Sim. Durante o período tortuoso da fatídica pandemia, em 2020, através de aulas on-line de uma escola maravilhosa – que faço questão de indicar que é a Cor e Voz – com a excepcional fonoaudióloga Ana Terra Pompeu e a cantora Bruna Caram.

09) RM: Qual a importância do estudo de técnica vocal e cuidado com a voz?

Victor Passarim: Importância total. A gente tem que entender que o corpo é um organismo vivo e que requer estímulos. Aquecimento, alongamento e fortalecimento da estrutura são fundamentais. Só então é possível trabalhar bem a técnica musical, e o ouvido. Ouvir é tudo. É preciso estudar.

Pra mim nunca foi fácil cantar, eu forcei – por anos! – a região errada da minha voz. Somente quando fui gravar meu último álbum – e o primeiro com um produtor exclusivo – foi que ele me mostrou a região correta pra minha voz entregar bem aquilo que eu queria comunicar. Foi um processo complicado em que a ajuda profissional me foi – é, e sempre será! – fundamental e uma das melhores coisas que fiz na vida.

10) RM: Quais as cantoras (es) que você admira?

Victor Passarim: Lenine, Milton Nascimento, Elis Regina, Maria Bethânia, Roberto Mendes, Mayra Andrade, Silvana Estrada, Mateus Aleluia, Ney Matogrosso, Bruna Caram.

11) RM: Como é seu processo de compor?

Victor Passarim: Geralmente começa na melodia que a palavra ou determinada frase trazem. É como se viesse um trecho já com imagem e tema e a partir dele se abrisse um infinito de possibilidades.

As vezes vem quase que a canção toda – em letra, harmonia e melodia – de uma só vez, mas pode ser que fique ali guardada por anos e ela se desenvolva ou se complemente com alguma outra melodia que apareça a partir de outro estímulo e tudo se conecte.

Regra mesmo é desenvolver essa primeira frase e intenção na cabeça, e trazer pro violão pra desenrolar o resto da canção. Pode vir uma frase através de um acorde. É tipo transpor um sonho sem as imagens certas. É bonito.

12) RM: Quais são seus principais parceiros de composição?

Victor Passarim: Engraçado que sempre compus muito sozinho, no quarto, na sala. Somente mais velho pude ter um grande amigo chamado Henrique Lomônaco, que é um biólogo maravilhoso apaixonado pela música, em que passamos a escrever juntos quase que diariamente.

Muita coisa boa surgiu desses encontros e chegamos a gravar um single (Além de Futebol) e um videoclipe juntos. Hoje em dia estou mais aberto a enviar trechos de canções para outros compositores completarem a canção a suas maneiras, e os resultados têm sido belíssimos.

Em breve começam os lançamentos dessas parcerias. Porém, até então, o costumeiro é de compor a obra toda e convidar outras artistas para interpretar, mas sempre ficou aberta a possibilidade de alteração das letras e melodias, como foi com as queridas e talentosíssimas Fernanda Vital e Bruna Caram.

13) RM: Quais os prós e contras de desenvolver uma carreira musical de forma independente?

Victor Passarim: Olha, sinceramente, os prós são poucos. Ser independente é investir a longo prazo em si próprio. E, mesmo que o retorno não venha, a gente não vai deixar de fazer. Mas é uma montanha-russa de sentimentos.

Existe a questão da exploração dos artistas que estão sob regimento de gravadoras e grandes empresas que é terrível e um modelo que deveria estar ultrapassado. Com a chegada da internet criou-se a falsa ilusão de que é fácil se tornar ‘viral’, já que as plataformas oferecem exposição e serviços inicialmente gratuitos.

Gosto da maior diversidade de plataformas como maneira de ampliar acessos, mas também tem seus pontos que precisam ser melhorados. O mercado veio de um lugar em que poucos artistas rodavam e tinham contratos que lhes garantiam estabilidade pra criar e tocar projetos distintos.

Hoje temos que jogar com as plataformas e criar maneiras de ter curtidas rápidas e reações curtas, o que tem causado sérias condições de ansiedade em artistas próximos, inclusive a mim.

Não glamourizo mais a condição de ‘independente’ porque sei do tanto de ajuda que é preciso para se manter inspirado recebendo mal por isso. Gosto de pensar na independência, mas creio que ela seja ilusão, uma meta. Requer tempo pra se firmar e ser reconhecido como artista em época de informações tão velozes.

Acredito que caminhamos com as pernas que temos e voamos com as asas que criamos, e a ideia é despir da pressa e conseguir lançar e ser minimamente respeitado pelo ofício que tenho e que tenho tanto carinho.

14) RM: Quais as estratégias de planejamento da sua carreira dentro e fora do palco?

Victor Passarim: Eu busco o palco, é minha paixão. Gosto de quase tudo o que envolve a produção de um espetáculo. Gosto da ideia de entregar um show lindo pra 10 ou 1000 pessoas. A performance também me encanta. O visual em conjunto com a canção, o encanto da plateia. Tudo isso é parte relevante na música que crio e as que compartilho. Mas gosto do coletivizar a canção. Aprender e ensinar.

Conseguir formar uma rede de compositores e pequenos festivais para girar esses artistas que também acredito que são importantes dentro da nossa música. Tenho vontade de produzir outros artistas junto comigo. Tenho canções pra fazer com gente que tá começando e pra gente que já tá na batalha há muito tempo.

Quero ver todo mundo cantando minhas canções, seja por minha voz ou não. Ser reconhecido como compositor de MPB e como produtor de artistas são as metas pra além do palco. A engenharia me trouxe um planejamento de pré e pós que quero trabalhar pro artístico. Tenho uma produtora ainda embrião que espero trazer voz a muita gente. Gosto também da escrita, do audiovisual.

Alguns contatos para musicais e peças de teatro que me instigam e interessam também estão acontecendo. Além das canções e álbuns que já estão desenhados, mas ainda nem comecei a gravar. Enfim, muita coisa tá por vir e espero mesmo poder realizar a maior parte delas.

15) RM: Quais as ações empreendedoras que você pratica para desenvolver a sua carreira musical?

Victor Passarim: Hoje o trabalho é quase todo nas redes sociais, né?! Procurei desenvolver a marca Victor Passarim na rede que eu mais me identifiquei até então, que é o Instagram. Tenho todos os canais de streaming bem organizados, mas minha maior ação é por lá.

Fiz uma campanha de Financiamento Coletivo para ajudar a custear a entrega do EP ‘Entre Minas e o Mar’ e tive bom retorno, além de criar materiais de divulgação e merchandising como camisetas e caneca em cerâmica, além de colaborações com outras marcas, como uma cervejaria artesanal de Uberlândia e um café orgânico que um grande amigo está produzindo.

Minhas ações vêm muito de chamar outras pessoas pra junto de mim e dos meus canais, com participações nas canções de estúdio e convites para shows e compartilhamento de públicos. Enquanto isso faço shows onde consigo, e estou conseguindo agendar shows em estados diferentes, também em formatos intimistas que não demandam grandes espaços e grandes públicos.

Colo adesivos pela cidade também, gosto dos lambe-lambes e essa ousadia da cultura de rua, isso me pega e acredito que funcione pra muita gente também. Ando tentando não seguir muita regra de terceiros e entender o que estou realmente disposto a fazer e fazer isso de maneira mais leve e segura, sem precisar ficar atirando pra todo lado!

16) RM: O que a internet ajuda e prejudica no desenvolvimento de sua carreira musical?

Victor Passarim: Eu acho que a internet só ajuda, sinceramente. O que prejudica é o período histórico em que estamos, em que a internet não é devidamente regulamentada e a forma de distribuição das obras ficaram na mão de poucas empresas que se aproveitaram do fato de não haver regulamentação existente. Nesse meio tempo a maioria dos artistas e músicos continuam a não entender direito como monetizar e receber pela obra que entregam a esses acervos.

Mas não creio que a internet prejudique, mas essas tendências de inovação urgentes que fazem com que tenhamos que aplicar estratégias desgastantes e absurdas pra conseguir engajar com um público – que também parece não querer ver o que você realmente tem a dizer – a não ser que esteja reagindo conforme eles determinam. É mais questão de comportamento humano do que da ferramenta. Acho a internet uma excelente ferramenta, aliás.

17) RM: Quais as vantagens e desvantagens do acesso à tecnologia de gravação (home estúdio)?

Victor Passarim: Também não creio que haja desvantagem alguma. Inclusive falta acesso e falta muito! Ainda é caro montar um home studio, porém muito mais acessível que alguns anos atrás. Eu gostaria é que todo mundo tivesse acesso a equipamentos de qualidade, mas que todo mundo estude e produza muito.

Eu fico feliz quando escuto uma gravação independente sem ruídos ou bem mixada, masterizada. Fico realmente feliz. Durante a pandemia eu passei um bom tempo dos meus dias estudando produção e posso te falar que não sei quase nada e já aprendi tanta coisa que podem ajudar e entendi como é complexo o processo, mas totalmente evolutivo.

Acho um investimento de vida poder compor e trabalhar dentro de casa com equipamentos profissionais e com algum conhecimento de técnicas de produção. Acho uma delícia. Manda mais home studios que tá pouco!

18) RM: No passado a grande dificuldade era gravar um disco e desenvolver evolutivamente a carreira. Hoje gravar um disco não é mais o grande obstáculo. Mas, a concorrência de mercado se tornou o grande desafio. O que você faz efetivamente para se diferenciar dentro do seu nicho musical?

Victor Passarim: Na verdade gravar um bom disco ainda é um obstáculo. Eu já tinha produzido duas álbuns de forma totalmente independente e com quase nenhuma produção profissional, pra além das canções bem captadas e mixadas.

Mas somente no terceiro álbum eu tive recurso para ir atrás de um produtor escolhido a dedo, e que tenho a sorte de chamar de amigo, que é o Pablo Cândido. Mas isso também custa.

Chega um momento em que você quer contar com musicistas diferenciados porque o álbum já está com uma identidade que vale a pena investir um pouco mais – e esse ‘pouco mais’ nunca tem fim. É realmente infinito. (Risos de nervoso).

O que a gente fez pra diferenciar foi de fato fazer uma pré-produção muito bem criada e arranjada, e só então escolher as peças exatas pra colocar em cada canção. Então tudo se costurou de forma muito natural e é perceptível nas canções.

Além disso, como gosto muito de audiovisual, investi num primeiro bom videoclipe pra ‘dar as caras’ e funcionou bem. Também gosto muito de design e fotografias, figurinos, cenários e paisagens e sempre tento criar identidades diferentes pra cada projeto que sai, e a tendência é que essas campanhas de audiovisual sejam parte forte do projeto!

19) RM: Como você analisa o cenário da Música Popular Brasileiro. Em sua opinião quais foram as revelações musicais nas últimas décadas? Quais artistas permaneceram com obras consistentes e quais regrediram?

Victor Passarim: Acho um cenário riquíssimo. Morro de preguiça dos que dizem que não temos boa música nos tempos atuais. Acho que estamos nesse período de diversas transições: Transição cultural da era da internet; e transição e transcendência dos nossos imortais poucos dias antes de assisti-los em algum palco de algum festival.

Mas temos que conversar abertamente sobre como abrir mais espaços em festivais e line-ups mais diversos. Creio que ainda estão muito parecidos e favorecidos por uma infinidade de fatores.

Mas tenho visto células visionárias de saraus e conversas mais próximas com o público que tendem a criar uma relação mais humanizada e próxima. Acho que estamos em um caminho sem volta, e a tendência é irmos conseguindo dialogar de forma mais ampla. Tem gente demais fazendo boa música em qualquer lugar que a gente vá.

Mas a gente tem que olhar a maneira como nós mesmos consumimos música e artes em geral e tentar entender como é possível valorizar as artes que não estão no mainstream.

Revelação das últimas décadas? Acho que foi o HIPHOP nacional teve uma crescente muito boa e vi muito trabalho bem produzido com baixíssimo recurso. Acho que eles entenderam como usar a internet a favor ao invés da gente ficar tentando bater de frente.

Dominaram o Youtube com videoclipes e ‘Cyphers’ apresentando 6, 8, 10 MC’s em uma única canção em um único videoclipe. Em qual época a MPB fez isso? Somente nos festivais ou finais de ano da TV aberta brasileira financiados com grandes recursos e interesses. Eu gosto bastante desse alcance e busca de somar públicos.

O rock não conseguiu segurar, a MPB tá fraca ainda, como se pra esses gêneros a música ainda não pudessem também ser concebida como produto com valor de venda e troca. Aí o sertanejo universitário veio com o investimento da bíblia, da bala e do boi e levou tudo, incorporou e sugou tudo de todos os estilos e pautas.

Aí deixo o mérito da revelação das últimas décadas pra Emicida, Mano Brown e Racionais MC’s, Gaby Amarantos fazendo o Norte presente, o funk carioca cada vez mais respeitado, Pabllo Vittar e Glória Groove trazendo performances e diversidade, e é todo o eixo fora das capitais que produzem e lançam por amor e tem a dimensão exata do esforço que estão fazendo pra fazer arte.

Deixo um salve pela consolidação de Mateus Aleluia em matéria além de espírito. Imprescindível, assim como Lenine só se agiganta. Sobre artistas que regrediram, creio que me caiba buscar o porquê, nem ao menos opinar.

20) RM: Quais as situações mais inusitadas aconteceram na sua carreira musical (falta de condição técnica para show, brigas, gafes, show em ambiente ou público tosco, cantar e não receber, ser cantado etc)?

Victor Passarim: ”Amigos” que te contratam por cachê fechado e descontam metade em cerveja resumem a tristeza da não valorização da arte.

Também já aconteceu de viajar pra outro estado e não prestar atenção na agenda de pré carnaval da cidade, e no dia do show a cidade inteira estar em blocos de carnaval e nem os amigos irem ver o show. Risos. Acontece de tudo mesmo, é uma aventura. Tem que gostar e viver pra isso.

21) RM: O que lhe deixa mais feliz e mais triste na carreira musical?

Victor Passarim: O triste da cena é a supra valorização de alguns artistas em relação a outros. Tipo, quantas pessoas a gente conhece que gastariam R$ 50 em cerveja uma sexta-feira à noite, mas não pagariam R$ 30 pra ver alguém apresentar seu último álbum autoral?

Os valores de prestação de serviço entre público e artista poderia ser melhor conversado. Quanto de produção é necessário pra fazer um espetáculo? A casa contratante vai repassar o cachê e o couvert corretamente ou vai dar um valor mínimo pré-estabelecido e nenhum prato de comida pro artista que tá ali trabalhando a noite toda (e muitos dias antes) pra poder entregar aquele show e entreter o público?

O que me deixa feliz são as realizações. Poder produzir algo que você gostaria que existisse. Poder concretizar isso é o bonito da coisa. As conexões entre ídolos e fãs que se tornam pessoas comuns uns aos outros, abrindo espaço para mais pessoas e mais expansões culturais. Encontrar gente querida e poder ter a possibilidade de criar algo novo e ainda melhor. Isso me deixa feliz.

22) RM: Existe o Dom musical? Como você define o Dom musical?

Victor Passarim: Acredito que exista, sim. Mas como um estágio de desenvolvimento. Acredito que a prática e estudo podem desenvolver estágios de entendimento e proficiência em instrumentos que exijam técnica. Mas acredito também em instinto, bom gosto, visão do que funciona ou não.

Acho que esses instintos sopram direcionamentos nos nossos ouvidos, mas exige escuta e comprometimento. É nessa mesma linha que eu definiria o ‘dom musical’. Como um estágio de entendimento daquilo que você já entende como um caminho viável pra transpor o que tá no ar, nas ondas, e soar comum a todos.

Acredito e vejo o talento em todo lugar, mas não coloco o talento num lugar inalcançável. Tento entender como uma série de fatores são capazes de se entrelaçar a ponto de destacar um talento acima de outro, mas não gosto desses rótulos de ‘dom’ como dentro de uma caixa de um “clube exclusivista de melhores artistas”, mas sim como uma abertura a trabalhar algo que se manifestou em caso de você ter tido a possibilidade de descobrir.

23) RM: Qual é o seu conceito de Improvisação Musical?

Victor Passarim: É estudo! Muito estudo e dedicação. Particularmente eu não tenho essa teoria pra poder aplicar tão naturalmente enquanto improviso. Mas o conceito é entender tão bem do instrumento e da teoria musical que elas podem criar espontaneamente.

24) RM: Existe improvisação musical de fato, ou é algo estudado antes e aplicado depois?

Victor Passarim: Existe, sim. Mas existe esse enorme estudo por trás que já traz consigo riffs e harmonias em escalas já literalmente calejadas, mas as possibilidades sempre vão ser infinitas de combinações e momentos e encontros e fatores externos. O estudo nunca acaba, aí é que tá. A música pede isso pra gente, pra buscar algo novo.

25) RM: Quais os prós e contras dos métodos sobre Improvisação musical?

Victor Passarim: Não tenho muita relevância nessa fala porque realmente não conheço muito sobre, mas eu diria que a improvisação requer um tanto de vivência noturna, boemia. Sair pra tocar em qualquer lugar que lhe chamarem, porque a música vai estar acontecendo com ou sem você. A improvisação é uma conversa, e conversa requer convívio social, troca. Acho que não ensinam isso nos métodos que vi por aí.

26) RM: Quais os prós e contras dos métodos sobre o Estudo de Harmonia musical? 

Victor Passarim: também não é justo eu avaliar métodos, hoje se vê muita coisa na internet e podem ter coisas que funcionem pra algumas pessoas que não funcionam pra outras. Minha trajetória como instrumentista foi de ‘tirar’ música de ouvido.

A gente aprendia o peso e a força das marcações, as técnicas e riffs dos artistas que a gente queria tocar. Não haviam muitos métodos pra além das escolas de música e professores particulares. Tive muito pouca aula, mas sempre tentei entender o que estava sendo feito com as canções que eu gostava e buscava aprender.

Essa busca me abriu muita coisa que eu não saberia dar nome. Não sei te falar sobre modos gregos, mas poderia diferenciar uma escala árabe de uma indiana, talvez. Acho que a gente tem que escutar muita coisa diferente, buscar novos sons e sentidos pra tudo o que a gente já aprendeu. Volto a repetir: o estudo não tem fim, é impressionante.

27) RM: Você acredita que sem o pagamento do jabá as suas músicas tocarão nas rádios?

Victor Passarim: Acredito que possam, sim, em caso de algumas canções alcançarem bons níveis de audiência. Mas entendo, hoje, que as rádios são empresas que tem suas formas de captação de recurso de acordo com seus interesses privados. Não muito diferente dos outros veículos, o jabá nunca foi novidade e acho difícil de desaparecer.

28) RM: O que você diz para alguém que quer trilhar uma carreira musical?

Victor Passarim: Coragem. Você sabe que não tem outra coisa pra fazer que você se sinta tão bem. Prepare-se de todas as maneiras possíveis e entregue sempre o melhor trabalho que você puder. E se divirta!

29) RM: Festival de Música revela novos talentos?

Victor Passarim: Revela demais. Tanto os de modelo ‘competição’ também são interessantes. Concordo com a premissa de que ‘arte não se qualifica como melhor ou pior a outra’ e que premiar a melhor canção em um concurso de jurados possa não ser a maneira mais justa de premiar uma obra.

Mas vejo muita gente podendo apresentar canções inéditas e investir mais profissionalmente através de festivais e editais, o que acho válido e já vi bons encontros acontecerem nesses espaços.

Quanto aos festivais grandes que estão com força total, também acredito que revelam artistas pelo modelo de apresentar diversos artistas em um único line-up. Minha única questão é que me parece que os lines estão um tanto quanto uniformes, e tenho valorizado os festivais que apresentam esses palcos alternativos com visibilidade real de fomentar e apresentar novos artistas.

30) RM: Como você analisa a cobertura feita pela grande mídia da cena musical brasileira?

Victor Passarim: Que cobertura?! Existe alguma?

31) RM: Qual a sua opinião sobre o espaço aberto pelo SESC, SESI e Itaú Cultural para cena musical?

Victor Passarim: É curioso. Eu toquei no SESC quando tinha 17 anos de idade, em Uberlândia – MG. E não sabia muito bem como funcionava, fomos convidados para um festival. Foi maravilhoso, mas não entendíamos bem se era um espaço público ou privado, se era um clube.

Só quando cheguei em São Paulo que vi a quantidade de SESC’s que existem a gama de possibilidades que ele oferece. Também me questiono por que em São Paulo é tão mais forte e ativo do que em outras cidades em regiões, mas vejo a importância enorme que tem pra diversos setores artísticos.

É uma plataforma de lançamento, quase que um selo de qualidade, por assim dizer. São instituições que buscam trabalhar com arte e passíveis de acessar, e que podem de fato transformar a carreira de artística de quem conseguir alcançar esses editais e curadorias.

32) RM: Quais os seus projetos futuros?

Victor Passarim: A curto prazo quero sair em turnê com banda. Tenho saudades, tenho feito muitos shows no modelo intimista, sinto falta da presença de outras musicistas dividindo as canções e o palco.

Também tenho essa produtora a médio prazo, pra poder ajudar com novas artistas que tenho visto e conhecido por onde passo e gostaria de trabalhar junto de alguma maneira. Tenho um próximo álbum de estúdio engatilhado pra alguns editais. Quero trabalhar com gente nova e apaixonada e que busca deixar um trabalho bonito.

Tenho a intenção de fazer disso tudo uma série de festivais, de criação e expansão de mais arte e novos artistas. Acho que por enquanto esses planos me bastam e contemplam, meu querido!

33) RM: Quais seus contatos para show e para os fãs?

Victor Passarim: [email protected]

| https://www.instagram.com/victorpassarim   

| www.linktr.ee/victorpassarim 

Encandeia – Victor Passarim e Bruna Caram: https://www.youtube.com/watch?v=ADQIXQpcBHc 

Ladeira da Saudade: https://www.youtube.com/watch?v=F3TwtXrdous 

Jangada: https://www.youtube.com/watch?v=r-wOGggsQRw 

Victor Passarim: https://open.spotify.com/playlist/37i9dQZF1DX7LuTnAdYNQP?prid=spotify:track:62DYqntc76pyKArVHJAN62


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Uma Revista criada em 2001 pelo jornalista, músico e poeta paraibano Antonio Carlos da Fonseca Barbosa.