O cantor e compositor mineiro Tula Black atua no cenário do RAP brasileiro.
Em 1992 começou a sua carreira musical em Belo horizonte (MG). No ano seguinte, formou o grupo de rap “Raça DMC’s” e mudou-se para Betim – MG. Na nova cidade, construiu base sólida, fortaleceu a carreira artística, tornou-se conhecido e conquistou muitos fãs, apoiadores e parceiros diversos. As experiências e dedicação à cultura hip-hop o deram visibilidade para além das fronteiras de Minas Gerais, participou de diversos projetos e eventos, dentre eles, o “Programa Vozes do Morro”, Festival Nacional de RAP em Brasília em 2000 e “Programa Fica vivo”, além e fazer parte a Nação hip hop Brasil.
Os mais de 20 anos de carreira possibilitaram a construção de uma bagagem humana e artística determinante para a concretização do seu novo projeto “Entre o sagrado e o profano”. Tula Black traz uma proposta conceitual que agrega poesia e diferentes referências rítmicas, instrumentos e elementos diversos do RAP.
O novo trabalho pauta essencialmente a diversidade e as muitas possibilidades de referências presentes na música brasileira. Como disse Oswald de Andrade: “A antropofagia cultural faz-se necessária na nossa cultura, pois somos diversos”.
Em um país tão amplo em extensão quanto em manifestações culturais, a apropriação por meio da arte é uma consequência que gera bons frutos na propagação de novas faces e olhares. A nova proposta musical trata de dualidade, num sentido amplo, percebida na melodia de cada composição. O resultado é a soma de uma série de referências correspondentes a música Black, o Cordel incorporado à frequência do RAP, o folclore brasileiro, a batida do FUNK, o Beat box e mixagem (performance do DJ com toca discos), além dos instrumentos clássicos: Viola caipira, Piano, Violão, Violino e Flauta e letras de relevância sócio-políticas.
Tula Black escolhe o equilíbrio, a harmonia, o Yin e o Yang no sentido ideológico e cultural. Nas letras das músicas é mencionada a fé, a esperança e a motivação pessoal em conformidade com a identidade multifacetada do povo brasileiro. Os arranjos contam com a presença de Violinos. A visita aos instrumentos clássicos constitui o efeito alusivo às canções religiosas originárias da Europa, que foram incorporadas à cultura local desde o período colonial, Tudo está representado nos tambores, berimbau, samba, soul e ritmos do congado, presentes no folclore brasileiro. Sons que surgiram a partir de crenças populares africanas, que no Brasil foram moldadas com referências latinas. Ainda há um leque que simboliza a musicalidade de diferentes culturas incorporadas às tradições locais. Nas letras, o retrato da crítica política, de problemas sociais e de impacto coletivo no país, percebidos pelo artista. Expressividade e resistência sonora.
A brandura da fé da religiosidade e a energia da subversividade. Vida e morte, amor e ódio, verdade e mentira, o lobo e o cordeiro. Todos são lados de uma mesma moeda, fazem parte do viver, da existência. Refletem-se como em um espelho. O trabalho solo de Tula Black é baseado no universo dos opostos. Comunica com as muitas possibilidades musicais, reforça a fusão de estilos e ritmos populares e vislumbra uma ruptura de paradigmas em melodia e letra no fazer RAP.
A mistura de ritmos em si não é uma novidade no cenário musical. Já é trabalhada por artistas de todos os estilos, pois essas combinações resultam em sonoridades de caráter dramático e sensacional nas músicas. No entanto, a sutileza dos violinos, flautas e a presença marcante de vozes femininas dão um tom angelical às canções, e ao mesmo tempo, evidencia poder e importância das diferenças para a conquista do equilíbrio.
A positividade é uma característica de Tula Black. De aparência rude e postura lúdica, de gestos brutos e coração criança. Sua essência faz a ponte do que é, e do que quer ser. Dispõe-se às mudanças e se propõem a quebrar paradigmas pessoal e artisticamente. O rapper entende que essa postura e a busca pelo novo potencial na sua criatividade. Este trabalho é coerente com o artista, pois é sincero no limite entre o Sagrado e o Profano. Tula Black analisa em primeiro lugar a perspectiva pessoal, a experiência de vida que lhe é própria, retrata questões com as quais lida no cotidiano. Ao longo dos anos, fez do hip hop seu estilo de vida. Trabalhou no segmento com atividades diversas. Na cidade de Betim onde reside, é atuante em projetos sociais como oficineiro sócio educador (programa fica vivo) com trabalho em comunidades, principalmente com o público jovem. Realizou oficinas para crianças e adolescentes em situação de risco.
Em carreira solo desde 2013, reconhece a relevância do tempo para construção e consolidação do artista que projetou o álbum “Entre o Sagrado e o Profano” e o Vídeo Clipe da música “Autografando indignação”. “Atualmente o meu projeto uni estas várias informações rítmicas, criando um novo produto, uma nova forma de dar o meu recado ao público, contribuindo para que tenham mais contato com suas raízes. Com esta atitude acredito poder continuar meu trabalho, divulgar mais os ritmos de Minas Gerais e propiciar mais acesso do meu publico ao folclore de mineiro”, diz Tula Black.
Segue abaixo entrevista exclusiva com Tula Black para a www.ritmomelodia.mus.br, entrevistado por Antonio Carlos da Fonseca Barbosa em 04.10.2018:
01) Ritmo Melodia: Qual a sua data de nascimento e a sua cidade natal?
Tula Black: Nasci no dia 10 de agosto de 1976 em Mendes Pimentel (MG). Registrado como Carlos Rodrigues.
02) RM: Fale do seu primeiro contato com a música.
Tula Black: Foi de forma inusitada, na minha adolescência em 1992, na escola eu tinha que apresentar um trabalho na aula de História e sem inspiração para escrever uma redação, liguei um radinho a pilha que sempre carregava comigo, ouvindo músicas para relaxar, quando escutei uma música dos “Racionais MCs” me deu inspiração para escrever uma redação e um poema que se transformou em uma letra de RAP. No dia da apresentação do trabalho no ritmo das palmas dos alunos eu ia declamando o poema no estilo RAP. E a cada rima era uma vibração emocionante da turma e dos professores que ficaram pasmos com meu talento, que depois disso me incentivaram a seguir carreira como Rapper.
03) RM: Qual a sua formação musical e\ou acadêmica fora da área musical?
Tula Black: Sou autodidata na música, toco percussão e violão. Concluir o ensino médio.
04) RM: Quais as suas influências musicais no passado e no presente. Quais deixaram de ter importância?
Tula Black: Ouvia muito RAP: “Racionais MCs”, GOG, Gabriel – O Pensador e escutava também MPB e Brega: Tim Maia, Sandra de Sá, Peninha, Roberto Carlos e muito Rock nacional dos anos 80. As músicas dos “Racionais MCs” e a grande maioria das músicas RAP deixaram de ter importância, devido aos temas abordados, as coisas do cotidiano e tal. Hoje aprecio muito MPB, Samba, Bolero, Congado, Capoeira, Moda de Viola e música clássica. Nas minhas letras falo de temas sociais, de amor, poéticos e de motivação pessoal.
05) RM: Quando, como e onde você começou a sua carreira musical?
Tula Black: Lembro como se fosse ontem, 20 de novembro de 1992, “Dia da Consciência Negra”, na Escola Estadual Ursulina de Andrade Melo no Bairro São José em Belo Horizonte, montei um grupo de RAP “Raça DMC’s” – Defensores do movimento consciente social, formado por Tula Black, Aliado Coyote, Junior Negrão, Charles Bem Bun.
06) RM: Quantos CDs lançados, quais os anos de lançamento (quais os músicos que participaram nas gravações)? Qual o perfil musical de cada CD? E quais as músicas que entraram no gosto do seu público?
Tula Black: Em 2003 CD – “RAÇA DMCS”. Em 2007 CD – “Poetas da Favela” – Raça DMCS”. Em 2009 CD – “Reggae Favela Periferia de Celso Moretti. Em 2013 CD – “Vozes do morro”. Em 2017 CD – Tula Black “Entre o sagrado e o profano”. Em 2018 CD – “Festival Sindical da canção”.
07) RM: Como você define o seu estilo musical?
Tula Black: O RAP no meu conceito é um estilo de música que se caracteriza por um recitado rítmico das letras, geralmente não é cantado. Surgido nos Estados Unidos, hoje em dia, transcende fronteiras e culturas. Os intérpretes são mencionados como rappers ou com a sigla MC (Mestre de cerimônia). Ao cantar RAP, o MC apoia-se numa melodia de fundo que se denomina beat, sendo esta que marca o ritmo. As letras e pomas abordam temas como apelo social, amor, superação. Forte forma de expressão, Consciência, atitude, comunicação!
08) RM: Você estudou técnica vocal?
Tula Black: Comecei a estudar. Fiz três meses de aula, mas sou autodidata.
09) RM: Qual a importância do estudo de técnica vocal e cuidado com a voz?
Tula Black: A voz um dos nossos principais instrumentos de trabalho. A boa dicção, o cuidado com a voz e uso da técnica vocal é primordial para executar um trabalho musical de qualidade.
10) RM: Quais as cantoras(es) que você admira?
Tula Black: Tiê, Tim Maia, Mauricio Marielli, Peninha, Sandra de Sá, Moacyr Franco, Amado Batista, Criolo, Gabriel – O Pensador.
11) RM: Como é o seu processo de compor?
Tula Black: Baseio na minha historia de vida, busco inspirações em meus sonhos, no dia a dia e extraindo poesia do cotidiano.
12) RM: Quais são seus principais parceiros de composição?
Tula Black: Lana Vilela: escritora, compositora. Olegário Alfredo: Capoeirista, cordelista, compositor. Amon Siqueira: Músico, cantor, compositor.
13) RM: Quem já gravou as suas músicas?
Tula Black: Não.
14) RM: Quais os prós e contras de desenvolver uma carreira musical de forma independente?
Tula Black: A maior dificuldade é manter uma equipe de apoio e gerenciar a carreira. É impossível ser cantor e produtor ao mesmo tempo. E em Minas Gerais existem poucos profissionais na área. E poucas pessoas que acreditam no trabalho de artistas que ainda não têm fama
15) RM: Quais as estratégias de planejamento da sua carreira dentro e fora do palco?
Tula Black: Mapear eventos e festivais. Fazer levantamento de casas e instituições que trabalham com música autoral em Minas Gerais e no país. Pesquisar para descobrir bons contatos no Rio de Janeiro e em São Paulo. Elaborar um bom portfólio de vendas. Abordar um mínimo de 30 casas de shows, produtores de eventos e festivais, para tentar vender apresentações. Fechar contrato com uma distribuidora virtual. Criar rotina de pesquisar a cultura interna e o modo de atuação de cada empresa antes da abordagem para negociação dos projetos. Criar um bom projeto de captação. Incluir como “moeda de troca“ no projeto de captação apresentações fechadas para o patrocinador. Criar modelo de relatório para os patrocinadores. Inscrever-se em editais, festivais, concurso e premiações para vídeos e músicas. Fechar contrato com uma empresa de produção artística e cultural, etc.
16) RM: Quais as ações empreendedoras que você pratica para desenvolver a sua carreira?
Tula Black: Desenvolvendo oficinas artísticas, participando de editais de cultura, comercializando CD, fazendo composição de poemas e músicas para outras bandas, e jingles políticos e comerciais.
17) RM: O que a internet ajuda e prejudica no desenvolvimento de sua carreira?
Tula Black: A internet é uma “mão na roda” já que me falta o acesso a grande mídia.
18) RM: Quais as vantagens e desvantagens do acesso a tecnologia de gravação (home estúdio)?
Tula Black: A vantagem é o preço que é bem mais em conta dos grandes estúdios, mas não tem a mesma qualidade e equipamentos dos grandes estúdios.
19) RM: No passado a grande dificuldade era gravar um disco e desenvolver evolutivamente a carreira. Hoje gravar um disco não é mais o grande obstáculo. Mas, a concorrência de mercado se tornou o grande desafio. O que você faz efetivamente para se diferenciar dentro do seu nicho musical?
Tula Black: Gravar CD se tornou um processo obsoleto, o grande lance agora é lançar álbum digital e divulgar nas redes sociais e canais na internet direcionados para música.
20) RM: Como você analisa o cenário RAP. Em sua opinião quem foram às revelações musicais nas duas últimas décadas e quem permaneceu com obras consistentes e quem regrediu?
Tula Black: Quem regrediu em quentão de conteúdo e ideologia é quem mais ganhou as graças da grande mídia, mas ainda tem espaço para os artistas da cultura Hip Hop que têm conteúdo com letras conscientes. Para mim, as grandes revelações: Gabriel – O pensador, Emicida, Projota, Kamau, Criolo, etc.
21) RM: Quais os músicos já conhecidos do público que você tem como exemplo de profissionalismo e qualidade artística?
Tula Black: Erasmo Carlos, Roberto Carlos e outros artistas da MPB.
22) RM: O que lhe deixa mais feliz e mais triste na carreira musical?
Tula Black: Feliz é poder passar minha experiência de vida para o público, conhecer novos horizontes, pessoas e a possibilidade de viver financeiramente da arte.
23) RM: Nos apresente a cena musical da cidade que você mora?
Tula Black: Betim (MG) tem uma cena rica, centros culturais, casa de shows, barzinhos, oficinas culturais, eventos de rua, muita diversidade, muitas alternativas e valorização da cultura local.
24) RM : Quais os músicos, bandas da cidade que você mora, que você indica como uma boa opção?
Tula Black: Em Betim (MG) tem o mestre Celso Moretti.
25) RM: Você acredita que sem o pagamento do jabá as suas músicas tocarão nas rádios?
Tula Black: Sim, algum dia!
26) RM: O que você diz para alguém que quer trilhar uma carreira musical?
Tula Black: Seja profissional, persistente, criativo, inovador e o mais independente possível.
27) RM : Quais os prós e contras do Festival de Música?
Tula Black: As vantagens são as possibilidades de conhecer muitos lugares, divulgar o trabalho levando nossa música para outras terras. Os contras é a falta de estrutura que os produtores de Festivais de Música oferecem, cachê baixo e ás vezes falta de divulgação do evento.
28) RM: Na sua opinião, hoje os Festivais de Música revelar novos talentos?
Tula Black: Com certeza, apesar de que em alguns Festivais de Música passam a impressão de que os artistas vencedores não passam por julgamento na apresentação. Já são antes selecionados para ganhar.
29) RM: Como você analisa a cobertura feita pela grande mídia da cena musical brasileira?
Tula Black: Falha, por optar por ritmo musical, por não revelar novos talentos, por não promover a diversidade musical.
30) RM: Qual a sua opinião sobre o espaço aberto pelo SESC, SESI e Itaú Cultural para cena musical?
Tula Black: É válido e colabora muito para a cultura musical e artes em geral.
31) RM: O circuito de Bar de sua cidade é uma boa opção de trabalho para os músicos?
Tula Black: Ótima opção. É o que mais movimenta a cultura aqui em Betim (MG).
32) RM: Quais os seus projetos futuros?
Tula Black: Atuar numa linha mais religiosa, buscar novas influências musicais, e desenvolver uma forma de vender mais shows.
33) RM: Quais seus contatos para show e para os fãs?
Tula Black: (31) 99701 – 7137 | [email protected] |
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