O Trio Amizade é um grupo de Forró Pé de Serra idealizado por Nonato Araripe. Iniciou seus trabalhos em 2012 na zona leste de São Paulo, mas já tem muitas histórias para contar, pois seus integrantes vieram de outras formações e contam com muita vivência na estrada da música nordestina.
Apresentar shows com o melhor da música regional Nordestina, com obras dos grandes Mestres que foram e são pioneiros do nosso Forró Pé de Serra, para levar um conhecimento mais amplo ao Público em geral à riqueza Cultural do Nordeste do Brasil. Atualmente integra o Circuito de Forró Pé de Serra da capital paulista com atual formação: Nonato Araripe (triângulo, zabumba, percussão e back vocal), mestre Louro (cantor e acordeonista), Serginho Zabumba.
O Show Forró de Verdade, tem percorrido vários espaços de São Paulo fortalecendo o formato do Forró Pé de Serra cantando músicas autorais, mas também enaltecem as obras dos mestres Luiz Gonzaga, Dominguinhos, Jackson do Pandeiro, Marines, Trio Nordestino, Os Três do Nordeste, Ari Lobo, Sivuca, entre outros. O Trio Amizade, também chama atenção pela alegria contagiante de seus componentes e o figurino escolhido pelo produtor cultural do grupo, com um visual colorido e os tradicionais chapéus de couro. Busca resgatar a tradição e apresentar para novas gerações a riqueza cultural e musical das regiões Norte e Nordeste do Brasil.
Segue abaixo entrevista exclusiva com o Trio Amizade para a www.ritmomelodia.mus.br, entrevistado por Antonio Carlos da Fonseca Barbosa em 25.03.2022:
01) Ritmo Melodia: Qual a sua data de nascimento e a sua cidade natal?
Trio Amizade: Nonato Araripe formou o Trio Amizade no dia 15 de janeiro de 2012 e toca triângulo, zabumba, percussão e faz backing vocal e nasceu no dia em 25/03/1964 em Araripe – CE e foi registrado como Raimundo Pereira da Silva. Lourival Oliveira Vieira Filho (mestre Louro é o cantor e o acordeonista), nasceu no dia 11/02/1968 em São João – PE. Sergio Maurício dos Santos (Serginho Zabumba e faz backing vocal), nasceu no dia 20/04/1970 em Nossa Senhora das Dores – SE.
02) RM: Fale do seu primeiro contato com a música.
Nonato Araripe, quando eu nasci meu pai Francisco Pereira Silva (Chico do Forró), já atuava como sanfoneiro e meus tios todos tocavam sanfona, lá em casa tinha ensaio e virava um Forró, já nasci dentro do Forró.
03) RM: Qual a sua formação musical e/ou acadêmica fora da área musical?
Nonato Araripe, eu não estudei música, toco Triângulo, zabumba e percussão, sou músico prático. E, fora da música fiz vários cursos no SENAI como Ferramenteiro, Ajustador Mecânico, Inspetor de Qualidade, Torneiro Mecânico e Desenho Industrial.
04) RM: Quais as suas influências musicais no passado e no presente. Quais deixaram de ter importância?
Nonato Araripe, as minhas influencias no passado foram Luiz Gonzaga, Trio Nordestino, Os Três do Nordeste, Dominguinhos, Marinês, Ary Lobo, João do Vale, Sivuca, mestre Azulão de Caruaru, Genival Lacerda, Alceu Valença, banda Falamansa, banda Rastapé. Ninguém deixou de ser importante, Todos os artistas citados foram e continuam representando a nossa cultura nordestina.
05) RM: Quando, como e onde você começou a sua carreira musical?
Nonato Araripe, já nasci na música, vim para São Paulo em 10 de outubro de 1980. Em 2003 fui convidado pelo cantor, compositor Bill Ramos para fazer uma apresentação no CTN – Centro de Tradições Nordestinas, e resolvi voltar para música de forma profissional. Em 2009, fui convidado para tocar no Trio Arcoverde, do qual fiz parte até 2012. O Trio Amizade foi formado dia 15 de janeiro de 2012.
06) RM: Quantos CDs lançados?
Nonato Araripe, com o Trio Arcoverde, lançamos três CD: Trio Arcoverde em parceria com o cantor Valdecir, um CD com a cantora Giovanna Cabral, um CD com o Trio Arcoverde. Recentemente foi lançado o DVD – SP FORRÓ com a participação do Trio Amizade com a “Forró de Verdade” (Nonato do Araripe / João Paulo Jr).
07) RM: Como você define seu estilo musical?
Nonato Araripe, representativo da Cultura musical do meu Nordeste.
08) RM: Você estudou técnica vocal?
Nonato Araripe, estudei pouco técnica vocal e pretendo estudar mais, para melhorar a qualidade vocal do show.
09) RM: Qual a importância do estudo de técnica vocal e cuidado com a voz?
Nonato Araripe, o estudo da técnica vocal é muito importante, também é importante o cantor não forçar as cordas vocais. Sempre cuidar da voz, pois é o instrumento de trabalho.
10) RM: Quais as cantoras (es) que você admira?
Trio Amizade: Marinês, Anastácia, Elba Ramalho, Jackson do Pandeiro, Luiz Gonzaga, Messias Holanda, e tantos outros do Forró Pé de Serra.
11) RM: Como é o seu processo de compor?
Nonato Araripe, eu já fiz algumas músicas com amigos compositores.
12) RM: Quais são seus principais parceiros de composição?
Trio Amizade: João Paulo Jr, Pedro Borges, Almirante Aboiador, Luiz Mário do Trio Nordestino.
13) RM: Quais os prós e contras de desenvolver uma carreira musical de forma independente?
Trio Amizade: a vantagem de desenvolver uma carreira musical de forma independente é que você tem seus projetos e suas metas sem ter alguém para discordar e se não der certo a gente tentou. Os contras: temos que enfrentar reuniões e cobranças com críticas, muitas vezes críticas que nos deixa para baixo, mas vamos seguindo em frente, sempre.
14) RM: Quais as estratégias de planejamento da sua carreira dentro e fora do palco?
Trio Amizade: dentro do palco o Trio Amizade sempre busca ter responsabilidade em executar o trabalho de equipe, eu mais ainda, pois cuido de atividades como: divulgação, agenda de shows, figurinos. E fora do palco, como os outros componentes trabalham com outras atividades, sou eu quem cuida de todas as articulações.
15) RM: Quais as ações empreendedoras que você pratica para desenvolver a sua carreira?
Trio Amizade: No momento como ainda está tudo parado por conta da pandemia do covid-19, não tem como executar tantas ações, mas estamos participando de um projeto pelo movimento SP Forró, que é a gravação de um CD e DVD, com “Forró de Verdade” (Nonato do Araripe / João Paulo Jr). Futuramente vamos ver o que pode surgir para somar, ter música como fonte de renda é uma tarefa que requer muito esforço.
16) RM: O que a internet ajuda e prejudica no desenvolvimento de sua carreira?
Trio Amizade: a internet ajuda muito na divulgação nas redes sociais, hoje não precisa mais de gravadora. A internet é usada de tal forma que ajudou até eleger um presidente da república do Brasil em 2018 (Jair Bolsonaro).
17) RM: Quais as vantagens e desvantagens do acesso à tecnologia de gravação (home estúdio)?
Trio Amizade: o home estúdio ajuda todos que decidem trabalhar música, principalmente os artistas de menor alcance. No passado era impossível fazer uma gravação de música com pouco recurso, hoje temos as facilidades de fazer um material de áudio e vídeo com uma boa qualidade.
18) RM: No passado a grande dificuldade era gravar um disco e desenvolver evolutivamente a carreira. Hoje gravar um disco não é mais o grande obstáculo. Mas, a concorrência de mercado se tornou o grande desafio. O que você faz efetivamente para se diferenciar dentro do seu nicho musical?
Trio Amizade: no passado só tinha oportunidade para crescer o artista que estivesse em uma grande gravadora e não dependia tanto das condições financeira do Artista. Hoje em dia além das condições financeiras, depende das articulações e estratégias que o artista e sua produção têm para fazer acontecer.
19) RM: Como você analisa o cenário do Forró. Em sua opinião quais foram as revelações musicais nas últimas décadas? Quais permaneceram com obras consistentes e quais regrediram?
Trio Amizade: No Forró Pé de Serra que se destacou em São Paulo foram: Trio Virgílio, banda Falamansa, Rastapé, Bicho de Pé, chama Chuva, Circuladô de Fulô, Fulôr de Mandacaru e o Trio Amizade, mas não tem nenhum que permaneceu com a mesma efervescência dos primeiros anos do movimento do “Forró Universitário” e se agravou por conta da pandemia do Covid-19.
20) RM: Quais os músicos já conhecidos do público que você tem como exemplo de profissionalismo e qualidade artística?
Trio Amizade: Santana – o cantador, Banda Rastapé, Trio Nordestino, Flávio Leandro, Flávio José, Zé Ramalho, Liv Moraes, Azulinho, etc.
21) RM: Quais as situações mais inusitadas aconteceram na sua carreira musical (falta de condição técnica para o show, brigas, gafes, show em ambiente ou público tosco, cantar e não receber, ser cantado, etc)?
Trio Amizade: Foi um show que eu fui tocar em Pindamonhangaba – SP o nosso triangulista não pode ir, soubemos que tinha uma banda de amigos que ia tocar lá e nós resolvemos improvisar e pegar um músico da banda para tocar com a gente. Chegando no local o músico da banda também não foi e falamos com um amigo e ele garantiu que o seu filho que era sanfoneiro também tocava triângulo e nos tiraria do sufoco. Foi se aproximando do horário do show e cadê o músico, o coração estava já pra sair pela boca, pois é uma situação cardíaca. Moral da história nossa banda foi anunciada, eu subir no palco com a Zabumba e o Triângulo na mão. Olhei para trás e um cara ia subindo os degraus da escada, eu joguei o triângulo nas mãos dele e ele entrou junto com a banda no tempo certo da música. Outra vez no réveillon a gente ia tocar no bairro Cambuci na região central de São Paulo e ficamos 40 minutos de um farol para o outro um trânsito infernal no bairro 15 de novembro na zona leste próximo de Guaianases. O cliente ligava e perguntava: “cadê vocês que não chega” e eu falava estamos chegando já estamos a cinco minutos da festa, chegamos com mais de duas horas de atraso.
22) RM: O que lhe deixa mais feliz e mais triste na carreira musical?
Nonato Araripe, fico feliz de fechar uma agenda de shows, poder trabalhar e ser bem aceito pelo público. Triste é não poder entrar em todos os lugares para fazer nosso trabalho, o Forró Pé de Serra tem um público seleto. É triste de ver e saber que no cenário do Forró não tem união e constatar que tem muita máfia no Forró. Tem artista que vai aonde a gente está tocando dá uma canja e depois deixa o contato e faz o show pela metade do cachê só para tomar o nosso lugar.
23) RM: Qual a sua opinião sobre o movimento do “Forró Universitário” nos anos 2000?
Trio Amizade: o movimento do “Forró Universitário” foi extraordinário para o Forró. Ajudou muito o Forró Pé de Serra e também trouxe a dança junto. Hoje tem mais de 60 festivais de Forró na Europa acoplado a dança. Hoje tem grupos de Forró até no Japão com os integrantes de lá e muitos programas de Forró. Tenho contato com mais de 30 produtores de Forró na Europa, e ficou melhor após as matrizes do Forró se tornarem Patrimônio Cultural Imaterial do Brasil. Mas foi o Forró de verdade: xote, Baião, xaxado, arrasta-pé, não foi o forró de plástico, forró estilizado e eletrônico.
24) RM: Quais os grupos de “Forró Universitário” chamaram sua atenção?
Trio Amizade: banda Falamansa, Rastapé, Bicho de pé, Chama Chuva, Circuladô de Fulô, Peixelétrico, essas duas últimas tem uma tendência mais para o reggae.
25) RM: Você acredita que sem o pagamento do jabá as suas músicas tocarão nas rádios?
Trio Amizade: nas rádios de grande audiência só toca as músicas dos artistas que fecham contratos com empresários ou diretamente nas Rádios e TVs. Tudo funciona com dinheiro, principalmente quando um cantor fecha com uma grande produtora. As vezes o artista é fabricado e fica se escondendo por trás das cortinas com medo de se apresentar para o público, pois não tem preparo, mas a grande empresa esgota os ingressos em prazo record. O povo pira na estrutura e não no artista, eu conheço artistas que tem potencial e estar mais do que preparado e não consegue chegar no sucesso, por não ter estrutura e um bom marketing. Mas se colocar ele junto com os artistas das grandes produtoras, ele engole todos com o seu talento. Isso acontece no futebol também, já tivemos casos de levar jogadores em pré-seleção que não dá para jogar nem na várzea, mas se for levado através de grandes produtoras é escolhido. Artistas dessas produtoras são blindados e ninguém pode falar com eles ou com seus empresários, são semelhantes a deuses.
26)RM: O que você diz para alguém que quer trilhar uma carreira musical?
Nonato Araripe, a carreira musical é muito sofrida e árdua, essa pessoa vai se decepcionar muitas vezes por ter muitas portas fechadas. E muitos que te abraçam dizendo que são seus amigos, são de fato invejosos! Mas não desista dos seus sonhos.
27) RM: Quais os prós e contras do Festival de Música?
Trio Amizade: Festival de Música é bom para o público conhecer o artista, mas também o artista tem que estar preparado para não se queimar expondo um trabalho de anos.
28) RM: Hoje os Festivais de Música revelam novos talentos?
Trio Amizade: sim. Todos festivais de música são muito importantes para música e para os artistas. O grande público hoje estar no meio digital e o artista pode percorrer o mundo.
29) RM: Como você analisa a cobertura feita pela grande mídia da cena musical brasileira?
Trio Amizade: a grande mídia só divulga com interesse financeiro, não se preocupa de revelar talentos para o Brasil. Ela só pensa em dinheiro e os contratantes só contratam se tocar nas grandes mídias. Fica muito difícil para os artistas que tem muito talento, mas não tem condições financeiras, se tiver alguém que seja seu padrinho pode ser que aconteça, do contrário é mais um talento no meio da multidão esperando alguém dá uma mão.
30) RM: Qual a sua opinião sobre o espaço aberto pelo SESC, SESI e Itaú Cultural para cena musical?
Nonato Araripe, eu não sei como funcionam esses espaços. Eu tenho um sonho de tocar no SESC e já procurei várias unidades em São Paulo, mas nunca fomos contratados. Já tocamos em Casas de Cultura, Fábrica de Cultura, C.E.Us, Centro Cultural, Galeria Olido, mas o Sesc nunca nos chamou, já enviei e-mails para programadores, mas não sei quais os critérios de contratação. Eu gostaria de saber como funciona, mas se já tem produtores que tem exclusividades, a gente nunca vai conseguir. Não sabemos o que acontece, enquanto isso ficarmos aguardando um dia alguém nos levar ou ser escolhido por algum programador de alguns Sesc.
31) RM: Qual a sua opinião sobre as bandas de Forró das antigas e as atuais do Forró Estilizado?
Trio Amizade: as bandas mais antigas como matriz do Forró, e outras deixaram um grande legado e foram muito importantes para as atuais bandas ter uma referência. Agora, o Piseiro derrubou as bandas de Forró Estilizado e a música Sertaneja pop e vai ficar por um bom tempo no mercado. Aqueles artistas de bandas das antigas e os atuais “Estilizados” ou mudam para o piseiro ou vão falir. Agora nem todos os artistas tem talento para fazer o ritmo piseiro de alto padrão de qualidades. Conheço um artista preparado para tocar tudo e também o piseiro, o Azulinho de Caruaru, ele é um curinga, mas não tem oportunidade e se tiver, ele jantava todos que estão no mercado.
32) RM: Quais os seus projetos futuros?
Nonato Araripe, pretendo lançar um álbum em breve, já tenho algumas composições prontas, o Trio Amizade está participando do DVD e CD do movimento SP forró, com “Forró de Verdade” (Nonato do Araripe / João Paulo Jr).
33) RM: Quais seus contatos para show e para os fãs?
Trio Amizade: (11) 95491 – 0030 | [email protected]
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