O álbum CHORANDO EM FRENTE depois do Choro ser reconhecido como PATRIMÔNIO CULTURAL DO BRASIL, músicos inovam o Choro em projeto inédito.
“Uma visão tradicional e respeitosa do gênero do Choro, e ao mesmo tempo oferece um frescor, algo inovador, reforçando a ideia que a tradição pode ser contada de maneira contemporânea e moderna”. É assim que a violonista, compositora e arranjadora Elodie Bouny definiu o álbum Chorando em Frente, do guitarrista Tom Cykman e o violonista Félix Junior, que será lançado em nas plataformas digitais no dia 19 de abril 2024. Em 23 de abril, é comemorado o Dia Nacional do Choro, data do nascimento de Pixinguinha.
Nesse álbum, os músicos apresentam revigorantes releituras de choros clássicos de Pixinguinha, Jacob do Bandolim, entre outros, através de interpretações cheias de liberdade e improvisação. A instrumentação inusitada da guitarra no Choro, por Tom Cykman, tocada de forma fiel ao gênero e ao mesmo tempo moderna, se soma ao impecável violão de 7 cordas de Félix Júnior, trazendo um frescor para a música instrumental brasileira.
Para o clarinetista e compositor Caetano Brasil, “As melodias no disco estão muito bem colocadas na guitarra, com o respeito de quem reconhece a profundidade da linguagem e se dedica a pesquisar uma forma própria de exprimi-la em seu instrumento.”
Tom Cykman, nascido em São Paulo e criado em Florianópolis (SC), é um guitarrista com foco na música brasileira e na improvisação. Em 2022, realizou uma série de oficinas a respeito da guitarra no choro, com a qual alcançou repercussão internacional com público inscrito de todo o Brasil, Argentina e Europa.
Realizou turnês na Argentina, Portugal e Israel (Shablul Jazz), além de ministrar uma Masterclass de música brasileira no Núcleo de Samba e Choro de Buenos Aires. Atualmente integra o trio de Alexandre Rodrigues em seu inovador trabalho de pife em contexto jazzístico.
Tom Cykman é um guitarrista com foco na música brasileira e na improvisação. Sua linha consiste em traduzir a linguagem de instrumentos como o acordeão e o bandolim para a guitarra, na busca de novas sonoridades para o instrumento.
Com reconhecimento internacional, fez turnês na Argentina, Portugal e Israel (Shablul Jazz), além de ministrar uma Masterclass de música brasileira no Núcleo de Samba e Choro de Buenos Aires. Foi professor convidado pela UFRGS para ministrar uma aula na disciplina de Improvisação dentro da graduação em Música Popular, coordenada por Julio Herrlein.
Foi premiado com o Edital Aldir Blanc onde realizou uma série de oficinas a respeito da guitarra no choro, com a qual alcançou repercussão internacional com mais de 270 pessoas inscritas de todo o Brasil, Argentina e Portugal.
Em 2011, com apenas 18 anos, ficou em segundo lugar do Concurso Santo Ângelo, virando parceiro da empresa por dois anos consecutivos e o levando a tocar na Expomusic 2012. Foi vencedor do Prêmio FCC 2012 de Melhor Composição e destaque na seção “No Player” da 25ª Edição da Revista Guitar Load no mesmo ano. Compôs trilha-sonora para o curta metragem “Tubérculos”, vencedor do Prêmio Armando Carreirão 2014.
Entre 2016 e 2017 tocou bandolim na Orquestra de Choro do Campeche, abrindo para Arthur Moreira Lima no centro de Florianópolis. Tocou no Fenaostra 2017. Entre 2016 e 2019 participou da Orquestra de Choro do Campeche, do grupo Pururuca Platinada (ritmos do norte/nordeste), Fuá de Pareia (forró e cultura popular) e nos projetos Trio Ladeira samba-jazz, Grupo Choro Xadrez.
Segue abaixo entrevista exclusiva com Tom Cykman para a www.ritmomelodia.mus.br, entrevistado por Antonio Carlos da Fonseca Barbosa em 17.07.2024:
01) Ritmo Melodia: Qual a sua data de nascimento e a sua cidade natal?
Tom Cykman: Nasci no dia 08/09/1993 em São Paulo – SP.
02) RM: Fale do seu primeiro contato com a música.
Tom Cykman: Me lembro de criança escutar algumas músicas aleatórias, em filmes etc, onde ficava esperando a parte onde a letra acabava e havia a melodia em forma instrumental, gostava de adivinhar quando isso aconteceria. Também bem pequeno meu pai tocava o teclado e me colocava pra improvisar com a mão direita enquanto ele fazia a base, sempre gostei da parte melódica e improvisativa da música.
03) RM: Qual a sua formação musical e/ou acadêmica fora da área musical?
Tom Cykman: Me graduei em Psicologia na UFSC. Entretanto lá pela metade da graduação já guinei para a música, tranquei por um semestre e fui estudar com o professor Dr. Sérgio Ribeiro de Freitas na UDESC, fiz todas as disciplinas que ele ministrava por mais de dois anos, disciplinas de teoria e análise musical.
Considero ele meu grande mentor na música, consegui compreender a música e como poderia estudá-la de uma maneira sistemática, pois precisava “correr atrás do tempo perdido”. A guitarra já tocava desde os 15 anos, porém de maneira menos organizada e profissional.
Quando resgatei a guitarra em 2016, aos 22 anos, a resgatei pela música brasileira, pelo choro e pela improvisação com grande intensidade. Minha formação instrumental se deu principalmente no aprendizado de melodias, solos, frases e harmonias de ouvido, com a capacidade de analisá-las minuciosamente para conseguir incorporá-las no meu vocabulário pessoal através de muito exercício e repetição.
04) RM: Quais as suas influências musicais no passado e no presente. Quais deixaram de ter importância?
Tom Cykman: Dos 15 aos 18 adorava guitarristas solo como Jason Becker, Daniele Gottardo, Steve Vai, Marty Friedman, Guthrie Govan e Allan Holdsworth. Também gostava de Hermeto Pascoal, apesar de não entender direito o contexto. Alguns anos mais tarde, com a imersão na música brasileira, músicos como Jacob do bandolim, Dominguinhos, Paulo Moura e Heraldo do Monte foram fundamentais na minha formação.
Hoje em dia gosto de uma vastidão de artistas, de Anat Cohen a Arismar do Espírito Santo, Julian Lage, Pedro Martins, Fábio Leal, entre outros. Também muita gente contemporânea, artistas que convivo, admiro e também toco junto como Félix Júnior, Lucas Rocha, Iara Ferreira, Ney Souza, Alexandre Rodrigues.
05) RM: Quando, como e onde você começou a sua carreira musical?
Tom Cykman: Como professor dou aulas fazem mais de 12 anos, porém tocando profissionalmente, foi tudo mais recente, mais ou menos em 2018, em Florianópolis, acompanhando artistas como Letícia Coelho, participando em grupos de música brasileira.
06) RM: Quantos CDs lançados? Cite alguns CDs que já participou como guitarrista?
Tom Cykman: Em 21 de abril 2024 lançamos o álbum “Chorando em Frente” com Félix Júnior será meu primeiro como artista principal (junto do Félix Júnior).
REPERTÓRIO COMPLETO: Chorinho de Gafieira (Astor Silva), Chorando Baixinho (Abel Ferreira), Receita de Samba (Jacob do Bandolim), Ingênuo (Pixinguinha e Benedito Lacerda), Eu Quero É Sossego (K-Ximbinho), Doce de Coco (Jacob do Bandolim), Perigoso (Orlando Silveira e Esmeraldino Salles), Naquele Tempo (Pixinguinha), Cochichando (Pixinguinha).
FICHA TÉCNICA: Guitarra: Tom Cykman, Violão 7 cordas: Félix Júnior. Captação: Jorge Lacerda (Florianópolis, SC). Mixagem: JG Júnior (Brasília, DF). Captação de vídeo: Guilherme Ledoux. Edição de vídeo: Tom Cykman.
Todavia participei nos álbuns: Brota (Letícia Coelho), Choro Xadrez (2023), Iara Ferreira Trio (2022), Iara Ferreira VERDEAMARELA (2023) e Pife Enigmático de Alexandre Rodrigues Trio (2024). O single Intocável com Félix Júnior (2021).
Félix Junior é considerado um dos grandes nomes do violão de sete cordas no Brasil. Compositor e arranjador de MPB instrumental, iniciou seu aprendizado no norte de Minas, passando por Pirapora e Montes Claros, até chegar ao Distrito Federal.
O músico já trabalhou com outros grandes mestres da nossa música, gente como Altamiro Carrilho, Osvaldinho do Acordeom, Turíbio Santos, Gabriel Grossi, Hamilton de Holanda, Dominguinhos, Yamandu Costa, Jane Dubok, Cristovão Bastos, Roberto Menescal e muitos outros.
Sua discografia inclui os álbuns como: Quando as Cordas Choram (2012), Lamento mineiro (2019), Félix Junior Interpreta Francisco Araújo (2020) e Chão de Minas (2022) em formato solo, e em dueto como Nascente – com Gabriel Grossi (2016), Pro Menesca Vol 1 e 2 com Marcia Tauil (Part Roberto Menescal), Caymmi-se com Marcia Tauil e Juliana Caymmi (2022) e Pro Cristóvão Vol 1 e 2 com Marcia Tauil (Part Cristóvão Bastos), 2022 e 2023.
07) RM: Como você define o seu estilo musical?
Tom Cykman: Acredito meu estilo ser muito talhado em cima da música brasileira desde o Choro e o Forró até a modernidade, desde os aspectos melódicos até os rítmicos e harmônicos, ao mesmo tempo estou sempre atento e estudando músicos contemporâneos da cena mundial do jazz e buscando usar estes elementos de maneira musical nos contextos onde estou envolvido.
08) RM: Como é o seu processo de compor? Quais são seus principais parceiros de composição?
Tom Cykman: Nos últimos anos tenho focado principalmente em interpretar um repertório comum (standards), para poder tocar coletivamente com músicos diversos, onde quer que esteja. Gosto muito da ideia da composição, planejo realizar isso com mais frequência nos próximos anos.
09) RM: Quais os prós e contras de desenvolver uma carreira musical de forma independente?
Tom Cykman: A independência não é algo que existe, sempre há a interdependência, variadas formas de cooperação e interesses dialogando para que os trabalhos aconteçam. Desta forma acredito simplesmente que quanto mais estrutura melhor para todo mundo.
10) RM: Quais as estratégias de planejamento da sua carreira dentro e fora do palco?
Tom Cykman: Busco estar presente em diversas frentes, desde um trabalho mais ativo nas redes sociais quanto no “mundo real”, tanto como artista, professor, side man ou mesmo produtor e curador. Além do meu trabalho musical gerencio a página Agenda Instrumental SP onde divulgo grande parte dos shows instrumentais na cidade de São Paulo, onde resido atualmente.
11) RM: Quais as ações empreendedoras que você pratica para desenvolver a sua carreira musical?
12) RM: O que a internet ajuda e prejudica no desenvolvimento da sua carreira musical?
Tom Cykman: Devo muito a existência da internet na minha formação, pois o YouTube foi minha principal fonte de acesso à vídeos, gravações, etc. O problema da internet é cairmos no mito da competitividade, principalmente com as redes sociais, o importante é manter o foco em termos acesso à música de qualidade constantemente.
13) RM: No passado a grande dificuldade era gravar um disco e desenvolver evolutivamente a carreira. Hoje gravar um disco não é mais o grande obstáculo. Mas, a concorrência de mercado se tornou o grande desafio. O que você faz efetivamente para se diferenciar dentro do seu nicho musical?
Tom Cykman: Cada artista tem um caminho próprio, para alguns se diferenciar pode ser algo bom ou pode ser algo ruim. A minha imersão no choro por exemplo me abriu e me abre muitas portas, entretanto não ter me dedicado tanto antes aos espaços mais comuns que a guitarra ocupa me afastou de muitas possibilidades de trabalho.
É importante saber equilibrar de acordo com seus objetivos e gostos pessoais. Eu gosto muito de estar tocando, de tocar com outras pessoas, assim abrir o leque é fundamental, além de que de fato eu gosto de gêneros variados e busco poder trabalhar neles.
14) RM: Como você analisa o cenário da música instrumental no Brasil. Em sua opinião quais foram as revelações musicais nas últimas décadas? Quais permaneceram com obras consistentes e quais regrediram?
Tom Cykman: A música instrumental brasileira está tão boa quanto sempre esteve, há muitos nomes de gente maravilhosa fazendo excelentes trabalhos como Caetano Brasil, Pedro Franco, Túlio Araújo, Carol Panesi, Morgana Moreno, Mestrinho, Hamilton de Holanda, etc. Esses e muitos outros interpretam, compõe e improvisam na música brasileira de forma inspiradora, consistente e original, ao mesmo tempo que com muito fundamento na música brasileira.
15) RM: Como você analisa o cenário do Choro. Em sua opinião quais foram as revelações musicais nas últimas décadas? Quais permaneceram com obras consistentes e quais regrediram?
Tom Cykman: O Choro e a música instrumental brasileira se misturam, porém, seguindo um pouco a lista podemos falar de Matheus Donato, Victor Angeleas, João Camarero, Gian Corrêa, Maiara Moraes, Luisa Mitre, etc. Há muita gente com formação excelente levando o choro adiante nas suas diversas formas e isso é o que acho mais importante, o choro poder existir de várias formas concomitantemente, desde maneiras tradicionais até as menos, não há porque uma forma suprimir a outra.
16) RM: O que lhe deixa mais feliz e mais triste na carreira musical?
Tom Cykman: O que me deixa mais feliz é poder encontrar e tocar com diversas pessoas e poder compartilhar da música com elas e com o público. De tristeza eu diria que é a falta de mais espaços da música instrumental brasileira em lugares comuns como bares e restaurantes, além de mais festivais, etc.
17) RM: O que você diz para alguém que quer trilhar uma carreira musical?
Tom Cykman: Estude o máximo que conseguir, tenha sempre em mente qual o som que você busca e busque ir atrás disso, pois o desenvolvimento é eterno. Tenha excelentes referências, procure estudar com alguma referência nem que seja por um momento, para poder ser corrigido no que busca e também desenvolver autonomia sobre seus critérios de valor musical com o passar dos anos.
18) RM: Quais os compositores populares que você admira?
Tom Cykman: Há uma imensidão, porém, gostaria de destacar Arismar do Espírito Santo como compositor, pois é incrível como ele consegue sintetizar lindas melodias com harmonias modernas, formas favoráveis a improvisação e muita brasilidade. Cada uma de suas músicas poderia ser um standard da música brasileira, seria lindo ver mais estudantes e músicos no geral popularizarem a sua obra nas rodas e jams Brasil afora.
19) RM: Apresente sua metodologia de ensino do Violão e seus métodos.
Tom Cykman: Tenho uma metodologia de ensino da improvisação que é muito baseada em cima da análise melódica, do aprendizado da linguagem tonal e de como expandir ela para outros contextos. O ritmo e a melodia estão sempre ligados e podemos exercitar e estudar conceitos melódicos de forma muito prática e não depender de “sorte ou azar” para poder improvisar de forma satisfatória.
20) RM: Quais os principais erros na metodologia de ensino de música?
Tom Cykman: Tenho muitas críticas a diversas metodologias de ensino de música. Acho fundamental o ouvido estar em primeiro lugar, pois é lá onde podemos habitar a música em tempo real. Também acho que a improvisação não deve ser ensinada com métodos que se prezam como “a verdade” sobre o assunto, há muitas abordagens possíveis e elas podem se somar ou não, o importante é que o estudante tenha uma boa orientação para o som que deseja desenvolver.
21) RM: Qual é o seu conceito de Improvisação Musical?
Tom Cykman: Para mim improvisação musical é poder reagir em tempo real à música e isto significa ter conhecimento e técnica para poder tocar na forma da música, se relacionar com a forma de diversas maneiras e de maneira interativa com as pessoas que estiverem tocando juntas.
22) RM: Quais os prós e contras dos métodos sobre Improvisação musical?
Tom Cykman: O estudo inicial através de tétrades, por exemplo, é um grande equívoco, pois cada contexto usa de diferentes materiais, e se você for improvisar em um choro, por exemplo, e “sair tocando” tétrades, dificilmente vai soar legal, então é fundamental “saber onde pisa” musicalmente e exercitar a improvisação neste sentido.
23) RM: Existe improvisação musical de fato, ou é algo estudado antes e aplicado depois?
Tom Cykman: Assim como em conversas, palestras, etc, temos um vocabulário, um estudo prévio, que todavia se articula em dado contexto e dado momento. Haverá elementos de maior repetição e de menor, porém acho prazeroso “tomar riscos” e buscar novas melodias nas formas musicais, arriscar encontrar novos caminhos que surpreendem também a nós mesmos.
24) RM: Quais os seus projetos futuros?
Tom Cykman: Gostaria de levar o trabalho da guitarra no choro para diversos palcos no Brasil afora, pois é importante poder mostrar que a instrumentação dos gêneros não é algo fixo e que há espaço para quem quiser tocar, seja qual for o instrumento, além de levar a guitarra brasileira adiante.
Também tenho vontade de gravar e tocar discos e shows de “standards” brasileiros, gosto muito dessa possibilidade de reler a música brasileira, assim como na filosofia, onde há diversos autores e leitores, críticos etc das obras. Desta maneira a história da música brasileira se mantém viva e em diálogo constante com o mundo.
25) RM: Quais seus contatos para show e para os fãs?
Tom Cykman: https://www.tomcykman.com.br
| https://www.instagram.com/tom.cykman
Canal: https://youtu.be/k5omtZed8xo
Álbum: https://tratore.ffm.to/chorandoemfrente
Débora Venturini – Assessoria de Comunicação – (11) 98326 – 3851
Entrevista bem conduzida e pertinente num cenário musical tão amplo. Sempre bom ler uma boa entrevista.