More Socorro Lira »"/>More Socorro Lira »" /> Socorro Lira - Revista Ritmo Melodia
Uma Revista criada em 2001 pelo jornalista, músico e poeta paraibano Antonio Carlos da Fonseca Barbosa.

Socorro Lira

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A cantora e compositora Socorro Lira “está pra música da sua gente, assim como Maria Bonita está pra Lampião”. Para ilustrar essas palavras de Vital Farias e afirmar a importância da artista na música popular brasileira.

Socorro lança seu quarto CD – “Intersecção – A Linha e o Ponto”, produzido com patrocínio da Petrobras, da Lei de Incentivo à Cultura e do Ministério da Cultura. Esta é mais uma das realizações da artista que, ora viajando pelas várias regiões do país ou excursionando pela Europa para receber prêmio da Associazione Senza Frontiere; ora pesquisando a Memória Musical da Paraíba, projeto de sua autoria; ora produzindo seu próprio trabalho num projeto autoral que já lhe rendeu 4 CDs:

“Intersecção – A Linha e o Ponto”; “Cantigas de Bem-Querer” (independente, 2003); com participações de Vital Farias, Oliveira de Panelas, Cátia de França, cirandeiras de Caiana dos Crioulos, dentre os seus vários convidados; “Cantigas” (independente, 2001) e “Ditos do Cotidiano” (COMEP- Paulinas, 1998).

Formada em Psicologia pela Universidade Estadual da Paraíba, afirma que a sua vocação primeira é a música “É dela e pra ela que eu vivo, iniciei-me ao violão como autodidata, só vindo aperfeiçoá-la mais tarde, a partir de 1995, estudando no DART – Departamento de Artes da Universidade Federal de Campina Grande (PB)”. De lá até hoje, esta jovem artista vem recebendo respeito da crítica e do meio musical.

“Socorro Lira, que tem um instrumento musical primitivo e simbólico no sobrenome e na garganta, é uma patativa, um pássaro de canto bonito no meio da riqueza rítmica e melódica que emerge da escassez sertaneja. Seu canto é pungente ou alegre, religioso ou profano, lento ou cheio de balanço, mas é sempre afinado e, mais ainda: bonito. Como é bonito o canto dela!

Ouvi-la é visitar o Nordeste em toda a sua riqueza cultural ou percorrer os caminhos da fé religiosa e militante. Mas, é mais do que isso, um prazer estético, um deleite sereno e profundo. Ela é uma Joan Baez nordestina, um Clara Nunes rediviva, uma menestrel doce, humilde e intensa.”- José Nêumane Pinto (jornalista e escritor / SP);

“Quando ouvi ‘Cantigas’ fiquei surpresa com a força e a potência de sua voz. Identifiquei-me com o seu caminho de compositora e hoje me sinto gratificada em dividir o palco com ela” -.Cátia de França (Cantora e compositora / PB).

“A Lira de Socorro não está apenas no nome. Está implícita em todo o seu trabalho poético, melódico, de voz e canto. Os sons que soam, que ecoam da Lira de Socorro trazem todo o mesmo Nordeste que a gente ouviu nas vozes de Gonzaga, de Jackson, de Ary Lobo, de Marinês; na música e no verso de autores como Antônio Barros, Zé Dantas, Humberto Teixeira, Rosil Cavalcante, entre outros, só que no jeito, na forma que traz a garra, a resistência, a briga; mas também a ternura e a beleza da mulher cantadeira do Nordeste brasileiro”.-Adelzon Alves (produtor e radialista / RJ);“…

“Outro sotaque musical, da mesma instância de brasilidade. Abre o disco com o maracatu Fulô do Mandacaru, passa por boi-de-reis, guarânias, valsas, xotes, baiões, desafios, cirandas, sambas-de-roda, aluás e ijexás sempre de sua autora, letras e músicas. É um disco belíssimo, recomendado sem restrições” – Mauro Dias (O Estado de São Paulo);

“Um novo presente acaba de chegar da Paraíba. Agora em CDs. Uma mini-antologia da cantora e compositora Socorro Lira e outro da obra do poeta Zé Marcolino (produzido por Socorro). Um pouco de poesia com o tempero de Socorro Lira “- Nicodemos Pessoa (Jornalista, Revista Caros Amigos).

E, certamente, outros reconhecimentos virão com mais este trabalho, seu quarto CD, Intersecção – A Linha e o Ponto, pelas toadas, reisados, xotes, cantigas, baião, samba, fado, ladainhas maracatus e samba de roda; conduzidos pelo ritmo e pela beleza suave da voz da artista, além dos arranjos e direção musical de Jorge Ribbas, parceiro de Socorro desde as primeiras incursões como profissional da música – “…

Enquanto a terra fresquinha espera a semente no sertão, e aquela gente espera a chuva chegar, sou eu morrendo de desejo e de vontade, que venha por caridade, meu benzin me abraçar” ( Entre Estrelas- xote).

Mesmo trazendo as raízes e sotaques regionais, Socorro garante que sua composição – inclusive nesse CD – supera fronteiras: “histórias para contar, que

parecem se encontrar, nos quatro cantos da terra, onde o encantado encerra…”, diz Socorro extraindo os versos de Intersecção, toada que dá nome ao álbum.

Enfim, a cantora ultrapassa o regional quando canta os sentimentos profundos do homem e da mulher de sua terra, em consonância com as aspirações humanas em toda a Terra. Aí Socorro é antes de tudo uma artista romântica. É Universal.  Texto de apresentação por Márcia Accioly.

Segue abaixo entrevista exclusiva com Socorro Lira para a www.ritmomelodia.mus.br , entrevistada por Antonio Carlos da Fonseca Barbosa em 15.03.2006:

01) Ritmo Melodia: Qual a sua cidade natal e como foi o seu primeiro contato com a música?

Socorro Lira: Nasci em 1974 (geminiana)  em Brejo do Cruz, cidade do alto sertão da Paraíba. Desde cedo ouvi minha mãe cantar enquanto trabalhava, ouvi a cantoria e o repente de viola pelo rádio. E o meu tio Antônio Gavião fazer forró de berimbau em que nós, a criançada, tocava lata. Tudo de forma muito simples e bonito, arte como expressão da vida mesmo. Isso não nos faz mais ou menos interessantes ou “engraçadinhos” que os outros. Confesso que não gosto da ideia de usar essa coisa já bastante explorada: a pobreza do Nordeste, a secura do sertão, a perspicácia (que é muito bonita) do matuto e da matuta pra falar de minha iniciação musical. Meu tio toca berimbau porque não teve oportunidade de tocar Cello numa orquestra sinfônica, pois talento ele tinha. A arte é perene e abundante em todo canto e não escolhe classe social. Porém, como não tenho grandes preocupações com aplicações financeiras, bolsa de valores,… tenho mais tempo para ler e fazer poesia, ouvir e compor cantigas (risos)…

02) RM: Quais as suas principais influências musicais? E quais permanecem presentes no seu trabalho?

Socorro Lira: Além das que já falei que foram primárias. Na época o rádio AM da região executava uma programação muito boa. Então eu escutava Jackson do Pandeiro cantando “Casaca de Couro”Marinês cantando “Aquarela Nordestina”Clara Nunes cantando “Feira de Mangaio”, Luiz Gonzaga cantando “A triste Partida”. Era a música do Nordeste para o Brasil todo. Música que tinha sentido. E os cantadores de viola?  Lembro-me demais dos desafios de Sebastião da Silva e Moacir Laurentino, das pelejas de Louro Branco e Chico Mota… Depois é que conheci Oliveira de Panelas, Ivanildo Vila Nova – os cantadores que se tornariam mais conhecidos nacionalmente. Continuo amando e me relacionando com todas essas vertentes da nossa música, acrescentando a convivência que tenho com grupos de tradição oral como Caiana dos Crioulos, as dançadeiras de São Gonçalo e o Reisado nas regiões do SertãoCariri e Brejo paraibano. Mas o Brasil é imenso e aonde vou, olho com bastante atenção a tudo que o vejo nesse sentido para aprender mais alguma coisa.

03) RM: Qual a sua formação musical ? E quando iniciou a sua atuação profissional?

Socorro Lira: De formação acadêmica sou psicóloga. Iniciei-me ao violão por volta de 1990 – 1991, aprendendo um acorde aqui, outro ali… Não tinha violão. E quem me ajudou ensinando os acordes LÁ, MI e RÉ, foi uma senhora chamada Irene, enfermeira das boas e cantadeira por vocação, lá de Brejo do Cruz. Eu morria de vergonha de ir a casa dela todos os dias para tocar, exercitar aqueles acordes maravilhosos, por saber que estava incomodando… Mas ia assim mesmo (risos). Até que um amigo querido me deu um violão de presente.

Quando fui morar em Alagoa Grande, 1995, e comecei o curso de Psicologia na UEPB, ao mesmo tempo me inscrevi no Departamento de Artes da UFPB, onde tive aulas de Violão Clássico pôr alguns anos. Mas nunca fui muito aplicada aos estudos da música erudita, não (risos). Embora morra de vontade de reger uma orquestra… Ver se pode? É lindo o conhecimento musical de todas as formas. Comecei fazendo alguns concertos em 1995 e gravei um primeiro CD em 1998, em São Paulo.

04) RM: Quantos discos lançados ? Em que anos e títulos? Defina cada obra?

Socorro Lira: Em 1998 – Ditos do Cotidiano (Paulinas – COMEP). Um trabalho inspirado pelas lições de cidadania e justiça, de amor à vida e pelo bem comum, que recebi daquela ala da igreja católica que, então, era movida pela chamada Teologia da Libertação. Em 2001 – CD Cantigas. Um CD muito querido que me mostrou como cantora das coisas da minha região e das aspirações humanas do meu lugar e também universais – Em 2003 – CD Cantigas de Bem-querer. Nasce na mesma linha do Cantigas. Em 2004 – CD Pedra de Amolar – Em 2006 – CD Intersecção – A Linha e o Ponto, produzido com patrocínio da Petrobras, da Lei de Incentivo à Cultura e do Ministério da Cultura.

05) RM: Comente sobre o seu show?

Socorro Lira: Tenho trabalhado com várias formações. Isso possibilita a circulação dentro de um país tão grande como o Brasil. Se eu morasse na Itália, por exemplo, já seria “famosa” em meu país. Em se tratando de Brasil, ocorre uma coisa interessante: cada artista tem a sua história na sua região e muitos vivem no seu lugar sem ter que sair e\ou vagar por aí. Outros já gostam de andar mais – é o meu caso. Mas voltando ao formato de espetáculo, tenho três formações: 1)Eu e eu mesma ao violão e pandeiro; 2)Com banda – principalmente no São João do Nordeste; 3) E em quarteto. Tenho gostado muito de trabalhar com essa última, com uma equipe na Paraíba e outra em São Paulo.  Aqui, estou tendo a graça de trabalhar com uma multi – instrumentista (flautista, saxofonista e cellista) maravilhosa, a Ana Eliza Colomar; com a Cássia Maria excelente percussionista; mais o Ademar Farinha que está se incorporando ao grupo, um grande profissional.

06) RM: Como analisa a produção musical que está sendo feita a partir da década de 90 ?

Socorro Lira: Esse é um assunto bastante delicado. Acho que existem vários caminhos. Percebo de um lado o mercado fonográfico e a indústria cultural cada vez mais voraz e articulados para render lucros a quem os detêm, e disso muita gente tem queixas; mas existem outras possibilidades. Felizmente a criação artística não está aprisionada por quem manda e tem dinheiro. Ela acontece aonde e quando quer. Tem muita gente produzindo música bonita, em todos os gêneros, de ponta a ponta. Música que também tem a função de ajudar o ser humano a se desenvolver, e viver melhor e mais feliz. Eu prefiro investir minhas energias me ajuntando e asse segmento de artistas e produtores.

07) RM: Quais os prós e contras de fazer um trabalho na cena independente?

Socorro Lira: Esse é o trabalho mais dependente que pode haver. Depende de vender o espetáculo pra poder ter o dinheiro de pagar o estúdio; depende do acordo com o estúdio e com os músicos e produtores; depende dos amigos e amigas que comparam o CD antecipadamente e depois de pronto ainda ajudam a vendê-lo, etc. Por outro lado nos dá autonomia, vontade de realizar. É uma provocação constante: não tenho quem faça, eu faço. E sei o que é melhor pra mim.

08) RM: Por que escolheu São Paulo para atuar profissionalmente?

Socorro Lira: Gosto daqui. Faz alguns anos que sempre venho a São Paulo. Acho essa cidade muito graciosa. É difícil falar dessa cidade. Pra mim ela é graciosa, querida e pronto. Não há muita explicação para o amor. Tendo que escolher um lugar pra viver, escolhi São Paulo.

09) RM: Como você analisa a atuação cultural e musical dos seus contemporâneos?

Socorro Lira: Estamos todos na luta. Tem muita gente boa e séria; e tem os menos encorajados, sem muita clareza do que querem ainda; outros se equivocam um pouco e por aí vai. Em meio aos “altos”, devo ter também meus “baixos”. Tenho grandes parceiros e amigos no meio musical, desde a minha Paraíba até os recantos mais distantes desse imenso Brasil, por onde tenho passado.

10) RM: Fale de suas divergências e convergências com o mercado fonográfico atual?  

Socorro Lira: Hoje eu faço meus CDs. E ainda inventei de produzir algumas coisas voltadas para o meu Estado sob a égide de um projeto que idealizei – Memória Musical da Paraíba. Aqui está minha militância. É duro ter que gastar um dinheiro que quase não temos para gravar CD. Mas não tem outro jeito. A tecnologia tem nos ajudado muito, temos mais facilidades. Mas antes de distribuir, tenho que fazer o disco. Essa parte é terrível, são investimentos relativamente altos. E os meios de aquisição do dinheiro destinado a produção cultural, são por demais burocratizados, os apoios quase inexistentes. Mas sou teimosa.

11) RM: Quem são seus principais parceiros musicais?

Socorro Lira: Tenho poucas parcerias. Geralmente uma canção com cada parceiro. Mas tenho musicado alguma coisa de Rogaciono Leite (poeta pernambucano); citaria ainda Cristina Saraiva, Flávio Petrônio, Xico Bizerra e Maria Dapaz. Um grande parceiro é Jorge Ribbas, o produtor que fez meus discos. Ele, é muito disposto, corajoso e competente. A criação, pra mim, é uma atividade um tanto solitária. Preciso de recolhimento para criar. O momento da criação me expõe muito, por isso gosto de está sozinha nessas horas.

12) RM: Socorro Lira, fale dos projetos para 2006?

Socorro Lira: As Liras Pedem Socorro, novo CD.  Estou tentando finalizá-lo e espero lançá-lo ainda no primeiro semestre. Preciso de patrocínio!!!; CD do projeto Memória Musical da Paraíba; o São João do Nordeste de maio a junho; cantar bastante aqui no Sudeste e viajar pelo resto do país. E, principalmente, viver bem; da melhor forma possível. Sentir-me bem. Está mais com minha família, enfim. Continuar dando minha modesta contribuição para que esse país seja mais bonito e decente, pra que o mundo seja melhor e que a Terra possa ter uma vida mais longa… Essas coisas que muita gente também deseja (risos).

Contatos : (11) 3263 0638 | 99179 6483

www.socorrolira.com.br | [email protected]


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Uma Revista criada em 2001 pelo jornalista, músico e poeta paraibano Antonio Carlos da Fonseca Barbosa.