A Cantora, compositora mineira Silvia Nicolatto, com formação em música e teatro.Procura se conectar entre música e poesia, estudo, pesquisa, coração.
Foi finalista do prêmio “Profissionais da Música” em 2015 na categoria “autor”. Com dois discos independentes lançados no Brasil: “Além dos Gestos” e“Cantiga”, que traduz o seu trabalho atual. Com o disco ficou entre os finalistas do Prêmio Profissionais da Música, na categoria “autor” e o disco recebeu menção honrosa no site do Jornalista Ed Félix, “Embrulhador”.
Em 2013 foi lançado na Inglaterra o disco “Silvia Nicolatto Andher Anglo Cornish Friends”, um trabalho em parte do autoral, misturando música brasileira e córnica (de influência celta) e também com “Curva do rio”, de sua autoria, participou da coletânea “Brazilian Romance”, lançada nos EUA, Japão e Europa, pelo selo DTS, em 2003.
Em 2011 participou com os músicos ingleses Pete Kubryk Townsend, Pete Turner e Neil Davey, de uma turnê pelo sul da Inglaterra, na qual misturamos a música córnica (de influência celta) e a música brasileira, em um trabalho em parte autoral, em parte com canções de compositores renomados brasileiros.
Foi uma experiência muito rica, tocamos nas cidades de Falmouth, Penryn, Porthtowan, StAustell, Sturminster Newton, Truro, Uptown Cross e West Stafford e o disco foi lançado na Inglaterra em 2013 é resultado desse trabalho. Ela comenta que ter o cantor e compositor Pete Berryman, como convidado em Truro, foi uma alegria a mais.
Também em 2013, apoiada, em edital, pelo Ministério da Cultura, retornou à Inglaterra para participar de um importante festival da região, para o qual fui convidada, o “Cornwall Folk Festival”, em Wadebridge.
No Brasil já se apresentou em vários lugares, buscando sempre conexão, como artista, entre o sentimento e o trabalho, entre o aprimoramento e o espaço para seguir.
Tem como parceiros queridos que muito a honra eque fazem parte de suas referências e caminhada: Roberto Menescal (“Rua Ensolarada”), Fernando Brant e Nelson Ângelo (“Canoa Canoa” \ incidental Apelo”), Rodrigo Lessa (“Almoço na casa do Dino”), Pete Turner (“Brigadeiro” e “Amanhecer em Minas”), Neil Davey(“Rio Logh”), Hilary Colleman(“Ifyou go with me”), João Cavalcanti, cantor do grupo Casuarina (“Criança”, e no disco “Placebo”, lançado pela Warner em 2012, e também no disco “Cantiga”, de 2014), Raphael Gemal (“Ainda”, também em “Cantiga”). E atualmente começando trabalho novo e nova parceria, com Roberto Menescal.
Nessa estrada muitas foram e têm sido as pesquisas, as trocas e os aprendizados. Ela é muito grata por ter participado de coro em discos de artistas como Francis Hime, Zé Calixto, Olivia Hime, Casuarina, dentre outros, da gravação e apresentação com o coro erudito “Cia Bachiana Brasileira” na gravação do DVD “Quadros de uma alma brasileira, Villa-Lobos: Choros de Câmara, Noneto e Sexteto Místico”, ao vivo na sala Cecília Meireles, tendo também cantado Brahms e Mahler, dentre outros.
E ter sido premiada como melhor letra no festival de Monte Carmelo – MG em 2001, que foi um incentivo importante na sua carreira musical.
Segue abaixo entrevista exclusiva com Silvia Nicolatto para a www.ritmomelodia.mus.br , entrevistada por Antonio Carlos da Fonseca Barbosa em 17.04.2017:
01) Ritmo Melodia : Qual a sua data de nascimento e a sua cidade natal?
Silvia Nicolatto : Eu nasci no dia 03 de fevereiro em Belo Horizonte – MG. Aquariana com ascendente em peixes. Cresci nessa capital,mas tive o privilégio de passar muitas férias no interior de Minas, na zona da mata, em Ubá (terra de Ari Barroso) e Rodeiro, terra de minha mãe e de meus avós maternos.
Poder frequentar o interior de Minas em família significava usufruir da liberdade de correr livremente, subir em pé de fruta, andar de bicicleta, ir com amigos para cachoeiras, fazer piquenique;botar o pé na terra, visitar fábrica de queijo, ver mangada no tacho.
Também na BH do meu bairro se brincava com outras crianças, na rua e na calçada, de rouba bandeira,pique, esconde-esconde e, mais tarde, as rodas de violão. A cidade grande hoje é outra e esse interior que visitei também; fruto do crescimento e do que ficou do olhar da criança, que muda tudo de lugar. Isso me trouxe uma imagem de campo e cidade, um lugar inventado, idílico, um lugar que não existe muito. Às vezes visito esse lugar em algumas letras.
02) RM : Fale do seu primeiro contato com a música?
Silvia Nicolatto : Na casa de meus pais, a música era algo que passava por mim. Meu pai tinha como hobby o canto, e a minha mãe o acompanhava ao Piano.Ele era tenor e seu repertório incluía músicas de Vicente Celestino, Luiz Gonzaga, árias de óperas.
Dizem que minhas duas avós tocavam bandolim e meu avô paterno tocava violão. Uma curiosidade, minha avó materna, de quem tenho o nome artístico, conta no seu livro de memórias que em sua terra,durante sessões de cinema mudo, um conjunto musical do qual ela fazia parte tocava músicas como “Branca”(Zequinha de Abreu), “Tico-tico no fubá” (Zequinha de Abreu), “Saudades do matão” (J. Galati eR. Torres), e outras…
03) RM : Qual a sua formação musical e/ou acadêmica fora da área musical?
Silvia Nicolatto : Em minha casa música, arte não era considera da como opção profissional.Por isso, meus primeiros cursos foram:Direito e Letras, e muito rápido os deixei. No Direito, que fiz a sequência toda, inclusive prova da OAB, sofri muita pressão familiar para terminar.Letras é um curso que guardo com muito carinho; aprendi muito eme deu base para a escrita.
Cursei-o na UFMG e adorei, embora não o tenha finalizado. Larguei no último ano, pois não me senti confortável com outro diploma, uma vez que ao estagiar, dando aulas de português em escola pública, vi que não era o que faria. Considero Letras um curso fundamental, com o qual tive muita afinidade, por causa da relação com a escrita, à possibilidade de aprofundamento, de ampliar conhecimento. Além disso, na faculdade participava de um grupo teatral.
Não estudei música cedo, nem sabia ou pensava em seguir algum caminho na arte. Ouvia e vivia a música sem deduzir isso. Simplesmente a arte era um lugar de expressão para mim, em que conseguia estar inteira e falar o que queria. A poesia, a música eram caminhos básicos de comunicação e sobrevivência, em que eu me sentia presente, à vontade para falar o que queria.
Violão e Piano sempre foram os instrumentos que tive por perto e com os que hoje conto para pesquisar, estudar, compor ou dar aulas de canto. Eu comecei ainda tímida, essa trajetória, de forma intuitiva, meio aos trancos e barrancos. Depois fui estudando por fora música, canto, harmonia, e tudo o que podia.
04) RM : Quais as suas influências musicais no passado e no presente. Quais deixaram de ter importância?
Silvia Nicolatto : Minhas influências são muitas, ouvi repertório eclético, Clube da esquina e muitos músicos e grupos de Minas, MPB de várias vertentes, bossa nova, grupos vocais, duos, samba, música de raiz, música do nordeste, regionais, choro, jazz, rock, música italiana, francesa, alemã, música clássica, ouvi de tudo um pouco e ainda ouço muita música de variados estilos.
05) RM : Quando, como e onde você começou a sua carreira profissional?
Silvia Nicolatto : Foi na Faculdade de Letras que apresentei minha primeira criação musical, ao lado do grupo de teatro de que fazia parte.
Ocorreu no lançamento de uma revista de poesia, “Proventos textuais da Paixão”, que incluía um poema meu. Particularidade: para essa apresentação pude convidar um morador de rua que tocava uma flauta feita por ele em cano de PVC, o que não era comum.
Ele acabou se tornando a grande estrela da apresentação, além de ter sido “adotado” pelo pessoal da Faculdade de Letras. O que aconteceu depois foi consequência natural, comecei a me apresentar em bares, teatros, projetos…
Aconteceu algo interessante,quando ainda estava atuando no Direito. Ao encaminhar documentos de um processo, encontrei-me com uma colega de primeiro grau. Ela me perguntou o que estava fazendo e eu lhe expliquei que estava ali como advogada.
Ela então comentou, com ar admirado, que sempre pensara que eu seria uma artista, nunca advogada. Essa percepção repercutiu profundamente em mim. Até hoje me surpreende e impressiona, pois essa colega enxergara, além dali, a criança que conheceu e que eu não estava ouvindo.Nunca mais a vi e até hoje, quando me lembro, isso me surpreende.
06) RM : Quantos CDs lançados, quais os anos de lançamento (quais os músicos que participaram nas gravações)? Qual o perfil musical de cada CD? E quais as músicas que entraram no gosto do seu público?
Silvia Nicolatto : Meu primeiro CD – “Além dos gestos”, gravado no Rio de Janeiro, produção independente, lançado aproximadamente em 2003. Antes disso, havia ganhado um prêmio de melhor letra em um festival mineiro, na cidade de Monte Carmelo- MG, com a música que veio a ser o título do CD. Um trecho do que dizia: “dançando pela noite, alta madrugada, longe de você, fui ver além de onde vão os meus gestos, vou flutuar bem alto sem sentir os medos”….
Depois, uma faixa do mesmo disco, “A curva do rio”, entrou em uma coletânea internacional, pela Visom/DTS, de título “Brazilian Romance”. Acho que foi lançado também em 2003. Aliás, regravei essa música na Inglaterra, em um trabalho com amigos ingleses, e pessoas, tanto dos EUA quanto da Europa, escrevem dizendo que gostam dela.
Em 2011 fiz uma turnê muito bacana por oito cidades do sul da Inglaterra com músicos ingleses dessa região.Fomos recebidos por pessoas locais em algumas cidades da turnê, algumas pessoas que se destacavam por colaborar com a cultura em suas cidades, como um casal que tinha recebido uma medalha da rainha da Inglaterra por serviços prestados em apoio à cultura.
Como resultado da turnê, gravamos um disco lançado em 2013 na Inglaterra, “Silvia Nicolatto Andher Anglo Cornish Friends”. Algumas músicas do primeiro disco, que se encaixavam no perfil do trabalho,foram regravadas com os Anglo Córnicos: “Girassol Negro”, “Curva do rio” e “Endereço”. Aliás, a música “Curva do rio” foi a que tocamos ao vivo quando demos uma entrevista na BBC de Cornwall. Ficamos surpresos, quando à noite veio falar conosco uma senhora que viajara por quatro horas, em seu trailer, para assistir ao show, depois de nos ouvir no programa de rádio.
Em 2013 lancei ainda o CD – Cantiga. Com ele fui finalista do Prêmio Profissionais da Música de 2015, na categoria de compositora. Nesse disco há várias homenagens; aos compositores, de uma maneira geral, a Dino Sete Cordas, a Clara Nunes, a Fernando Brant, Nelson Ângelo, referências a Milton Nascimento em alguns vocais, e por aí vai…
Esse disco teve boa resposta de rádios que tocam trabalhos novos e MPB, e do meu público. Praticamente todas as músicas foram bem recebidas. As músicas “Almoço na casa do Dino” (parceria com Rodrigo Lessa), “Criança” (parceria com João Cavalcanti), “Cantiga”, “Janaína” e “A colher e o copo” (minhas) tiveram destaque. Também “Canoa Canoa/Apelo”, com introdução minha para a música de Fernando Brant e Nelson Ângelo, gerou repercussão.
Em 2017 vou lançar um novo CD, em breve.
08) RM : Você estudou técnica vocal? Qual a importância do estudo de técnica vocal e cuidado com a voz?
Silvia Nicolatto : Em certo momento senti necessidade de me aprofundar nos conhecimentos musicais, e achei que a faculdade de música me traria isso. Resolvi e fiz, com muito esforço, o bacharelado em Canto.
iAchei e acho que o cantor merece cuidado com a voz; sempre me sinto instigada aconhecer mais e mais esse ofício. Por isso, em um segundo momento, eu fiz o mestrado em música, na Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro, além de ter resgatado a linguagem do teatro, cursando, em determinada altura, o curso profissionalizante de teatro.
Fui buscar a técnica, mas nunca deixei de ouvir o caminho instintivo, o coração, dando vazão às ideias, melodias, para depois pensar e desenvolver o trabalho.
09) RM : Quais as cantoras(es) que você admira?
Silvia Nicolatto : Algumas das cantoras de referência são Clara Nunes, Ella Fitzgerald, Elizeth Cardoso, Dolores Duran, Elis Regina e Nara Leão, por suas singularidades e repertório, mas há vários outros artistas que admiro.
10) RM : Como é o seu processo de compor?
Silvia Nicolatto : Acho que tenho uma busca pela poesia e a melodia, um diálogo entre elas, uma forma feminina de contar histórias.
Em meu processo de criação, constantemente tenho ideias musicais, ideias de letras, trechos de melodias, de harmonias, o que não significa que sejam músicas ou letras prontas, mas inspirações soltas, que visito e desenvolvo em momentos diferentes. Sou capaz de fazer alterações em uma música em construção mais de 20 vezes, até achar que está boa aos meus olhos.
Procuro registrar as impressões de meu entorno com delicadeza. Para isso estou sempre pesquisando, estudando, criando, trabalhando, observando no que posso me melhorar, como posso melhor contribuir, retribuir o que percebo. Hoje acho que realmente o caminho se faz ao caminhar, e me preocupo em aprofundar sempre minha relação com o conhecimento, com o fazer artístico, com autenticidade, fazendo o meu melhor, procurando crescer, ouvir e compartilhar sempre.
11) RM : Quais são os seus principais parceiros de composição?
Silvia Nicolatto : Em 2011 foram parceiros Pete Turner, Neil Davey, Hilary Dalla e Pete Kubryk Townsend, no disco “Silvia Nicolatto Andher Anglo Cornish Friends”, no qual criamos um território de troca de linguagens e parcerias entre músicos do sul da Inglaterra, que é de influência celta, e o meu trabalho.
No disco Cantiga, lançado em 2013, conto com parceiros que me enriqueceram muito:Rodrigo Lessa, João Cavalcanti, Raphael Gemal. Nesse trabalho tive o privilégio e a alegria de ter feito, antes do Fernando Brant, falecer, uma introdução, uma abertura, para a música “Canoa Canoa”. Ele e Nelson Ângelo gostaram e aprovaram essa versão, que quando é cantada dessa maneira, aparece como parceria…
Em 2015 tive o grande prazer de ter sido classificada entre os três finalistas do Prêmio Profissionais da Música, evento realizado em Brasília. Nesse prêmio conheci Roberto Menescal, que foi jurado votante. Ele gostou do meu trabalho e acabou se tornando meu parceiro no disco novo, o meu projeto atual. Sinto-me honrada de contar com a parceria dele, e também as de Rodrigo Lessa e Rodrigo Lopes. Possivelmente haverá mais uma ou duas parcerias no disco, já que ainda estamos trabalhando nele.
12) RM : Quais os prós e contras de desenvolver uma carreira musical de forma independente?
Silvia Nicolatto : Quem desenvolve uma carreira independente, acredito, tem mais liberdade na busca de estilo, de tempo, de criação. Mas não pode parar e às vezes é muito cansativo buscar alternativas, montar projetos, enxergar para onde ir. Nem sempre dá certo…
13) RM : Quais as ações empreendedoras que você prática para desenvolver a sua carreira?
Silvia Nicolatto : O caminho da arte não é um caminho linear, ao menos para mim. Muitas vezes é complicado, é preciso persistência. Hoje acho que sempre há momentos de reciclagem, de ampliar o aprendizado e o trabalho, em algum ponto. Momentos nos quais as portas se abrem e as mais evidentes parecem fechar-se. Aí aproveitamos para mudar, programar, experimentar coisas.
Não tenho estratégias definidas quanto à carreira. Vejo onde consigo ir, faço contato, corro atrás, projetos, locais, colegas… às vezes dá certo, outras não.É muito estudo, muito empenho, e a arte, em sua amplitude,deve ser valorizada. Aqui não estamos vendo isso. A arte abre horizontes e apresenta a cultura do país. Acho que muitas pessoas desconhecem esse ofício e os governantes deveriam ser mais responsáveis em valorizar a educação e a cultura.
14) RM : O que a internet ajuda e prejudica no desenvolvimento de sua carreira?
Silvia Nicolatto : A internet é algo incrível, é um mundo, o que pode ser bom e ruim; as coisas às vezes se diluem. É tanta informação, tanta gente nova, novas produções, músicas, que não dá para acompanhar tudo. Mesmo assim, é algo bastante positivo, principalmente quando se sabe usá-la bem como instrumento de divulgação e pesquisa.
15) RM : Quais as vantagens e desvantagens do acesso a tecnologia de gravação (home estúdio)?
Silvia Nicolatto : A época das grandes gravadoras já passou, estamos em outro momento. Isso torna o fazer artístico até mais democrático, pois encontramos vários pequenos estúdios que possibilitam gravações com boa qualidade e o cuidado necessários ao bom acabamento.
16) RM : No passado a grande dificuldade era gravar um disco e desenvolver evolutivamente a carreira. Hoje grande não é mais o grande obstáculo. Mas, a concorrência de mercado se tornou o grande desafio. O que você faz efetivamente para se diferenciar dentro do seu nicho musical?
Silvia Nicolatto : Sou inquieta, adoro trocar, ensinar e aprender. Vejo cada caminho como único, e assim é o meu. Busco ser autêntica e contribuir com o que vem de dentro e ao mesmo tempo reflita o que percebo“fora” de mim. Acredito mais no envolvimento com o processo, por isso estou na arte.
Para mim, seria impossível fazer isso de forma superficial, tendo tantos desafios ao longo dessa carreira. Desenvolvo um trabalho que acredito tenha uma verdade, e uma boa qualidade em todas as suas etapas, desde a criação à finalização. Por isso procuro trabalhar com profissionais em quem confio, admiro a musicalidade e a seriedade com relação ao processo e ao envolvimento no mesmo.
17) RM : Como você analisa o cenário musical brasileiro. Em sua opinião quem foram às revelações musicais nas duas últimas décadas e quem permaneceu com obras consistentes e quem regrediu?
Silvia Nicolatto : O Cenário musical brasileiro, no que diz respeito à mídia, regrediu, pois não lida com a diversidade, não toca Rock, MPB, Samba de raiz, música de raiz. Toca músicas de fácil assimilação. Não os desmereço, apenas acho que não abre o leque.Com relação aos compositores e cantores novos, vamos muito bem.
Há compositores e cantores em intensa atividade, ótimos, mas não tão conhecidos do grande público, o que não significa que tenham começado agora. As revelações musicais nem são exatamente revelações,estão circulando. A gente nem sabe mais se dá para usar o nome revelação,como por exemplo,Tulipa Ruiz, Fabiana Cozza, Dani Black, Céu, Rubi, dentre outros nomes.
18) RM : Qual ou quais os músicos já conhecidos do público que você tem como exemplo de profissionalismo e qualidade artística?
Silvia Nicolatto : Difícil dizer, temos muita gente boa trabalhando com profissionalismo e qualidade artística. Entre esses, destaco Roberto Menescal, que é sempre um profissional exemplar; pontual, sabe seu ofício, sofisticado e simples ao mesmo tempo.
19) RM : Quais as situações mais inusitadas aconteceram na sua carreira musical?
Silvia Nicolatto : Uma vez fui tocar em um Teatro onde o som de uma rádio estava interferindo no sistema de som, alguém da plateia gritou da interferência, que não estávamos ouvindo no palco, deu para resolver, mas foi engraçado.
Também em uma apresentação em um dos espaços na Inglaterra, quando chegamos, o técnico da mesa de som tinha ido embora no dia anterior e havia uma pessoa que estava bastante nervosa, pois não conhecia muito bem o equipamento.
Também teve uma vez que fui dar uma canja em um Bar, e um compositor conhecido, que eu não sabia que iria, estava na plateia, e de surpresa me pediram que cantasse uma música dele, cantei feliz, mas fiquei pensando. E se não soubesse nenhuma?
20) RM : O que lhe deixa mais feliz e mais triste na carreira musical?
Silvia Nicolatto : O que me deixa feliz é saber a força da arte, que mesmo com tantos empecilhos segue em frente, preservando, inspirando, criando,renovando, promovendo a cultura.
O que me deixa mais triste é que mesmo com tantos talentos, tanta criatividade e trabalhos bacanas, e com a música brasileira super respeitada fora do Brasil, há pouco investimento na arte em geral. Vemos no exterior os Ministérios da Cultura apoiando os artistas em cada feira e evento, os concidadãos orgulhosos do que se produz artisticamente; hoje falta no Brasil um investimento na cultura por parte dos governantes e vejo certo descaso, a arte deveria ser mais valorizada.
21) RM : Nos apresente a cena musical da cidade que você mora? Quais os músicos, bandas da cidade que você mora, que você indica como uma boa opção?
Silvia Nicolatto : Sou mineira, morei no Rio de Janeiro por mais de 10 anos e agora moro em São Paulo, uma cidade eclética, cheia de informações e de diversidade. Então vou falar de alguns dos artistas independentes e de pequenos selos que estão nesses três lugares, muitos circulando bastante.
Há também, hoje, muitas mulheres na cena musical. Vemos que têm projetos em comum e muitas se unindo e “botando pra quebrar”. Dos nomes de pequenos selos e artistas independentes, vejo muitos valores.
Em São Paulo cito: Rita Braga, Gui Silveira, Andreia dos Santos, Thamires Tannous, Tatiana Parra,Vanessa Moreno, dentre muitos outros. Em Minas cito: Rafael Martini, Kristoff Silva, Leopoldina Azevedo, Rodrigo Jerônimo, Michele Andreazzi, Deh Mussulini, dentre muitos outros nomes que estão produzindo boa música.
No Rio de Janeiro cito: IlessiIlé Si, Mariana Baltar, Lú Alves (cantora paulista que adotou o Rio), Cláudia Amorim, Gabi Buarque, Thiago Amud, Luciana Coló, e tantos na estrada; músicos compositores, que são parceiros, João Cavalcanti, Raphael Gemal, Rodrigo Lessa e uma lista grande de talentos.
Conheci, recentemente, o compositor e cantor, do Amapá, Paulo Bastos, de quem cantarei uma música em meu disco novo, e a cantora Patrícia Bastos. Muitos nomes pelo Brasil afora, muita gente boa. E olha que nem falei do pessoal do Rock, da música instrumental, do Choro, dentre outros.
Em vários estados, do sul ao norte e nordeste tem produção musical… Há também uma lista enorme de músicos que vêm da época das grandes gravadoras, são conhecidos, reconhecidos, que inclusive referências, e estão, para nossa grande sorte, na cena musical.
E a cena musical paulista é movimentada, outro dia fui a um show lindo do Lô Borges aqui em São Paulo. Ná e Dante Ozzetti também se apresentaram há pouco tempo, assim como Milton Nascimento, Toquinho, Ivan Lins, Ney Matogrosso, Miúcha, Bibi Ferreira, Gal Costa cantou na virada cultural, Chico Buarque, quando lançou disco passou por aqui. São tantos nomes… A música brasileira está mais viva do que nunca, a grande mídia apenas não a divulga em sua extensão…
22) RM : Você acredita que sem o pagamento de jabá suas músicas tocarão nas rádios?
Silvia Nicolatto : Sim, acredito, mas não exatamente nas rádios comerciais. Acho que hoje talvez a divulgação seja em rádios comprometidas com a cultura e meios de comunicação alternativos, como a internet, que têm espaço para essa diversidade.
E talvez a MPB hoje atinja um público menor, talvez seja mais direcionada para pessoas que gostam, ouvem e “garimpam” trabalhos diversos. A internet nesse sentido ajuda muito, com a mala direta do site, facebook, sites de música, jornalistas e jornais independentes e não independentes, rádios online e rádios alternativas, é possível divulgar sem jabá.
Sei de rádios que tocam meu trabalho em São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Piauí, Santa Catarina, Paraná e outros Estados.Nunca se pode prever, mesmo com jabá, o alcance de seu trabalho. E a rádio comercial, essa que hoje cobra jabá, normalmente não trabalha com músicas que não sejam comerciais – ou são músicas conhecidas, já consagradas, ou dentro de um “formato”, digamos assim.
23) RM : O que você diz para alguém que quer trilhar uma carreira musical?
Silvia Nicolatto : Respondo que a pessoa só deve seguir essa profissão se for urgente e de importância vital para ela. Deve buscar sua verdade e ter muita, mas muita resiliência. Além de estudar, seja de que maneira escolher fazer isso, pois há muitas formas de se aprimorar. E persistir, para crescer e se reinventar em seu próprio processo e aprendizado.
24) RM : Quais os seus projetos futuros?
Silvia Nicolatto : Tenho muitos projetos para o futuro. O mais próximo deles é o lançamento do meu novo CD, em produção.
25) RM : Quais seus contatos para show e para os fãs?
Silvia Nicolatto : Agradeço a oportunidade da entrevista e a paciência do entrevistador Antonio Carlos por tê-la aguardado e ter sido tão gentil.
Mais sobre mim acessem meu site: www.silvianicolatto.com.br | [email protected]