Silvério Pessoa é cantor, compositor, doutor e professor da Universidade Católica de PE.
Nasceu em Carpina, zona da mata norte de Pernambuco. Sua formação musical foi a programação das rádios do interior, sua mãe que foi professora de acordeon e sua avó, uma frequentadora assídua dos programas de auditório de Recife – PE nas décadas de 40 e 50. A música de Silvério é uma síntese das canções da Zona da Mata, Agreste e Sertão, com a sonoridade e atitude dos jovens dos Centros Urbanos, envolvidos com o Rock, o Hip-Hop, o Punk, e os novos sons que chegam e são absorvidos pelas tradições. É um trabalho que oferece hereditariedade ao gênero tradicional, não perdendo a nave da história.
Em 2021 Silvério iniciou a gravação do seu novo disco “Sangue de Amor”, aprovado pelo Funcultura, com composições próprias e temática do universo do Amor, em suas mais diversas formas. Conta com Yuri Queiroga e Ricardo Fraga na produção musical e será lançado no primeiro semestre de 2022.
Seu recente disco, lançado em 2015, “Cabeça Feita – Silvério canta Jackson do Pandeiro” foi gravado em homenagem ao mestre, fez parte das comemorações do centenário de Jackson em 2019/2020. Um disco com 22 músicas em 15 faixas gravadas em estúdio no formato ao vivo, com todos os músicos juntos. Silvério é conhecido pela forma semelhante de interpretação do mestre, valorizando os “erres” e a forma sincopada de cantar e nesse disco ele busca trazer a mesma estética sonora de Jackson do Pandeiro.
Silvério tem ao todo oito discos gravados, um DVD e dois livros. Sua carreira profissional teve início com o grupo CASCABULHO, banda que formou em 1994, fez turnês pelo Canadá, E.U.A. e Berlim. Participou do Free Jazz, de três versões do Festival Abril pro Rock e recebeu, como compositor, o Prêmio Sharp de Música em 1999, categoria Regional. Após sua saída da banda, Silvério gravou um CD com base nas músicas de Jacinto Silva, um Alagoano radicado em Caruaru (exímio cantador de coco), lançando no Brasil em 2001 e na Europa em 2004, com o título “BATE O MANCÁ – O Povo dos Canaviais”. O projeto ganhou diversas citações e artigos em revistas especializadas de música em toda Europa, com destaque de 4 estrelas da Revista Le Monde de la Musique, de Paris, sendo selecionado como um dos melhores lançamentos do ano pela redação da Revista Vibrations da França.
Seu segundo projeto, o CD – “Batidas Urbanas – Projeto MICRÓBIO DO FREVO, é uma revisão da obra carnavalesca de Jackson do Pandeiro nas décadas de 50/60. O CD, também independente, recebeu nota máxima do jornal Folha De São Paulo, Revista VEJA e Rolling Stones da Argentina. Uma renovação na época do ritmo do frevo.
O terceiro CD lançado em novembro/2005 chama-se “CABEÇA ELÉTRICA, CORAÇÃO ACÚSTICO”. Um disco autoral, onde Silvério contou com participações especiais de Dominguinhos, Lenine, Alceu Valença, Siba, Lula Queiroga, Zé Vicente da Paraíba, Ivanildo Vila Nova, e tantos outros músicos e amigos. O CD lhe rendeu o Prêmio TIM de melhor cantor categoria Regional em 2006. Um repertório que tem referências culturais e o som que vem do interior de Pernambuco e sofre intervenções eletrônicas. Este novo trabalho de Silvério está baseado no conceito da “migração inversa”. No Show de lançamento do CD foram gravadas as imagens para a produção do primeiro DVD – “Cabeça Elétrica Coração Acústico – Ao Vivo” da carreira de Silvério, que na edição ainda incluiu imagens e vinhetas que ambientam todo o imaginário das letras das músicas, com imagens das turnês, idas e vindas do próprio Silvério. Sendo lançado em março de 2007.
Os discos “NO GRAU” e “COLLECTIU” foram lançados juntos em 2011, sendo o primeiro formado por canções inéditas, composições próprias e parceiros, tendo as participações especial de Maciel Melo, Fernando Aniteli (O Teatro Mágico), Crônica (SP), Flávio Guimarães (RJ), Sérgio Campelo (Sa Grama), Júnior Areia (Mundo Livre S/A), entre tantos. Um disco onde Silvério amplia o universo tradicional e traz uma atmosfera mais contemporânea às suas canções, explorando mais as levadas Pop, Rock e MPB.
“COLLECTIU” é um projeto de gravações com bandas Occitans do sul da França, resultado de pesquisas e dos encontros e amizades feitas em suas turnês. Essa conexão, ressaltou a diminuição das distâncias através dos caminhos virtuais, no disco, 12 faixas compostas ou arranjadas em parceria, e gravadas em idiomas diferentes, como português, francês e os diversos dialetos Occitans.
Em 2012, Silvério Pessoa lançou na Europa o disco “ForrOccitania”, um trabalho realizado em parceria com a banda francesa La Talvera sobre os diálogos da cultura nordestina, mais precisamente de Pernambuco, com a cultura Occitan. No mesmo ano realizou turnê desse trabalho por cidades do sul da França e também da Bélgica, voltando em 2013 para Festivais ligados à Cultura da Occitania. Ainda em 2012 foi indicado ao Prêmio de Música Brasileira como melhor cantor regional, do qual foi vencedor em 2006 na mesma categoria, tendo sempre reconhecimento pela particularidade e qualidade de sua música, conquistando assim diversos mundos culturais.
O disco “CICLOS” é um projeto de canções espiritualistas, de cunho educacional, com o qual Silvério desenvolveu uma circulação de palestras e encontros sob a égide de “canções planetárias”.
Em junho de 2003, Silvério deu início a uma série de turnês com o trabalho solo. Desde então, Silvério mantém uma agenda todos os anos, com temporadas no Exterior, tendo como base a França. Nesses anos Silvério já participou de importantes Festivais, como: o Sfinks Festival e Esperanzah (Bélgica), Roskilde (Dinamarca), Paleo (Suiça), Festival de Sines (Portugal), dentre tantos, expandindo também para outros continentes, como a participação com palestra e show em um dos maiores eventos musicais o Rainforest Festival, localizado na Ásia, Malásia, na Ilha de Borneo. Em 2007 chegando ao Japão pela primeira vez, para 2 apresentações no Centro de Tóquio, Espaço Cultural do Roppongi Hills, firmando seu trabalho em mais um pais com distribuição local do CD e DVD, tendo destaque de capa da Revista Latina do Japão. Ao longo dessas turnês, Silvério fez participações e teve encontros culturais, com bandas francesas tais como: Massilia Sound System, Nux Vomica, Fabulous Trobadors, Bombes 2 Bal, La Talvera, grupos que possuem uma proposta de trabalho envolvendo a modernidade e as tradições locais (Occinatista).
No Brasil, Silvério Pessoa foi selecionado em 2005 para o Projeto Pixinguinha, participando da Caravana do Sul e Sudeste, no mês de abril, por qual visitou 8 cidades brasileiras, sendo aplaudido pelo trabalho, versão acústica, acompanhado apenas por um músico com viola de 10 (Renato Bandeira) e outro com acordeon e escaleta (André Julião). Em 2011, o Itaú Cultural selecionou o Silvério para fazer parte de um projeto chamado “Coletivo”, que consistia em unir músicos e artistas de diversas regiões do Brasil, formando grupos escolhidos pelo próprio Itaú, para criarem e apresentarem um show. A apresentação ocorreu em 2012, com gravação de imagens para um DVD e material exibido pela internet.
Participou no ano de 2013 do “Circuito TRANS-FORME”, projeto aprovado pelo Funcultura de Pernambuco, de circulação e formação de público, com shows e palestras, onde Silvério e a banda Mamelungos apresentavam seus trabalhos. O Circuito passou pelas cidades de Natal (RN), João Pessoa (PB), Caruaru (PE), Maceió (AL), em Universidades e espaços culturais. Os shows aconteceram em um caminhão palco todo adesivado com a arte do projeto, e toda a turnê foi compartilhada pelo site e redes sociais.
Integrante do Projeto “PERNAMBUCO CONVIDA” que aconteceu em Brasília, pela Caixa Cultural, novembro de 2014, Silvério realizou um show autoral, ao lado dos pernambucanos Lula Queiroga e Tibério Azul, tendo uma única banda, onde se dividiam e compartilhavam suas semelhanças e diferenças, como vertentes da música pernambucana. O projeto ainda teve como convidados locais o GOG e o Alberto Salgado. Ainda com esse projeto, se apresentou no Carnaval de 2015, no Marco Zero palco principal do Carnaval de Recife, na mesma noite que Nação Zumbi, Otto, O Rappa.
CENTENÁRIO DE JACKSON DO PANDEIRO, além do projeto do disco e show Cabeça feita, Silvério realizou o projeto FREVIBE apresentando no palco do Marco Zero, trazendo novos artistas da cena contemporânea de Pernambuco para cantar frevos importantes e de repertório do disco Micróbio do Frevo, com os shows do período junino passando por Caruaru, Arcoverde, Recife, dentre outros. No janeiro de Grandes Espetáculos de 2019, lançou um show inédito sobre Jackson, o SARAU DE JACKSON DO PANDEIRO, com uma formação inusitada ao lado dos músicos Renato Bandeira (cordas) e Alexandre Rodrigues (sopros). Um projeto para circular em comemoração aos 100 Anos de Jackson do Pandeiro.
Silvério atua também no mundo acadêmico, atualmente como doutor em Ciências da Religião e professor da Universidade Católica, como professor de pós-graduação, realizando palestras, aulas show. Seu mestrado rendeu um livro publicado em 2016 sobre a religiosidade popular do Nordeste e Sul da França.
Segue abaixo entrevista exclusiva com Silvério Pessoa para a www.ritmomelodia.mus.br, entrevistado por Antonio Carlos da Fonseca Barbos em 31.01.2022:
01) Ritmo Melodia: Qual a sua data de nascimento e a sua cidade natal?
Silvério Pessoa: Nasci no dia em 06 de janeiro de 1962 em Carpina, Pernambuco, que fica a 60 km da capital (Recife).
02) RM: Fale do seu primeiro contato com a música.
Silvério Pessoa: Minha mãe era professora de acordeom, minha avó foi cantora de Rádio em Recife – PE, e em Carpina o som do sítio onde moramos, em um lugarejo chamado Açudinho. O contato com a cidade era a Rádio Planalto de Carpina, e tocava no rádio que ficava na sala todos os ícones que ficaram em minha memória: Luiz Gonzaga, Jackson do Pandeiro, Dominguinhos, os cantadores de viola e toda uma religiosidade popular através das novenas etc. Esse foi meu mundo sonoro musical, pois os sons dos bichos no canavial, das noites sem luz elétrica, na mata, havia um som que ficou também em minha memória até os dias atuais.
03) RM: Qual sua formação musical e/ou acadêmica fora da área musical?
Silvério Pessoa: Aprendi a tocar violão na esquina de casa quando vim morar no Recife – PE, na maior descontração. Minha mãe também me deu aulas de notação musical e fiz um curso com um grande professor, Edson Melo. Sou Pedagogo (UFPE), Psicopedagogo (FAFIRE) e Mestrado e Doutorado em Ciências da Religião (UNICAP).
04) RM: Quais as suas influências musicais no passado e no presente. Quais deixaram de ter importância?
Silvério Pessoa: Como comentei acima, a programação da rádio foi minha maior inspiração, principalmente a cultura popular, de Jackson do Pandeiro a Luiz Gonzaga, de Capiba a Lenine, de Zé Neguinho do coco à Lia de Itamaracá. Também em Recife muitas influências da FM, Beatles, Led Zeppelin, Yes, Jimy Hendrix, Rita Lee, Neil Young, Bob Dylan, Alceu Valença. Nenhum deles deixaram de ter importância em minha carreira artística.
05) RM: Quando, como e onde você começou sua carreira musical?
Silvério Pessoa: Comecei em festivais de música estudantis no Recife – PE, depois em editais de ocupação de salas também na movimentação em Recife, mas em especial foi o movimento Manguebeat com Chico Science que me motivou a criar a Cascabulho em 1994, uma banda que recriasse a música de Jackson do Pandeiro, e daí minha carreira continua até agora com muitas turnês pela Europa, CDS lançados lá e aqui, DVD, enfim, o grande desafio de um artista independente é a continuidade.
06) RM: Quantos CDs lançados?
Silvério Pessoa: CDs: “Fome dá dor de cabeça” (1998). “Bate o Mancá – o povo dos canaviais” (2000). “Batidas urbanas – projeto micróbio do frevo” (2005). “Cabeça elétrica, coração acústico” (2005). “Ciclos” (2009). “No Grau” (2011). “Collectiu” (2011). “ForrOccitania” – Silvério Pessoa & La Talvera (2012). “Cabeça feita – Silvério Pessoa canta Jackson do Pandeiro” (2015).
DVD: “Cabeça elétrica, coração acústico – ao vivo” (2007). Na Europa foram lançados: “Bate o Mancá (o povo dos canaviais). “Cabeça elétrica, coração acústico”. “Collectiu”. “ForrOcitania” (inédito no brasil).
07) RM: Como você define seu estilo musical?
Silvério Pessoa: Tenho a maior dificuldade de classificar em uma gaveta meu trabalho. O mercado solicita essa classificação, onde colocar meu trabalho? Em qual prateleira? Isso é difícil para mim. Minha base é a cultura popular a partir do Forró, mas transito pelo Frevo, pelo Rock e adoro a música com aparatos eletrônicos. Diria que produzo Música Brasileira a partir de Pernambuco.
08) RM: Você estudou técnica vocal?
Silvério Pessoa: Sim, fiz dois cursos de técnica vocal aqui em Recife – PE e até hoje faço meus exercícios de fonoaudiologia.
09) RM: Qual a importância do estudo de técnica vocal e cuidado com a voz?
Silvério Pessoa: Praticamente é meu instrumento principal, a voz, e para que esteja bem no momento que preciso, como todo instrumento precisa de cuidados. Evitar excessos em tempos de show, de palestras, realizar os exercícios de fonoaudiologia, ir periodicamente ao otorrinolaringologista, ensaiar antes de show, aquecer a voz etc.
10) RM: Quais as cantoras (es) que você admira?
Silvério Pessoa: Núbia Lafayette, Ângela Maria, Billie Holiday, Céu, Rita Lee, Marinês, Maria Betânia, Nina Simone, Elba Ramalho, Janis Joplin, Cássia Eller, Pitty, Dolores Duran, Joyce, Nara Leão, Elza Soares. Lenine, Alceu Valença, Zé Renato, Bob Marley, Bob Dylan, Robert Plant, Ian Anderson, Steve Wonder, Curt Cobain, Jim Morrison, David Bowie, Dominguinhos, Gilberto Gil, Caetano Veloso.
11) RM: Como é seu processo de compor?
Silvério Pessoa: Inusitado. Funciono muito com prazos ou projetos para realizar. Minha inspiração vem no momento que preciso compor para um projeto, um CD, uma palestra, um evento. Não tenho fórmula. Muitas vezes estou diante de uma poesia, pego o violão e pronto, sai na hora. Em outros momentos vou criando aos poucos e recriando, reescrevendo até estar satisfeito. Um livro, um filme, um episódio de vida me oferecem a chance para criar uma canção.
12) RM: Quais são seus principais parceiros de composição?
Silvério Pessoa: Marco Polo, um poeta vocalista da banda Ave Sangria. Já temos três composições gravadas. Componho muito sozinho, mas, no atual projeto Sangue de Amor realizei várias parcerias como Clarice Freire, Bruna Caran, Felipe Catto, Tibério Azul, Bruno Souto.
13) RM: Quais os prós e contras de desenvolver uma carreira musical de forma independente?
Silvério Pessoa: Não ter uma empresa, uma corporação, uma máquina de divulgação em seu favor, te dar liberdade de criar o que você acredita e seguir seu caminho. Por outro lado, atualmente a internet possibilitou vários caminhos para quem não vivenciou essa relação com gravadoras, que nem existem mais, a forma de parceria é mais a TV e a internet paga. Muito duvidoso tudo isso. O número de likes não prova a qualidade e a proposta dos artistas que estão na mídia. Sigo meu caminho a partir de Pernambuco com muito prazer, amor e respeito aos que acompanham meu trabalho. Percebo muitos artistas classificados como “nacionais”, órfãos de gravadoras e de jabá em rádios, sem produzir mais pois não existem as empresas de divulgação com as gravadoras.
14) RM: Quais as estratégias de planejamento da sua carreira dentro e fora do palco?
Silvério Pessoa: Trabalho em parceria com uma produtora, a Karina Hoover que estamos juntos faz 21 anos. Pensamos juntos os projetos novos, criamos estratégias de divulgação, e acredito muito na parceria com minha equipe. Os músicos sempre opinam, e dessa convivência tem surgido muitos projetos produtivos. Ocupamos as redes discretamente, os espaços possíveis aqui e no Brasil para apresentar meus shows e minha proposta de trabalho e assim seguimos com ações que fortalecem minha imagem e produção. Mantemos a verdade do que pensamos oferecer ao público, isso para nós é o mais importante.
15) RM: Quais as ações empreendedoras que você pratica para desenvolver a sua carreira musical?
Silvério Pessoa: Manter o escritório é fundamental, a CASA DE FARINHA Produções. Ter profissionais qualificados ao nosso lado. Manter uma rede produtiva quando temos produtos a oferecer, não ficar criando secundariamente. Ocupar espaços que tenham relação com meu trabalho e continuar investindo em qualidade nos shows, na equipe e nos projetos.
16) RM: O que a internet ajuda e prejudica no desenvolvimento de sua carreira musical?
Silvério Pessoa: A internet não prejudica. Mas minha geração precisou se adaptar ou se adequar aos vários ciclos do mercado fonográfico. Vivenciei o LP, as músicas gravadas serem divulgadas nas rádios, a fita K7, depois o CD, as trilhas de novelas, e agora o streaming, a não necessidade de a obra ser materializada em algo como LP, CD etc. Isso sim é uma grande modificação e tivemos que nos adequar produzindo e ocupando os espaços nas redes que une não apenas a música, mas o visual, o Clipe, a imagem associada ao som. Muita gente ficou pelo caminho, procurou outras ocupações, mas muitos de minha geração estão aí continuando os trabalhos.
17) RM: Quais as vantagens e desvantagens do acesso à tecnologia de gravação (home estúdio)?
Silvério Pessoa: Maravilhoso momento de criatividade e inovação. Antes para gravar, registrar uma ideia precisávamos ir para um estúdio com hora marcada, limitado, pressão de horário. Atualmente esse processo pode ser feito em casa, nos home estúdios, com liberdade de criação, o que democratizou muito a produção musical independente de classe social. Muitos artistas nos subúrbios, nas periferias, estão realizando belos trabalhos. O Hip Hop, a cultura de rua, se posicionou muito produzindo seus trabalhos e divulgando em seus encontros até serem descobertos pela TV, pelo rádio, pelo mercado. De fato, isso foi uma revolução estética e ética, oportunizando vários espaços para todos que pensam ou desejam criar e produzir, e não apenas em música, mas, em teatro, culinária, moda, cinema etc.
18) RM: No passado a grande dificuldade era gravar um disco e desenvolver evolutivamente a carreira. Hoje gravar um disco não é mais o grande obstáculo. Mas, a concorrência de mercado se tornou o grande desafio. O que você faz efetivamente para se diferenciar dentro do seu nicho musical?
Silvério Pessoa: Eu adoto o princípio de fazer o que eu sou. Manter a coerência de meu trabalho, ser o que de fato eu sou como artista e pessoa. Acredito que essa originalidade possibilidade continuidade de meu trabalho. Sou nordestino, sou de Pernambuco, faço e crio a partir da cultura popular, da regionalidade que agrupa muitos ritmos como o forró, o coco, o frevo, a ciranda, e não me fecho para o diálogo com o rock, com a eletrônica, com as inovações. Acho que isso fortalece meu caminho.
19) RM: Como você analisa o cenário da Música Popular Brasileira. Em sua opinião quais foram as revelações musicais nas últimas décadas? Quais permaneceram com obras consistentes e quais regrediram?
Silvério Pessoa: Acredito que houve sem dúvidas, um desmonte do esquema: Artista, Gravadora, Rádio, TV. Atualmente os artistas que continuaram produzindo, se adaptaram ao gerenciamento de suas próprias carreiras e estão seguindo, mesmo sem uma produção assídua como nos tempos das gravadoras. Tem uma geração que envelheceu mas continua produzindo, mesmo com limitações. Acredito que falta impetuosidade de produtores para investirem em, digamos, novos valores, e isso fossiliza a MPB já desgastada. As festas, os shows, produzidos pelos grandes produtores são os mesmos, e os artistas consagrados realizam seus espetáculos com um repertório de 40 anos atrás. Sei que é frase feita, mas falta “renovação”. Revelação sem consagração não sai do lugar, fica transitando pela internet e pelos espaços oferecidos. Penso que mesmo com momentos do mercado renovados com novas formas de publicidade e divulgação, deveriam oportunizar novos ciclos para novos artistas. Não gostaria de citar nomes nem de antes nem atualmente no sentido de esclarecer quem ficou ou quem surgiu. Ainda estamos muito difusos em entender esse novo ciclo da música no Brasil e principalmente após a extinção do Ministério da Cultura e nesse período de sacrifício da cultura no Brasil com a pandemia do Covid-19.
20) RM: Quais as situações mais inusitadas aconteceram na sua carreira musical (falta de condição técnica para show, brigas, gafes, show em ambiente ou público tosco, cantar e não receber, ser cantado, etc)?
Silvério Pessoa: Minha carreira que envolve mais de 12 anos fora do Brasil, em trânsito pela Europa, Ásia, com vários e vários shows em festivais e cidades, tem a característica de qualquer carreira artística. Enfrentamos problemas com passagem de som, com horários, com estrutura precária, mas uma coisa que sempre percebi em minha trajetória foi a química com o público. Nós sempre superamos dificuldades e conquistamos com nosso show qualquer público, seja no Brasil e no exterior. Veja só. Quem não tem uma estrutura de divulgação ampla, todo show é o primeiro show. Sempre estão descobrindo meu trabalho, é sempre uma novidade, mesmo com nosso trabalho nas redes etc. Isso é muito prazeroso, é uma adrenalina constante. No quesito pagamento, cachê, etc., eu tenho um escritório que resolve tudo e não me envolvo diretamente nesse campo. Nada de brigas, nada de conflitos em equipe e respeito muito o público.
21) RM: O que lhe deixa mais feliz e mais triste na carreira musical?
Silvério Pessoa: Mais feliz é em continuar minha proposta de trabalho. Vejo como maior desafio a continuidade de um trabalho aqui no Brasil. Feliz pela resposta do público, pelo conjunto de minha obra, por estar sempre disposto a inovar e me adequar aos ciclos da música. Triste é o cenário da cultura no Brasil. São tempos de desvalorização da produção artística por parte do governo federal. Desmonte de áreas no cinema, na moda, no teatro, na música, na cultura popular. A cultura é o esteio de qualquer povo, associada à educação, é o que fortalece um povo e um país. Esse atual momento me entristece, mas me motiva e me instiga a continuar trabalhando.
22) RM: Existe o Dom musical? Como você define o Dom musical?
Silvério Pessoa: Não acredito em DOM. Acredito que uma criança pode ser estimulada à música, à criatividade, e isso depende da família, dos pais, do convívio social e principalmente pelo reforço da educação, da escola e do currículo escolar. Qualquer ser humano tem predisposição para as artes. Vejamos a teoria das inteligências múltiplas que desmistifica o gênio, aquele que nasceu com o DOM. Hermeto Pascoal, Mozart, muitos “gênios” ensaiavam horas e horas por dia. Hermeto até hoje ensaia. Acredito na motivação e no estímulo social para as artes.
23) RM: Qual é o seu conceito de Improvisação Musical?
Silvério Pessoa: Entendo a improvisação como algo espiritual. Um momento de diálogo entre a estrutura harmônica e a liberdade de criação no interior dessa estrutura que pode ser até adversa em timbres e melodias, depende do artista. Podemos constatar essa espiritualidade, que não tem relação com religiosidade, diretamente, em clássicos como Miles Davis, Frank Zappa, Ravi Shankar, Naná Vasconcelos, Egberto Gismonti etc. Um momento de rara beleza no interior da música.
24) RM: Existe improvisação musical de fato, ou é algo estudado antes e aplicado depois?
Silvério Pessoa: Para improvisar você tem que ter conteúdo. Seja em uma aula na escola, seja em um estilo como o Blues e o Jazz, ou mesmo no Rock, seja em um debate sobre algum tema. Para improvisar como Paco de Lucia ou John McLaughlin, Milies Davis, eles estudaram muito, exercitaram muitas escalas, passaram horas e horas com o instrumento.
25) RM: Quais os prós e contras dos métodos sobre Improvisação musical?
Silvério Pessoa: Veja bem. Eu não sou um acadêmico da música. Não fiz bacharelado, licenciatura. Meus estudos foram com minha mãe que era acordeonista. Também não sou um virtuoso do violão. Crio e toco minhas canções no palco. Por esse motivo não posso responder tecnicamente sua pergunta.
26) RM: Quais os prós e contras dos métodos sobre o Estudo de Harmonia musical?
Silvério Pessoa: Acredito que estudar sempre é bom e amplia os horizontes criativos dos músicos. Os atores que aprimoram sua técnica interpretativa, se destacam na peça teatral, assim como um baixista, um pianista, um guitarrista. Imagina o universo musical de Jimi Hendrix, do que ele foi capaz? Então estudar um método de harmonia, inclusive com um orientador, um professor, é sempre rico em possibilidades para sofisticar a execução do seu instrumento.
27) RM: Você acredita que sem o pagamento do jabá as suas músicas tocarão nas rádios?
Silvério Pessoa: Não dependemos mais de rádio para manter uma carreira artística. Assim como o teatro, a dança, não depende da TV para manter seus projetos. O sucesso hoje tem outro significado: fazer o que se gosta, realizar um trabalho honesto e oferecer ao público, que pode ser 1.000 ou 100, em espaços enormes ou em pequenos espaços. Hoje vivenciamos uma autonomia e liberdade desses laços antigos que cada vez mais vão se diluindo.
28) RM: O que você diz para alguém que quer trilhar uma carreira musical?
Silvério Pessoa: Acredite em você. Faça o que você é como cultura, como o som do seu lugar, e realize. Não se frustre com resultados negativos e foque no seu sonho e desejo. Ocupe espaços, registre seu trabalho, procure depois se profissionalizar, procure pessoas que podem te ajudar e que fortalecem seu trabalho.
29) RM: Festival de Música revela novos talentos?
Silvério Pessoa: E existe festival de música ainda? Acredito que foi uma fase. Observe os programas de TV que “revelam” talentos. O talento é revelado, ganha o desafio da concorrência do programa que apresenta vários talentos e depois esse talento some. Não consegue dar continuidade ao trabalho. Muito duvidoso tudo isso.
30) RM: Como você analisa a cobertura feita pela grande mídia da cena musical brasileira?
Silvério Pessoa: Que cobertura? Que grande mídia? Vejo ilhas de divulgação e exibição, cada vez mais raras. O circuito SESC, que já está sacrificado pela política cultural do governo é um circuito especial para divulgação da música brasileira, incluindo os novos artistas. No mais, o que mais? TV? Rádio? Pode ser a internet sim com os grandes investimentos de likes, mas isso não consolida a música de um país. Precisamos de uma política para as artes no Brasil.
31) RM: Qual a sua opinião sobre o espaço aberto pelo SESC, SESI e Itaú Cultural para cena musical?
Silvério Pessoa: São espaços que inclusive já participei e vejo autenticidade nas propostas dessas instituições. São ações de abertura de espaços que independem da política do governo e conseguem criar e oferecer um panorama do que está sendo produzido na música e em outras linguagens artísticas como o teatro, a dança a literatura. Devem ser fortalecidas, o público deve participar e divulgar.
32) RM: Apresente sua pesquisa de doutorado.
Silvério Pessoa: Minha pesquisa de doutorado é um estudo sobre o mercado da música religiosa que insere a lógica da indústria cultural e da lógica do mercado midiático. Para minha tese ser comprovada, eu pesquisei através de 14 shows pelo Brasil, a produção religiosa artística do Padre Fábio de Melo. Registrei em fotos e vídeos em um caderno de campo. Minha tese apresenta um roteiro oportuno que começa com a história da rádio no Brasil, depois a chegada do Fonógrafo, o surgimento dos Padres cantores, dos televangelistas, e como a religião, com recorte no catolicismo, aderiu aos novos ciclos midiáticos, virtual e artístico.
33) RM: Quais os seus projetos futuros?
Silvério Pessoa: De imediato estamos preparando o lançamento do meu novo CD, “SANGUE DE AMOR”. Vamos prensar e lançar de forma tradicional com tarde de autógrafos e encarte com letras etc. É um projeto digamos, diferente, com parcerias e músicas que se aproximam do pop e do rock que me influenciou bastante. Vamos procurar espaços coadunados com o CD e a sonoridade. Tenho vários projetos no campo das aulas show, nas quais eu faço palestra e canto para professores em formação docente. Durante o ano estou sempre recebendo convites. Tenho outros projetos que pretendo tirar da gaveta, mas em breve vocês vão sabendo.
34) RM: Quais seus contatos para show e para os fãs?
Silvério Pessoa: www.silveriopessoa.com.br
(81) 3269 – 1654 | 99967 – 7815 (Karina Hoover)
| www.facebook.com/SilverioPessoaOficial
| https://www.instagram.com/silveriopessoaoficial
| Canal: https://www.youtube.com/c/SilvérioPessoaOficial
https://www.youtube.com/watch?v=jUUL0lzSzRU