More Ras Menor »"/>More Ras Menor »" /> Ras Menor - Revista Ritmo Melodia
Uma Revista criada em 2001 pelo jornalista, músico e poeta paraibano Antonio Carlos da Fonseca Barbosa.

Ras Menor

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O cantor, compositor paulistano Ras Menor faleceu na manhã do dia três de janeiro de 2020 por uma evolução progressiva da cirrose hepática.

Em 10 de novembro de 2019, ele foi hospitalizado com complicações de um quadro de cirrose hepática e teve alta em dezembro. Fiquei aguardando, ele entrar em contato comigo para nos conhecermos pessoalmente. João Carlos Ribeiro criador da rádio web “Música Tá na pista” em 2017 me passou o contato do Ras Menor. Com frequência falávamos pelo whatsapp, mas não conseguíamos nos encontrar devido ele trabalhar vendendo seus artesanatos pela cidade.

No Natal de 2017, recebi uma mensagem de áudio sua pelo WhatsApp relatando que iria levar conforto espiritual e agasalho para pessoas em situação de rua no perímetro conhecido como a Cracolândia em São Paulo. Horas depois, ele enviou outra mensagem de áudio dizendo que foi assaltado no local. Ele ficou muito frustrado e decepcionado com a situação de ser vítima de pessoas em situação de rua.

No dia 10 de novembro de 2019 estávamos, eu, pela Reggaebelde, na agenda do evento “Kebrada em ação destruindo os preconceitos” em Poá – SP organizado por Cris Roots, Thiago Lopes Moreira e os DJs Leroy e Denise Ribeiro do Freqüência Reggae, mas ele foi hospitalizado nesse dia e não participou do evento. Nesses três anos de contato não desisti de entrevistá-lo.

Ele sempre agradecia a minha “paciência” de esperá-lo responder as perguntas que enviei para o seu email. Ele deixou o filho Caique de 10 anos de idade. Que descanse em paz Ras Menor… Vai deixar muitas saudades aos familiares, amigos, fãs e colegas de profissão.

O reggae perde mais um guerreiro que combatia a opressão e as injustiças sociais. Os amigos fizeram uma campanha para proporcioná-lo um sepultamento digno. Ras Menor será sepultado no dia 04/01/2020 no Cemitério Dom Bosco
R. Ernesto Diogo de Faria, 860 – no bairro Perus – São Paulo.

Segue abaixo entrevista com Ras Menor para a www.ritmomelodia.mus.br, entrevistado por Antonio Carlos da Fonseca Barbosa em 03/01/2020:

01) Ritmo Melodia: Qual sua data de nascimento e sua cidade natal?

Ras Menor: Nasci no dia 31 de março em 1978 em São Paulo. Registrado como Márcio José Dias da Silva. A entrevista foi publicada no dia do seu falecimento (03/01/2020).

02) RM: Conte como foi o seu primeiro contato com a música?

Ras Menor: Meu primeiro contato com a música foi em 1994 na escola, aos 13 anos de idade, quando eu tive a possibilidade de fazer uma versão da música do Gabriel Pensador com a Orquestra do Colégio. No passado fui roqueiro Metaleiro e gostava muito de thrash metal, Heavy metal, Punk Rock. Eu tinha vários discos vinis desses ritmos nos anos 90.

03) RM: Qual sua formação musical e acadêmica fora música?

Ras Menor: Minha profissão acadêmica musical é ser curioso. Em meados de 2003 em Trindade no Rio de Janeiro tive um convívio com músicos de bandas que tocavam no final de ano e em temporadas, pude ter um treinamento musical que me proporcionou uma ampla visão musical. O meu trabalho musical atual é fruto de minha curiosidade. Nessa época, eu trabalhava como cozinheiro e tive essa possibilidade de convivendo com músicos profissionais.

04) RM: Quais suas influências musicais no passado e no presente? Quais deixaram de ter importância?

Ras Menor: Vivemos e não podemos deixar o passado de lado. O passado faz parte do futuro ao cultivar ele no presente. Eu tive bastante influência do rock e depois RAP que fez a minha vida mudar. Entre ações sociais e intervenções artísticas, eu tive bastante oportunidade no cenário RAP para desenvolver metas e projetos.

05) RM: Quando, como e onde você começou sua carreira musical?

Ras Menor: Em 2007, comecei minha carreira musical quando tive a possibilidade de fazer alguns projetos com banda RAPROOTS (Fábio Dent & Ras Menor) misturando RAP com Reggae e abrimos shows e fizemos participações em eventos de grande porte. E a partir daí começamos a ter uma dinâmica maior, mais profissional sobre o projeto e sobre o que buscar. A oportunidade surgiu e começamos tudo.

06) RM: Quantos álbuns lançados?

Ras Menor: Pelo Projeto RAP Hits nós lançamos um EP com oito músicas e algumas participações de Marcial Castro e fizemos algumas participações no trabalho da banda Sensimilla Dub e a partir daí a gente começou a fazer os trabalhos em 2014. Em 2015, o projeto RAPROOTS (Fábio Dent & Ras Menor) acabou e eu continuei como Ras Menor.

Hoje faço parcerias com produtores e Selectas. Algumas músicas já estão prontas e outras estão sendo finalizadas. Em breve lanço meu álbum e um EP uma parceria que estou fazendo com Reccs vibbez.

Minhas músicas tocam no programa Bandeirão Regueiro da web rádio “Música Tá na Pista” do João Carlos Ribeiro e apresentado por Cris Roots. As músicas que caíram no gosto do pessoal são: “Para os fortes não recuarem” que fiz para meu filho (Caíque) com parceria com Fábio Dent e “Plante o amor” em parceria com Rasta Connection, banda formada por um pessoal do Ceará.

07) RM: Como você define seu estilo musical dentro da cena reggae?

Ras Menor: Eu faço um trabalho com bandas e acústico. Eu sou bastante versátil para se apresentar e sempre bom poder fazer uma comunhão. As minhas referências e influências são da música brasileira. Gosto muito de MPB, RAP, Reggae jamaicano. Minha música tem muita influência do que escuto do RAP, da MPB, do reggae, do Blues, do Jazz.

08) RM: Como você se define como cantor/intérprete?

Ras Menor: Eu sou cantor e compositor.

09) RM: Quem são seus parceiros musicais?

Ras Menor: Sou reservado em relação às composições. O momento que eu me dedico para criar músicas é na Madrugada. Tenho poucos parceiros musicais. Mais constante foi Fábio Dent.

10) RM: Quais os prós e contras de desenvolver uma carreira musical de forma independente?

Ras Menor: O trabalho independente é precário financeiramente, mas vamos pelos coletivos desenvolvendo formas e ações como um combustível para edificar o trabalho desenvolvendo parceiras e projetos para me manter na cena Reggae (risos) e poder ter uma renda sustentável para sobrevivência pessoal.

11) RM: Quais os cantores e cantoras que você admira?

Ras Menor: Racionais MC’s, Edi Rock, Emicida, Monkey Jhayam, Emissário, Filhos de Jah, Marina Peralta, Vanessa da Mata.

12) RM: Quais as ações empreendedoras que você pratica para desenvolver sua carreira?

Ras Menor: São ações sociais periféricas ressocializando através da música e das oficinas culturais que fazendo parte ou sendo convidado para palestrar ou para se apresentar como artista. Faço ações sociais e culturais na periferia.

13) RM: O que a internet ajuda e prejudica no desenvolvimento da sua carreira?

Ras Menor: A internet prejudica e ajuda. É uma ferramenta que tem que saber usar. Sabendo usar a internet é frutífera e uma forma de divulgar o trabalho, mas tem algumas pessoas que procuram nas redes sociais somente tragédias, conflitos, fofocas e não a verdadeira mensagem que a música possa passar.

14) RM: Quais as vantagens e desvantagens do fácil acesso à tecnologia de gravação (Home Studio)?

Ras Menor: As vantagens do home estúdio é a facilitação das gravações, mas a facilitação de estar fazendo os trabalhos em casa não significa que todos sejam bons trabalhos. Precisa ter profissional eficiente no uso do equipamento do home estúdio e é ótimo fazer em qualquer lugar as criações musicais. É bem legal ter uma facilitação maior para o desenvolvimento da cultura musical.

15) RM: Quais as situações mais inusitadas aconteceram na sua carreira musical?

Ras Menor: Situações inusitadas foram várias. Eu tive o privilégio de fazer um trabalho junto com a banda Sensimilla DUB no Encontro das Tribos e alguns outros shows em que milhares de cenas inusitadas aconteceram. Teve uma vez que aconteceu que participamos de um evento em São José dos Campos – SP junto com outras bandas e uma pessoa que estava conosco ficou muito louca e fez xixi atrás do palco na hora do show.

16) RM: O que te deixa mais feliz e mais triste na carreira musical?

Ras Menor: Deixa-me triste é o descaso e a falta de sensibilidade do público em entender o trabalho do artista independente. Hoje, a música que não tem muita qualidade musical e na mensagem tem visibilidade na grande mídia e muitos ouvintes. A boa formação cultural perde e as músicas com boas mensagens ficam de lado.

17) RM: Nos apresente a cena musical na cidade que você mora?

Ras Menor: Sou de São Paulo e moro em Diadema no grande ABCD. A cena musical no ABCD está parada por enquanto. No passado muitos projetos existiam, mas os músicos não eram remunerados. Hoje, procuramos trabalho em Sampa, nos bairros da zona leste, zona sul, zona norte e em cidades do interior. Vamos caminhando e propagando a música, seja no formato Sound System com parceria com DJ ou com banda.

18) RM: Você acredita que sem o pagamento do jabá as suas músicas tocarão nas rádios?

Ras Menor: Não.

19) RM: O que você diz para alguém que quer trilhar uma carreira musical?

Ras Menor: Quer trilhar uma carreira musical e seguir um sonho, é olhar no horizonte e enfrentar as dificuldades e as coisas boas. Guarde na mente tudo que oferece a carreira musical.

20) RM: Como você analisa a relação que se faz do reggae com o uso da maconha?

Ras Menor: A naturalidade da forma que se consagra ganja (maconha) no reggae é uma forma de meditação. Hoje não tem se propagado uma educação espiritual e de meditação em eventos, por não ter como controlar todos sobre seus vícios e suas vontades. Então, cadê o Eu e Eu em comunhão do que se acha justo. Cada um faz da forma que acha certo. Mas a erva cannabis sativa se une a música para que possa ser consagrada como meditação e a música, uma meditação que possa ser consagrada com Ganja.

21) RM: Como você analisa a relação que se faz do reggae com a religião Rastafári?

Ras Menor: A forma de estar consagrando e vivenciando a cultura Rastafári com a música reggae é o exemplo de como se age na Jamaica. A consagração na meditação através da música como foi feita na época de Salomão; consagrando seu filho através do toque de tambores e música no ritmo do coração. O Rastafári consagra a meditação, a palavra de Jah sobre a mensagem apagada em suas letras das músicas REGGAE.

22) RM: Você usa os cabelos dreadlock. Você é adepto a religião Rastafári?

Ras Menor: A estética do cabelo dreadlock é opcional. Muitos não propagam a leitura sobre a cultura Rastafári. Os dreadlock vêm da cabeça de Sansão da forma consagramos a meditação, como resistência e igual a uma árvore da vida em que os galhos crescem, suas raízes são conhecimentos e é a sua vida.

Hoje muitos usam dreadlock pela estética, mas tiveram conhecimento através da música reggae do Bob Marley. Muitos consagram a maconha e o cabelo dreadlock, mas sem cultivo da cultura Rastafári nem medita sobre o que o rasta propaga Ser.

23) RM: Os adeptos a religião Rastafári afirmam que só eles fazem o reggae verdadeiro. Como você analisa essa afirmação?

Ras Menor: Muitos têm opinião que o reggae é da Jamaica e que ninguém mais poderá fazer um reggae melhor, igual ou da mesma qualidade, mas o individualismo de cada eu que possa ter experiências de conhecer bandas ruins e boas e bandas que não cultivavam a cultura rastafári. Existe a ideia de que a música Black Music só pode ser feita na Jamaica para ser boa. É mais uma opinião do que conhecimento de cada Eu e Eu.

24) RM: Na sua opinião porque o reggae no Brasil não tem o mesmo prestígio que tem na Europa, nos EUA e no exterior em geral?

Ras Menor: A forma que nós cultivamos o reggae no Brasil financeiramente para propagar na rádio. E para fazer o reggae crescer financeiramente tem que fugir do valor da riqueza da Alma e da forma que o rasta propaga a música reggae como libertação, como uma luz dentro da Escuridão. Precisamos de uma expansão dentro da forma de pensar, mas as barreiras que a sociedade e o sistema colocam evitam com que o reggae culturalmente nos eduque pela liberdade do Espírito. O sistema não tem a luz e nos aliena, faz com que não tenhamos raiz cultural.

25) RM: Quais os prós e contras de usar o Riddim como base instrumental?

Ras Menor: Um produtor faz o riddim e oferece para o artista para criar e interpretar uma letra em cima da base instrumental. Não vejo como o benefício ou com atraso dentro da cultura rasta e Reggae, sendo que é apenas uma base instrumental para quem sabe usar.

26) RM: Você faz a sua letra em cima de um Riddim já conhecido usando uma linha melódica diferente?

Ras Menor: Em eventos Sound System em que o Dj Selecta solta à base instrumental, eu faço uma interpretação em cima e muita vez é diferente da gravação original do Riddim.

Eu cantei em cima de uma base instrumental de uma música do cantor e guitarrista jamaicano Fat String (que foi guitarrista de Heptones, Big Youth, Mighty Diamonds, Don Carlos, Junior Reid, The Congos, Winston McKnuff, Johnny Dread, Deliger, Abysinnians e Black Uhuru). E Frederick Thomas é o nome verdadeiro dele. Eu fiz a música chamada “Bandeirão Regueiro” em homenagem ao Bandeirão Regueiro que é uma bandeira que se abre nos eventos Drag Music que faz parte da nossa Cultura milenar que se propagou na cultura reggae no Brasil.

27) RM: Você acrescenta e exclui arranjos de um Riddim já conhecido?

Ras Menor: Eu não vejo muito benefício está alterando uma base instrumental de uma obra já conhecida. Eu já adicionarei uma melodia e uma letra de minha autoria em cima da base instrumental conhecida. A base instrumental deve ser original e crio em cima a melodia e uma letra que vem da minha alma, do meu coração para passar uma mensagem que possa ser entendida.

28) RM: Quais os prós e contras de fazer show usando o formato Sound System (com base instrumental sem voz)?

Ras Menor: Os prós e contras de estar se apresentando usando o playback da música em sound system de pende da qualidade da aparelhagem. Às vezes, se as caixas não forem boas podem tremer e se o microfone for ruim, não ajuda. Esses fatores acontecem em alguns eventos, mas é um formato de interpretar em cima das bases instrumentais das nossas músicas que foram gravadas em estúdio.

29) RM: Você se apresenta com Banda?

Ras Menor: Sim e em evento com menor cachê me apresento com auxílio de um DJ no formato Sound system.

30) RM: Quais os seus projetos futuros?

Ras Menor: O trabalho futuro é gravar meu CD e construir trabalho em parceria com outros artistas e trabalhar bastante a mensagem cultural que liberta a alma e o coração.

31) RM: Links:

Ras Menor: https://m.youtube.com/channel/UCZXuByRbGY2xgm3-9JwlKxw/feed

RAS MENOR feat GUZT DAZRUA – PARA OS FORTES NAO RECUAREM: https://www.youtube.com/watch?v=YARjfwTVpFg

RAS MENOR / ANDRÉ MORO / RAS JHONNY / PARA OS FORTES NÃO RECUAREM: https://www.youtube.com/watch?v=WSu4u6ftNCw

Planeta Amor – Ras Menor: https://youtu.be/qARO7ep4ubU

Bandeirão Regueiro – Ras Menor: https://youtu.be/DqD8qn8zQg8

O que você vai fazer – RapRoots – Ras Menor: https://m.youtube.com/watch?v=yblc7CzlvhY


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Comments · 1

  1. Ritmo e Melodia faz ótimo trabalho dando visibilidade para todos ,tratando todos os Artistas do mesmo modo e oferecendo o mesmo espaço sem distinções e isso que é importante !
    Ras Menor foi e sempre será Gigantesco !

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