Um dos proeminentes artistas e educadores de percussão de samba nos EUA e um dos principais etnomusicólogos especializados em música brasileira, Philip Galinsky é Ph.D e também Diretor, Fundador e percussionista principal da Samba New York! A sua esposa, Valerie Galinsky, é co-fundadora e Diretora Gerente dessa companhia de performance internacionalmente reconhecida.
Conhecido como “Dr. Samba” por sua rara combinação de experiência acadêmica e prática em música brasileira, Philip mergulhou na música e na cultura do Samba bebendo na sua fonte no Brasil por mais de 30 anos. Ele conduziu pesquisas de campo musicais no Brasil, publicando amplamente no campo da etnomusicologia, incluindo trabalhos pioneiros sobre os movimentos de Pagode e Manguebeat.
Ele é Ph.D. em etnomusicologia pela Wesleyan University, onde sua tese de doutorado, Maracatu Atômico, foi selecionada para publicação na série Outstanding Dissertations da Routledge. Ele lecionou etnomusicologia na Wesleyan University, UC Davis e Hampshire College e também fundou e dirigiu grupos de Samba em cada uma dessas escolas.
Philip estudou com vários mestres de percussão renomados na área do Samba, incluindo Mestre Jonas, Jorge Alabê, Mestre Odilon, Mestre Aílton e Miguel do Repinique. Ele desfila desde 1999 como percussionista no Carnaval do Rio de Janeiro em algumas das escolas de samba mais famosas do mundo, incluindo Mocidade Independente de Padre Miguel, Salgueiro e Imperatriz Leopoldinense — uma honra rara para um estrangeiro.
Na vanguarda da educação musical do ritmo do Samba nos EUA desde 1994, Philip treinou cerca de 2.000 a 4.000 pessoas de diversas idades e origens nessa rica forma de arte percussiva desde 1994. Vários de seus alunos fizeram parte da equipe interna de percussionistas da Samba New York!, e alguns se tornaram líderes de seus próprios grupos, incluindo Phillybloco, Unidos da Filadélfia, Harlem Samba, Mais Um, Batalá New York e Fogo Azul NYC — todos os quais fizeram contribuições significativas para a cena musical brasileira da grande área de Nova York.
A Samba New York! surgiu como o principal campo de treinamento para percussionistas do Samba na cidade de Nova York, oferecendo cursos e workshops regulares de percussão de samba para alunos de todos os níveis desde 2003.
Philip é requisitado como educador do Samba nos EUA e conduziu workshops e master classes e realizou residências do Samba em várias instituições, incluindo a Percussive Arts Society’s International Conference (Indianapolis, IN); NYU; The New School (NYC); City University of New York Graduate Center; The Collective School of Music (NYC); Frederick Douglass Academy (NYC); Stony Brook University (Stony Brook, NY); Seton Hall University (South Orange, NJ); Vavá United School of Samba (Washington, DC); University of Southern Maine (Portland, ME); Bates College (Lewiston, ME); Colby College (Waterville, ME); University of Michigan (Ann Arbor, MI; por meio da Brazil Initiative do Center for Latin American and Caribbean Studies); Second City Samba (Evanston, IL); Bowling Green State University (Bowling Green, OH); NC Brazilian Arts Project (Raleigh, NC); University of Tennessee (Martin, TN); California Brazil Camp (Cazadero, CA); e a Cidade de Lamentin (Martinica).
Com a Samba New York!, Philip se apresentou em muitos eventos de alto nível, incluindo o Upfront da ESPN no Minskoff Theater ao lado de Katy Perry; o SummerStage do Central Park se apresentando para um jogo de futebol com o Bebeto; o WITNESS Gala de Peter Gabriel; e o New York Salsa Festival no Barclay’s Center do Brooklyn para um público de 25.000.
Além disso, a Samba New York! abriu shows dos artistas brasileiros Diogo Nogueira e Skank, e foi destaque na mídia dos EUA e do Brasil, incluindo o Jornal Nacional da TV Globo, o programa de notícias noturno mais assistido do Brasil.
Como percussionista, Philip se apresentou com a cantora e compositora Silvana Magdá e os sambistas Neguinho da Beija-Flor e Almirzinho (filho do lendário sambista Almir Guinéto). Philip é o vencedor do prêmio Empreendedor Artístico do Ano de 2024, concedido pelo New York Small Business Development Center e é um endossante da Contemporânea Instrumentos.
Philip está disponível como educador e especialista em percussão brasileira para master classes, clínicas, workshops, residências, palestras-demonstrações, coaching privado, performances ao vivo e gravações.
Segue abaixo entrevista exclusiva com Philip Galinsky (Dr. do Samba) para a www.ritmomelodia.mus.br, entrevistado por Antonio Carlos da Fonseca Barbosa em 18.09.2024:
01) Ritmo Melodia: Qual a sua data de nascimento e a sua cidade natal?
Philip Galinsky: Nasci no dia 07/08 em Glenridge, Nova Jersey no dia 7 de agosto e cresci em Palisades, Nova York, EUA.
02) RM: Fale do seu primeiro contato com a música.
Philip Galinsky: Pedi a minha mãe para tocar tambor quando eu tinha dois anos de idade, então meus pais compraram uma mini bateria para mim e daí nunca mais parei.
03) RM: Qual a sua formação musical e/ou acadêmica fora da área musical?
Philip Galinsky: Estudei música minha vida inteira, dentro e fora da escola. Comecei a estudar violão e caixa de guerra quando eu tinha 8 anos de idade na escola primária, mudando para guitarra elétrica e bateria na adolescência.
Entre 8 e 16 anos, eu tinha uma banda com meus amigos de infância no meu bairro chamada The Stings Rays (As Arraias), onde eu tocava guitarra, cantava e compunha.
Entrei no programa de Studio/Jazz Guitar na Universidade da California do Sul, onde também estudei bateria. Depois de pegar tendinite, mudei de volta para Nova York, onde fiz meu bacharelado em música na Columbia University. Ainda na Columbia, curei a tendinite e comecei a estudar a percussão do samba sozinho.
Logo depois, fiz meu mestrado (1995) e depois meu doutorado (2000) em etnomusicologia, especializando na música brasileira, na Wesleyan University (Middletown, Connecticut, EUA), onde também estudei a percussão de Ghana.
Fiz minha pesquisa de campo no Brasil: no Rio de Janeiro e em Salvador – BA para meu mestrado sobre o movimento de Pagode, e em Recife – PE para meu doutorado sobre o movimento Manguebeat.
Ainda como aluno de pós-graduação, comecei a estudar a percussão do samba com vários professores e mestres (que faço até hoje) e tocar com diferentes grupos de samba em Nova York.
Em 1999, comecei a estudar e desfilar em bateria com as escolas de samba do Rio de Janeiro durante o Carnaval. Até agora, desfilei em bateria oito vezes no Carnaval do Rio de Janeiro com as seguintes escolas de samba: Acadêmicos de Vigário Geral, Império da Tijuca, Imperatriz Leopoldinense, Acadêmicos do Salgueiro, Mocidade Independente de Padre Miguel, Acadêmicos do Cubango, e Acadêmicos de Niterói.
04) RM: Quais as suas influências musicais no passado e no presente. Quais deixaram de ter importância?
Philip Galinsky: Minha primeira influência foi a música folk anglo-americana dos Estados Unidos, e meu primeiro ídolo musical foi o cantor e tocador de banjo, Pete Seeger. Depois disso, fiquei muito influenciado pelos Beatles e pelo rock de um modo geral. Entre 8 e 13 anos de idade, eu gostava muito de Kiss, AC/DC, Judas Priest, Ted Nugent e The Who, além de Chic, Donna Summer e dos Bee Gees.
Na escola secundária, eu escutava muitas bandas de rock como Jimi Hendrix, Led Zeppelin, The Rolling Stones, The Who, Yes e The Talking Heads; artistas de blues como BB King, Albert King e Stevie Ray Vaughan; e a música pop americana dos anos 80. Minha banda favorita na época foi Rush.
No final da escola secundária, fiquei apaixonado pela música jazz fusion, como, por exemplo, John Scofield, Mike Stern, Chick Corea e Return to Forever, Weather Report, Tony Williams, etc.
Já na universidade, comecei a curtir mais jazz tradicional também, como, por exemplo, Duke Ellington, Miles Davis, Charlie Parker, John Coltrane, Charlie Christian, Wes Montgomery, Jim Hall, Chet Baker, e a música jazz fusion do Pat Metheny. Além disso, me mergulhei na música popular dos Estados Unidos. Eu curtia muito os compositores de Tin Pan Alley como, por exemplo, George Gershwin, Cole Porter e Jerome Kern. Eu ouvia muita soul music como, por exemplo, Stevie Wonder, Ray Charles e Aretha Franklin e funk americano, como, por exemplo, James Brown e Tower of Power. Eu gostava muito das bandas Steely Dan e Toto também. E foi nessa época que eu comecei a abrir os ouvidos para a música do mundo inteiro, como da África inteira, da America Latina e do Caribe, do Oriente Médio, da Europa do Leste, etc.
Cada vez mais, a música brasileira — e em especial o samba — me chamava, até um dia, através de uma indicação de uma colega da universidade, comprei o CD “O Samba” uma coletânea produzida pelo músico, David Byrne. Logo na primeira música, percebi que o samba era a música que eu estava procurando. O samba é minha paixão musical e minha especialidade por mais de 30 anos, mas eu curto música de um modo geral, e todas as minhas influências têm a sua importância.
05) RM: Quando, como e onde você começou a sua carreira musical?
Philip Galinsky: Depois de alguns anos na área acadêmica como professor de etnomusicologia, lancei minha carreira musical em 2003 quando fundei junto com a minha esposa, Valerie Galinsky, a Samba New York!, em Nova York – EUA.
Somos os diretores da organização, que oferece aulas em percussão do samba presenciais e online, workshops, shows e viagens organizadas. No ano passado, lançamos a nossa Academia Online, que oferece cursos sobre vários instrumentos de percussão do samba: https://sambanewyorkonlineacademy.teachable.com
06) RM: Quantos álbuns autorais lançados? O conceito de cada álbum? Cite alguns álbuns que participou tocando percussões?
Philip Galinsky: Até agora, tenho sete músicas gravadas sob o nome Samba New York! O conceito foi de explorar um pouco da diversidade do samba, passando pelo samba-enredo, a batucada, o partido-alto e o samba-reggae.
E ainda experimentando com a adaptabilidade e universalidade do gênero, incorporando a influência da música das Antilhas Francesas em uma das músicas — minha esposa, Valerie, é da Martinica — e com letras em português, inglês e francês. Eu compus, arranjei, e produzi todas as músicas, além de gravar toda a percussão do disco, e cantei também.
Gravei percussão em alguns outros discos também, com destaque para a música “Maracakim” da banda Susan Pereira e Sabor Brasil no disco, Tudo Azul.
07) RM: Você toca instrumento de cordas ou teclas?
Philip Galinsky: Cresci tocando violão e guitarra mas não toco mais. E estudei um pouco de piano quando eu era criança e na universidade. Uso o teclado às vezes para compor.
08) RM: Quais as principais técnicas que o percussionista deve se dedicar?
Philip Galinsky: Pra mim, a técnica é um meio para alcançar um determinado objetivo e é uma coisa muito pessoal. Cada pessoa vai ter que achar as técnicas que funcionam melhor para si, de acordo com o instrumento, o estilo musical, e o corpo e a mente do músico.
09) RM: Quais os principais vícios técnicos ou falta técnicas de alunos e alguns profissionais que tocam percussão?
Philip Galinsky: O vício maior que eu vejo — principalmente entre os alunos mais iniciantes, mas também entre alguns percussionistas que já tocam por algum tempo — é a tendência de usar uma pegada tensa nas baquetas e de usar movimentos ineficientes que causam cansaço ou até danos para o corpo. Em geral, a tensão no corpo e na mente é uma coisa para ser evitada. Eu ensino técnicas mais relaxadas que deixa tudo mais fluido e eficiente.
10) RM: Quais são os percussionistas que você admira?
Philip Galinsky: Têm tantos percussionistas que eu admiro, então prefiro não começar a falar, porque não quero deixar alguém de fora. Na verdade, eu adoro todos e aprecio cada um pelo seu talento e pelas suas contribuições para a música.
11) RM: Quais as percussões sinfônicas?
Philip Galinsky: Embora que eu tenha estudado a música formalmente — incluindo a bateria e técnicas de baqueta — eu nunca estudei a percussão erudita europeia. Mas, a caixa de guerra, os tímpanos, o triângulo e o bombo são alguns exemplos de percussão sinfônicas naquela tradição.
12) RM: Quais os prós e contras de tocar percussões no ritmo de samba?
Philip Galinsky: Não existe nenhuma contra de tocar a percussão no ritmo de samba. Ritmicamente falando, o samba não é uma batida só. Tem uma estrutura rítmica, mas dentro disso existe um universo infinito de possibilidades. O samba é muito rico e faz muito bem ao corpo e à mente.
13) RM: Existe o dom musical? Qual seu conceito de dom?
Philip Galinsky: Acho que o dom existe. Pode ser uma capacidade de aprender algo mais rápido ou simplesmente um amor profundo por um determinado assunto. Em termos de resultados, o que faz a grande diferença é o que você faz com o seu dom. Tem que se dedicar. Porém, para mim, a coisa mais importante é o amor que você tem pela música. Esse amor e a diversão têm que ser em primeiro lugar sempre. A gente sempre está aprendendo e crescendo, e isso requer dedicação, mas a ideia não é de se estressar com a ansiedade de realizar uma meta, mas sim de curtir o processo.
14) RM: Quais os prós e contras de ser percussionista freelancer acompanhando artista ou grupo?
Philip Galinsky: Uma vantagem de ser freelancer acompanhando artista ou grupo é que você só precisa focar na sua função dentro do projeto. Alguns contras são que nem sempre você tem liberdade artística e muitas vezes não tem uma segurança financeira.
15) RM: Quais os prós e contras de ser músico de estúdio de gravação?
Philip Galinsky: Embora que eu tenha feito minhas próprias gravações, até agora gravei pouco para outras pessoas. Acredito que essa possibilidade de sobreviver só gravando no estúdio nos dias de hoje seja uma coisa muito rara. Mas um pró desse estilo de vida é que você pode ficar em casa e não precisa viajar muito se você não quiser.
Um contra pode ser que você acaba perdendo outras oportunidades fora do estúdio. Eu particularmente gosto de ter um equilíbrio entre diferentes atividades na área de música, um complementando o outro, e não fazendo uma coisa só.
16) RM: Quais grupos você que já participou?
Philip Galinsky: Minha primeira banda foi The Sting Rays (As Arraias), que fundamos quando eu tinha 8 anos de idade. Eu compunha, cantava, e tocava violão (e mais tarde, guitarra elétrica). Essa banda fez uma gravação que foi tocada num programa de rádio em Nova York na época.
Muito mais tarde, quando eu era aluno de pós-graduação e um pouco depois, eu tocava nos grupos de samba, Manhattan Samba, Quilombo, e a Escola de Samba Verde e Amarelo, todos na área metropolitana de Nova York – EUA.
Também, toquei percussão na Steel Band, Pandemonium, da Wesleyan University (que fica no estado de Connecticut) quando eu era aluno de pós-graduação lá.
Em 2003, eu e minha esposa, Valerie Galinsky, fundamos Samba New York! Sou diretor e percussionista principal do grupo, comandando nos shows e tocando o repique bossa, que faz as chamadas.
Também, já fiz parte da banda da cantora e compositora baiana, Silvana Magdá, que foi uma das primeiras artistas na cena atual de música brasileira de Nova York.
17) RM: Quais principais dificuldades de relacionamento que enfrentou em grupos?
Philip Galinsky: Na maioria das vezes, não tive dificuldades de relacionamento em grupos. As poucas vezes que isso aconteceu foi uma questão de alguém não respeitando os outros ou não observando as regras do grupo.
Felizmente, em todas as vezes, consegui resolver a situação da melhor maneira possível. Você tem que se cuidar de você mesmo e se defender. Ao mesmo tempo, tem que agir de uma forma justa para o bem de todos.
18) RM: O que a Internet ajuda e prejudica no desenvolvimento de sua carreira?
Philip Galinsky: Acho que a Internet tem sido uma grande vantagem na minha carreira musical. Afinal das contas, escolhendo o nome Samba New York! e conseguindo o site www.sambanewyork.com foi uma benção e tem ajudado bastante em termos de visibilidade.
É incrível que hoje podemos colocar o nosso trabalho como músico ou professor na mídia social para todo mundo ver — uma possibilidade que nunca existiu antes.
Também, a Internet nos oferece a oportunidade de continuarmos os nossos estudos em casa, abrindo os nossos ouvidos para muitos outros músicos, grupos, e professores do que antes.
Eu particularmente tenho aprendido muito com YouTube e tomando aulas online, especialmente desde a pandemia. Mas há mais: muito do meu trabalho agora acontece online. Eu dou aulas particulares pelo Zoom, coloco vídeos e tutoriais no YouTube e no Instagram, e temos uma Academia Online também.
Minha vida de músico e empresário mudou muito com essa tecnologia e acho isso positivo em geral porque isso me dá mais opções.
O desafio é de equilibrar as atividades, moderar o uso da Internet e da mídia social, e usar essas coisas de uma maneira eficaz e saudável. Não é sempre fácil fazer isso, mas acho que estou indo bem.
19) RM: Quais as vantagens e desvantagens do acesso à tecnologia de gravação (home estúdio)?
Philip Galinsky: Uma vantagem do home estúdio é que os músicos agora podem compor e produzir seus próprios discos em casa sem ter que pagar um estúdio ou depender de uma gravadora. Isso ajuda tanto na parte criativa quanto na parte financeira e logística da criação de gravações.
Por outro lado, com esse acesso mais amplo para essa tecnologia, e todas as outras mudanças na indústria da música, as grandes gravadoras não investem mais em novos talentos como antes. Parece para mim que em geral as gravadoras só ficam envolvidas com um artista quando ele ou ela já tem muitos seguidores na mídia social.
20) RM: Como você analisa o cenário do samba? Em sua opinião quais foram as revelações musicais nas últimas décadas? Quais artistas permaneceram com obras consistentes e quais regrediram?
Philip Galinsky: Não tenho acompanhado o cenário de samba no Brasil tão perto como antes. Mas têm tantos sambistas consagrados e novos talentos também que estão fazendo com que o samba continue muito vital e brilhante. Não quero deixar alguém de fora, então prefiro não começar a citar nomes. Adoro todos.
21) RM: Quais as situações mais inusitadas que aconteceram na sua carreira musical?
Philip Galinsky: A minha situação e a da minha esposa já é algo fora do comum. Nós não sendo brasileiros e mesmo assim criamos um espaço dentro do cenário do samba internacional. Isso é algo muito especial para nós e agradecemos muito.
As oportunidades que tivemos para estudar com grandes mestres do samba, desfilar em escolas de samba do Rio de Janeiro, tocar com grandes sambistas (eu já toquei com o Neguinho da Beija-Flor e o Almirzinho) e até de sair em reportagens de grandes jornais e redes de televisão do Brasil é uma honra e uma benção enorme para nós e para Samba New York!
Mas falando de coisas curiosas na minha carreira, a Samba New York! fez três eventos que foram bem inusitados. Tocamos por vários anos num evento no Zoológico do Prospect Park no Brooklyn chamado “Samba With The Sea Lions” (Samba com os Leões Marinhos), onde fizemos a nossa batucada junto com os leões marinhos que foram treinados com o ritmo do samba para dançar, e as nossas dançarinas dançavam com as crianças e as famílias que estavam lá. O evento foi um sucesso por vários anos.
Numa outra vez, fomos chamados para tocar e dançar samba num show de cavalos que acontece todo ano no estado de Kentucky. O motivo disso foi o grande destaque daquele ano, que foi um cavalo brasileiro, o Mangalarga Marchador.
E para finalizar, tivemos uma cliente que nos contratava algumas vezes para se apresentar para a festa de aniversário do cachorro dela. A coisa mais engraçada é que o cachorro não agüentava tanto som e tantas pessoas e tinha que ficar num quarto isolado durante a festa. Então, a festa foi mais para os humanos do que o próprio cachorro.
22) RM: O que te deixa mais feliz e mais triste na carreira musical?
Philip Galinsky: O que me deixa mais feliz na minha carreira musical são as pessoas maravilhosas com quem eu tenho o privilégio de colaborar e trocar. E é claro, a oportunidade de poder fazer, ensinar e promover música — e especialmente uma música tão alegre e rica como o samba — no meu dia-a-dia é uma outra grande benção.
Além disso, a possibilidade de aprender cada vez mais e poder fazer uma diferença na vida de outras pessoas é sem preço também. Nada me deixa triste porque qualquer situação difícil por onde eu passei, eu consegui resolver e aprender o que eu precisava para continuar cada vez mais forte.
23) RM: O que você diz para alguém que quer trilhar uma carreira musical?
Philip Galinsky: Alguns dos meus conselhos: Acredite em você mesmo; seja fiel a você mesmo e aos seus sonhos; colabore bem com seus parceiros, seja flexível e fique aberto a boas ideias vindo de outras pessoas; seja dedicado e rigoroso nos seus estudos e na sua carreira e sempre continue aprendendo e se atualizando.
Mantenha o amor pela música e pelo que você faz sempre; Aprenda a lidar bem com as pessoas e seja humilde (talvez a habilidade mais importante); não fale mal de ninguém e seja impecável e honre a sua palavra; não se compare com ninguém e não faça comparações entre as pessoas; seja gentil e justo com você mesmo e com os outros.
Mantenha um equilíbrio saudável entre o trabalho e o lazer (isto é dizer, tem que ter espaço para seus relacionamentos e sua vida pessoal também); seja persistente, especialmente quando parece que não vai mais dar certo; procure se diversificar — ou na área da música ou até com um outro trabalho adicional para dar mais um suporte financeiro.
24) RM: Quais os erros na metodologia do ensino musical?
Philip Galinsky: Não posso falar em erros. Porém, uma coisa que eu acho muito importante é poder receber um feedback, não somente durante uma aula, mas também como uma resposta aos vídeos que o aluno ou a aluna faz durante a semana.
Muitas vezes, o aluno ou a aluna não tem a consciência sobre o que ele ou ela está fazendo bem ou não, e esse feedback pode ajudar muito nesse aspecto. Uma outra coisa que eu acho fundamental para o professor ou coach é interagir com o aluno ou a aluna como uma pessoa inteira e não somente focar nos aspectos musicais.
Muitas vezes, vários aspectos psicológicos entram em cena, e se você não sabe lidar com isso, você pode perder uma oportunidade de ajudar o aluno ou a aluna crescer e adquirir uma habilidade com confiança. Se você não se sente confiante e confortável, não faz muito sentido tocar um instrumento. A parte mental, a parte física, e a parte musical andam juntos.
25) RM: Apresente seu método para o ensino de percussionista.
Philip Galinsky: Primeiramente, eu procuro entender os objetivos do aluno ou da aluna para que possamos juntos desenvolver um caminho para chegar lá. Sempre trato o aprendiz ou a aprendiz com carinho e respeito e me mantenho confiante no potencial da pessoa.
Explico técnicas de tocar com as mãos e com baquetas que não prejudiquem o corpo e que deixem a pessoa a mais relaxada possível enquanto ela ainda consegue reproduzir os sons desejados de uma forma eficiente e eficaz.
Uso uma mescla de teoria musical — não somente a teoria convencional europeia, mas também outras teorias que acho úteis — e a imersão na música e na cultura. Especialmente para quem não cresceu ouvindo samba, só usando os ouvidos vai demorar muito para aprender.
E é claro, só com a teoria, não funciona. Então essa mescla entre o prático e o teórico é minha preferência. As pessoas aprendem de maneiras diferentes, e cabe a mim experimentar até descobrir umas ferramentas que funcionem bem para cada aprendiz.
26) RM: Quais os prós e contras de desenvolver uma carreira nos EUA?
Philip Galinsky: Sendo americano, é natural desenvolver minha carreira nos Estados Unidos. Em relação ao ensino do samba aqui, uma grande desvantagem é que estamos longe da fonte do samba, e isso faz com que o desenvolvimento do aluno ou da aluna tipicamente demore mais tempo.
A vinda de artistas e músicos do Brasil, viagens ao Brasil, e a Internet são recursos excelentes que ajudam a remediar a situação, mas mesmo assim tem uma grande diferença.
Outra desvantagem é que nos EUA poucas pessoas sabem o que é o samba. Então, infelizmente, muitas vezes o samba acaba sendo visto como algo exótico ao invés de uma manifestação cultural.
Mas a gente se esforça muito para mudar essa imagem, usando a educação, não somente nas aulas mas também nos shows. Por causa dessa falta de conhecimento, acaba tendo menos demanda para shows e aulas de samba. Temos que educar as pessoas e criar essa demanda.
Porém, uma das grandes vantagens é que não têm muitas pessoas nesse espaço aqui, então aqueles que fazem samba nos Estados Unidos acabam se destacando nesse mercado porque o que a gente faz é relativamente raro aqui.
27) RM: Quais os seus projetos futuros?
Philip Galinsky: Vamos fornecer mais recursos online, como mais cursos na nossa Academia Online e mais tutoriais no nosso canal, Learn To Play Samba, no YouTube. Além disso, vamos continuar com as viagens organizadas que oferecemos (por exemplo, para o Brasil, Portugal, Martinica, etc.).
Pretendo continuar a dar aulas de percussão de samba aqui em Nova York e em outros lugares nos EUA e internacionalmente. E com todos esses intercâmbios, pretendo continuar convidando mais sambistas pelo mundo todo para participar com a nossa Bateria da famosa Parada do Halloween em Nova York. Assim, a nossa Bateria vai poder crescer cada vez mais e vamos criar mais amizades e fazer mais união entre as pessoas de culturas diferentes através do samba.
Para fechar, eu gostaria de mandar a minha enorme gratidão, amor e respeito à minha esposa e parceira na Samba New York!, Valerie Galinsky (nascida no dia 16/09); aos nossos pais, Ellen e Norman Galinsky e Josiane e Robert Cabrera, e à nossa família toda por todo o amor, toda a força, e todo o apoio todos esses anos.
A todos os meus mestres, professores e mentores no samba; ao Roberto Guariglia e toda a equipe da Contemporânea pela parceria; a todos os meus amigos, alunos, e colegas; a família toda da Samba New York!; e a todos os sambistas do Brasil e do mundo.
A todos vocês, muito obrigado, pois sem vocês, essa minha estória no samba e na música não teria sido possível. E muito obrigado também a você pela oportunidade de compartilhar um pouco da minha estória com o seu público.
28) RM: Quais os seus contatos para os fãs?
Philip Galinsky: https://sambanewyork.com | [email protected]
Instagram (Philip Galinsky): https://www.instagram.com/philip_galinsky_samba
Instagram (Samba New York!): https://www.instagram.com/sambanewyork
Facebook (Samba New York!): https://www.facebook.com/sambanewyork
Samba New York! Online Academy: https://sambanewyorkonlineacademy.teachable.com
Canal do YouTube: https://www.youtube.com/@LearnToPlaySamba
Playlist: https://www.youtube.com/watch?v=bYA4VZJVB9M&list=PLTh0YsMWl7dpu2KIvKPWw-6HI1C4CAxum&index=2
SambaPod! – EP #55 – Philip Galinsky e Johanna Vehmas: https://www.youtube.com/watch?v=oLvSnCrR33E
Maracatu Atômico: Tradition, Modernity, and Postmodernity in the Mangue Movement of Recife, Brazil (Current Research in Ethnomusicology: Outstanding Dissertations): https://www.amazon.com/Maracatu-Atomico-Current-Research-Ethnomusicology/dp/1138890804
Amei a entrevista! Parabéns Antônio Carlos por expandir as vertentes do cenário musical e nos presentear com essa bela entrevista!