O contrabaixista, compositor, arranjador e produtor musical Paulo Lepetit, tem quarenta anos de carreira.
Ao longo desse período já acompanhou em shows e discos artistas como Itamar Assumpção, Cássia Eller, Ney Matogrosso, Chico César, Vange Milliet, com os quais excursionou diversas vezes pela Europa, Israel, África e Argentina.
Como produtor musical, produziu o álbum “Danç-eh-sa” de Tom Zé, “Isso vai dar repercussão” de Itamar Assumpção e Naná Vasconcelos, além de trabalhos de Alzira Espíndola, Zélia Duncan, DonaZica. O álbum “Pretobrás” de Itamar Assumpção, ganhou o Prêmio Sharp de melhor disco pop de 1998.
Juntamente com Gilberto Assis, produziu a trilha do espetáculo “Santagustin”, do Grupo Corpo de dança, composta por Tom Zé.
Em 1994, Paulo lançou seu primeiro álbum solo “Lepetit Comitê”, em 1998 “Saculeja” e em 2004 “Peças”. Em 2005 lançou o álbum “Música preta, branca e etc” em parceria com o baterista Gigante Brazil.
Atuou como diretor artístico do Festival Station Brésil, realizado em novembro de 2009, em João Pessoa, Recife, Brasília e São Paulo. Em 2010 produziu o álbum de inéditas de Itamar Assumpção “Pretobrás III”, lançado pelo selo Sesc.
Em 2015 produziu o álbum “Café no Bule” de Lepetit, Zeca Baleiro e Naná Vasconcelos com o qual ganhou o Prêmio da Música Brasileira de 2016.
Em 2017 voltou a ganhar o mesmo prêmio com o álbum “Canções Eróticas de Ninar” de Tom Zé. Lançou também “Isca Volume 1” da banda Isca de Polícia e recentemente o “Isca Volume 2”.
Atualmente está produzindo o projeto “Arrigo visita Itamar” em parceria com a banda Trisca que será lançado pela Gravadora Atração.
Segue abaixo entrevista exclusiva com Paulo Lepetit para a www.ritmomelodia.mus.br, entrevistado por Antonio Carlos da Fonseca Barbosa em 25.09.2024:
01) Ritmo Melodia: Qual a sua data de nascimento e a sua cidade natal?
Paulo Lepetit: Nasci no dia 05/12/1958 em Rio Claro – SP. Registrado como Paulo Sérgio da Silva.
02) RM: Fale do seu primeiro contato com a música.
Paulo Lepetit: Meus primeiros contatos com a música foram primeiramente como apreciador de rock progressivo. Adorava ficar ouvindo Yes, Genesis, Gentle Giant, Jeff Beck e muitos outros.
Aos 16 anos de idade comecei a ter aulas de violão com Walter Pini que era um professor totalmente fora da ordem, que ensinava música de uma forma ampla, com método próprio que envolvia longas e fascinantes conversas. Além de disponibilizar seu porão para que seus alunos o usassem para encontros musicais e extramusicais. Um clubinho privê.
03) RM: Qual a sua formação musical e/ou acadêmica fora da área musical?
Paulo Lepetit: Minha entrada na Faculdade de Engenharia Civil no Mackenzie em São Paulo coincidiu com a minha iniciação na Canabis School e no aprofundamento nas aulas nada ortodoxas de música. Meu irmão, que é três anos mais velho, também fazia aulas, assim como boa parte da minha turma na época, e nos incentivava a passar noites no porão do Walter Pini “fazendo som” como se dizia, à base de vinhos baratos.
Desde o início fui atraído pelos graves mesmo sem ter um Contrabaixo, mas fazia as linhas no violão. Pouco tempo depois consegui meu primeiro Baixo Ookpick modelo Rickenbacker, como era o do meu primeiro ídolo Chris Squire do Yes.
Fui aprendendo tocar o Baixo na prática, mesmo tendo passado por algumas escolas de bairro, mas posso dizer que sou um autodidata. Após 4 anos “frequentando” o curso de Engenharia Civil abandonei a Faculdade e comecei a fazer os primeiros trabalhos profissionais na música.
04) RM: Quais as suas influências musicais no passado e no presente. Quais deixaram de ter importância?
Paulo Lepetit: No passado muitas: o rock progressivo e quando comecei as aulas com Walter Pini tive acesso à toda uma geração maravilhosa de artistas brasileiros como Gilberto Gil, Caetano Veloso, Novos Baianos, Fagner, Ednardo, Os Mutantes e tantos outros. Itamar Assumpção e Arrigo Barnabé também fizeram parte do meu aprendizado (aqui já tocando com eles).
No começo dos anos 90 conheci e virei sócio do Mitar Subotic (Suba), produtor iugoslavo recém-chegado ao Brasil e que foi extremamente importante na minha entrada para o mundo digital na música. Montamos um dos primeiros estúdios digitais do país, o que levou para o caminho da produção musical e que mudou completamente minha forma de fazer música.
No presente: atualmente prefiro ouvir os grandes compositores do passado como Nelson Cavaquinho, Ataulfo Alves, Cartola e me influenciar pelas suas preciosas obras. Nenhuma influência que tive deixou de ter importância. Tudo contribuiu de alguma forma para eu me tornar o músico que sou hoje.
05) RM: Quando, como e onde você começou a sua carreira profissional?
Paulo Lepetit: Posso dizer com certeza que minha carreira profissional começou no já citado porão do Walter Pini que ficava em uma vila de casas na rua Cristiano Viana, próximo à rua Teodoro Sampaio em Pinheiros-SP.
Nesta vila moravam Irene Portela (maravilhosa artista maranhense) e Gigante Brazil (lendário baterista da Isca de Polícia, Marisa Monte, etc), além de artistas de várias áreas que circulavam pelo peculiar local. Ali comecei a tocar com a Irene, com Eliana Estevão e outros músicos que também iniciavam seus trabalhos.
Ali conheci o Gigante Brazil que me levou para a Isca de Polícia (Bocato, Luis Chagas, Marco da Costa, Jean Trad, Paulo Lepetit, Vange Milliet, Suzana Salles)e para a Gang 90 e as Absurdettes (Taciana Barros: Vocal e piano, Paulo Lepetit: Baixo, Gilvan Gomes: Guitarra, Beto Firmino: Vocal e teclado, Michelle Abu: Bateria, Bianca Jordhão: Vocal, Elô Paixão: Vocal).
06) RM: Quantos discos lançados? Cite alguns discos que você já participou como contrabaixista?
Paulo Lepetit: Tenho três álbuns instrumentais lançados: em 1994 – Le Petit Comitê. Em 1998 – Saculeja. Em 2004 – Peças.
Eu e Gigante Brazil em 2006 fizemos (Gigante e Lepetit – Música Preta Branca… e etc…). Em 2015 com Naná Vasconcelos e Zeca Baleiro fiz o “Café no Bule”. Também lançamos dois trabalhos autorais da Isca de Polícia após a morte de Itamar Assumpção. Também criei com Vange Milliet o projeto infantil chamado Gangorra (Com a corda toda).
Meu trabalho como baixista pode ser ouvido em vários discos de Itamar Assumpção (Às Próprias Custas, Intercontinental, Sampa Midnight, Pretobrás, Pretobás III, Vasconcelos e Assumpção, Ataulfo Alves pra sempre agora). Com a Gang 90 e as Absurdettes (Rosas e Tigres e Pedra 90). Com Tom Zé (Santagustin, Canções eróticas de ninar, Sem você não A).
Atuei como Produtor musical:
Em 1997 – Itamar Assumpção no álbum Petrobrás. Em 1998 – Vange Milliet no álbum Arrepiô. Em 2004 Naná Vasconcelos e Itamar Assumpção – no álbum Vasconcelos e Assumpção – Isso vai dar repercussão. Em 2010 Luisa Maita no álbum Lero-lero. Em 2016 – Nicola Són no álbum Sampathique.
Prêmios e Indicações:
Em 2005, foi indicado – Prêmio TIM – Melhor Álbum: Peças.
Em 2007, foi indicado – Prêmio Toddy de Música Independente – Melhor Álbum de MPB – Paulo Lepetit & Gigante Brazil – Música Preta Branca… e etc…
Em 2016, venceu – 27° Prêmio da Música Brasileira com o álbum Projeto Especial – Projeto Café no Bule com Naná Vasconcelos e Zeca Baleiro.
07) RM: Fale de sua atuação na banda Isca de Polícia.
Paulo Lepetit: Em 1981 entrei na banda Isca de Polícia no lugar do grande Skowa. No começo fazia as linhas de Baixo que o Itamar Assumpção determinava. Aos poucos fui construindo minhas próprias linhas de baixo depois de passar por um aprendizado orgânico para entender do que se tratava aquela nova linguagem que o Beleléu propunha.
Um pouco depois comecei a fazer arranjos de base, arranjos para outros instrumentos e mais para frente passei a produzir os trabalhos. Itamar me falou quando o conheci: “Podemos trabalhar juntos a vida toda”. Foi o que aconteceu. A banda continuou a ser requisitada para shows, gravações e atua até os dias de hoje.
08) RM: Como é seu processo de composição musical? Quais seus parceiros musicais?
Paulo Lepetit: Não existe apenas um processo. Mas o que mais gosto é quando sou instigado a compor, seja a partir de uma letra, um tema, um projeto ou um objetivo. Tenho muito orgulho das parcerias musicais que construí ao longo da carreira.
Creio ser uma lista bastante respeitável de parceiros: Alice Ruiz, Alzira Espíndola, Arnaldo Antunes, Arrigo Barnabé, Carlos Rennó, Chico César, Irene Portela, Itamar Assumpção, Júlio Barroso, Luiz Chagas, Naná Vasconcelos, Ortinho, Péricles Cavalcanti, Taciana Barros, Tom Zé, Vange Milliet, Zeca Baleiro, Zélia Duncan.
09) RM: Você compõe melodia para letra?
Paulo Lepetit: É o que mais gosto de fazer. Mas tenho várias letras principalmente no trabalho infantil desenvolvido com o Gangorra.
10) Quais são seus principais parceiros de composição?
Paulo Lepetit: Não considero a composição como minha principal atividade. Sou mais atuante como arranjador e produtor musical. Mas se levarmos em conta a quantidade de músicas seriam: Vange Milliet, Naná Vasconcelos e Zeca Baleiro.
11) RM: Como você define seu estilo como contrabaixista? Você toca outro instrumento musical?
Paulo Lepetit: Com certeza não sou um virtuoso como Arthur Maia, Nico Assumpção, Arismar do Espírito Santo e tantos outros. Sou péssimo improvisador. Me considero muito mais um compositor de linhas de baixo que acabam definindo o caminho que a composição tomará em termos de arranjo.
Da mesma forma utilizo outros instrumentos musicais para desenvolver meus arranjos e produções. São como ferramentas. Uso guitarra, violão, programação eletrônica e instrumentos virtuais para atingir meus objetivos. Sou ruim em todos, mas a tecnologia ajuda bastante.
12) RM: Quais as principais técnicas que o baixista deve se dedicar?
Paulo Lepetit: Todas aquelas técnicas que eu não segui. Estudar é a principal. Não posso dizer que tenho técnica. Tenho intuição e quando necessário busco a solução.
13) RM: Qual a importância de o baixista equilibrar a função de condução e de solista?
Paulo Lepetit: Depende muito do tipo de trabalho que está sendo desenvolvido. Se é instrumental é necessário que o baixista tenha habilidade para executar as duas funções. Em trabalhos onde os protagonistas são o cantor, o compositor ou uma banda ele deve atuar conforme a necessidade de ter ou não um solo sem muitas delongas.
14) RM: Quais os principais vícios técnicos ou falta de técnica tem os baixistas alunos e alguns profissionais?
Paulo Lepetit: Prefiro não opinar sobre técnicas ou falta delas por não as possuir.
15) RM: Quais as principais características de um bom baixista?
Paulo Lepetit: Compreender o contexto de cada música. O que diz a letra. Respeitar quem propõe o trabalho. Achar seu lugar no arranjo sem atropelar os outros instrumentos procurando descobrir os espaços em que você pode se destacar.
16) RM: Quais são os contrabaixistas que você admira?
Paulo Lepetit: Rubão Sabino, Arnaldo Brandão e Arthur Maia por jogarem pelo time e pelos estilos pessoais. Os importados: Chris Squire, Jaco Pastorius e Marcus Miller pela genialidade de cada um.
17) RM: Existe uma indicação correta para escolher um contrabaixo de mais de 4 cordas? Quais os gêneros musicais correspondentes a quantidade de cordas do instrumento?
Paulo Lepetit: Não vejo relação entre número de cordas e estilo musical. Quanto mais cordas mais estudo e prática. Sou bem limitado neste quesito. Com raríssimas exceções sempre usei o meu Jazz Bass Fender.
18) RM: Qual a marca de encordoamento da sua preferência? Existe marca ideal para cada gênero musical ou é preferência pessoal?
Paulo Lepetit: Gosto das cordas de tensionamento leve. De 0,40 a 0,95. Também não vejo relação entre tipo de corda e gênero musical. Tem muito mais a ver com a pegada do baixista. As melhores cordas são as novas (demorei para perceber isto).
19) RM: Fale de sua atuação como produtor musical.
Paulo Lepetit: Desde o início da minha carreira musical o que mais me interessou foi a estruturação do arranjo. Nunca me interessei em buscar um virtuosismo por logo perceber que me faltavam as principais condições para isto. Me agradava mais fazer a cama para as canções.
Com o surgimento do computador como uma ferramenta estrutural, consegui enxergar a música como um todo já que não dominava a escrita tradicional. Foi um salto muito grande para minha caminhada rumo à produção musical.
Comecei produzindo meu trabalho instrumental. Em seguida produzi trabalhos de artistas próximos como Vange Milliet, Bocato, Dona Zica etc. Em seguida vieram Itamar Assumpção, Tom Zé, Tetê Espíndola, Zeca Baleiro, Chico César, Naná Vasconcelos e muitos outros. Diria que a produção musical é a minha maior vocação.
20) RM: Quais os prós e contras de ser músico freelancer acompanhando outros artistas?
Paulo Lepetit: Nunca foi minha atividade principal atuar como músico acompanhante mesmo tendo feito várias vezes. Meu caminho foi mais baseado em bandas, como Isca de Polícia e Gang 90. Na maioria dos trabalhos que tive atuei como arranjador ou produtor e não como músico apenas.
Mas como “prós” eu apontaria a grande quantidade de músicos e artistas que você vai conhecendo, o que te possibilita aumentar as chances de sempre ter trabalho. Como “contras” eu aponto o risco de você ficar preso à necessidade de ter muitos trabalhos ao mesmo tempo e acabar privado de desenvolver os próprios. Mas isto é uma opção pessoal para o músico diante das várias funções em que ele pode atuar.
21) RM: Quais os prós e contras de ser músico de estúdio de gravação. Gravando as linhas de contrabaixo em discos de artistas?
Paulo Lepetit: É mais ou menos o que disse na resposta anterior. É mais uma das opções que tem o músico, desde que bem capacitado para isto. As gravações também funcionam como um portifólio para que conheçam seu trabalho. Shows ao vivo geram mais satisfação momentânea. A interação com uma plateia costuma ser bem mais prazerosa para o músico.
22) RM: Qual a importância da vanguarda paulistana?
Paulo Lepetit: É a minha praia preferida. Onde andei minha vida toda e me sinto confortável. Como movimento musical é um dos mais importantes da história musical brasileira. Considero o maior das últimas quatro décadas por conta da diversidade cultural e artística que proporcionou. Influenciou e continua influenciando novas gerações. Para saber mais sobre: https://pt.wikipedia.org/wiki/Vanguarda_Paulista
23) RM: Quais os prós e contras de tocar em uma única banda?
Paulo Lepetit: “Prós”: você pode aprofundar mais na linguagem desenvolvida pelo grupo e batalhar por um objetivo comum. Acaba sendo mais confortável por ser um trabalho de longa duração (caso a banda tenha relativo sucesso). “Contras”: por ser mais confortável o músico pode ficar mais acomodado e se arriscar menos, conhecer menos colegas. Circular por Diferentes Tribos te faz crescer e ser mais eclético.
24) RM: Quais principais dificuldades de relacionamento que enfrentou em bandas?
Paulo Lepetit: Toda banda é como um casamento. Tem os bons e os maus momentos. Amor e ódio sempre caminhando juntos. E com o tempo tem o desgaste de relacionamento. Como tudo na vida. Mas no meu caso sempre funcionou bem. Depois de tanto tempo continuo tendo meus ex-colegas de banda como meus grandes amigos.
25) RM: Quais os artistas já conhecidos você já acompanhou como músico freelancer?
Paulo Lepetit: Como disse anteriormente, não trabalhei muito como freelancer. Destacaria Cássia Eller e Jorge Mautner. Mas não por muito tempo. Tiveram muitos outros, mas sempre paralelamente a um trabalho mais constante.
26) RM: Quais principais dificuldades de relacionamento que enfrentou acompanhando artistas já conhecidos?
Paulo Lepetit: O meu casamento musical mais duradouro foi com Itamar Assumpção, portanto mais sujeito a intempéries. Mas como ele me disse no começo de nosso relacionamento “Podemos tocar juntos a vida toda”, sigo nesta toada e de um jeito ou outro continuamos tocando juntos até hoje, embora ele não esteja mais entre nós (fisicamente).
Também tive problemas com Tom Zé, mas nada que afetasse a grande amizade que temos hoje. As dificuldades te fazem crescer.
27) RM: Quais as estratégias de planejamento da sua carreira dentro e fora do palco?
Paulo Lepetit: Nunca fui de fazer autopromoção, o que hoje considero um erro. Claro que as coisas mudaram muito nos últimos temos com as redes sociais. Demorei para entender que se você não se divulgar ninguém o fará.
Hoje em dia sou mais atuante e procuro divulgar minhas ações. Mas nunca tive uma estratégia pensada para minha carreira. As oportunidades foram se apresentando e fui embarcando em cada uma que acaba levando a uma outra.
28) RM: Quais as ações empreendedoras que você pratica para desenvolver a sua carreira?
Paulo Lepetit: A primeira ação empreendedora foi produzir uma temporada de shows de Itamar e Isca no começo dos anos 1990. Em seguida montei um estúdio digital em parceria com o grande produtor iugoslavo Mitar Subotic (Suba) em parceria com João Parayba, Taciana Barros, Natália Barros, Vange Milliet, o que foi decisivo para minha carreira de produtor musical.
Criei um selo musical junto com Vange Milliet e lançamos vários artistas. Fiz vários projetos que ganharam editais para patrociná-los. O segredo é jamais se acomodar e estar sempre pensando em novas opções para se manter atuante.
29) RM: O que a internet ajuda e prejudica no desenvolvimento de sua carreira?
Paulo Lepetit: Ajuda bem mais do que prejudica. É uma grande fonte de pesquisa e de divulgação. Mas tem que batalhar para conseguir se destacar no meio de tantas novidades que surgem a cada dia.
30) RM: Quais as vantagens e desvantagens do fácil acesso à tecnologia de gravação (home estúdio)?
Paulo Lepetit: A democratização do acesso à produção e gravação que a tecnologia propicia foi um grande avanço que permite que qualquer um possa desenvolver seu trabalho, sua ideia, seu projeto.
O problema está na grande quantidade de “qualquer um” colocando conteúdo a cada segundo nas plataformas, o que torna um trabalho hercúleo você conseguir atenção para o seu. Mas com certeza tem mais vantagens do que desvantagens.
31) RM: No passado a grande dificuldade era gravar um disco e desenvolver evolutivamente a carreira. Hoje grande não é mais o grande obstáculo. Mas concorrência de mercado se tornou o grande desafio. O que você faz efetivamente para ser diferencia dentro do seu nicho musical?
Paulo Lepetit: Uma carreira longeva ajuda bastante pois as pessoas já te conhecem de alguma forma e se gostam do seu trabalho irão ter curiosidade de saber o que você está fazendo de novidade. Trabalhar de acordo com suas convicções e valores também ajudam você se destacar pela coerência de seu trabalho.
32) RM: Como você analisa o cenário musical brasileiro. Em sua opinião quem foram às revelações musicais nas duas últimas décadas e quem permaneceu com obras consistentes e quem regrediu?
Paulo Lepetit: Não vejo ninguém que tenha um trabalho realmente consistente que vá permanecer no futuro. Muito pela minha falta de vontade de me aprofundar e ouvir com mais atenção os artistas que surgiram neste período.
Por outro lado, quando alguma coisa se destacou e eu procurei conhecer melhor acabei me decepcionando. Creio que estamos vivendo uma geração intermediária muito influenciada pelas anteriores, mas que ainda não produziu algo que dê um passo adiante.
33) RM: Como você analisa o cenário da Música Instrumental Brasileira. Em sua opinião quem foram às revelações musicais nas duas últimas décadas e quem permaneceu com obras consistentes e quem regrediu?
Paulo Lepetit: Mais uma vez vou me esquivar de fazer uma análise por não conhecer com profundidade a cena instrumental atual. Fiz meu último trabalho instrumental no início dos anos 2000 e depois disto perdi o interesse em desenvolver projetos para um nicho tão pequeno que temos no Brasil. Mas Yamandu Costa é um fenômeno.
34) RM: Quais as situações mais inusitadas aconteceram na sua carreira musical (falta de condição técnica para show, brigas, gafes, show em ambiente ou público tosco, cantar e não receber, ser cantado e etc)?
Paulo Lepetit: Posso destacar um show em Ilhéus – BA nos anos 80, pelo projeto Pixinguinha, que reuniu boa parte das adversidades citadas na pergunta. Em resumo: a banda Isca de Polícia teve que sair escoltada pela Polícia para deixar a cidade.
35) RM: O que lhe deixa mais feliz e mais triste na carreira musical?
Paulo Lepetit: O que deixa feliz é continuar produzindo música relevante depois de quatro décadas. O que me deixa triste é não ter mais 20 e poucos anos para produzir por muito mais tempo.
36) RM: O que você diz para alguém que quer trilhar uma carreira musical?
Paulo Lepetit: Sinceramente procuro não dizer nada. É uma carreira difícil (como tantas outras) e a decisão deve ser totalmente pessoal. Só você mesmo pode tomar tal decisão. É uma aposta que tu tem que bancar pois não tem nenhuma garantia que vá dar certo. Mas nada muito diferente das outras profissões.
37) RM: Existe o Dom musical? Como você define o Dom musical?
Paulo Lepetit: Acho que existe sim, mas depende das circunstâncias para que ele apareça. Se ele aparecer tem que trabalhar muito para que ele seja potencializado com muito suor e estudo.
38) RM: Qual a definição de Improvisação para você?
Paulo Lepetit: Não é o meu forte. Gostaria que fosse, mas não tenho o talento necessário para isto. Durante muito tempo foi um tormento para mim pois ficava me escondendo nos shows de conhecidos por medo de ser chamado ao palco para improvisar. Quando percebi que não precisava fazer isto foi um grande alívio. Minha praia é a estruturação das canções. Deixo os improvisos para quem tem este talento.
39) RM: Existe improvisação de fato, ou é algo estudado antes e aplicado depois?
Paulo Lepetit: Sim, existe e tem dois grandes artistas brasileiros que provam isto: Hermeto Paschoal e Lanny Gordin. Mas claro que depende de um conhecimento grande de harmonia, ritmo e melodia.
40) RM: Quais os prós e contras dos métodos sobre Improvisação musical?
Paulo Lepetit: Existem muitos métodos de improvisação, mas alguns músicos transcendem a isto e geralmente são os grandes gênios justamente por não se apoiarem em métodos, criando assim seu estilo e personalidade. É uma ótima ferramenta, mas que só ela não é suficiente para um improvisador se destacar. Como exemplo temos Pepeu Gomes, um improvisador maravilhoso com personalidade própria.
41) RM: Quais os prós e contras dos métodos sobre o Estudo de Harmonia musical?
Paulo Lepetit: Nunca fui um músico estudioso em teoria musical. Novamente caímos naquele ponto onde cada um percebe qual o seu melhor papel no universo musical. O “não-estudo” pode levar um compositor a criações extraordinárias que contrariam os “estudos”. Moraes Moreira, Gilberto Gil, Caetano, Djavan, Arrigo Barnabé, Itamar Assumpção, Luís Tatit, Walter Franco etc., não seguem muitas das regras dos métodos de harmonização e por esta razão são tão geniais.
42) RM: Quais os seus projetos futuros?
Paulo Lepetit: Hoje não sei. Amanhã talvez.
43) RM: Quais seus contatos para show e para os fãs?
Paulo Lepetit: (19) 99975 – 7275 – [email protected]
| (11) 99157 – 7275 – [email protected]
Canal: https://www.youtube.com/@paulolepetit5029
Entrevista com Paulo Lepetit – Blog: https://www.youtube.com/watch?v=67eAbLv6ceg
Arrigo e Isca de Policia Documentário Canal Arte 1 Episódio 1: https://www.youtube.com/watch?v=mZXv_707_TE
Arrigo e Isca de Policia Documentário Canal Arte 1 Episódio 2: https://www.youtube.com/watch?v=uJGFGxuhO-A
Arrigo e Isca de Policia Documentário Canal Arte 1 Episódio 3: https://www.youtube.com/watch?v=v0kzF80wQHc
Gostei da entrevista e achei interessante o artista mencionar que não atua pela técnica e sim pela intuição buscando a solução. Interessante mesmo!