Há mais de 20 anos, Paulinho Akomabu, iniciou a sua carreira, mais precisamente no Centro de Cultura Negra do Maranhão, através do Bloco Afro AKOMABU. Ali começou a mostrar o seu talento como: compositor, cantor e músico percussionista. Criou várias músicas que são cantadas até hoje pelos admiradores deste bloco.
Paulinho Akomabu, tornou-se arte educador, ministrando oficinas em diversos programas sociais no Maranhão, Piauí e na França, tendo como elemento de suas aulas: Cantos e ritmos da cultura maranhense. Paulinho fundou e participou de vários grupos em São Luís – MA, como o Grupo de Dança Afro Abanjá, GDAM; Som Benedito; Banda Guetos; Banda Crioulo D’Ifé.
Paulinho Akomabu, junto com a banda Guetos, acompanhou diversos nomes do reggae internacional: Erick Donaldson, Pato Bantun, Roney Boy, The Wailler, junto a Guetos também gravou suas músicas: “Fim de semana”; “Lida”, músicas premiadas no Prêmio Rádio Universidade FM.
Paulinho Akomabu gravou vários álbuns junto com o Bloco Afro Akomabu, tem músicas gravadas por Célia Sampaio, Claudio Pinheiro, além dos seus próprios álbuns: “Ojisé”; “O gosto dessa alegria”. No segundo álbum apresentas os reggaes: “Brasa”, “Jaz”, “Real ou reais”, “Som das paredes”. Atualmente está iniciando um novo processo de gravações que estarão sento lançadas nas plataformas digitais!
Segue abaixo entrevista exclusiva com Paulinho Akomabu para a www.ritmomelodia.mus.br, entrevistado por Antonio Carlos da Fonseca Barbosa em 24.06.2022:
01) Ritmo Melodia: Qual a sua data de nascimento e cidade natal?
Paulinho Akomabu: Nasci no dia 28/11/1968 em São Luís – MA. Registrado como Paulo Henrique Nascimento Aguiar.
02) RM: Conte como foi o seu primeiro contato com a música.
Paulinho Akomabu: Essa pergunta sempre nos remete a relembrar em que momento foi esse mesmo (risos). Meu pai era boeiro (expressão dada para brincantes de bumba boi no maranhão) e gostava de escutar programas de rádio e acho que com este nosso ouvido musical, já íamos selecionando algumas preciosidades (risos). Eu escutava muitos bumba bois, lembro de escutar músicas de Martinho da Vila, Evaldo Braga, Jimmy Cliff, muita música em ritmo de merengue (antigamente no Maranhão chegava sinal de rádios de cidades do Caribe) e sambistas da época e variados artistas e estilos.
03) RM: Quais as suas influências musicais no passado e no presente? Quais deixaram de ter importância?
Paulinho Akomabu: Mestres como Martinho da Vila, Paulinho da Viola, Clara Nunes, Luiz Gonzaga, Gonzaguinha, Alcione, Gilberto Gil, Caetano Veloso, Jimmy Cliff, Bob Marley, Jacob Muller. São muitos e muitas e de várias formas, por exemplo: Bob e Jacob, não precisamos falar inglês para sentir sua vibração. A malemolência de Martinho, aquela competência paciente de Paulinho da Viola e os grandes como Milton Nascimento, Djavan, Alceu Valença. Sou dessa geração! Hoje gosto muito da obra de Carlinhos Brown, Lenine, Zeca Baleiro. Os artistas locais como: Cesar Teixeira, Josias Sobrinho, Fernando Linhares, Escrete! Sinceramente acho que a música brasileira é oceano de braços abertos de puro talento que uma indústria insiste em encher de plásticos. Uma influência nunca deixa de ter sua importância, seja ela qual for.
04) RM: Qual a sua formação musical e acadêmica fora música?
Paulinho Akomabu: Sou um percussionista popular, toquei um pouco de bateria, canto e sou compositor. Tive uma iniciação musical em uma Escola Técnica de Música do Estado do Maranhão.
05) RM: Quando, como e onde você começou a sua carreira musical?
Paulinho Akomabu: Em 2007, eu comecei a apresentar as minhas primeiras composições ao público, mas em 1986, algumas já estavam sendo gravadas em um compacto, com a música “Luta de negro”, eu tinha 18 anos de idade, toquei percussão e fiz vocais, pois me disseram que ainda não tinha segurança para cantar como voz principal. Eu estava ingressando no movimento negro – Centro de Cultura Negra do maranhão. Espaço de bastante importância na minha formação musical e de consciência. Neste compacto simples, também estava minha primeira parceria com: Luís Fernando Linhares, Escrete (José Henrique).
06) RM: Quantos discos lançados?
Paulinho Akomabu: Participei praticamente de todos os discos lançados pelo Bloco Akomabu e participei do álbum “Lida” da banda Guetos, eu fazia parte da banda. E “Lida” é uma música de minha autoria e recebeu um prêmio de melhor reggae pela rádio Universidade FM e o prêmio de melhor álbum de reggae naquele ano. Em 2009 depois da minha saída da banda Guetos, lancei uma coletânea cantando as minhas músicas e também outros artistas interpretando as minhas músicas como: a dama do reggae, Célia Sampaio (também fez parte da banda Guetos) e a querida Lilian, ex vocalista do Clã Nordestino. A função desta coletânea era arrecadar fundos para gravar meu primeiro álbum solo – “O gosto desta alegria” com novas músicas como: “Brasa”, “Jaz”, “real ou reais”, “Som das paredes“, neste ano também fui premiado novamente com a música “Brasa”.
07) RM: Como vocês definem o estilo dentro da cena reggae?
Paulinho Akomabu: Acho que é diáspora, o reggae maranhense tem uma influência direta do jamaicano; que chegou no Estado, através de uma garimpagem feita por donos de Radiolas que viajavam diretamente na fonte (Jamaica). Acho que ano passado comemoramos 50 anos de reggae no Maranhão, mas mesmo assim não é mesma coisa, você vai ter a oportunidade de ouvir várias influências no reggae local. Cada grupo, cada artista tem sua influência, forma de compor e interpretar, é uma riqueza espetacular. Temos ainda o nosso swing local (bumba boi, blocos tradicionais, xote) e é importante ressaltar grupos como: Nonato e seu conjunto, Nicéas Drumont que já faziam reggae, não sei nem precisar a quanto tempo. É África em movimento!
08) RM: Como você se define como cantor/intérprete?
Paulinho Akomabu: Não gosto de me definir, mas, poderia resumir a minha interpretação em sentimento e verdade, pois canto basicamente minhas músicas e são minhas verdades e sentimentos.
09) RM: Quais os cantores e cantoras que você admira?
Paulinho Akomabu: Saudosa Elza Soares, Rita Marley, Alcione, Leci Brandão, Negra Li, Iza e a dama do reggae maranhense Célia Sampaio!
10) RM: Qual seu processo de compor música?
Paulinho Akomabu: Acho que sou motivado por um mote, um assunto, uma melodia, uma palavra, um tema! Acredito que não tenho um limite ou uma forma de compor, posso fazer uma música agora, como posso pegar um trecho rabiscado entre minhas coisas guardadas a não sei quanto tempo e concluir. Acho que a composição me conduz.
11) RM: Quais são seus parceiros na criação de música?
Paulinho Akomabu: Não sou muito conhecido por fazer parcerias musicais, mas, tenho umas músicas em parceria com: Tadeu de Obatalá, Quirino, Luís Fernando Linhares e o saudoso Escrete.
12) RM: quais os prós e contras de desenvolver uma carreira musical independente?
Paulinho Akomabu: Hoje, através de uma produção independente, plataformas digitais e a internet em geral se torna mais fácil de lançar, divulgar o trabalho. Mas, tem todo um processo a ser percorrido que não deixa de ser complicado, eu sempre tive dificuldades em lidar com esses processes, tanto anteriormente e principalmente hoje.
13) RM: O que a internet ajuda e prejudica no desenvolvimento da sua carreira musical?
Paulinho Akomabu: Hoje, é mais fácil se movimentar, enviar, receber e quando se domina é um caminho promissor, torna tudo mais fácil de se desenvolver independentemente. Eu estou na busca desse domínio ou mesmo alguém que possa me ajudar.
14) RM: Como você analisa o cenário reggae brasileiro? Em sua opinião quais foram as revelações musicais nas últimas décadas? Quais artistas permaneceram com obras consistentes e quais regrediram?
Paulinho Akomabu: A música no Brasil sempre foi feita de momentos, modas, fases! Já tivemos o momento do Rock, do Reggae, da música baiana, do Forró, da música Sertaneja. Nomes de consistência ainda se mantém, ainda podemos escutar: Edson Gomes, Paralamas do Sucesso, Tribo de Jah, Natiruts, Ponto de Equilíbrio. Mas, no geral o cenário reggae no Brasil seria de resistência.
15) RM: Quais as vantagens e desvantagens do acesso à tecnologia de gravação (Home Studio)?
Paulinho Akomabu: Eu gosto desse acesso as novas tecnologias de home estúdio. Poder gravar, arranjar, fazer novamente as gravações sem o alto custo de antigamente e com certa liberdade. Acho muito positivo.
16) RM: Quais os músicos já conhecidos do público que vocês têm como exemplo de profissionalismo e qualidade artística?
Paulinho Akomabu: Gosto do trabalho da Tribo de Jah, Natiruts. Em São Luís – MA, quem está produzindo bastante é Célia Sampaio e a banda Raiz Tribal, Santa Cruz Silva, gosto do som deles.
17) RM: Quais as situações mais inusitadas aconteceram na carreira musical (falta de condição técnica para show, brigas, gafes, show em ambiente ou público tosco, cantar e não receber, ser cantado, etc)?
Paulinho Akomabu: Tive a oportunidade de tocar com: The Wailers Band, Pato Banton, Eric Donaldson, Honey Boy. Artistas consagrados do mundo reggae, chegar para tocar e a sonorização ser de uma Radiola. São muitas histórias para contar!
18) RM: O que deixa você mais feliz e mais triste na carreira musical?
Paulinho Akomabu: Feliz: ter meu trabalho reconhecido. Triste: não ter colocado meu trabalho na grande mídia com acho que deveria!
19) RM: Você acha que as suas músicas tocaram nas rádios sem pagar o jabá?
Paulinho Akomabu: Algumas músicas, sim, outras músicas não tocarão nas rádios!
20) RM: O que vocês dizem para alguém que quer trilhar uma carreira musical?
Paulinho Akomabu: Seja resiliente!
21) RM: Como você analisa a relação que se faz do reggae com o uso da maconha?
Paulinho Akomabu: Mais grave que o uso da maconha era a relação que se fazia do reggae com a marginalidade, a violência, etc! Isso está um pouco mais desmistificado, mas tivemos vários momentos de muita violência, principalmente nas festas. A maconha faz parte do ritual do reggae e que em muitas vezes é mal interpretado. É interessante colocar o fato do público ser na sua predominância de negros e negras, todos eram tidos como vagabundos, marginais, maconheiros!
22) RM: Como você analisa a relação que se faz do reggae com a religião Rastafári?
Paulinho Akomabu: Como disse o reggae tem ligação direta com o rastafári, é a música que predomina, no Maranhão, existem poucos ou quase nenhum rastafári.
23) RM: Você é adepta a religião Rastafári?
Paulinho Akomabu: Não sou rastafári.
24) RM: Os adeptos a religião Rastafári afirmam que só eles fazem o reggae verdadeiro. Como você analisa essa afirmação?
Paulinho Akomabu: Não me incomoda o fato dessa afirmação! Aprendemos sobre a mensagem da música reggae, o que ela representa, como por exemplo, a música de Bob Marley, Jacob Muller se universaliza como música de afirmação de identidade e liberdade, se é isso que os rastafáris afirmam, sou totalmente a favor!
25) RM: Na sua opinião porque o reggae no Brasil não tem o mesmo prestigio que tem na Europa, nos EUA e no exterior em geral?
Paulinho Akomabu: O Brasil tem suas próprias identidades musicais, o reggae é uma música muito conhecida, mas não é consumida no país como no resto do mundo, aqui os regueiros são seletos.
26) RM: Nos apresente a cena musical reggae de São Luís?
Paulinho Akomabu: O regueiro maranhense é um apaixonado, fissurado, ele se apronta para ir ao baile reggae, se veste de regueiro, se programa, se emociona. Podemos dizer que temos no mínimo três gerações de regueiros, temos uma cadeia produtiva. No Maranhão o reggae é mais sério do que se imagina!
27) RM: Quais as diferenças das Radiolas de São Luís?
Paulinho Akomabu: É importante colocar que já tivemos vários momentos das Radiolas: as megas Radiolas, hoje já falamos das baianinhas, que são pequenos sistemas de som, agora a predominância dos DJs.
28) RM: Nos espaços ou clubes que tocam as Radiolas tem espaço para banda tocar?
Paulinho Akomabu: Já houve várias tentativas, por exemplo, nos grandes eventos que vem os cantores internacionais, tinha o momento das Radiolas, mas, no geral não!
29) RM: Existe rivalidade profissional entre os donos de Radiolas e as bandas e cantores (as) de reggae em São Luís?
Paulinho Akomabu: Não colocaria como rivalidade, mas sabemos que cada um tem o seu público, sua festa, seu momento.
30) RM: Na letra Magnatas e Regueiros da Tribo de Jah. É relatado que os Magnatas, que são os donos de Radiolas, só pensam em Dinheiros, ou seja, no lucro do baile e não estão se importando com os regueiros nem com o reggae. O que você me diz dessa realidade local?
Paulinho Akomabu: O público regueiro poderia ser melhor assistido, principalmente em um momento em que o reggae esteve em maior evidência no Maranhão, deveria ter sido melhor aproveitado para a formação, assistência e profissionalização dos regueiros, ter melhor aproveitado os espaços de festas. Mas, a visão sempre foi muito mercadológica, talvez fosse isso que Fauzi Beydoun queria dizer na mensagem da sua letra!
31) RM: O que justifica São Luís ser conhecida como a Jamaica Brasileira?
Paulinho Akomabu: Eu acho que São Luís – MA ainda respiramos reggae!
32) RM: O reggae em São Luís é dançado agarradinho. Quais os motivos que levaram a essa característica local? Seria a semelhança do ritmo reggae com o Xote?
Paulinho Akomabu: Também, mas principalmente com os ritmos caribenhos: merengue, bolero.
33) RM: Os shows de reggae no Sudeste a presença maior são de jovens e em São Luís tem pessoas de várias idades. Quais os motivos levaram a essa característica local?
Paulinho Akomabu: Temos em São Luís – MA, no mínimo, três gerações de regueiros!
34) RM: Qual a receptividade dos regueiros de São Luís para com os músicos jamaicanos?
Paulinho Akomabu: Acho de muito respeito e admiração!
35) RM: A receptividade dos regueiros de São Luís é a mesma para com os músicos e bandas de reggae de outro Estado/Cidade?
Paulinho Akomabu: Temos uma boa referência, quando saímos de São Luís – MA, a ideia da Jamaica Brasileira, há um grande respeito dos outros por esse fato!
36) RM: A impressão para quem não mora em São Luís é que a cena reggae local é diferente das outras cenas reggae do Brasil. Essa impressão procede?
Paulinho Akomabu: Acho que sim. Em São Luís – MA é reggae de segunda a segunda, na praia, nas comunidades, nas rádios!
37) RM: Qual a sua relação pessoal e profissional com os regueiros jamaicanos que fazem show em São Luís (Pode citar os nomes e as relações)?
Paulinho Akomabu: Somente contato profissional com os artistas jamaicanos, na época que eu atuava na banda Guetos, eu tocava bateria e tive a oportunidade de tocar com alguns jamaicanos: Erick Donaldson, Pato Bantun, Roney Boy, The Wailler.
38) RM: Quais as diferenças entre a cena reggae em São Luís e o Sudeste do Brasil?
Paulinho Akomabu: Acho que principalmente a cena dos artistas e das bandas de reggae, a cena em São Luís – MA está bastante enfraquecida, no Sudeste acho que os artistas e bandas tem mais espaços para tocarem.
39) RM: Existe o Dom musical? Como você define o Dom musical?
Paulinho Akomabu: Uma particularidade pessoal que precisa ser lapidada.
40) RM: Festivais de Música revela novos talentos?
Paulinho Akomabu: Sim, com certeza!
41) RM: Quais os pros e contras de se apresentar com o formato Sound System?
Paulinho Akomabu: Os pros: não se precisa de bandas, os contras: não se pode tocar com uma banda (risos).
42) RM: Quais as diferenças de se apresentar com banda em relação ao formato com Sound System?
Paulinho Akomabu: Acho que principalmente o sentimento e a vibração!
43) RM: Quais os seus projetos futuros?
Paulinho Akomabu: Tenho um trabalho com a banda Crioulo d’ifé e também tenho um trabalho solo. Acho que a perspectiva agora é dar continuidade, visibilidade a estes trabalhos. Mostrar meu talento e minhas músicas para todos.
44) RM: Quais os seus contatos para show e para os fãs?
Paulinho Akomabu: (98)9 99681137 | [email protected]
| https://www.instagram.com/akomabu
Canal: https://www.youtube.com/user/paulinhoakomabu
Pega esse livro Pequeno vai ler: https://www.youtube.com/watch?v=3RqSfNOhYho
Paulinho Akomabu: https://www.youtube.com/watch?v=gwnFNGD3XYw
CRIOULO D’IFÉ: https://www.youtube.com/watch?v=aD1xLjc7qIY
SÃO JOÃO PAULINHO AKOMABU E TADEU DE OBATALÁ 2017: https://www.youtube.com/watch?v=rXQKbNfRMRY