O acordeonista, cantor, compositor carioca Oswaldinho do Acordeon é respeitado dentro e fora do Brasil. Um excelente instrumentista e compositor, que teve uma convivência pessoal e profissional com os melhores sanfoneiros: Luiz Gonzaga, Dominguinhos, Sivuca, Hermeto Paschoal e músicos brasileiros. Ganhou a primeira sanfona do pai Pedro Sertanejo antes de aprender andar.
Gravou o seu primeiro disco ainda criança e na adolescência aprendeu tocar Piano. É um sanfoneiro que une o tradicional ao pop sem perder autenticidade. Em sua ampla obra gravou um CD com temas clássicos em ritmo de acordeon e gravou o CD – “Asa Branca Blues”, com baiões e forrós tradicionais em ritmo de rock, blues e jazz. Um inovador, mas nunca um modista. São mais de 20 discos lançados com a notoriedade dentro e fora do país. Conhecedor do gênero musical nordestino e do instrumento de trabalho que traz no sobrenome artístico: Acordeon.
Em 2003 tive o prazer de conhecê-lo e entrevistá-lo no estúdio de gravação Fábrica Produções Musicais no bairro Campo Belo na zona sul de São Paulo. Após a entrevista continuamos a conversa no seu carro; ele me deu uma carona até o metrô Parque Dom Pedro II, encontramos pontos comuns de pensamento e reflexões sobre a música brasileira. Um geminiano inteligente que ouve mais e fala com ponderação de anos de experiência e conhecimento do meio artístico. Ele comentou que durante a sua carreira musical, eu fui o primeiro repórter a falar exclusivamente sobre seu ofício de músico e compositor. Falamos sobre música.
Ele conhece os “caminhos das pedras” e tem a humildade e simplicidade dos gênios. Fez participações especiais em diversos discos de artistas já conhecidos e ainda não tão conhecidos. Um homem íntegro que tem consciência do seu papel como artista. Sabe que não escolheu a música, mas a música que lhe escolheu como instrumento de criatividade. Em 2003 lançou: CD – “Asa branca blues” e CD – “Um bom Forró” pela Kuarup Discos.
Segue abaixo entrevista exclusiva com Oswaldinho do Acordeon para a www.ritmomelodia.mus.br, entrevistado por Antonio Carlos da Fonseca Barbosa em 01.09.2003:
01) Ritmo Melodia: Fale do seu primeiro contato com a música.
Oswaldinho do Acordeon: Eu nasci no dia 05.06.1954, em Duque de Caxias no Rio de Janeiro e sou filho de Pedro Sertanejo (Pedro de Almeida e Silva), que era sanfoneiro e afinado desse instrumento. O mesmo baiano de Euclides da Cunha, me passou o ensinamento do acordeon desde cedo. Casado com Noemia Lima e Silva, tiveram seis filhos: Oswaldo de Almeida e Silva, Arecessone, Aristoteles, Juracy, Maisa, Cecila. Eu e mais quatros irmãos somos cariocas e dois nasceram em São Paulo.
Na minha casa sempre se encontravam os sanfoneiros para tocar ou trocar informações. Os mais frequentes eram Luiz Gonzaga, Sivuca, Zé Gonzaga, entre outros. O meu pai me presenteou com uma sanfona de quatro baixos quando eu tinha sete meses de vida. Fui crescendo e meu pai continuou me presenteando com novas sanfonas de 08, 40, 80 e 120 baixos. Meu pai participou de programas de TV como Chacrinha, Coronel Narcizinho e era contratado da Rádio Nacional.
Fui autodidata até os 12 anos de idade, ouvindo e tocando músicas de Luiz Gonzaga, Dominguinhos (que aos 15 anos de idade foi morar na nossa casa), Manoel Silveira, Sivuca e outros sanfoneiros. Em São Paulo, onde minha família mudou-se, procurei escola de acordeon, mas não encontrei e tive que estudar piano uns seis anos. Aos 16 anos de idade conheci o italiano Dante que foi meu professor de música clássica e acordeon até que ele voltou para Itália e passou incumbência dos ensinamentos a outro professor italiano Paulo Fiola.
Hoje o acordeon se tornou popular, mas no passado era discriminado. Muitos tocavam, mas omitiam se apresentar ou ensinar. Essa omissão era motivada pelo fato do acordeon não oferecer o mesmo status profissional que o piano.
03) RM: Fale dos gêneros musicais tocados pelo acordeon que não música regional nordestina.
Oswaldinho do Acordeon: A primeira sanfona ou acordeon que chegou ao país chegou às caravelas de Pedro Álvares Cabral e era chamada de concertina (acordeon cromático de botão com 120 baixos). O acordeon se tornou popular principalmente no nordeste, centro – oeste e sul do Brasil. Os primeiros gêneros: fado, valsa, polca, etc, retratavam o folclore dos imigrantes portugueses, alemães, italianos, franceses e espanhóis. Nos Cassinos da década 40 os sanfoneiros tocavam tango, polca, valsa, etc. Até então Luiz Gonzaga só tocava sanfona com influência nordestina para estudantes nordestinos que tinham saudade da sua origem. O Ary Barroso incentivou Luiz Gonzaga a defender o gênero musical da sua terra na Rádio Clube.
04) RM: Na sua opinião qual a origem do Forró?
Oswaldinho do Acordeon: A origem da palavra é inglesa For All (Festa para todos – promovida pelos engenheiros para operários da malha ferroviária brasileira no Rio Grande do Norte). O ritmo é derivado do xaxado, gênero musical divulgado por Lampião (Virgulino Ferreira da Silva) quando promovia festa para o seu bando. O Forró é mais rápido que o Baião, semelhança só no compasso 2/4 na pauta musical. O que conhecemos como Forró tem influência do baião, xote, xaxado, do maracatu, do samba de roda, do arrasta-pé e da ciranda.
Meu pai Pedro Sertanejo popularizou os gêneros musicais nordestinos intitulando como sendo Forró por ser uma palavra fácil de falar e que identificava o encontro de nordestinos nos bailes populares. Quem divulgou o baião foi Luiz Gonzaga, forró foi Jackson do Pandeiro e o forró pé-de-serra foi Pedro Sertanejo. O baião é lento, o forró é suingado e o pé-de-serra ou arrasta pé é acelerado.
05) RM: Fale da música nordestina instrumental tocada pelo acordeon.
Oswaldinho do Acordeon: A maioria de nós brasileiros não está acostumado a ouvir música instrumental, seja qual for o gênero. A maioria gosta de cantar e dançar. Os forrós instrumentais da época dos sanfoneiros Noca do Acordeon, Abdias, Zé Calixto, Gerson Filho, Saraiva, Zé Paraíba, Pedro Sertanejo.
A grande mídia não divulga a música instrumental em geral. Nos bailes nordestinos todo mundo dançava e gostava dos temas musicais que eram chamados pelos sanfoneiros; como Luiz Gonzaga, de samba de fole. Muitas letras pobres em texto, rimas e concordância lamentavelmente, melhor seriam sem letra e só como temas instrumentais.
06) RM: Qual a diferença da Sanfona para o Acordeon?
Oswaldinho do Acordeon: O acordeon é um instrumento universal de 120 baixos que se popularizou como sanfona. A verdadeira sanfona é aquele instrumento, semelhante ao acordeon, porém de tamanho menor e de 8 baixos, no qual abrindo o fole é uma nota e fechando é outra, sendo ensinado de pai para filho. No interior do Nordeste é conhecido como pé-de-bode; as tinham apenas dois baixos, ou concertina e no sul como gaita ponto. Hoje temos acordeon com o recurso do MIDI superior ao teclado, mas continua sendo um instrumento pesado para tocar em pé.
07) RM: Fale de sua apresentação nos shows.
Oswaldinho do Acordeon: Uso dois tipos de acordeon nos shows (acústico e MIDI). O acústico uso mais por identificar mais com a música nordestina e o MIDI deixo em pedestal e toco os dois simultaneamente me valendo dos recursos e qualidades de cada um.
08) RM: Fale do seu início na carreira profissional e quantos discos lançados?
Oswaldinho do Acordeon: Comecei cedo. Aos nove anos de idade (1963) participei no disco do meu pai, Pedro Sertanejo, pela Continental e aos 12 anos (1966) lancei um compacto simples. Em carreira solo são 22 discos e centenas de participações em discos de outros artistas. O disco que teve maior receptividade foi: “O Forró In Concert”, lançado em 1980, em que gravei músicas clássicas em estilo de Forró. Esse disco abriu as portas dos festivais de jazz na Europa.
No final de 2002 gravei dois CDs: “Um bom forró” e “Asa Branca Blues” pela Kuarup. São trabalhos distintos dentro da mesma essência, a música nordestina. Um é Forró autêntico e tradicional e o outro traz influência do jazz, blues e rock trazendo uma roupagem em músicas tradicionais cancioneiros nordestinos.
Em 2013 o CD – “O Samba do Rei do Baião” com Socorro Lira. Em 2004 o CD – “Cada um belisca um pouco” pela Biscoito Fino. Em 2003 o CD – “Oswaldinho do Acordeon” pela Kuarup. Em 2002 o CD – “Asa branca blues” pela Kuarup. Em 2001 o CD – “Um bom Forró” pela Kuarup. Em 1998 o CD – “Ao vivo No estúdio” pela Pau Brasil. Em 1993 o CD – “Instrumental no CCBB – Oswaldinho e João Parayba” pela Tom Brasil. Em 1993 o CD – “Vesúvio” pela RGE. Em 1987 o LP – “Oswaldinho” pela 3M. Em 1984 o LP – “Forró feroz” pela Acervo Records. Em 1983 o LP – “Céu e chão” pela Som da Gente. Em 1982 o LP – “Forró 2000” pela Continental. Em 1981 o LP – “Forró in concert” pela Continental. Em 1979 o LP – “Natureza” pela Copacabana. Em 1977 o LP – “Forró pop” pela Copacabana. Em 1973 o LP – “Fantástico Oswaldo Silva” pela Tropicana. Em 1972 o LP – “Evolução” pela Cantagalo.
Minhas músicas mais conhecidas: Abertura, Albatroz, Alta tensão, Anunciação (com Eliezer Setton), Arco-íris, Baião do meu amor (com Guidô), Beija-flor (com Eliezer Setton), Beijo carmim (com Valdir Luz), Boicote, Bom e bonito, Buscas (com Afrânio Moreira Lima), Cá entre nós, Chão mineiro, Concorde, Continente, Corre pra não apanhar, Cuba na cuca, De coração para coração, Decolagem pro sertão de Nova York, Dom de tocar (com Paulo Nascimento), Enigma, Fantástico (com Nivaldo Gomes), Força viva, Forró com fritas, Forró feroz, Forró in concert, Forró vingado, Guada e Liv no forró (com Guadalupe), Hipnose, Hora celestial, Jeito barroco, Krakatoa, Lamento amazônico (com Moraes Moreira), Líbano (com Nivaldo Gomes), Linda de natureza (com José Carlos), Língua de canivete, Luz da ira (com Biguá), Macambira, Mar azul, Maravilha (com Paulo Nascimento e Élton Ribeiro), Motivação, Mulé macho (c/ Eliezer Setton), Natureza e sonhos, Navio, Nó cego (com Eliezer Setton), Nordeste saudoso (com Guidô), Pesadelo, Pra ti Sevília (com Marcos Farias), Quero te ver feliz (com Paulo Nascimento), Retraído, Risco, Santa Cruz do Capibaribe, Segura as calças (com Paulo Nascimento), Sol maduro (com Moraes Moreira), Som para Little River, Sorriso de Samanta, Suor, Um frevinho pra você, Um tom para Jobim (com Sivuca), Urubu de bota, Valentão (com Moraes Moreira), Valentão, Respeite o tempero, Vem cá morena (com Paulo Nascimento), Vem comigo (com Paulo Nascimento), Vesúvio.
09) RM: Fale de composições sua gravadas por outros cantores.
Oswaldinho do Acordeon: Fiz a músico “Valentão” que o Morais Moreira colocou a letra e fez sucesso na voz de Baby do Brasil. Outras não atingiram tanta popularidade. Tenho muitas melodias, mas não encontrei ainda um bom letrista. A música tem que ser boa em melodia e letra.
10) RM: Fale da trajetória e importância de Pedro Sertanejo (Pedro de Almeida e Silva) para música nordestina.
Oswaldinho do Acordeon: Um sertanejo que saiu de Euclides da Cunha, interior da Bahia e chegou ao Rio de Janeiro e depois fixou residência e luta em São Paulo. Um homem que divulgou e pensou no povo e na cultura nordestina. Teve um programa na rádio do grande ABC por 16 anos. Criou a primeira gravadora independente Canta Galo, exceto Luiz Gonzaga e Marinês, a maioria dos sanfoneiros, trios e cantores (a) gravaram lá: Dominguinhos, Genival Lacerda, Abdias, Zé Calixto, Jacinto Silva, Anastácia, Fúba de Taperoá.
Ele tinha um programa na TV Cultura sobre Forró. Meu pai foi de grande importância para música popular brasileira desde 1966, quando abriu a primeira Salão de Forró na Rua Catumbi, 183 no bairro Belenzinho em São Paulo. O local passou a ser um ponto de encontro dos forrozeiros e nordestinos. Ele teve que enfrentar vários obstáculos para mostrar que os nordestinos eram pacíficos.
As autoridades negavam alvará de funcionamento e policiamento nos dias de festas. Se houvesse um atropelamento a 500 metros do Salão que pagava era o meu pai Pedro Sertanejo. A discriminação e preconceito policial criavam uma hostilidade por parte de nordestinos mais valentes com policiais que abusavam da autoridade. Na verdade, o povo que frequentava o Salão queria apenas se divertir e lembrar das coisas do sertão.
11) RM: Quais os prós e contras da popularização do “Forró Universitário” nos anos 2000?
Oswaldinho do Acordeon: Existem pontos positivo do trabalho da garotada do “Forró Universitário”. Mas temos que tomar cuidado com o rótulo de “Universitário” para que os não acadêmicos, ou seja, as pessoas simples que gostam da música nordestina não se sintam retraídas a entrar no Salão ou festa por se tratar de um nível “superior”.
O Forró é festa para todos e retrata a cultura de um povo. O “Forró Universitário”, a priori, surgiu como uma forma de protesto contra as bandas de Forrós do Ceará que pertenciam algumas ao mesmo empresário e que falavam o próprio nome dentro da gravação para sabermos qual banda estava cantando. Algo que se tornou muito maçante. Com a popularização dos grupos intitulados de “Forró Universitário”, os Trios de Forrós voltaram a chamar atenção como sendo um referencial de Forró raiz.
12) RM: Fale da cirurgia de hérnia de disco que você se submeteu e como está a sua recuperação.
Oswaldinho do Acordeon: A hérnia de disco incomodou muito antes da cirurgia. Agora estou recuperando meus movimentos que estavam ficando comprometidos, principalmente do braço esquerdo. Melhorou 70% estou tendo paciência para chegar aos 100%. Eu fiz muita extravagância. Quem não escuta conselho, escuta no futuro: coitado.
13) RM: Fale quem foram e são seus mestres no Acordeon.
Oswaldinho do Acordeon: São muitos. Os principais são Dominguinhos, Sivuca, Caçulinha, Orlando Silveira, Maestro Chiquinho, Pedro Sertanejo. Excelentes instrumentistas e arranjadores. Essas pessoas foram minha escola. O meu pai Pedro Sertanejo tinha uma forma ímpar de tocar sem imitar ninguém. Ele fez a sua própria sanfona e criou seu estilo.
14) RM: Oswaldinho do Acordeon, quais os projetos para 2003?
Oswaldinho do Acordeon: A princípio meus dois CDs: “Um bom Forró” e “Asa Branca Blues” que comentei anteriormente. Um álbum com Forrós tradicionais e inéditos cantados por mim e por uma cantora que trabalha comigo: Veridiana Nascimento. O outro instrumental com músicas inéditas minhas e regravações do cancioneiro nordestino como: “Baião”, “Asa Branca”, “Que nem Jiló”, “Forró do Pedro”. Em março, estarei em Paris divulgando o álbum “Asa Branca Blues”.
15) RM: Fale de seu trabalho fora do Brasil e qual a receptividade.
Oswaldinho do Acordeon: Quando um artista brasileiro está fora do país, é importante trocar informações com os músicos locais. Toquei em uma casa de show americana a Blue Note, com vários artistas de blues e jazz que abriu minha cabeça alimentando a minha influência da juventude com o rock, blues e jazz do final da década 60 anos. Gravei com músicos americanos. Gosto de fazer fusões da música nordestina com outros gêneros das minhas preferências. Toquei com o ex-presidente francês. Toquei em lugares e pessoas importantes do mundo. Tenho muito orgulho do meu trabalho, meu instrumento e do caminho que escolhi trilhar.
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https://m.cifraclub.com.br/oswaldinho-do-acordeon/albuns.html
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Um Café Lá em Casa com Oswaldinho do Acordeon e Nelson Faria: https://www.youtube.com/watch?v=u5XeAqzSIsc
Oswaldinho no Forró do Pedro Sertanejo – Parque São Rafael- São Paulo: https://www.youtube.com/watch?v=gIVm4vDLkG8
Oswaldinho do Acordeon – Episódio Completo: https://www.youtube.com/watch?v=BdKMKfZpU-w
OSWALDINHO DO ACORDEON / PROGRAMA BAND / SHOW EM TATUÍ: https://www.youtube.com/watch?v=jkw0VjygUi4
Castanheiro e Oswaldinho do Acordeon – Programa Passagem de Som: https://www.youtube.com/watch?v=J7VKdpyIgoc
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