More Mutinho »"/>More Mutinho »" /> Mutinho - Revista Ritmo Melodia
Uma Revista criada em 2001 pelo jornalista, músico e poeta paraibano Antonio Carlos da Fonseca Barbosa.

Mutinho

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Mutinho tem uma história muito rica na música popular brasileira. Geneticamente, é sobrinho do cantor e compositor Lupicínio Rodrigues, pessoa que muito o incentivou na opção de carreira por ele escolhida. Deu-lhe a primeira bateria e o primeiro emprego como músico numa casa de shows que administrava.

Em sua juventude, em Porto Alegre – RS, Mutinho conviveu com grandes músicos, tendo, inclusive, uma de suas composições (“Tristeza de carnaval”) gravada por Elis Regina em seu segundo disco. Era considerado por João Gilberto como “o melhor baterista da bossa nova” e, como citado acima, tinha como um de seus admiradores ninguém menos que Tom Jobim. Quando veio a São Paulo, tocou com muita gente boa: Pery Ribeiro, Leny Andrade, Tânia Maria, entre outros artistas. 

Mutinho foi músico acompanhante dos artistas Vinicius de Moraes e Toquinho de 1974 a 1980. Com eles, fez muitos shows pelo Brasil, incluindo os famosos Circuitos Universitários, além da memorável temporada com Tom Jobim, Vinicius, Toquinho e Miúcha no Canecão, em 1977, que durou cerca de 10 meses com lotação completa todos os dias de espetáculo. Esse mesmo show foi realizado com enorme sucesso na Itália e na França, no ano seguinte.

Em 1977, Mutinho lançou um compacto duplo, com as músicas “Oi lá”, em parceria com Toquinho, que chegou a tocar bastante nas rádios naquele ano, “Minha morena”, “Moça bonita” e “Meu panamá”, estas três últimas compostas por ele, pela RGE.

Depois da morte de Vinicius de Moraes (faleceu em 09 de julho de 1980), Mutinho continuou participando como baterista na banda de Toquinho, cumprindo com ele cerca de 2.000 shows, no Brasil, na França, na Itália, na Espanha, além de duas idas ao Japão. Saiu da banda em 1996, depois de 22 anos de música com o parceiro Toquinho.

Em suas composições em parceria, Mutinho sempre se encarregou das melodias e seus parceiros, das letras. Toquinho convidou Mutinho para comporem juntos as músicas do projeto infantil “Casa de brinquedos”, cujo sucesso foi impulsionado por um especial exibido pela Rede Globo de Televisão com todos os artistas convidados fazendo parte do programa.

A música de encerramento do especial, “O caderno”, melodia de Mutinho com letra de Toquinho, foi o grande sucesso do projeto, sendo cantada e utilizada em filmes, documentários e peças publicitárias até hoje. Outras músicas de destaque desse projeto, que ganhou CD de ouro e, mais recentemente, DVD de ouro, são: “A bicicleta”, “A bailarina”, “O macaquinho de pilha”, “Os super-heróis”, “A bola”.

No ano de 2017, quarenta anos depois daquele compacto duplo, Mutinho gravou, finalmente, seu CD de estreia como intérprete, com produção de Bruno De La Rosa, Wagner Amorosino e Marcos Alma, pela gravadora Kuarup.

Fez alguns shows de lançamento entre o final de 2017 e o final de 2019, destacando-se os SESCs São José dos Campos, Bauru, Birigui, Santos e Santana; dois shows em Brasília, na casa de shows Feitiço Mineiro; show em Porto Alegre, no Espaço 373; dois shows em Santos, na Casa Fórum; um show em São Paulo, no Bar Brahma.

A pandemia da Covid-19 interrompeu os shows presenciais, mas Mutinho fez, ao lado de seu filho, Marcio Mutalupi, um show virtual pelo projeto Conexão das Casas de Cultura – Casa de Cultura Santo Amaro – e três outros shows pelo projeto Caldeirão Cultural. Mutinho toca bateria como músico fixo no Baretto, que fica no Hotel Fasano, em São Paulo.

Em 2023, Mutinho gravou seu segundo álbum, “Casa de Mutinho”. Este álbum teve sua realização possível graças aos recursos do Edital do Programa de Ação Cultural 15/2022 – Gravação de Álbum Inédito – da Secretaria de Cultura, Economia e Indústria Criativas do Governo do Estado de São Paulo.

Segue abaixo entrevista exclusiva com Mutinho para a www.ritmomelodia.mus.br, entrevistado por Antonio Carlos da Fonseca Barbosa em 13.05.2024:

01) Ritmo Melodia: Qual a sua data de nascimento e a sua cidade natal?

Mutinho: Nasci no dia 04/02/1941, em Porto Alegre, Rio Grande do Sul. Registrado como Lupicínio Morais Rodrigues, sobrinho do cantor e compositor Lupicínio Rodrigues (nascido no dia 16 de setembro de 1914 – Porto Alegre – RS e falecido no dia 27 de agosto de 1974 – Porto Alegre – RS).

02) RM: Fale do seu primeiro contato com a música.

Mutinho: Meu primeiro contato com a música foi quando eu era criança, junto de meus familiares, porque meu pai cantava bem, meu tio Lupicínio Rodrigues era cantor e compositor e todos os meus parentes gostavam de música, com muitas serenatas em casa.

03) RM: Qual sua formação musical e/ou acadêmica fora da área musical?

Mutinho: Minha formação musical foi um pouco autodidata, intuitiva, mas também, antes de me tornar músico profissional estudei dois anos de piano, um pouco de harmonia e leitura musical.

04) RM: Quais as suas influências musicais no passado e no presente. Quais deixaram de ter importância?

Mutinho: As minhas influências musicais no passado foram mais de música brasileira tradicional, até que veio o Tom Jobim, João Gilberto, esse pessoal; aí mudou, vi que era essa música que eu queria fazer. Depois, já como profissional, escutava muito jazz e música erudita. Todas essas influências foram muito importantes, porque a gente usa tudo que a gente ouve, aprende, toma conhecimento.

05) RM: Quando, como e onde você começou sua carreira musical?

Mutinho: O meu tio Lupicínio Rodrigues tinha um bar que se chamava Vogue, e eu já estava estudando piano há dois anos. Ele me levou até lá e disse pro baterista que estava tocando naquela hora que tinha me trazido porque queria saber se eu tinha jeito pra coisa.

Eu fiquei escutando o cara fazer uma levada de samba-canção, prestando bastante atenção nos movimentos dele. Quando ele parou de tocar, meu tio me mandou sentar na bateria e pediu aos outros músicos para tocarem a mesma música. Eu “fui atrás” deles e toquei a música inteira; quando terminou, meu tio disse: “Pode vir aqui pra mim no sábado”. Foi a primeira vez que eu vi uma bateria…

06) RM: Quantos CDs lançados?

Mutinho: Gravei um compacto duplo pela RGE, em 1977. Tenho dois álbuns lançados, ambos pela Kuarup: quarenta anos depois daquele compacto duplo, gravei meu álbum de estreia como intérprete, “Meu segredo” (2017), com produção de Bruno De La Rosa, Wagner Amorosino e Marcos Alma, pela gravadora Kuarup, cujo repertório é o seguinte: Até rolar pelo chão (Mutinho / Vinicius de Moraes), Amigo porteño (Mutinho / Vinicius de Moraes), Numa só das mãos (Mutinho / Luiz Carlos Seixas / Toquinho), Oi lá (Mutinho / Toquinho), Sem saída (Mutinho / Toquinho)

– Turbilhão (Mutinho / Toquinho), Valsa dos músicos (Mutinho / Vinicius de Moraes) – participação especial: Miúcha, Meu panamá (Mutinho) – participação especial: Georgiana de Moraes, Meu segredo (Mutinho / Toquinho) – primeira parceria dos dois, inédita até então – participação especial: Toquinho, Azul de maio (Mutinho) – inédita Estrela dourada (Mutinho / Marcio Mutalupi) – inédita, Escapada (Mutinho / João Palmeiro) – inédita, O rancho convida (Mutinho / João Palmeiro) – inédita, O sonho de Heloísa (Mutinho / Carlos Chagas) – inédita.

Em 2023 lancei o álbum “Casa de Mutinho”, que teve sua realização possível graças aos recursos do Edital do Programa de Ação Cultural 15/2022 – Gravação de Álbum Inédito – da Secretaria de Cultura, Economia e Indústria Criativas do Governo do Estado de São Paulo. Reproduzimos aqui um texto escrito pelos produtores do disco sobre “Casa de Mutinho”: “O caderno”, a música mais conhecida de Mutinho (em parceria com Toquinho), aqui pela primeira vez gravada pelo artista, simboliza a trajetória desse maravilhoso compositor, se aventurando pela segunda vez, aos 82 anos de vida, como protagonista em um disco, e que lança um apelo para as futuras gerações: “só peço a você um favor, se puder: não me esqueça num canto qualquer”.

Junto com “O caderno”, canções inéditas ganham luz, clássicos se reinventam e parcerias tomam forma de participações que oxigenam e são oxigenadas pela sensibilidade da obra de Mutinho. Este álbum é um belo retrato do artista, que segue compondo cotidianamente: é fiel à sua personalidade musical, mas aponta para frente. Está no presente, sem se distrair com o modismo. Dialoga com o passado, sem tropeçar no saudosismo.

O título “Casa de Mutinho” se dá pelo repertório, que tem como espinha dorsal um tipo específico de olhar maduro e poético de Mutinho sobre a infância. Embora não se pretenda “infantil”, muitos desses olhares – reunidos no álbum -, são facilmente reconhecidos pelas crianças, que repetem em sucessivas gerações as melodias de Mutinho. “Nuvem”, “Bosque”, “Bicicleta”, “Bola”, “Esse menino”, são palavras do repertório que montam rapidamente no imaginário uma imagem qualquer de “casa”.

É uma felicidade poder comemorar, junto ao lançamento deste álbum, os 40 anos de “Casa de Brinquedos”, álbum consagrado da dupla Mutinho/Toquinho, que contém verdadeiras joias do cancioneiro. Parte delas agora poderão ser ouvidas nas vozes de Zeca Baleiro (A bicicleta), Mundo Aflora (A bola), Leopoldina (A bailarina) e Wandi Doratiotto (O macaquinho de pilha). Além das participações especialíssimas de Fernanda Takai, Hélio Ziskind, Lucy Brand, Toquinho e Bruno De La Rosa (que fez os arranjos e assina a produção do álbum, com Wagner Amorosino).

A “Casa de Mutinho” é mesmo a casa dele: acolhedora, hospitaleira, carinhosa. Desde a primeira faixa, que é uma vinheta extraída de uma entrevista que ele concedeu, em 1975, ao jornalista Aramis Millarch, até a última, onde “os quatro mosqueteiros musicais” cantam no quintal de “A nossa casa”, o clima do disco é de acolhimento, de reminiscências boas, de sentimentos variados, mas sempre fortes, na citação de brincadeiras e brinquedos, no amor realizado, na amizade e no carinho da família.

O afeto familiar está presente nas canções e na vida real, como em “Mar de Isabel”, feita por Mutinho e seu filho, Márcio Mutalupi, com letra de Bruno De La Rosa, dedicada à sua filha. O mesmo acontece em “Ao que vai chegar”, parceria de Mutinho e Toquinho, dedicada a Pedro, primogênito de Toquinho, e em “Canção pra Jade”, brilhantemente gravada por Fernanda Takai, dedicada à segunda filha do violonista.

E os jogos e as canções das crianças continuam no amálgama de emoções que nos trazem “Jogo da amarelinha”, cantada em português e em inglês por Mutinho e Lucy Brant, com letra de Carlos Chagas; em “Esse menino”, parceria com Toquinho, na voz marcante de Hélio Ziskind; e em “Modinha”, nos versos de Luiz Carlos Seixas: “Se essa rua fosse só minha / quem sabe a tua casa seria, da minha casa, vizinha”.

A natureza em torno da casa também se faz presente, nas canções “A nuvem” e “Eu sou esse bosque”, esta última um verdadeiro auto-retrato de Mutinho, iniciada com uma fala de Vinicius de Moraes também captada pelo jornalista Aramis Millarch.

A “Casa de Mutinho” está aqui, “com a porta sempre aberta / igualzinho ao coração” (Bruno De La Rosa / Wagner Amorosino).

Repertório do álbum: Fiz a cama na varanda (Dilu Melo / Ovídio Chaves), A bicicleta (Mutinho / Toquinho) com Zeca Baleiro, Ao que vai chegar (Mutinho / Toquinho) com Toquinho e Mutinho, Modinha (Mutinho / Luiz Carlos Seixas), Eu sou esse bosque (Os girassóis) (Mutinho), A bola (Mutinho / Toquinho) com Mundo Aflora, Canção pra Jade (Mutinho / Toquinho) com Fernanda Takai, Nuvem (Mutinho), A bailarina (Mutinho / Toquinho) com Leopoldina, O macaquinho de pilha (Mutinho / Toquinho) com Wandi Doratiotto, Jogo da amarelinha (Mutinho / Carlos Chagas) com Lucy Brand e Mutinho, Esse menino (Mutinho / Toquinho) com Helio Ziskind, Mar de Isabel (Mutinho / Marcio Mutalupi / Bruno De La Rosa) com Bruno de La Rosa e Mutinho, O caderno (Mutinho / Toquinho), A nossa casa (Mutinho) / Quatro mosqueteiros (Mutinho / Toquinho / Vinicius de Moraes) com Vinícius de Moraes, Toquinho, Azeitona e Mutinho.

07) RM: Como você define seu estilo musical?

Mutinho: Mesmo tendo algumas preferências de repertório, não tenho estilo definido, pois, como profissional, tenho de tocar de tudo.

08) RM: Você estudou técnica vocal?

Mutinho: Eu não estudei técnica vocal. Faço alguns exercícios, mas nunca estudei profundamente a técnica. É muito importante. Eu devia ter estudado um pouco para ter mais facilidade pra cantar, usar melhor o diafragma, essas coisas.

09) RM: Qual a importância do estudo de técnica vocal e cuidado com a voz?

Mutinho: Acho muito importante a técnica vocal, assim como todo tipo de técnica instrumental: você tendo técnica, faz tudo com mais facilidade.

10) RM: Quais as cantoras (es) que você admira?

Mutinho: Muitas já foram embora… Das cantoras novas, gosto de muitas delas, tanto americanas como brasileiras.

11) RM: Como é seu processo de compor?

Mutinho: Quando aparece uma ideia, ela me escraviza. Aí, não tem como não continuar a melodia até ela acabar.

12) RM: Quais são seus principais parceiros de composição?

Mutinho: Vinicius de Moraes, Toquinho, Carlos Augusto Chagas, Luiz Carlos Seixas, Bruno De La Rosa e Marcio Mutalupi.

13) RM: Quais os prós e contras de desenvolver uma carreira musical de forma independente?

Mutinho: Começando pelo contra: quando a gente começa uma carreira musical praticamente sem estrutura, quando a família não pode te dar um apoio com os estudos, e você começa a trabalhar sem informação, tem de buscar tudo por tua conta, podem acontecer muitas coisas. Às vezes, a gente até pode ser rejeitado, por falta de conhecimento e de informação.

O bom disso é quando você consegue superar essa fase e se tornar um profissional, e viver bem com aquilo que você faz. Aí, você tem chance de ser um cara feliz como músico profissional.

14) RM: Quais as estratégias de planejamento da sua carreira dentro e fora do palco? 

Mutinho: A minha estratégia foi se formando à medida que eu fui trabalhando como profissional da música e conheci as obrigações da profissão. Aprendi que a gente tem de trabalhar sério, ter pontualidade, e corresponder àquilo que as pessoas exigem de você tocando.

15) RM: Quais as ações empreendedoras que você pratica para desenvolver a sua carreira musical?

Mutinho: A minha ação empreendedora é tocar um pouco de bateria e de violão todos os dias, pra poder mexer nos instrumentos com um pouco de facilidade, como sempre fiz.

16) RM: O que a internet ajuda e prejudica no desenvolvimento de sua carreira musical?

Mutinho: A Internet não me prejudica em nada porque ela não me usa – eu a uso.

17) RM: Quais as vantagens e desvantagens do acesso à tecnologia de gravação (home estúdio)?

Mutinho: A vantagem é que você não precisa mais de uma gravadora. A desvantagem é que às vezes você não tem equipamentos e instalações suficientes que lhe permitam uma excelência de qualidade ao final do trabalho.

18) RM: No passado a grande dificuldade era gravar um disco e desenvolver evolutivamente a carreira. Hoje gravar um disco não é mais o grande obstáculo. Mas, a concorrência de mercado se tornou o grande desafio. O que você faz efetivamente para se diferenciar dentro do seu nicho musical?

Mutinho: Eu entrego esse problema pra minha produção, que é um time muito competente.

19) RM: Como você analisa o cenário da Música Popular Brasileira. Em sua opinião quais foram as revelações musicais nas últimas décadas? Quais artistas permaneceram com obras consistentes e quais regrediram?

Mutinho: O pessoal do passado, como Gilberto Gil, Chico Buarque, Caetano Veloso… Esses continuam, mas não regrediram, não. O trabalho deles continua muito bom. Mais pra atualidade, eu cito Djavan, Lenine e Bruno De La Rosa.

20) RM: Quais as situações mais inusitadas aconteceram na sua carreira musical (falta de condição técnica para show, brigas, gafes, show em ambiente ou público tosco, cantar e não receber, ser cantado etc)?

Mutinho: Teve uma situação frustrante, quando fui a um estúdio gravar, mas não tinha prática de leitura de partituras de música popular; só tinha um pouco de estudo de leitura de música erudita, pois estudei um pouco de tímpano com o Claudio Stephan, e a gravação não deu certo.

Outro caso que me deixou triste, logo no início de minha carreira, é que fiz um Réveillon contando com o cachê, toquei a noite inteira e o contratante foi embora antes do final do show com toda a renda da festa…

21) RM: O que lhe deixa mais feliz e mais triste na carreira musical?

Mutinho: O que me deixa triste é o fato de muita gente ter deixado de trabalhar na música por não ter onde tocar. Até mesmo nas ações políticas de incentivo, o músico sempre foi deixado à margem, em detrimento dos intérpretes. Até hoje, a música no Brasil não é uma profissão; ainda é um divertimento e sofre muitos preconceitos.

Então, isso me deixa triste, porque teve muita gente que se separou da família porque deixou de tocar, não tinha onde trabalhar e perdeu mulher e filhos por causa disso. A falta de respeito com os músicos e com a atividade musical me entristece demais.

E o que me deixa feliz é que ainda posso tocar e trabalhar com música todo dia. Isso me faz feliz, verdadeiramente.

22) RM: Existe o Dom musical? Como você define o Dom musical?

Mutinho: O dom musical é quando o cara nasce como eu, que aos 14 anos de idade falei para minha família que tinha nascido músico. E eu sabia disso: nunca fiz outra coisa na minha vida a não ser tocar bateria e compor. Mas, também, a pessoa que se esforça, mesmo sem tanto talento, às vezes fica melhor que o cara que tem dom e não estuda nada, não se interessa em melhorar.

23) RM: Qual é o seu conceito de Improvisação Musical? Existe improvisação musical de fato, ou é algo estudado antes e aplicado depois?

Mutinho: A improvisação existe de duas formas: uma é uma forma intuitiva, mas mesmo assim a pessoa tem de conhecer as escalas de improvisação e tem de saber harmonia, porque se não souber, fica uma coisa completamente fora de contexto.

Mesmo sendo uma improvisação outside, ela tem de ser consciente. Outra forma, que é muito praticada, é você “compor” uma improvisação, ou seja, estudar previamente uma variação da melodia que soe como improvisação.

24) RM: Quais os prós e contras dos métodos sobre Improvisação musical?

Mutinho: Não posso lhe responder isso, porque para tocar bateria não estudei improvisação. Como meu instrumento não é melódico nem harmônico, nunca tive nenhuma formação nesse sentido. Mas estudei um pouco de harmonia, isso sim.

25) RM: Quais os prós e contras dos métodos sobre o Estudo de Harmonia musical?

Mutinho: Todo método é bom; cabe ao aluno aproveitá-lo da melhor maneira.

26) RM: Você acredita que sem o pagamento do jabá as suas músicas tocarão nas rádios?

Mutinho: Hoje em dia, não é possível tocar música em rádios comerciais sem pagar o jabá, que já está institucionalizado – tem até tabela de preços e horários.

27) RM: O que você diz para alguém que quer trilhar uma carreira musical?

Mutinho: Eu aconselharia que a pessoa estudasse muito, se dedicasse muito, ouvisse tudo o que pudesse, e praticasse muito também, porque não adianta estudar sem tocar; o cara vira um professor, mas não consegue executar. E também fazer um cursinho de sofredor, porque a luta não é fácil.

28) RM: Festival de Música revela novos talentos?

Mutinho: Os festivais de música antigamente revelaram muita gente, como Gilberto Gil, Chico Buarque, Tom Zé, Edu Lobo, Caetano Veloso... Se a grande mídia estivesse interessada hoje em fazer a mesma coisa que se fazia antes, talvez tivéssemos a oportunidade de ver revelados novos talentos, como no passado.

29) RM: Como você analisa a cobertura feita pela grande mídia da cena musical brasileira?

Mutinho: A grande mídia deixou de se interessar em divulgar música de qualidade.

30) RM: Qual a sua opinião sobre o espaço aberto pelo SESC, SESI e Itaú Cultural para cena musical?

Mutinho: Os espaços abertos por SESC, SESI e Itaú Cultural permitem a divulgação de trabalhos de qualidade, talvez até por não terem um interesse comercial como objetivo maior. São espaços maravilhosos que dão oportunidade àqueles que não têm chance de aparecer em circuitos de maior alcance.

31) RM: Cite as músicas em parcerias com Toquinho e mais parceiros.

Mutinho: Turbilhão (Mutinho / Toquinho), Oi lá (Mutinho / Toquinho), O irmão do Nestor (Mutinho / Toquinho), Bom sofredor (Mutinho / Toquinho), Na terra, no céu ou no mar (Mutinho / Toquinho / Luiz Alves), Samba pra rapaziada (Mutinho / Toquinho), Esse menino (Mutinho / Toquinho), Lembranças – homenagem a Tenório Jr. (Mutinho / Toquinho), Até rolar pelo chão (Mutinho / Vinicius de Moraes), Escravo da alegria (Mutinho / Toquinho), Ao que vai chegar (Mutinho / Toquinho) Canção pra Mônica (Mutinho / Toquinho), Canção pra Jade (Mutinho / Toquinho), Amor ateu (Mutinho / Toquinho), Meu panamá – homenagem a Vinicius de Moraes (Mutinho), Sem saída (Mutinho / Toquinho), Numa só das mãos (Mutinho / Luiz Carlos Seixas / Toquinho).

32) RM: Cite outras composições significativas e alguns de seus intérpretes.

Mutinho: Moreninha (Mutinho) – Conjunto Flamboyant (1961), Saudade de brinquedo (Mutinho / Carlos Chagas) – Norberto Baldauf (1962), Tristeza de carnaval (Mutinho / Bidú) – Elis Regina (1963), Canto de chegar (Mutinho / João Palmeiro) – Leny Andrade (1966), Porto Seguro (Mutinho / Ivaldo Roque) – Eliana Pittman (1971), Tô por fora da jogada (Mutinho / Itiberê Zwarg) – Trio Mocotó (1973), Vem cá (Mutinho) -Trio Mocotó (1973), Na escadaria (Mutinho / Macumbinha) – Macumbinha & Família (1973), Primavera (Mutinho / Vinicius de Moraes) – Cybele (1974), Jazz do nosso amor (Mutinho) – Leny Andrade (1974), Amigo porteño (Mutinho / Vinicius de Moraes) – Pery Ribeiro (1976), Moça bonita (Mutinho) – Dóris Monteiro (1981), Valsa dos músicos (Mutinho / Vinicius de Moraes) – Miúcha (1988), Pelas alamedas (Mutinho / João Palmeiro) – Zezé Freitas (2005), Conversando (Mutinho / Bruno De La Rosa) – Bruno De La Rosa (2012).

33) RM: Quais os seus projetos futuros?

Mutinho: Continuar fazendo o que eu sempre fiz até hoje: tocando bateria todo dia e compondo. Estou gravando meu terceiro álbum, que pretendo lançar no ano que vem – já tem sete músicas prontas.

34) RM: Quais seus contatos para show e para os fãs?

Mutinho: Contato para shows: [email protected]  (11) 98408 – 8900, com Wagner Amorosino

Redes sociais: Instagram: https://www.instagram.com/mutinhoficial

Facebook: https://www.facebook.com/mutinhooficial

Link do CD “Casa de Mutinho” no YouTube: https://www.youtube.com/playlist?list=OLAK5uy_mBe2INVBoDd6SDFWEsrItLoYDBuKquySU

“Meu segredo” (2017) Link do CD no YouTube: https://www.youtube.com/watch?v=7rWqKHxq-Rw&list=PLBV5JUlrJAIlQE9969bjVn0yWJ9I6EmWL

Vídeo com Toquinho (“Meu segredo”): https://www.youtube.com/watch?v=eSzVoMoF3w8

Vídeo com Miúcha (“Valsa dos músicos”): https://www.youtube.com/watch?v=b96r9rjlxm8

Vídeo com Georgiana de Moraes (“Meu panamá”): https://www.youtube.com/watch?v=YYdpVbJMum4

Álbum “Casa de brinquedos”: https://www.youtube.com/watch?v=Ts-ms5DPc-o

Depoimentos de profissionais da música sobre Mutinho: https://youtu.be/w2xVPxnhPFI

Show de Mutinho – Edital ProAC LAB 42/2021 (gravado no Estúdio 185 Apodi, em São Paulo) https://youtu.be/0zJiI6YqehA

Links de matérias sobre Mutinho: Folha de São Paulo – Acontece – Canções dão vida a “Casa de Brinquedos” – 17/04/1999, por Cristiano Cipriano Pombo: https://www1.folha.uol.com.br/fsp/acontece/ac17049902.htm

Portal do Holanda – ‘A bênção, Mutinho, saravá!’ – 17/08/2017, por Raimundo de Holanda: https://www.portaldoholanda.com.br/arte-e-cultura/bencao-mutinho-sarava

Immub – “Meu segredo” desvela talento do sobrinho de Lupicínio Rodrigues – 19/09/2017, por Tárik de Souza:

https://immub.org/noticias/meu-segredo-desvela-talento-do-sobrinho-de-lupicinio-rodrigues

Portal G1 – Álbum ‘Meu segredo’ revela inéditas do baú autoral do violonista Mutinho – 21/09/2017, por Mauro Ferreira:

http://g1.globo.com/musica/blog/mauro-ferreira/post/album-meu-segredo-revela-ineditas-do-bau-autoral-do-violonista-mutinho.html

Coluna do Aquiles (Jornal de Brasília) – A música está com ele – 15/11/2017, por Aquiles Rique Reis: https://jornaldebrasilia.com.br/coluna-do-aquiles/a-musica-esta-com-ele/

GZH Magazine – Sobrinho de Lupicínio Rodrigues vai se apresentar em Porto Alegre – 03/04/2018, por Ricardo Chaves: https://gauchazh.clicrbs.com.br/cultura-e-lazer/almanaque/noticia/2018/04/sobrinho-de-lupicinio-rodrigues-vai-se-apresentar-em-porto-alegre-cjfirgz4v04k601ph9cmfoyx7.html

Blog Mondo Pop – Mutinho mostra as músicas de Meu Segredo no Bar Brahma – 08/01/2019, por Fabian Chacur: https://www.mondopop.net/2019/01/mutinho-mostra-as-musicas-de-meu-segredo-no-bar-brahma

Blog SEGS – Memória viva da MPB, Mutinho faz dois shows gratuitos no SESC Santos – 28/03/2019: https://www.segs.com.br/eventos/163577-memoria-viva-da-mpb-mutinho-faz-dois-shows-gratuitos-no-sesc-santos/amp

Sobre show em Porto Alegre, realizado em 2018: https://gauchazh.clicrbs.com.br/cultura-e-lazer/almanaque/noticia/2018/04/sobrinho-de-lupicinio-rodrigues-vai-se-apresentar-em-porto-alegre-cjfirgz4v04k601ph9cmfoyx7.html


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