Marcelo Silva, conhecido como Max B.O., é um dos pioneiros na rima de improviso do Rap (Freestyle) no Brasil, considerado por muitos MCs e entendedores da oralidade um verdadeiro “mestre do Freestyle nacional”.
Criou, ao lado de Paulo Napoli, a Academia Brasileira de Rimas – movimento precursor de MCs que se dedicavam ao freestyle no Brasil – e, pouco tempo depois de encerrar o projeto, deu o pontapé inicial para a sua carreira solo. Já dividiu estúdio com nomes como Thaíde & DJ Hum, KL Jay, Edi Rock, Black Alien, Marcelo D2, Funk Como Le Gusta, Veiga & Salazar, Trio Mocotó, Rashid e Karina Buhr.
Apaixonado pela escola de Samba Vai – Vai desde 1995, entrou para a Ala de Compositores em 2015, sendo o único membro da cultura Hip Hop a ocupar esse espaço. Neste mesmo ano, nasceu o “Partido B.O.”, grupo de Samba de Breque e Partido Alto. Estudante ativo da rima de improviso como ferramenta de comunicação, Max B.O. explora as mais diversas possibilidades e estilos. Além do domínio com o Freestyle e o Samba de Partido Alto – que é a veia de improviso do samba – o artista se arrisca no Repente, na Embolada e outros estilos de oralidade improvisada.
No cinema, Max B.O. atuou e fez parte da trilha sonora do longa-metragem “Antonia” de Tata Amaral. Assinou, ainda, a assistência de direção de “Versificando”, um média-metragem que aborda os diversos estilos de rima de improviso no Brasil como o Repente, Embolada, Freestyle, Samba de Partido Alto e Cururu e participou do filme “3P” que conta a história do basquete nacional. Na televisão, fez o MC Rappórter, quadro de destaque no programa Brothers da RedeTV! e apresentou o programa “Manos e Minas” na TV Cultura por 6 temporadas, fazendo mais de 250 programas.
Max B.O. ainda conta com uma carreira nas artes plásticas, iniciada em 2019 através de colagens analógicas, onde utilizava apenas cola, papel e tesoura. Com o passar do tempo, expandiu suas técnicas para Assemblage – pintura com a fusão de outros componentes. Em 2022, fez sua primeira exposição individual “Oju Adé – o Olho da Coroa” com 54 obras, ficando em cartaz no Tendal da Lapa e depois nas Oficinas Culturais Osvald de Andrade.
Formado em teatro desde os 11 anos de idade, foi aluno de Maria Chiesa e Augusto Boal. Em 2011, estreou, ao lado do DJ Babão, o espetáculo “Homero Rap – Ilíada e Odisséia” cantando partes da história grega em formato de Rap. Atualmente, trabalha no monólogo “Curiandamba”, idealizado e atuado pelo próprio rapper. O projeto é inspirado na energia ancestral de Geraldo Filme, um personagem muito importante na história do Vai Vai e do Samba Paulista.
Seu texto conta com o poeta de Slam Gustavo Arranjus, responsável por escrever sobre um “nego véio” do samba, além do auxílio de Alexandre Diniz e da direção de Renata Pimentel, professora, artista e escritora. Contemplada por um Edital, a peça tem estreia prevista para o segundo semestre de 2024, ano em que São João da Boa Vista, terra natal de Geraldo Filme, completa dois séculos.
O rapper Max B.O abre alas para sua nova era com o single “Diálogo com a Consciência” que estará disponível em todas as plataformas no dia 29/03. Produzida por Noturno 84, a música conta com a participação de Dj Nato Pk e antecede o lançamento de seu próximo álbum “Estrada Aberta”. A faixa vem acompanhada de um videoclipe e navega por uma conversa interna do protagonista com os seres invisíveis que o guiam, se apresentando como um convite para nos conectarmos com o caminho que percorremos ao longo de nossa existência.
“Diálogo com a Consciência” nasceu de um monólogo vivido pelo rapper em um sonho, onde ele era o personagem principal que fazia e respondia suas próprias perguntas. A partir daí, Max B.O. se inspirou em cenários intimistas e de pouca luz de interrogatórios para criar todo o conceito da música, em um processo de imersão completa ao lado de Noturno 84, responsável por dar vida a todas as batidas presentes na faixa.
“‘Essa música é uma conversa comigo mesmo, uma conversa entre mim e aqueles seres invisíveis que caminham nos meus ombros. Aqueles que as pessoas costumam chamar de “meu anjo” e “meu demônio”, é algo assim meio parecido com o espelho que fala quando você se olha nele, como uma sessão de terapia. ‘Diálogo com a Consciência é um momento de reflexão que eu sempre acreditei que as pessoas devem ter com elas mesmas.”
Max B.O. assina toda a concepção criativa e direção visual do videoclipe que acompanha o lançamento de “Diálogo com a Consciência”, enquanto Felipe Feijão é responsável pela captação das imagens. A atuação fica por conta de Belom Dan e Magrão.
“Eu aprecio muito o talento e a postura de palco de Belom Dan, uma poeta imensa, e também sinto que o Magrão além de ser um excelente MC, é improvisador nato e tem uma veia muito latente e visceral para atuação que deve ser mais desenvolvida. Um dia falei pra ele: ‘Magrão, acho que vai ser bem louco um trabalho com você e Belom Dan atuando. Tô com ideia de clipe aqui e quero vocês.’ Eu os vejo como dois astros, opostos complementares. O clipe é dirigido por mim, o primeiro trabalho de atuação dos dois e as imagens foram captadas por Felipe Feijão.”
Segue abaixo entrevista exclusiva com Max B.O para a www.ritmomelodia.mus.br, entrevistado por Antonio Carlos da Fonseca Barbosa em 10.07.2024:
01) Ritmo Melodia: Qual a sua data de nascimento e a sua cidade natal?
Max B.O: Nasci em 05/04/1979 na zona norte da cidade de São Paulo. Registrado como Marcelo Silva.
02) RM: Fale do seu primeiro contato com a música.
Max B.O: Meu primeiro contato com a música foi através do rádio, de músicas que os vizinhos ouviam nos sábados à tarde, enquanto arrumavam a casa ou lavavam seus carros, tenho muito presente na memória artistas como Tim Maia e Djavan. Aos 6 anos, meu pai me colocou pra praticar violão, mas não deu muito certo…
03) RM: Qual a sua formação musical e/ou acadêmica fora da área musical?
Max B.O: Não tenho formação acadêmica. A minha primeira formação é teatral, aos 12 anos fui aluno da Escola de Teatro Spaço Seu, da professora Maria Chiesa. Depois fui aluno de uma capacitação do C.T.O. (Centro de Teatro do Oprimido) de Augusto Boal.
04) RM: Quais as suas influências musicais no passado e no presente. Quais deixaram de ter importância?
Max B.O: Minhas influências estão na música brasileira em geral, mas principalmente nos estilos que reverenciam a oralidade de improviso como o Samba de Partido Alto, a Embolada e principalmente o Repente. Bebo muito do Samba, Reggae e aplico muito disso no Rap que faço. Não tenho nenhuma influência que deixou de ter importância.
05) RM: Quando, como e onde você começou a sua carreira musical?
Max B.O: Minha carreira musical começou cedo, em 1991 eu tinha 12 anos e já gostava de RAP, escrevia umas rimas. Fazia parte de uma POSSE – nome dado aos coletivos de hip hop na época – a V.Z.N., Voz da Zona Norte, e em 1992 estudava num colégio onde havia um Festival da Canção disputado entre as classes.
Fiz o primeiro Rap a ser apresentado no Festival e minha sala ganhou naquele ano, aí resolvi deixar o teatro e seguir na música. Me tornei profissional em 1999, quando assinei meu primeiro contrato pra um show no “Dulôco99” o primeiro Festival Internacional de Hip Hop no Brasil.
06) RM: Quantos CDs lançados?
Max B.O: Quatro: Ensaio, O Disco – 2010; Antes Que O Mundo Acabe – 2012; FumaSom Vol. 1 – 2013; O.M.M.M. – 2019.
07) RM: Como você define seu estilo musical dentro do RAP?
Max B.O: Acho que meu estilo pode ser chamado de tradicional. Eu pensei em dizer boombap, mas tenho feito colaborações com Trap também, não tenho nada que me atrapalhe ou me impeça de transitar noutras vertentes.
08) RM: Você estudou técnica vocal?
Max B.O: Já. Inclusive atualmente, morando em Salvador – BA, sou aluno do curso de canto e coral do Projeto Casa da Ponte, do Maestro Ubiratan Marques. Sou aluno da polo que fica na Escola Olodum.
09) RM: Quais as cantoras (es) que você admira?
Max B.O: Maria Bethânia é minha predileta, mas gosto muito de Jorge Ben, Tim Maia,João Bosco, Maria Creuza, Beth Carvalho, Gal Costa, Racionais, Thaíde, Dexter, Bob Marley, Peter Tosh. Curto muito Buena Vista Social Club, em especial Ibrahim Ferrer e Omara Portuondo. A Omara tive o prazer de conhecer em 2014. Mas eu curto muita coisa, gosto de João Gomes.
10) RM: Como é o seu processo de compor?
Max B.O: Não tenho um processo particular, às vezes estou de bobeira e vem uma ideia, já vou pro bloco de notas. Outras vezes existe um tema e preciso surfar naquelas ondas. Mas não tem nada definido, já aconteceu de numa manhã eu ficar vendo a vista da minha janela e sai a música ou de eu acordar no meio da noite e aproveitar pra fazer um som.
11) RM: Quais são seus principais parceiros de composição?
Max B.O: Não tenho especialmente parceiros musicais, faço muita coisa sozinho. Mas pro meu primeiro projeto de Samba, tive o Jorge E. e o Chilinzinho. Hahahaha até rimou! Eles são caras do Samba, com quem fiz meus primeiros Sambas em parceria, mas também fiz raps com parceiros no tempo da Academia. Rimou de novo! Academia é a “Academia Brasileira de Rimas”, o primeiro grupo de Freestyle do RAP brasileiro.
12) RM: Quais os prós e contras de desenvolver uma carreira musical de forma independente?
Max B.O: Os contra são às vezes você trabalhar sozinho ou com uma galera reduzida, às vezes não ter tanto suporte financeiro para estar nas disputas que é muito acirrada e às vezes chega a ser desonesta. Os prós são você saber que todo mundo que está com você acredita no seu trabalho, na sua dedicação e você não tem que seguir uma determinada cartilha imposta por um dono de gravadora.
13) RM: Quais as estratégias de planejamento da sua carreira dentro e fora do palco?
Max B.O: Bem, eu tenho uma empresária, a Juliana Melo, ela tem um escritório, a Sentidos Produções. Não tomo nenhuma decisão se não estivermos em comum acordo, tudo é consultado previamente. Também tenho uma assessoria de imprensa, as minas da Omim Comunicação, e assessoria de Redes do Menu da Música.
Eu já tenho 25 anos de carreira, isso só contando o tempo de profissional. É bom estar perto de gente séria, talentosa e dedicada. No palco o mais importante é a conexão com a banda ou com meu DJ, mostrar pro público o quanto eu me empenho para entregar o melhor pra eles.
14) RM: Quais as ações empreendedoras que você pratica para desenvolver a sua carreira?
Max B.O: Eu procuro investir quando possível em produtos, transitar entre outros projetos que acho interessante e sempre trazer o uso da Rima como ferramenta de comunicação.
15) RM: O que a internet ajuda e prejudica no desenvolvimento de sua carreira?
Max B.O: Acho que ajuda no sentido do artista ter mais canais de comunicação e conexão com seu público. Fazer uma Live, lançar um videoclipe, coisas assim. O que prejudica é concorrer com postagens pagas.
16) RM: Quais as vantagens e desvantagens do acesso à tecnologia de gravação (home estúdio)?
Max B.O: Entendo que o acesso a um home studio, ajuda o artista a entender melhor o que busca e o cara acaba produzindo suas próprias batidas ou suas referências. Embora eu nunca tenha tido um home, acho que prefiro ir pra um estúdio, trabalhar com um produtor, um técnico e dedicar minha habilidade a composição.
17) RM: No passado a grande dificuldade era gravar um disco e desenvolver evolutivamente a carreira. Hoje gravar um disco não é mais o grande obstáculo. Mas, a concorrência de mercado se tornou o grande desafio. O que você faz efetivamente para se diferenciar dentro do seu nicho musical?
Max B.O: Curioso isso, antes o hip hop usava os toca-discos e repetia o trecho de uma música pra criar o instrumental, pq era difícil produzir ou ter uma banda. Hoje é mais fácil ter uma banda do que comprar um par de toca-discos. Sempre tem alguém que toca alguma coisa e você reúne um time legal. Acho que o que me diferencia é minha forma de criação, principalmente quando estou fazendo freestyle. Freestyle hoje em dia muita gente faz, mas com maestria são poucos. Além de mim tem alguns, mas não muitos.
18) RM: Como você analisa o cenário do RAP brasileiro. Em sua opinião quais foram as revelações musicais nas últimas décadas e quais permaneceram com obras consistentes e quais regrediram?
Max B.O: Eu não me sinto confortável pra dizer sobre quem regrediu, mas acho importante frisar que não é adequado achar que são bons os artistas que com o passar dos tempos mudaram seu comportamento e suas atitudes, principalmente perante o público.
É difícil enxergar verdade em artistas que cantam sobre lutar e ajudar os outros, mas querem o controle das situações e deter o domínio de tudo pra si. Pensando sobre o passar das décadas, eu admiro muito MV Bill, Rashid, Rael. Atualmente eu tenho escutado bastante o Major RD.
19) RM: Quais os músicos já conhecidos do público que você tem como exemplo de profissionalismo e qualidade artística?
Max B.O: Cara, esses dias vi uma apresentação do Barões da Pisadinha que achei impecável. A equipe técnica chega horas antes pra conferir se está tudo certo e os caras fazem um show de quase duas horas sem o setlist com as músicas no chão. É tudo de cabeça, sucesso atrás de sucesso e eles fazem um ou mais shows por dia, quase todo dia. Achei bem foda.
20) RM: O que lhe deixa mais feliz e mais triste na carreira musical?
Max B.O: Feliz é fazer o que mais amo na vida, ser reconhecido por isso e ainda conseguir viver ou sobreviver de arte no Brasil. O que me deixa triste é como muitas vezes o artista é tão pouco apreciado pela grande mídia, que forma o grande público e traz consigo a sua meia dúzia de queridinhos.
21) RM: Você acredita que sem o pagamento do jabá as suas músicas tocarão nas rádios?
Max B.O: Hoje o RAP depende das rádios e com as plataformas de ouvir música isso ganhou outra dimensão. O grande lance é que o jabá se tornou o impulsionamento ou o lobby em torno de tudo que é produzido. Minhas músicas não tocam nas rádios, eu prefiro que elas sigam tocando corações.
22) RM: O que você diz para alguém que quer trilhar uma carreira musical?
Max B.O: Estude. Estudo é fundamental, não somente no aspecto artístico e profissional, mas também pessoal. Entender os mecanismos para que seja uma pessoa frustrada na primeira barreira que surgir. Trilhar uma carreira musical, principalmente independente, é enfrentar barreiras.
23) RM: Quais os prós e contras do Festival de Música?
Max B.O: Acho que os Festivais de música são importantes, o público tem uma boa opção de ver vários artistas que gosta juntos, no mesmo dia ou alguns dias. O que não é muito legal é muita gente que hoje em dia faz festival para ganhar dinheiro de patrocinadores e o público às vezes sofre com locais de estrutura ruim, apresentações medianas e algumas empurradas goela abaixo pro povo conhecer.
24) RM: Como você analisa a cobertura feita pela grande mídia da cena musical brasileira?
Max B.O: Acho importante, mas sinto falta de mais gente séria. Hoje em dia uma boa parte da mídia “especializada” está ligada na fofoca, questões pessoais que por vezes invadem a privacidade do artista e não acrescentam nada de relevante para o público.
25) RM: Qual a sua opinião sobre o espaço aberto pelo SESC, SESI, Itaú, Banco do Brasil e CAIXA Cultural para cena musical?
Max B.O: São espaços importantes, fundamentais para a cena musical, mas também para outras diversas manifestações artísticas e socioeducativas. Alguns desses espaços, além de atuarem como grandes agentes de difusão de arte, também são fundamentais para o esporte e a Educação, por exemplo.
26) RM: Quais os seus projetos futuros?
Max B.O: Estou em vias de lançar “Estrada Aberta”, o quinto álbum da minha carreira, e ainda esse ano estreia um monólogo teatral idealizado por mim. Também sou artista plástico e estou trabalhando no acervo da minha próxima exposição individual.
27) RM: Quais seus contatos para show e para os fãs?
Max B.O: Os fãs me encontram nas redes sociais pelo @mcmaxbo e para trabalhos no [email protected]
| https://www.instagram.com/mcmaxbo
Assessoria de Imprensa – Fernanda Burzaca – [email protected] | Ana Almeida – [email protected]
Canal: https://www.youtube.com/@McMaxBO
Max B.O. – Diálogo com a Consciência: https://www.youtube.com/watch?v=eaEsJBuC-AA
Álbum nas Plataformas: https://sym.ffm.to/dialogocomaconsciencia
Entrevista muito bem conduzida. Importante mencionar todo o processo criativo e história de vida envolvidos na criação de uma música.