O cantor e compositor baiano MAVI chegou a Salvador – BA ainda criança, tendo o seu inicio na música aos quinze anos de idade, quando passou a tocar cavaquinho em bandas da região. Pouco tempo depois, já passeava pelos ritmos da terra, acompanhando artistas de forró, axé e samba.
Preservando suas origens e raízes simples, MAVI possui na sua bagagem a experiência de quem domina a arte de compor, tocar e cantar, conquistando o seu espaço na cena musical através da sua voz, do seu carisma e da sua humildade.
Depois de passar por diversos seguimentos musicais. No ano de 2005, MAVI foi convidado para assumir os vocais da banda de reggae Tallowah, e o seu amor pela música jamaicana falou mais alto. Junto com a banda, o cantor realizou diversos shows e gravou dois discos, obtendo destaque no disco “Atitude, Consciência e Fé”, produzido pelo renomado produtor musical Nilson Nascimento, responsável pela gravação de grandes nomes da música, como Edu Ribeiro, Dionorina, entre outros. Este disco levou a banda a se apresentar pelos palcos da Bahia, Festivais de música e em programas de TV e Rádio.
A partir da sua saída dos vocais da Tallowah, MAVI vem construindo seu novo trabalho artístico, fruto de uma pesquisa sobre o “Loves Rock”, uma das vertentes da música Reggae.
Mavi tem uma atuação muito ativa nas questões socioculturais dentro do território do subúrbio, membro do Fórum de Arte e Cultura do Subúrbio desempenhou papel importante no processo de reabertura do Centro cultural Plataforma e na gestação participativa do espaço que se tornou uma referencia para politicas publicas na cultura do estado. Mavi também desenvolveu trabalho como conselheiro municipal de cultura de Salvador, durante o período de dois biênios, destacando sua participação na construção do Plano de Cultura da cidade que hoje tramita na câmara de Vereador do município.
O Artista também já trabalhou como Arte educador no projeto social Cabricultura e no projeto Subúrbio Cultural, este que passou por 15 escolas estaduais da rede publica e contou com o apoio da Bahia Gás. Além disso, faz parte do coletivo Músicos do Subúrbio aonde vem buscando ações para fortalecer toda cadeia produtiva da musica suburbana e ameninar os impactos da pandemia Covid-19 no setor cultural da região.
Subúrbio Cultural – Projeto patrocinado pela BAHIAGÁS, apresentando pocket shows da banda Tallowah e bate-papo sobre cultura, realizado no período de agosto e setembro/2016 em quinze escolas do Subúrbio de Salvador.
Salvador Cidade Reggae – Projeto que visou a comemoração do dia nacional do reggae, com shows, palestras e bate-papo no Espaço Cultural da Barroquinha durante os dias 10 e 11 de maio de 2016.
Park Cultural – Projeto que buscou ocupar o clube recreativo plataformense com shows musicais, feira gastronômica, apresentações de dança e discotecagem, criando para os moradores de plataforma, um ambiente propício ao encontro com a arte produzida na sua própria região. O projeto se iniciou em 2017 e retorna no ano de 2018.
Projeto Lá No Fundo do Quintal – Projeto que buscou dinamizar a área externa do Centro Cultural Plataforma, apresentando shows intimistas da banda Tallowah com convidados, atraindo assim o público para outros espaços além da sala principal do centro cultural. Este projeto teve inicio no ano de 2015 e se mantém até os dias atuais.
Projeto “O quê que tem meu Reggae” – Projeto que dinamizou apresentações musicais no Centro Cultural Plataforma durante o ano de 2011, em parceria com as escolas da comunidade, comemorando o mês das crianças e levando a história da musica Reggae e dos instrumentos que a constrói.
Projeto Equilíbrio Musical – Projeto contemplado no Calendário das Artes – Edital da Secult-BA, entre 2008 e 2010, onde foram realizadas apresentações musicais na sala principal do Centro Cultural Plataforma, incentivando a cultura e a formação de plateia para o espaço recém reinaugurado.
Segue abaixo entrevista exclusiva com MAVI para a www.ritmomelodia.mus.br, entrevistado por Antonio Carlos da Fonseca Barbosa em 09.05.2022:
01) Ritmo Melodia: Qual a sua data de nascimento e a sua cidade natal?
Mavi: Nasci no dia 15/07/1982 em Santo Antonio de Jesus-BA, mas vivo desde de recém-nascido em Salvador – BA. Registrado como Ivan da Silva Almeida.
02) RM: Fale do seu primeiro contato com a música.
Mavi: Comecei na música aos 15 anos de idade (1997), tocando cavaquinho e acompanhando alguns artistas em Salvador – BA.
03) RM: Qual a sua formação musical e/ou acadêmica fora da área musical?
Mavi: Sou autodidata na música, tive algumas aulas com amigos músicos, professores particulares. Iniciei o curso de Biologia, mas não concluí devido ao meu trabalho com a música que demandar bastante tempo.
04) RM: Quais as suas influências musicais no passado e no presente. Quais deixaram de ter importância?
Mavi: Cresci ouvindo os discos do meu pai Raimundo Souza Almeida, que era muito fã de Benito Di Paula e outros artistas da mesma geração. O meu primeiro contato com o reggae foi nas Festas de largo no bairro Plataforma, subúrbio de Salvador – BA, aonde os bares sempre tocavam bastante Alpha Blondy e Bernie Lyon. E depois conheci o trabalho de Bob Marley, que se tornou a minha maior influência. Nenhuma influência é descartada na vida de um artista, mesmo que implicitamente sempre está presente nas produções.
05) RM: Quando, como e onde você começou a sua carreira profissional?
Mavi: Comecei aos 15 anos de idade (1997) tocando cavaquinho, acompanhando artistas em Salvador – BA.
06) RM: Quantos CDs lançados?
Mavi: Lancei um disco com a banda Tallowah, onde toquei por 10 anos. Hoje em carreira solo lancei meu primeiro EP.
07) RM: Como você define seu estilo musical?
Mavi: Eu faço Reggae. E muito do Lovers rock (vertente romântica do reggae), porém, os elementos tradicionais da música reggae estão presentes n produção dos meus trabalhos.
08) RM: Você estudou técnica vocal?
Mavi: Sim, estudei e continuo estudando, a música é um processo contínuo de aprendizado.
09) RM: Qual a importância do estudo de técnica vocal e cuidado com a voz?
Mavi: O estudo e o cuidado com a voz são indispensáveis, eles que garantem a entrega do seu melhor ao público. E também evitam traumas e lesões que podem prejudicar a carreira de um artista.
10) RM: Quais as cantoras (es) que você admira?
Mavi: São muitos, sou fã de Bob Marley, Maxi Priest, Luciano Messenjah , Lauryn Hill, Alcione e tantos outros.
11) RM: Como é o seu processo de compor?
Mavi: É um processo que varia muito, tem composições que nascem prontas letra e melodia em poucos minutos. Outras já envolve um processo de pesquisa, de estudo do tema que desejo abordar.
12) RM: Quais são seus principais parceiros de composição?
Mavi: Alysson Costa é um grande parceiro de muitos anos, sempre recorro a ele nos mementos mais variados do processo criativo. Atualmente tenho me permitido a fazer outras parcerias: Marcio Local que é um parceiro na faixa “Viva e Valorize”. E MrDKO que escreveu comigo a faixa “Reggae”.
13) RM: Quem já gravou as suas músicas?
Mavi: Além da banda Tallowah, tenho experimentado ouvir minhas composições na voz de outros artistas, por exemplo, Rafa Thor que gravou “Reggae Maranhão”.
14) RM: Quais os prós e contras de desenvolver uma carreira musical de forma independente?
Mavi: Ser um artista independente do Brasil é muito difícil, trabalhoso ao extremo, temos dificuldades diversas como exemplo: ter uma rede de contratantes e parceiros para fechar shows e turnês. Mas por outro lado, te deixa livre para produzir da maneira que te faz feliz, que te satisfaz como artistas e não se vê somente como um produto mercadológico.
15) RM: Quais as estratégias de planejamento da sua carreira dentro e fora do palco?
Mavi: Com essa retomada dos trabalhos após período pandêmico do covid-19, tenho contado com o apoio de vários parceiros como Nilson Nascimento (da banda Cativeiro) que cuida da parte musical do meu trabalho. Nenel que faz junto comigo minha gestão de carreira. Pedro Pinheiro que tem me dado suporte tanto nas produções audiovisuais quando na comunicação e planejamento de mídia, suporte esse que facilita muito o trabalho.
16) RM: Quais as ações empreendedoras que você pratica para desenvolver a sua carreira?
Mavi: A principal ação empreendedora é um bom marketing pessoal, levar ao conhecimento do público meu trabalho artístico, potencializar minha rede fãs, que pagam o ingresso ou que ouvem minhas músicas nas plataformas musicais que trazem o reconhecimento e incentivo financeiro ao meu trabalho.
17) RM: O que a internet ajuda e prejudica no desenvolvimento de sua carreira?
Mavi: Nos dias de hoje não tem como o artista independente sobreviver sem a internet. E, saber lidar com ela e com os recursos existentes nas mídias digitais como um todo é o que sustenta uma carreira nesse novo formato do mercado da música. Não vejo atualmente nenhum ponto que prejudique a trajetória de um artista, é um caminho duro, mas nós sempre tivemos de lidar com essas adversidades, é aprender o “game” e jogar para vencer.
18) RM: Quais as vantagens e desvantagens do acesso à tecnologia de gravação (home estúdio)?
Mavi: Com os avanços tecnológicos a produção musical ficou mais acessível, em especial para as produções artísticas das periferias. Esse acesso alavancou a produção independente dessa parcela artística que por muito tempo foi invisível para a indústria fonográfica. Esse foi o principal ganho no processo de digitalização da música. Essa nova forma de fazer arte causou o fechamento de grandes gravadoras e estúdios, eu observo com atenção e reflexão todos esses contextos.
19) RM: No passado a grande dificuldade era gravar um disco e desenvolver evolutivamente a carreira. Hoje gravar um disco não é mais o grande obstáculo. Mas, a concorrência de mercado se tornou o grande desafio. O que você faz efetivamente para se diferenciar dentro do seu nicho musical?
Mavi: Eu não vejo muito problema com a concorrência nessa área, acredito que quando o trabalho é bem feito o resultado vem. Muitas vezes não na proporção esperada, mas vem. Sigo dando meu melhor, tentando fazer produções que tenham qualidade musical e que falem a língua do meu povo, que eles possam se sentir representados por minha arte.
21) RM: Quais os músicos já conhecidos do público que você tem como exemplo de profissionalismo e qualidade artística?
Mavi: Eu sou um admirador do trabalho de Nilson Nascimento (da banda Cativeiro), ele é um grande exemplo de profissionalismo. Eu também trabalho em produções de shows, o que me fez ter experiências boas e ruins nessa área. Um grande artista que tive o privilégio de trabalhar em um festival foi Alceu Valença, ele é incrível como profissional e eu me tornei um grande fã.
22) RM: Quais as situações mais inusitadas aconteceram na sua carreira musical (falta de condição técnica para show, brigas, gafes, show em ambiente ou público tosco, cantar e não receber, ser cantado e etc)?
Mavi: Já aconteceu de tudo que você possa imaginar (risos). Desde não receber o cachê acordado ou o show não acontecer por falta de público ou porque extrapolou o horário da grade de atrações. Já dormir com a banda em um local improvisado, etc, essas coisas do cotidiano de um artista independente (risos).
23) RM: O que lhe deixa mais feliz e mais triste na carreira musical?
Mavi: Eu sou muito realizado com meu trabalho, sou muito feliz por ter escolhido essa profissão, já até tentei outras, mas não foi muito bacana a experiência. Nessa jornada que é a música, muitas vezes falta grana, mas quem é da Deusa música se sente grato e realizado com o que faz.
24) RM: Você acredita que sem o pagamento do jabá as suas músicas tocarão nas rádios?
Mavi: Não tenho um pensamento claro sobre esse assunto. Eu faço música reggae e mesmo tento artistas consagrados como Edson Gomes, Natiruts, entres outros, não é muito comum ouvir música reggae nas rádios ou grande mídia mais tradicional. Mas entendo perfeitamente que é uma indústria e que o dinheiro muitas vezes pesa para despontar a carreira de um artista.
25) RM: O que você diz para alguém que quer trilhar uma carreira musical?
Mavi: Sempre digo: “não é fácil ser artista, mas se você se sente bem na arte, se jogue, siga o fluxo e seja feliz”.
26) RM: Como você analisa a cobertura feita pela grande mídia da cena musical brasileira?
Mavi: Nada de novo na cobertura feita pela grande mídia da cena musical brasileira, são sempre os mesmos, se o artista não tem uma projeção boa é invisível por essas grandes mídias, mas se o artista tem grana é abraçado de forma calorosa e confortável.
27) RM: Qual a sua opinião sobre o espaço aberto pelo SESC, SESI e Itaú Cultural para cena musical?
Mavi: Qualquer espaço aberto a arte é de muita importância, muitas vezes a gente reclama da falta de oportunidade, do acesso do pequeno artista a esses espaços. Mas essa realidade pode ser mudada quando forem geridos por profissionais ligado a arte, com sensibilidade e entendimento que esses espaços precisam ser ocupados por uma produção artística mais diversa.
28) RM: Como você analisa o cenário do reggae no Brasil. Em sua opinião quais foram as revelações musicais nas últimas décadas? Quais artistas permaneceram com obras consistentes e quais regrediram?
Mavi: A cena reggae no Brasil é muito grande, um exemplo são as produções musicais em Salvador – BA, temos vários trabalhos muito bem feitos, com condições de tocar em qualquer palco do Brasil, mas falta a consolidação de um mercado nacional da música Reggae. Não temos muitos contratantes do setor privado, vivemos na maioria das vezes do contrato do setor público, de editais ou projetos. É muitas vezes frustrante sem falar que até mesmo os grandes festivais específicos do gênero não oportunizam muito os artistas locais. Sempre somos tratados como “qualquer nota” e o que é irritante, desanimador. Sobre as revelações musicais posso contar nos dedos (risos) e não por falta de trabalhos bem feitos, mas por falta de mercado para todos. Quando o mercado é amplo aumenta o número de artistas projetados, um exemplo é o mercado da música sertaneja que hoje domina a indústria musical no Brasil e é recheado de artistas de sucesso, com reconhecimento de público e financeiro.
29) RM: Você é Rastafári?
Mavi: Não sou Rastafári, não tenho religião. Eu tenho fé, acredito que ela é uma válvula de transformação muito poderoso. Não sou muito apegado a religião, admiro até quem consegue viver dentro de uma religião e seguir à risca é algo muito valoroso, mas eu não consegui me adaptar a tantos dogmas.
30) RM: Alguns adeptos da religião Rastafári afirmam que só eles fazem o reggae verdadeiro. Como você analisa tal afirmação?
Mavi: Isso é complexo, mas essa questão de reggae verdadeiro ou falso é muito raso, existe uma ancestralidade que deve ser respeitada. Existem artistas que construíram essa música e devem ser admirados e respeitados. Entretanto, queira ou não a música reggae é um produto como qualquer outra expressão artística e é normal que surjam trabalhos variados, isso aconteceu com todos os estilos: soul music, rock, jazz, blues etc, A música reggae não tem dono, é aberta a quem quiser ouvi-la ou fazê-la, não existe impedimento nem moral nem legal para que qualquer pessoa possa amar o reggae em suas mais variadas formas.
31) RM: Na sua opinião quais os motivos da cena reggae no Brasil não ter o mesmo prestígio que tem na Europa, nos EUA e no exterior em geral?
Mavi: No Brasil a música Reggae foi criminalizada e é fruto de uma herança racista que existe no país. Fomos o último país no mundo a abolir a escravidão e isso reverbera até hoje. A música reggae é feita na sua maioria por artistas negros e nossa sociedade não gosta disso. Tenta suprimir e deixar a margem qualquer expressão cultural dos povos de origem africana, quando não se apropria dessa cultura. A política “antidrogas” no Brasil deixa esse cenário ainda mais pesado, distorcendo o uso da maconha (ganja) que é muito presente na vida dos amantes e fazedores do reggae, marginalizando-os e excluindo das grandes mídias essa produção artística cultural.
32) RM: Quais os pros e contras de se apresentar com o formato Sound System?
Mavi: O formato Sound System é útil, facilita ao artista levar seu trabalho para alguns lugares, reduzindo custo com banda e equipe técnica. Existem artistas que não se sentem muito confortáveis com esse formato, é o meu caso. Eu, acho a presença da banda indispensável e o fator humano na música é insubstituível.
33) RM: Quais as diferenças de se apresentar com banda em relação ao formato com Sound System?
Mavi: A diferença é gritante (risos). O fator humano na música é insubstituível, a interpretação do músico pesa muito em uma performance ao vivo.
34) RM: Como você analisa a relação que se faz do reggae e o uso da maconha?
Mavi: Vejo uma distorção muito grande desse contexto, já passou da hora no Brasil descriminalizar o uso recreativo da maconha e pôr um ponto final desse assunto.
35) RM: Como você analisa a relação que se faz do reggae com a cultura Rastafári?
Mavi: Não tem como não fazer essa relação, o Rastafarianismo é um pilar da música reggae. É um ponto de partida para toda uma história que foi construída com essa música. É um erro crasso negar essa relação.
36) RM: Quais os seus projetos futuros?
Mavi: Atualmente estou focado no lançamento do EP – “Sem Medo de Errar”, estou plantando para colher lá na frente. Quero lançar alguns audiovisuais e fazer shows pelo Brasil, essa é minha meta até o começo de 2023.
37) RM: Quais seus contatos para show e para os fãs?
Mavi: para shows : (71) 9333 – 2140 | 988110978 – Nenel – Parcec produções .
Paras os fãs as minhas redes sociais é o melhor canal de comunicação: https://www.instagram.com/mavioriginal
| https://web.facebook.com/mavioriginal
| Canal: https://www.youtube.com/channel/UCotLm0jeYC6sJoeRaRfaKVA
MAVI – Sem Medo de Errar: https://www.youtube.com/watch?v=UqMzuYRo7-o
Playlista do EP – Sem Medo de Errar: https://www.youtube.com/watch?v=UqMzuYRo7-o&list=PLqIcsIsanEvSIqrYS-2j5f_q2te5Ewtyt
Mavi – Novo Dia Ft. Cristiano Portela: https://www.youtube.com/watch?v=mUSyy6apo-w
Tallowah – álbum – “Atitude, Consciência e Fé” [2010]: https://www.youtube.com/watch?v=mVF0hSi9qRU
Bom saber da história de mais um guerreiro da Reggae Music que tem um ótimo trabalho.