More Mário PC »"/>More Mário PC »" /> Mário PC - Revista Ritmo Melodia
Uma Revista criada em 2001 pelo jornalista, músico e poeta paraibano Antonio Carlos da Fonseca Barbosa.

Mário PC

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O músico, produtor musical e escritor mineiro Mário PC, iniciou seus estudos de música na Fundação Clóvis Salgado – Belo Horizonte – MG.

Como músico, já dividiu palcos e estúdios com grandes artistas, entre eles Lulu Santos, Marina Lima, Ed Motta, Paralamas do Sucesso e Midnight Blues Band.

Autor dos livros “O Saxofone Pop dos Anos 80” e “Ilusório Relógio da Vida”, Mário PC graduou-se em Licenciatura em Música pela UNIRIO, no Rio de Janeiro (RJ), onde residiu de 1985 a 2016.

Atualmente reside em São Paulo, capital, e dedica-se ao seu projeto autoral solo. Completou em 2022, 40 anos de carreira, lançando o seu quarto álbum autoral solo, “The Race”, disponível em todos os canais digitais. 

Segue abaixo entrevista exclusiva com Mário PC para a www.ritmomelodia.mus.br, entrevistado com Antonio Carlos da Fonseca Barbosa em 04.08.2023:

01) Ritmo Melodia: Qual a sua data de nascimento e a sua cidade natal?

Mário PC: Nasci no dia 07 de abril de 1965 em Belo Horizonte, Minas Gerais, Brasil. Registrado como Mário Pimentel de Castro Filho.

02) RM: Fale do seu primeiro contato com a música.

Mário PC: Na adolescência fui influenciado pela minha mãe (Esmeralda de Carvalho Castro) que ouvia Louis Armstrong, Pérez Prado e Bill Haley, e a partir disso presenteado nos aniversários pelas tias com vinis do Oscar Peterson, Egberto Gismonti, entre outros. Essa foi minha ignição para o mundo da música.

03) RM: Qual sua formação musical e/ou acadêmica fora da área musical?

Mário PC: Minha formação musical se deu inicialmente aos 16 anos na Fundação Clóvis Salgado com o professor e regente Edésio de Lara Melo, em Belo Horizonte, Minas Gerais. Paralelamente tive uma introdução ao saxofone com o professor Otávio Leite. Em 2010 me graduei na UNIRIO, Rio de Janeiro, capital, em Licenciatura em Música.

04) RM: Quais as suas influências musicais no passado e no presente. Quais deixaram de ter importância?

Mário PC: No passado, inicialmente, dos 13 aos 15 anos de idade, sem sequer pensar em estudar música, ouvia muito Soul e Disco Music nas rádios FM em BH, visto que as mesmas, FMs da região Sudeste, por demanda de mercado não executavam outros estilos. Lê-se também “Ditadura” e acordos com o império estadunidense.

Antes de iniciar meus estudos de música, fui muito influenciado por jazz nas suas mais variadas vertentes. Ouvi muito gravadoras como ECM, Pablo, Columbia, Atlantic, dentre outras. Artistas como Egberto, Hermeto, Jean Luc-Ponty, Dexter Gordon, Oscar Peterson, Spyro Gyra e Chuck Mangione não saíam da minha vitrola.

Aos 18 anos, um amigo de escola me apresentou a banda de rock “Grand Funk Railroad”; em especial a canção “We’re na American Band”. Meu mundo, que se parecia com uma foto colorida, desbotada pelo tempo, ganhou cores nítidas e fortes. Daí comecei a cantar e compor canções de rock junto a bandas de garagem. Veio o boom do Rock Nacional, e em 1985 (aos 20 anos) me mudei para o Rio de Janeiro, vitrine cultural do Brasil, sede das gravadoras.

Durante a minha graduação, de 2003 a 2010, ouvi e toquei muito música erudita nos seus mais diversos períodos: Renascença, Barroco, Alto Romantismo, etc. Me aprofundei em flauta doce e flauta transversal.

Até hoje, tudo que ouvi somou para a minha formação. Nada deixou de ter importância. Sou a soma de tudo que ouvi e vivi.

Hoje em dia, mais toco do que ouço. Bach e Chico Buarque tem cadeira cativa na vitrola.

05) RM: Quando, como e onde você começou sua carreira musical?

Mário PC: Fui tragado pela música e não tive opção senão trabalhar com a mesma frente um período de instabilidade financeira na minha família.

Minha primeira oportunidade veio aos 17 anos (em 1982) por convite do violonista e cantor Marcus Rocha (Marcão), em um bar de MPB no bairro da Savassi, em Belo Horizonte – MG. Posterior a isso fui convidado para atuar em diversos grupos, formações com cantoras, eventos e festivais. Aos 18 anos vivi por dois anos, a convite do multi-instrumentista Mauro Continentino, uma imersão no mundo do jazz na casa de jazz “Pianíssimo”.

Aos 20 anos (em 1985), me mudei pro Rio de Janeiro, e uma nova fase se iniciou na minha carreira como músico profissional. Depois de alguns anos de sobrevivência finalmente fui eleito como sideman das estrelas. Entre elas, Ed Motta, de 1989 a 1991, Marina Lima, de 1992 a 1996, e Lulu Santos de 1996 a 2002, e, 2010 a 2015.

06) RM: Quantos CDs lançados?

Mário PC: Minha discografia contempla oito lançamentos, entre CDs e DVDs, com astros da música brasileira, e quatro lançamentos de minha autoria. Também participei de álbuns de artistas/compositores de peso como Jorge Bodhart, Sergio Coelho, dentre outros.

Meus lançamentos solos:

2018 – Mário PC (CD/digital channels) – HighLights – Delira Música
2020 – Mário PC Featuring (digital channels) – Independent
2021 – Mário PC (digital channels) – Match Point – Independent
2022 – Mário PC (digital channels) – The Race – Independent

Minhas participações como instrumentista em lançamentos com artistas nacionais:

1991 – Paralamas do Sucesso (CD) – Os Grãos – EMI
1993 – Ed Motta (CD) – Ed Motta ao vivo – WEA
1996 – Marina Lima (CD) – Registros a meia-voz – EMI
1997 – Lulu Santos (CD) – Liga lá – ARIOLA
1999 – Lulu Santos (CD) – Calendário – SONY
2000 – Lulu Santos (CD/DVD) – Lulu Acústico MTV – BMG
2010 – Lulu Santos (CD/DVD) – Lulu Acústico II MTV – UNIVERSAL
2015 – Lulu Santos (CD/DVD) – Toca + Lulu – SONY

07) RM: Como você define seu estilo musical?

Mário PC: Sou um mix de tudo o que em termos de ferramental me ajudou bastante no mundo da música profissional. Sou um pouco do lirismo do jazz, do swing da Disco Music, do encantamento da MPB, da malemolência do latino, da força do rock e da densidade da música erudita. Um gradiente de cores, a sutileza de um perfume formulado por Adônis (risos).

Atribuo também como grande influência à minha identidade tudo que li, assisti, pesquisei e presenciei. A Estética, o Cinema, a Literatura, as Artes Plásticas, o Amor, a vida privada, a História, as perdas… Enfim, a vivência! Tudo soma!

08) RM: Você estudou técnica vocal?

Mário PC: Sim, estudei técnica vocal aos 17 anos (em 1982) com o professor Geraldo Maia.

09) RM: Qual a importância do estudo de técnica vocal e cuidado com a voz?

Mário PC: Saúde é um item descartado pela juventude visto que somos “imortais” (risos). Brincadeiras à parte, o aprofundamento no mundo vocal e fonador deixa claro a obrigatoriedade de se assumir responsabilidades, disciplina e bons hábitos de saúde para que haja a longevidade do conjunto corporal.

Para mim, o aperfeiçoamento a partir da técnica vocal foi de suma importância, refletindo diretamente na minha saúde.

10) RM: Quais as cantoras (es) que você admira?

Mário PC: Assim como instrumentistas que aprecio, e pelo grande volume de excepcionais artistas, que fica até difícil mencionar, aprecio também cantores e cantoras.

Dentre eles, posso citar alguns grupos vocais que me influenciaram como Singers Unlimited e Swingle Singers. O contratenor Andreas Scholl, o cantor de rock Ronnie James Dio, e a cantora folk Eva Cassidy.

11) RM: Como é seu processo de compor?

Mário PC: Sou motivado e inspirado por vivências. Às vezes um amor, um passeio, uma viagem, um sonho, uma obsessão técnica (risos), e por aí vai.

Não existe uma fórmula. Às vezes começo por uma melodia, às vezes por uma harmonia, uma batida, um efeito sonoro que me inspira, etc.

Prezo muito pela atmosfera que a composição ou fonograma proporciona, independente da complexidade da composição. Eu gosto de densidade. Às vezes, o “menos” é mais.

12) RM: Quais são seus principais parceiros de composição?

Mário PC: Nos meus quatro álbuns solo compus, gravei, mixei e masterizei todas as músicas. Foi uma imersão na minha vida privada, passado, presente e futuro, traduzida em música.

13) RM: Quais os prós e contras de desenvolver uma carreira musical de forma independente?

Mário PC: Na minha visão e experiência, enquanto independente, fiz o percurso que desejei ouvindo o meu coração e externando meus afetos.

Obviamente, estar sob a batuta de agentes, produtores e diretores influentes pode fazer com que o artista alce o seu voo mais rápido, entretanto, enquanto artistas que somos, na tarja de latinos americanos submetidos à opressão do imperialismo, no nosso caminho de desigualdades, teremos que nos sujeitar às visões e planos alheios, o que pode não ser totalmente do nosso agrado.

14) RM: Quais as estratégias de planejamento da sua carreira dentro e fora do palco?

Mário PC: Minha estratégia para a carreira dentro e fora dos palcos é fundir todos os materiais de registro e aparições da forma mais agradável e interativa possível para quem me assiste. É propiciar experiências que traduzem minha verdade. É estar aberto à cumplicidade junto a quem comigo se emociona ao vivo ou através das redes sociais.

15) RM: Quais as ações empreendedoras que você pratica para desenvolver a sua carreira musical?

Mário PC: Sempre me faço presente nas redes sociais através de novos lançamentos e registros filmados ou fotografados.

Tenho buscado com grande dificuldade uma agência ou agente independente sérios para a venda do meu espetáculo. Estive já em três escritórios, e a experiência foi péssima.

Na medida em que me associo a profissionais sérios, como a banda que toca comigo e os profissionais da técnica que estão comigo no show “HighLights”, vejo minha carreira decolar, apesar de todas as dificuldades.

16) RM: O que a internet ajuda e prejudica no desenvolvimento de sua carreira musical?

Mário PC: A internet deu voz a todos. Da mesma forma que popularizou o medíocre, desvelou a erudição. Quem sabe pesquisar chega onde quer em termos de entendimento e conhecimento.

17) RM: Quais as vantagens e desvantagens do acesso à tecnologia de gravação (home estúdio)?

Mário PC: Ainda que nem todos dominem tecnicamente os mais diversos aparatos da contemporaneidade, a tecnologia nos deu a possibilidade de produzirmos nossos materiais de dentro de casa.

As majors continuam na caça de talentos. Ainda que não sejamos contemplados pelos contratos de uma major, só o fato de não dependermos da mesma para produzirmos o nosso material já é um ganho.

Existe um risco na produção fiel às nossas predileções. Acho que esta fidelidade traz verdade e autenticidade.

18) RM: No passado a grande dificuldade era gravar um disco e desenvolver evolutivamente a carreira. Hoje gravar um disco não é mais o grande obstáculo. Mas, a concorrência de mercado se tornou o grande desafio. O que você faz efetivamente para se diferenciar dentro do seu nicho musical?

Mário PC: A resposta é direta: Sou fiel às minhas predileções, percepções e sentimentos. Cada um é único dentro da multidão.

19) RM: Como você analisa o cenário da Música Popular Brasileiro. Em sua opinião quais foram as revelações musicais nas últimas décadas? Quais artistas permaneceram com obras consistentes e quais regrediram?

Mário PC: Na minha percepção, artistas relevantes vem e vão, obras e estilos são revisitados e editados. No final das contas a edição também traz ineditismo. Tudo vira história porque tudo é cultura.

Discute-se que os menos ovacionados possam estar à frente de seu tempo, e que talvez os consagrados sejam fruto de motivações contemporâneas de massa.

É inegável que a bossa-nova, a jovem guarda, o funk carioca, assim como as vertentes do sertanejo tem a sua relevância como teve o axé e o pagode na década de 1990. Não diz respeito ao “apreciar”, diz respeito ao que trata as motivações humanas e seus períodos históricos.

20) RM: Como você analisa o cenário da Música Instrumental Brasileira. Em sua opinião quais foram as revelações musicais nas últimas décadas? Quais artistas permaneceram com obras consistentes e quais regrediram?

Mário PC: Minha percepção quanto a todas as manifestações artísticas é a mesma, como mencionei na resposta da pergunta 19.

Sem dúvida a música instrumental pela sua abrangência de erudição, recursos e elementos, percorre uma vastidão que a música vocal popularesca, digamos “comercial”, talvez nem sequer sonhe.

São artistas, muitos deles à frente do seu tempo, eternizando e registrando a sua passagem por este plano.

21) RM: Quais as situações mais inusitadas aconteceram na sua carreira musical (falta de condição técnica para show, brigas, gafes, show em ambiente ou público tosco, cantar e não receber, ser cantado etc)?

Mário PC: Nestes 40 anos dedicados à música profissional vivi de tudo (risos). Precisaria de um livro para contar todas as peripécias. Mas tem um fato que sempre me lembro e me pergunto: Onde eu estava com a cabeça?!

Certa vez, em uma turnê do Lulu Santos, anos tocando o mesmo repertório, eu já no piloto automático, iniciamos o show. Eu, dançando, cantando e tocando a bandeirola como de costume. Eu entraria com um solo de sax na segunda música. Naquele dia, vindo já de dois shows, e virado (risos), não consegui fazer a passagem de som. Acordei em um hotel e tive que ligar pra recepção pra saber em que cidade eu me encontrava.

Depois de obter a informação desejada, tomei um banho e fui pra van que nos encaminhou para o show. Chegando no camarim tirei mais um cochilo. Começou o show! Quando estávamos terminando a primeira música, e eu tocaria a intro de sax na segunda música: cadê o sax? Olhei pro meu setup e não vi o sax montado. Gelei! Havia me esquecido de montar o sax (risos). Lulu quis me fuzilar! (risos) Corri e montei o sax. Entrei na repetição do solo no meio da música! (risos). Depois foi tudo risada!

22) RM: O que lhe deixa mais feliz e mais triste na carreira musical?

Mário PC: O que me deixa mais feliz é a percepção do ser humano, digo, de um artista sensível, de que não existe prejuízo no que é feito por uma percepção do coração, do afeto.

O que me deixa mais triste é ver tantos bons artistas relegados ao anonimato, ao ostracismo e à ignorância das massas.

23) RM: Existe o Dom musical? Como você define o Dom musical?

Mário PC: Sem dúvida o dom musical existe. Está no DNA. É algo inexplicável como todos os talentos.

24) RM: Qual é o seu conceito de Improvisação Musical?

Mário PC: A improvisação musical está além de técnicas e escolas criadas para contemplar os mais afoitos. A identidade, assim como a expertise em improvisação, nasce de vivência e sensibilidade. Não se ensina vivência.

25) RM: Existe improvisação musical de fato, ou é algo estudado antes e aplicado depois?

Mário PC: Existe de fato improvisação musical, mas a eloquência da mesma depende de vivência, experiência e sensibilidade. Copiar ou decorar um discurso já digerido e aplicá-lo não é improvisar. Como diria Piero Grandi: “Improvisação não se ensina, se aprende!”.

26) RM: Quais os prós e contras dos métodos sobre Improvisação musical?

Mário PC: Contra: Nenhum. Só não espere que o estudo da improvisação faça seu discurso ser original. Prós: Tudo! Refina sua percepção, vocabulário e técnica.

27) RM: Quais os prós e contras dos métodos sobre o Estudo de Harmonia musical?

Mário PC: Não vejo nenhum contra nas ferramentas para formação técnica de um profissional. Estudos harmônicos, melódicos, rítmicos, modos, etc. Todos são válidos. Entretanto, talento e técnica são coisas distintas.

28) RM: Você acredita que sem o pagamento do jabá as suas músicas tocarão nas rádios?

Mário PC: Minha música toca em algumas rádios, daí ter o alcance necessário para “tocar” a massa, já é outro papo. O jabá hoje está também nas redes sociais, seguindo os mesmos caminhos das rádios e TV. Muitos acham equivocadamente que a rede social é para todos. É sim, para todos que a “eles” interessa.

Sem jabá, só em um mundo muito coeso, com muito entendimento. Não vejo para os humanos este mundo em qualquer tempo. O jabá é a moeda de troca neste mundo cão. Quiçá os homens entendessem a força da igualdade.

29) RM: O que você diz para alguém que quer trilhar uma carreira musical?

Mário PC: Vai nessa e seja feliz porque a vida passa rápido! Seja honesto contigo e suas percepções de mundo! Ouça o seu coração!

30) RM: Apresente seu trabalho como Produtor Musical.

Mário PC: “Mário PC Featuring” – álbum em parceria com outros artistas, cantores e compositores. Em todos os canais digitais: https://www.mariopc.net/portfolio

Composição de trilhas sonoras para filmes, vídeos institucionais e games: https://www.mariopc.net/soundtracks

Álbuns autorais: todos os canais digitais: https://www.mariopc.net/albuns

31) RM: Quais os instrumentos musicais que você toca?

Mário PC: Saxofone e Flauta transversal. Um pouco de piano para fins de produção.

32) RM: Quais os prós e contras de ser multi-instrumentista?

Mário PC: A quanto mais instrumentos você se dedica, menos aprimoramento você adquire em cada um deles.

33) RM: Como você analisa a cobertura feita pela grande mídia da cena musical brasileira?

Mário PC: A cobertura é razoável. E, nem todos são contemplados com essa exposição. Os horários nobres são preenchidos com violência, inverdades e trivialidades. É o jogo da Matriz.

34) RM: Qual a sua opinião sobre o espaço aberto pelo SESC, SESI e Itaú Cultural para cena musical?

Mário PC: São espaços maravilhosos. Só ainda não fui contemplado com esta dádiva. Estou tentando.

35) RM: Quais os compositores do jazz que você admira?

Mário PC: Falar de composição no jazz abre muitas discussões, pois alguns compositores reconhecidos no universo do jazz esbarravam em estéticas que permeavam a música erudita. Tais como Johnny Mandel e Henry Mancini. Até Leonard Bernstein compôs para o Jazz.

Mas me lembro com carinho de algumas composições que me marcaram. Posso citar nomes como: Carla Bley, Bob Belden, Dexter Gordon, Pat Metheny, Lyle Mays, Cole Porter, George Gershwin, Charles Mingus, Duke Ellington, Vince Guaraldi, Keith Jarrett, Dave Brubeck, etc. Me falha a memória frente a tantos e tão talentosos.

36) RM: Quais os compositores da Bossa Nova que você admira?

Mário PC: Muitos apelidaram a Bossa-Nova de jazz brasileiro. A Bossa-Nova é muito mais do que isso. Querer enquadrá-la em parâmetros técnicos é ingenuidade e incompetência. Talvez fosse até uma brincadeira. Não deviam estar falando sério (risos).

Quando ouço João Gilberto cantando “Estate” – arranjo primoroso de outro gênio, Claus Ogerman, e que não é composta por um brasileiro – me pergunto: Estaria eu sendo injusto com os brasileiros? Não posso ser bairrista em um momento desses! (RS) Me encontro como um penetra no Olimpo quando ouço entidades como João Gilberto, Tom Jobim, Edu Lobo, Carlos Lyra, e todos os outros, brasileiros ou não, que fizeram deste, um movimento genuinamente brasileiro.

37) RM: Quais os compositores Eruditos que você admira?

Mário PC: A graduação em Música me tirou da margem da sociedade. Graças à história pude voltar à tona e pegar ar para mais uma imersão nos gênios do “Passado”. Que passado é esse?

Neste momento me dou conta do porquê da criação do calendário e do mercantilismo. Dou-me conta da farsa do tempo, de perguntas sem resposta sobre o porquê de tudo.

Ouço Bach, Chopin, Beethoven, Mendelssohn, Mozart, Schumann, dentre vários outros, e me pergunto: Como? Seriam eles humanos?

38) RM: Qual método para o ensino do Sax você recomenda?

Mário PC: Existem vários métodos de técnica para o saxofone. Posso citar o Klosé, confeccionado pelo músico grego Hyacinthe Klosé, como base para o estudo técnico de digitação do saxofone.  Vários outros métodos, posteriores a esse, foram compostos com o mesmo propósito.

É importante ressaltar que estamos falando de um ensino “engessado” em torno de técnica e leitura ocidentais para este instrumento. Mas, a música ocidental, hoje, representa muito mais em termos de estética e desempenho do que representa a estética, hábitos e motivações do século XIX.

Pesquisar outras estéticas e dar bastante atenção à percepção musical é fundamental para o aprimoramento do músico que não quer se ater a padrões e linguagens digeridas.

39) RM: – Você toca todos os tipos de Flautas?

Mário PC: Toquei muito flauta doce e transversal – concert – na graduação. Hoje, me dedico apenas à flauta transversal. Tenho planos para a flauta alto, em sol.

40) RM: Você toca todos os tipos de Sax?

Mário PC: Toquei. Tocava barítono no Ed Motta, soprano e tenor na Marina Lima, e sax alto no Lulu Santos. Hoje em dia me dedico apenas ao sax alto. Cansei de discutir com as comissárias de bordo quando adentrava o voo com o meu tenor (risos). Para o futuro, talvez revisite o soprano. Tenho saudades do seu lirismo.

41) RM: Quais os vícios técnicos o saxofonista deve evitar?

Mário PC: Engana-se aquele que diz que quem toca um, toca todos. Dessa forma, o músico que busca identidade, sonoridade e assinatura, jamais as encontrará. Tenha em mente que dividir o tempo é tirar de um lugar e pôr em outro. É uma operação de subtração.

Você ouve Desmond e pensa em alto, ouve tenor e pensa em Brecker, ouve barítono e pensa em Mulligan, Pellegrino, ouve soprano e pensa em Gorelick (Kenny G). Todos se especializaram. Por quê? Porque sabem que o caminho é a dedicação junto ao entendimento.

As práticas comerciais criam os multi-instrumentistas. Para os empregadores, desde que o mundo é mundo, é mais barato pagar um que toca vários. Big bands, orquestras, combos, gravações, musicais, etc. Querem escravizar aquele que toca sax, flauta, clarinete… que sai de casa carregando cinco instrumentos, sujeito a todas as complicações que o nosso sistema capitalista de suporte nos impõe. Saia da Matriz!

Voltando aos vícios, dentre vários, como a falta de consistência na execução das notas, um dos piores é o vício postural. Este requer muitíssima atenção pelas consequências de ignorá-lo.

42) RM: Quais os erros no ensino de Sax devem ser evitados?

Mário PC: Quem mais comete erros são os professores (risos). Passar conhecimento é louvável, seja o professor um garoto que viu um vídeo, ou um graduado com doutorado.

Acho que o maior erro se encontra na vaidade. Na insistência em vestir um personagem arrogante que acha que tudo sabe, e que no seu interior sofre por ter consciência de suas limitações e não as assumi-las, não as supera-las.

A pesquisa, a atualização, é necessária. O mundo muda, as motivações humanas mudam. Precisamos ser flexíveis e “desengessarmos” esse mundo que nos condena sempre ao silêncio. 

43) RM: Tocar muitas notas por compasso no instrumento ajuda e prejudica a musicalidade do saxofonista?

Mário PC: Não prejudica, desde que o discurso seja consciente e condizente com a sua verdade para o fim proposto.

44) RM: Quais diferenças técnicas entre os instrumentos de sopro?

Mário PC: Temos instrumentos de sopro de bocais, como os da classe dos metais, de palhetas simples ou duplas, e também bocais, com chaves vazadas ou não, como os instrumentos da classe das madeiras.

As colunas de ar são diferenciadas, assim como a postura e digitação. Vale ressaltar que o período de confecção dos “principais” métodos técnicos para todos estes instrumentos foi o século XIX.

Se formos falar de repertório, podemos começar a pesquisar voltando aproximadamente um milênio.

45) RM: Quais os prós e contras de ser multi-instrumentistas?

Mário PC: É uma delícia tocar vários instrumentos se você não tem ambições de ser lembrado como uma sumidade em um determinado instrumento.

Como eu disse anteriormente: Tenha em mente que dividir o tempo é tirar de um lugar e pôr em outro. É uma operação de subtração. Se o seu status permite que você se expresse sem muitas exigências técnicas, vá nessa e seja feliz.

35) RM: Quais os seus projetos futuros?

Mário PC: Levar o show HighLights para o Brasil e o mundo. No dia 27 de outubro de 2023 iniciamos nossa turnê no Festival PRIO Jazz & Blues, no Rio de Janeiro. No show apresento músicas dos álbuns HighLights, Match Point e The Race. Estou compondo meu quinto álbum. O nome é surpresa!(risos) deve ser lançado em 2025.

36) RM: Quais seus contatos para show e para os fãs?

Mário PC: (11) 97627 – 6968 (WhatsApp)

| (11) 99206 – 1067 (Claro) | [email protected]

| www.mariopc.net | https://www.instagram.com/mariopcfilho

| https://www.facebook.com/mariopcf | https://www.tiktok.com/@mariopcfilho

Canal: https://www.youtube.com/@MarioPC2014 

Playlist Mário PC – “The Race”: https://www.youtube.com/watch?v=9b9OQcHDTvM&list=PLpQ8eeh3AXjlH-axnoXOOkMG1vkmRhmUP 

Super Live com Giovani Pires – Out/2021: https://www.youtube.com/watch?v=kpjhB-4nuS4 

CONVERSA CONTEIRO COM MÁRIO PC – 01/03/2021: https://www.youtube.com/watch?v=H3uROsoaz1w 

Álbum Mário PC: https://open.spotify.com/intl-pt/artist/6w0UzYVXL9W0LVKBqFNsHI?si=ZV5LXX6JSB-4vuB6FSt4ZA


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Comments · 5

  1. Uma maravilha, muita informação e conhecimento e muita inspiração pra nós ,”os invisíveis, ” parabéns, super entrevista…

  2. ai PC agora sim senti firmeza ta pensando o que /? acha que o rapaz toca e de ouvido? Nao ! esse e mineiro nao brinca em serviço Uai

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Uma Revista criada em 2001 pelo jornalista, músico e poeta paraibano Antonio Carlos da Fonseca Barbosa.