More Márcio Menezes »"/>More Márcio Menezes »" /> Márcio Menezes - Revista Ritmo Melodia
Uma Revista criada em 2001 pelo jornalista, músico e poeta paraibano Antonio Carlos da Fonseca Barbosa.

Márcio Menezes

Márcio Menezes
Márcio Menezes
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O flautista, saxofonista e compositor piauiense Márcio Menezes lançou seu primeiro CD – Eclipse em 1996. Que contou com a participação de Odette Ernest Dias, Célia Porto, Adriano Faquini, Toninho Maia e Renato Vasconcelos, entre outros. O disco, gravado em Brasília – DF, foi premiado como Melhor CD em pesquisa realizada pelo SBT em Teresina-PI, e foi distribuído pelo selo Outros Brasis em Portugal e Espanha. Realizou turnê de shows na Itália, divulgando esse trabalho.

Em 2000, lançou o CD – Bumba Jazz, gravado no Rio de Janeiro – RJ, com a participação de Cristóvão Bastos, Carlos Bala, Paulinho Trompete e Nelson Farias, entre outros instrumentistas.

Em 2003, lançou o CD – Bumba Jazz ao vivo, resultado da turnê de shows realizada pelo músico em diversas cidades brasileiras para divulgação do CD “Bumba jazz”. O show realizado no Sesc Paulista – SP contou com a participação de Cuca Teixeira, Michel Leme, Pepe Rodrigues, Tiago do Espírito Santo e Bebê. Constam do repertório composições registradas em seus dois primeiros discos, além de uma versão de “Arroio”, do saxofonista Victor Assis Brasil.

Em 2007, lançou o CD – SERRA DAS CONFUSÕES, gravado em Teresina – PI, contou com a participação dos músicos: André Vasconcellos (baixo); Arthur Maia (baixo); Di Steffano(bateria); Hamilton Pinheiro (baixo); Manuel das Confusão (voz); Marco Brito (teclados); Michel Leme(guitarra) e Sidney Linhares(guitarra).

Em seus shows, o instrumentista interpreta composições próprias e clássicos da música brasileira e do jazz contemporâneo. Atuando na flauta e nos saxofones tenor, alto e soprano, acompanhado de um quarteto com bateria, baixo, guitarra e piano. Desenvolve também oficinas de harmonia e improvisação.

Segue abaixo entrevista exclusiva com Márcio Menezes para a  www.ritmomelodia.mus.br, entrevistado por Antonio Carlos da Fonseca Barbosa em 16.07.2012:

01) RitmoMelodia: Qual a sua data de nascimento e a sua cidade natal?

Márcio Menezes: Nasci no dia 16.11.1962 em Teresina-Piauí.

02) RM: Fale do seu primeiro contato com a música.

Márcio Menezes: Na minha infância, a música foi muito presente, pois morava em uma rua no centro da cidade que dava ao mercado central. Então era comum a circulação de músicos de rua, tocadores de pife, sanfoneiros, etc. E tinha certa tradição na cidade de em quase toda residência, ter um violão. Era comum ver as pessoas tocando, cantando nas calçadas, portas das casas, meus irmãos tocavam também. Tinha um vizinho que tinha uma sala de cinema e fazia umas sessões gratuitas, tinha blocos de escola de samba, grupos de rock, Chorinho, etc. Era bem movimentado.

03) RM: Qual a sua formação musical e\ou acadêmica (Teórica)?

Márcio Menezes: Eu sou autodidata, mas tive a oportunidade de fazer alguns cursos de música, como na Escola Villa Lobos – RJ, no Instituto de Educação Artística – Belo Horizonte – MG, na UNB em Brasília, com a flautista Odette E. Dias e o saxofonista Gonzaga Carneiro, harmonia com Ian Guest. Mas sempre procurei meu próprio caminho para tocar e compor.

04) RM: Quais as suas influências musicais no passado e no presente. Quais deixaram de ter importância?

Márcio Menezes: Eu comecei a tocar no final dos anos 70, início dos anos 80. E pude absorver ainda o cheiro da contracultura, experimentação, na minha casa rolava de The Beatles a Tropicália, que era o som que a geração mais “cabeça” curtiu. E minha mãe tinha aquelas coleções de clássicos e a minha geração embalada nos Zepellins, Yes, Gênesis, etc. Mas foi com Ian Anderson (Jethro Tull), Thijs van Leer (Focus), que realmente me inspirei no início. Mas já ouvia o som do Quinteto Violado. E qualquer som que tinha flauta, eu estava lá ouvindo. Tinha uma loja de discos chamada Loja do Cabeludo (risos) – para você ver o nome. E o dono vendia de tudo, então a gente ia muito lá comprar vinil e eu com aquele interesse maior, ficava ouvindo de tudo. Tanto que meu primeiro disco de jazz foi o Arroiodo Airton Moreira. E logo estava ouvindo Zappa, Hubert Laws, Hermeto, que admiro muito e aí foi um salto musical. Quando iniciei a tocar o sax, o Victor Assis Brasil era o meu preferido, e ainda hoje é. E então comecei a misturar muitos sons na cabeça, tanto que meus amigos na época chegavam para gente papear, tomar umas e outras e o som na vitrola tava rolando um Coltrane, Flora Purim, Yes, Jimmi Hendrix. O que realmente importava era curtir música interessante, ler boa literatura, etc. Na verdade eu tive a oportunidade de vivenciar e ouvir toda essa produção musical que faz parte da minha educação musical. Se você tiver a oportunidade de ouvir, por exemplo, o tema “Hands of the Priestss”, do CD Voyage Of The Acolyte de 1975 – do guitarrista Steve Hacket do Gênesis, você vai entender o que estou falando.

05) RM: Quando, como e onde você começou a sua carreira profissional?

Márcio Menezes: Eu comecei aqui em Teresina participando de festivais universitários e em grupo de baile, mas a primeira vez que subi no palco para tocar (só tocava flauta doce na época), foi no show de lançamento do disco Feito em Casa – do pianista Antonio Adolfo.  Ele teve a primeira iniciativa de se autoproduzir em uma época que era muito complicado produzir um trabalho autoral e sem apelo comercial. E com meu parceiro à época, Edvaldo Nascimento – grande artista piauiense – fizemos um duo de violão e flauta.

06) RM: Quantos CDs gravados (e quais músicos que participaram nas gravações)? Quais os anos de lançamentos e quais as músicas que se destacaram?

Márcio Menezes: Tenho 04 CD’s solos: CD – “ECLIPSE” – 1996 – Foi gravado em Brasília e contou com a participação dos músicos: Toninho Maia (guitarra); Odette E.Dias e Beth E.Dia (flauta/flautim); Romulo Duarte (baixo); Gonzaga Carneiro (clarineta); Adelson Viana (teclados e sanfona); Genil Castro (guitarra); Renato Vasconcellos (rhodes); Celia Porto (voz); Kadu Lambach (guitarra); Genil Castro(guitarra); Marcos Brito (bateria); Bruno Lucine (percussão); Moises Alves (trumpete/flugell); Adriano Faquine (voz) e Pedrinho Ferreira ( teclados). CD – “BUMBA JAZZ” – de 2000, Foi gravado no Rio de Janeiro e em Fortaleza – CE contou com a participação dos músicos: Carlos Bala (bateria); Cristovão Bastos (piano); Paulinho Trumpete (trumpete/flugell); Nelson Faria (guitarra); Lula Galvão (guitarra); Nema Antunes (baixo); Marco Brito (teclados); Erivelton Silva (bateria); Adelson Viana (teclados); Pantico Rocha (bateria); Fernando Merlino (teclados); Luis Duarte (bateria); Flavio Paiva (piano); Cristiano Pinho(guitarra); Nelio Costa (baixo); Hoto Jr(percussão). Com esse trabalho fui selecionado para concorrer ao prêmio de melhor trabalho instrumental no Prêmio Sharp e excursionei por várias capitais brasileiras (RJ-SP-MG-DF-RN-CE-PE, etc). E obtive um bom reconhecimento da crítica especializada. CD – “BUMBA JAZZ AO VIVO” – 2003 – Foi resultado do show de lançamento do CD Bumba Jazz no Sesc Paulista,  que contou com a participação dos músicos: Cuca Teixeira (bateria); Michel Leme (guitarra); Pepe Rodrigues (piano); Thiago Espírito Santo (baixo) e Bebê( sanfona). CD – “SERRA DAS CONFUSÕES” – 2007 – Foi gravado em Teresina – PI, contou com a participação dos músicos: André Vasconcellos (baixo); Arthur Maia (baixo); Di Steffano (bateria);Hamilton Pinheiro (baixo); Manuel das Confusão (voz); Marco Brito (teclados); Michel Leme(guitarra) e Sidney Linhares(guitarra).

07) RM: Como você define o seu estilo musical?

Márcio Menezes: Música Brasileira Contemporânea.

08) RM: Quais são seus principais parceiros musicais?

Márcio Menezes: Meu trabalho é todo autoral. Faço meus temas, arranjos, instrumentação. E por isso considero mais os músicos que gravam nos meus CDs, como parceiros, porque a participação deles faz parte do arranjo, ou seja, a maneira como cada um toca minha música, soma muito no resultado estético que eu procuro.

09) RM: Quais os prós e contras de desenvolver uma carreira musical de forma independente?

Márcio Menezes: Eu lembro que quando lancei o CD -“Bumba Jazz”, apesar das dificuldades sempre existirem no quesito produção, a possibilidade de fazer um show de lançamento, de conseguir uma reportagem, de veicular em algum jornal especializado, de tocar em algum projeto, era mais acessível. E por isso tive a oportunidade de fazer shows em várias capitais brasileiras e de viajar para a Europa.  Hoje, para fazer show de lançamento tem que arregaçar as mangas, fazer um projeto, arrumar um patrocinador e alugar um bom espaço, porque se ficar esperando ser contemplado para tocar em algum projeto como os do   Sesc, Banco do nordeste, Festivais de jazz,  etc, se  você não for uma celebridade musical ou muito bem relacionado, não rola. E tem outra coisa: a música instrumental sempre foi o terreno em que sempre se fez uma música criativa  e hoje, a grande maioria dos trabalhos que tenho ouvido, são de releitura de compositores, etc. Cadê o lado autoral, será que dessa geração não vão sair novos Hermetismos Pascoais? Esses dias conversando com um amigo que trabalha na Itália, ele me falou que hoje é fácil se fazer um trabalho com uma boa sonoridade porque a tecnologia esta disponível a todos. O problema é a dificuldade para distribuição, seja independente ou não. Some-se a isso a facilidade de baixar arquivos pela internet. O principal veículo de divulgação é disponibilizar teu trabalho gratuitamente, para um publico específico que inclui músicos, produtores e pessoas realmente interessadas em ouvir boa música. Hoje o “grátis” se tornou marketing para arrumar shows.

10) RM: Como você analisa o cenário musical brasileiro (instrumental e das canções)? Em sua opinião, quem foram as revelações musicais nas duas últimas décadas e quem permaneceu com obras consistentes e quem regrediu?

Márcio Menezes: Essa pergunta é mais para um crítico musical, mas acredito que o grande lance e que vai revelar muitos talentos por esses brasis, é o fato do custo de produção ser bem menor hoje em dia e estar mais acessível a todos. E com isso uma nova geração de compositores desconhecidos, estarem podendo registrar seu trabalho. E esse trabalho está chegando ao conhecimento de um maior número de pessoas, ou seja, o artista hoje compõe, produz, distribui, etc. Agora fazer um álbum conceitual, isso se faz em um bom estúdio, com um bom produtor e bons músicos. De uma maneira geral, em música pop, o som dos “moderninhos” não me agrada muito não. Achar que usar uma guitarra com visual dos anos 60, tocar e editar através do pro tools vai funcionar? Não rola. E principalmente para a música instrumental que é feita olho no olho. Meus trabalhos tem muita coisa desleixada, no sentido de soar como foi gravado ali, de prima, às vezes, pelo feeling do momento, deixo os “takes” da pré-produção valendo e não faço uma nova gravação, mesmo o som dos sopros não estando 100% captado legal, porque acho que aquele momento mágico não volta mais, com overdubs só gravo coisas do arranjo.

11) RM: Nos apresente a cena musical de Teresina?

Márcio Menezes: Uma cidade muito musical em que você encontra trabalhos interessantes em diversos estilos. Apesar dos prós e contras de uma cidade provinciana. É a cidade do rock, maravilhosa, mas já tem uma moçada que está começando a quebrar tudo aqui na música instrumental.

12) RM: Quais as situações mais inusitadas que aconteceram na sua carreira musical?

Márcio Menezes: Aconteceu recentemente em um festival local. O produtor da atração principal falou que não tinha sido comunicado pela produção que eu iria abrir o show. E falou que ninguém iria tocar antes da “estrela”. Resultado: ele armou uma briga, fez e aconteceu, mas fiz um show maravilhoso, processei o tal “produtor” por danos morais e ganhei por justa causa. Acho que a todo o momento, os músicos passam por alguma situação difícil. E continuam passando, visto que a profissão de música no Brasil é muito difícil. E faltam procedimentos básicos, como o músico se dar valor, exigir condições para exercer sua profissão, falta de respeito dos produtores, contratantes, estrutura de som, contrato de trabalho, etc. Mas no meu caso, tudo isso vale como aprendizado e prefiro ressaltar as coisas boas que já aconteceram na minha carreira. Como ter ganhado o prêmio de melhor instrumentista no Festival Botucanto em Botucatu-SP ou minha indicação ao Prêmio Sharp com o CD – “Bumba Jazz”.

13) RM: Como é seu processo de compor?

Márcio Menezes: Geralmente componho ao piano, saio improvisando. E rola uma ideia legal, então anoto a melodia, cifro uma progressão harmônica ou anoto um groove de baixo, etc, para servir de ”leitmotiv”, então depois trabalho em cima.  Uma boa também é cantar e depois harmonizar essa ideia, pois apesar de tocar sax e flauta, dificilmente faço alguma melodia nesses instrumentos, prefiro sempre pensar na música como um todo, porque quando acabo uma composição já sei como é a levada de batera, baixo, onde entram os solos, o voicing dos acordes, etc. Agora nem sempre é a música em si que me inspira, são coisas do cotidiano mesmo, imagens, lembranças, tem tema que já sai pronto, você começa a tocar e já ta lá. Já sai pronto, melodia, harmonia, tudo. Tenho vários temas feitos assim. Nesse meu último CD – “Serra das Confusões” – o tema VILA MARIANA foi composto assim, morei nesse bairro em São Paulo e me inspirei pelas ruas do lugar. E apesar de não compor Bossa Nova, esse tema soava uma bossa jazz, bem ao estilo do meu amigo Filó Machado, para quem dediquei a composição. Atualmente estou gostando muito de trabalhar com sintetizadores, guitarras, distorções, voltando às origens (risos). E descobrindo novas sonoridades porque descobri que para mim, o lance dos timbres me leva em outras direções para compor.

14) RM: O que lhe deixa mais feliz e mais triste na carreira musical?

Márcio Menezes: Fico feliz de está construindo uma história musical, em que hoje tenho minha produção autoral e de poder trabalhar no que gosto. E tenho um estúdio de gravação. E venho atuando nesse segmento de produção musical, tenho uma loja de venda de instrumentos musicais. Gostaria de está tocando mais regularmente a minha música, porque não tenho muito interesse em tocar músicas dos outros ou ser músico acompanhante. Agora, o que me decepciona profundamente, é vê que a música consumida e divulgada na grande mídia é a pior da produção musical do país. O Brasil não conhece o Brasil, essa história é antiga.

15) RM: O que você diria para alguém que quer trilhar uma carreira musical?

Márcio Menezes: Ter talento e amar a música em primeiro lugar. É bom dar atenção a duas matérias interessantes: inglês e tecnologia musical. É importante ter um bom equipamento, porque é com ele que você vai evoluir musicalmente para expressar sua arte e se tornar competitivo no mercado de trabalho. Se for atuar como músico de orquestra, então tem de estudar muito o instrumento, técnica, leitura, interpretação. E se for atuar como músico acompanhante, tem que adquirir experiência nos bailes da vida, tocar de tudo e cultivar bons contatos no show business. E se for atuar em estúdio, estudar tecnologia, estudar áudio. E se for atuar como professor, ter talento para ensinar e aprender com seus alunos, porque são varias áreas de atuação, tem que direcionar seu interesse, se capacitar nessa área e se preparar porque o jogo é duro e tem muito gente boa e talentosa.

16) RM: Quem são os músicos conhecidos que você se espelha como um padrão de criatividade e profissionalismo?

Márcio Menezes: No Brasil, na minha área de atuação, música instrumental, posso citar, por exemplo, o Nenê Batera, que é maravilhoso, batera, compositor, arranjador e faz um trabalho autoral de muita sensibilidade.

17) RM: Você acredita que sua música tocará nas rádios sem o jabá?

Márcio Menezes: Faço música instrumental e acho difícil tocar nas rádios comerciais, porque essas são parte da grande mídia, que nivela tudo por baixo. Meu trabalho toca em rádios que tem uma programação cultural de verdade e que não cobram por isso, como as rádios públicas, cultura, senado, câmera, comunitárias etc. As novas rádios da internet – podcasts – são uma opção e você mesmo pode criar sua rádio para divulgar seu trabalho.

18) RM:  Fale de sua experiência de carreira com a música instrumental.

Márcio Menezes: Com meu trabalho autoral, eu tive a oportunidade de tocar em diversas cidades como São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Recife, Brasília, Fortaleza, Natal e no exterior Roma – Itália.

19) RM: Como a sua cidade natal vê o seu trabalho musical?

Márcio Menezes: Tenho tido boa aceitação do meu trabalho, apesar de não entenderem muito bem o que eu faço (risos).

20) RM: Como seus conterrâneos vêem você deixar São Paulo para desenvolver a sua carreira na sua terra natal? 

Márcio Menezes: Não sei te falar, já faço esse trânsito desde a década de 1980, porque já morei em várias capitais como Brasília, Rio de Janeiro, São Paulo, Belo Horizonte, etc. Sempre desenvolvi meu trabalho assim e isso contribuiu muito para minha arte, para minha evolução como ser humano. E o fato de hoje estar novamente residindo aqui, tem a ver com o que hoje quero fazer, que é estar trabalhando aqui no meu estúdio e tal. Amanhã pode ser outro lance, a vida é dinâmica.

21) RM: Fale da sua experiência produzindo artistas locais no seu estúdio?

Márcio Menezes: Produzir novos artistas é muito interessante se puder acrescentar um pouco da minha experiência musical e também aprender com isso. E está sendo muito positivo e contribuindo muito para a minha música, trabalhar com outros estilos musicais. E te dá uma experiência muito boa e legitima teu bom gosto musical.

22) RM: Fale como estar sendo a receptividade do público e da crítica especializada para seu novo CD – “Serra das Confusões”. E quais as diferenças e semelhanças com seus outros CDs?

Márcio Menezes: Tenho tentado divulgar e distribuir esse trabalho não só aqui, mas para o resto do país. Hoje você pode encontrar esse trabalho em sites especializados em música instrumental e em lojas como a Modern Sound no RJ, etc… , na internet e tenho obtido uma boa aceitação, criticas muito positivas em revistas especializadas como a Sax e Metais e entrevistas para rádios como Radio cultura, Rádio Senado etc….  Com relação aos meus outros trabalhos, acho que aprendi uma maneira pessoal de trabalhar minha musica, minha maneira de me expressar através dessa arte maravilhosa e, acredito está produzindo uma música autoral com uma linguagem bem pessoal, valorizando a criatividade, sem rótulos ou ideias preconcebidas, mas com um pé fincado nas minhas raízes culturais, que é o nordeste.

23) RM: Como foi fazer o seu CD no seu estúdio? E quais foram os músicos que fizeram participações especiais nesse trabalho?

Márcio Menezes: Foi mais demorado do que o que combinado, porque como o estúdio é meu, acabei relaxando um pouco, acabaram acontecendo outros trabalhos de clientes no estúdio, etc. Mas quero no próximo trabalho, montar uma moçada bacana, e contar 1, 2, 3 e sair gravando. Os convidados foram os músicos: André Vasconcellos, Hamilton Pinheiro e Arthur Maia (baixo); Di Steffano (bateria); Manuel das Confusões (voz); Marco Brito (teclados); Michel Leme e Sidney Linhares (guitarra).

24) RM: Quais os incentivos para a música instrumental por parte dos governos municipal e estadual no Piauí?

Márcio Menezes: Aconteceu em Teresina – PI, pelo segundo ano consecutivo, o Festival de Música Instrumental, com a participação de muitos músicos palestrantes de cursos do eixo Rio de Janeiro – São Paulo. Acho isso um atraso, e dei como sugestão, ao gestor da FMC (Fundação Monsenhor Chaves), Marcelo Leonardo, que o “nordeste se encontre com nordeste”. E possa movimentar e gerar seus negócios na área do conhecimento e entretenimento, através de uma maior aproximação dos músicos e artistas que atuam no nordeste. Como Ebel Perelli, Fred Andrade, Spock, de Recife-PE, Luizinho Duarte, Nélio Costa, de Fortaleza-CE, Eduardo Taufic, Jubileu de Natal-RN e tantos outros. Sou amigo do Frank Solari, de Porto Alegre – RS, músico fantástico. Ele comentou certa vez, em Teresina, que o Sul não se reconhece como mercado de trabalho e que a opção é ir para Europa, Mercosul. Com relação aos músicos de Minas Gerais, onde morei e trabalhei bastante na década de 80, o eixo Rio de Janeiro – São Paulo é a opção de mercado de trabalho. Em relação aos músicos de Brasília, aonde atuei também, na década de 80 e 90, em festivais de jazz, em bares como Gates Pub, ao lado de Rênio Quintas, Renato Vasconcelos, Toninho Maia, Lula Galvão, Nelson Faria, Nema Antunes, Marco Brito, a maioria dos músicos migraram paro o Rio de Janeiro. Não quis nesses comentários, achar que a cultura musical nordestina seja maior que em outras regiões brasileiras, não sou bairrista, sou universalista, odeio essa mentalidade local que somos o melhor, etc. Mas cada região tem sua identidade e seu valor. E ressalto que o mercado de trabalho para a música instrumental no eixo Rio de Janeiro – São Paulo não existe mais, e que o nordeste seria uma nova “china”. Mas este intercâmbio não é feito entre os músicos da região nordeste, impossibilitando os mesmos a fomentarem esse mercado e o surgimento de novos gestores culturais, de visão moderna sobre o setor, negócios da música, que fomente parcerias entre setor público-privado, empresários de shows, donos de escolas de músicas, lojistas e importadoras, com seus negócios crescendo na região, através de um crescente número de músicos “endoser” das marcas distribuídas por aqui e que já atuam nos eventos Expo Music e outros eventos regionais, realizados pelas distribuidoras.  E parar com esse favoritismo de achar que só quem tem valor é quem atua profissionalmente no eixo Rio de Janeiro – São Paulo. O nordeste têm músicos de alto nível, que já atuaram nesse saturado mercado do sudeste, tocaram pelo Brasil, Europa, EUA, com artistas brasileiros e estrangeiros, de grande expressão do show business e tem muito a contribuir para as novas gerações de músicos. Será que os músicos locais, ainda querem ir tentar a sorte no Rio de Janeiro, ou querem morar em São Paulo, tentar furar o lobby de produtores e músicos paulistas, que existem dentro dosSESCs? O SESCs, ainda é o maior empregador do mercado de show, workshops do sudeste, para toda aquela comunidade de músicos de todo o Brasil. Com a mudança das “majors”, de produtoras para praticamente agências de publicidade, muitos músicos migrantes, elegeram São Paulo para tentar viver de música no Brasil. Este foi o texto que coloquei, sobre como a realização do Festival de Musica Instrumental de Teresina-PI tem se desenrolado nesses dois anos, ação realizada pelo gestor cultural Marcelo Leonardo. Fiz uma crítica dura, mas construtiva, em que tentei mostrar a importância de um intercâmbio profissional entre os músicos do nordeste, que são desprestigiados na sua região, em prol de músicos do eixo Rio de Janeiro – São Paulo. E sou um músico conhecedor da causa e empreendedor por convicção, da alternativa, mais que urgente, de se realizar esse intercâmbio, e desenvolver um mercado de trabalho regional, ou seja, do “nordeste dialogando com o nordeste”. Como diz o ditado, “santo de casa não faz milagre” e aqui nem missa, reza, a minha critica foi recebida com ironias e politicagem barata. O Gestor Cultural, da Fundação Municipal de CulturaMarcelo Leonardo respondeu: “Não sou músico instrumental e nem tenho mais tempo na música do que você, o que encaro com humildade, mas entendo que em nada compromete as nossas realizações administrativas e a qualidade dos eventos. Além disso, não sou político e nem participo de questões políticas. No mais desejo sucesso para você, que é um músico tão bom e deve estar com a agenda lotada de shows e aula por todo o Brasil. Abraço”. Minha resposta foi: Marcelo Leonardo, você é político sim, todos nós somos. É da natureza humana que vive em sociedade, além do mais seu cargo é político, você é um gestor cultural e não entendeu nada do que falei. Em nenhum momento eu falei; como você comentou, de “fechamento do festival para artistas de fora”. O que reafirmo é fazer um intercâmbio com os músicos profissionais que trabalham no nordeste na área da música instrumental. Como você não atua nesse mercado é impossível falar em nomes, mas uma coisa é certa, sua visão de gerenciamento cultural é das mais caducas que conheço. Com relação a sua ironia “um músico tão bom e deve estar com a agenda lotada de shows e aula por todo o Brasil”, eu te entendo, porque isso é o argumento de gente atrasada culturalmente, mas você, como gestor de uma fundação, ao invés de trabalhar para valorizar sua terra, faz o contrário, com infantilidade e soberba. Hoje moro emTeresina-PI, sou um empreendedor, lojista, tenho um estúdio de gravação, mas amanha posso estar de novo na estrada, tocando em Roma, São Paulo, Rio de Janeiro, Piripiri, aonde for e quiser tocar, porque sei gerenciar meus projetos pessoais. Foi o que sempre fiz na vida, desde os meus 16 anos de idade. Quanto a você, espero que nessa nova função, de gestor cultural, aceite as críticas que não vão ser as primeiras da minha parte e nem são pessoais, e se aproxime das suas raízes culturais, já que a única coisa que sabe fazer é tocar cover de rock. Desde que voltei de São Paulo, aonde realizei meu trabalho autoral, tocando em salas como a do Projeto Instrumental Brasil, do Sesc Paulista, casas como Supremo Musical, Villagio Café, entre outras, trabalhei com artistas da cena instrumental e do mercado da música pop/hip hop,  ganhei prêmio de melhor instrumentista no Festival de Botucatu, interior de São Paulo, e respeito profissional na minha área de atuação, com meu prestigiado CD – Bumba Jazz, indicado ao extinto Prêmio Shell, como melhor trabalho instrumental, sendo entrevista por revistas especializadas com a Sax e Metais, Folha de SP, TVs, rádios.  Ao retornar a Teresina, minha cidade natal, realizei shows e contribui em todos os eventos importantes da cidade, comoFestivais de Pedro II (por três vezes), Artes de Março, fui homenageado no Centenário do Colégio Diocesano, montei a grade curricular da extinta Escola Adalgisa Paiva, aonde lecionei saxofone e improvisação. Como produtor musical, ativista dos direitos autorais, montei a feira de Negócios da Música, dentro da grade de eventos da Feira do Empreendedor Sebrae, trazendo especialistas como  Jorge Mello, grande artista piauiense,  na área de direitos autorais, Amar-Sombrás,  ABMI, distribuidora TRATORE, parcerias com operadoras de telefonia , para regulação na venda de licenciamento digital, da obra de artistas locais. E atualmente, como sempre no empreendedorismo, como lojista, dono de estúdio de gravação. Minha contribuição como músico, ativista político pela profissionalização no setor, não é aproveitada em minha querida cidade, por causa de pessoas com visão cultural pequena e de interesses que não são a valorização da nossa cultura. Aonde já se viu acontecer um show de aniversário da cidade, em que apenas a orquestra sinfônica municipal, e uma banda tocando cover do Pink Floyd? Quando se fala em cultura, sou antipuritanismo, porque essa mistura é o Brasil. E também desprezo esse sentimento de “somos os melhores, a cultura é no nordeste, etc”, essas sandices, mas olhando o presente que estamos construindo e prevendo o futuro, que exemplo de cultura ficará para os nossos filhos e futuras gerações, se não nos reconhecemos como povo. Será que queremos um Estado que não tem representatividade artística. Em que seus artistas, filhos da terra são desprestigiados, em prol de outras regiões. Quando se olha a administração pública com seus gestores nesse revezamento político: na FMC, primeiro foi o tio, depois o pai, por oito anos, depois a chefe de gabinete, e agora o filho como coordenador de música, André Sousa, e logo quem sabe ele chega lá também como supervisor geral. A FMC tem como carro chefe, de suas ações culturais, a tão prestigiada Lei A. Tito Filho, que sempre esta debilitada e mal administrada em todas as gestões. Uma pergunta: quem são as pessoas que julgam os projetos de produção fonográfica, porque o teto é tão baixo para se produzir um trabalho fonográfico? Na área de direitos autorais, hoje se um interprete local quiser gravar uma canção do Chico Buarque ou outro compositor que tenha sua obra editada, tem que pagar a sua editora, mas já o compositor local, tem que assinar uma licença de sessão de direitos de suas músicas, para os nossos interpretes apenas para divulgação, porque a Lei A.Tito Filho, não aceita que um interprete local, pague a um compositor local pelo uso de sua obra, que será um  fonograma com ISRC em CD para replicação de  inúmeras copias. Esse meu artigo foi muito comentado, fui chamado de reacionário, desconhecedor do mercado do eixo Rio de Janeiro – São Paulo, por músicos como Michel Leme de São PauloAdemir Junior de Brasília, todos ministrantes de oficinas do festival da FMC, de não ser a favor de intercâmbio cultural e outras bobagens.  Mas também recebi posições afirmativas de grandes artistas do nordeste, de empresas importadoras de instrumentos locais, que desejam ampliar seus negócios na região, que acharam minhas ideias interessantes, sobre se montar um plataforma de trabalho regional, músicos do eixo Rio de Janeiro – São Paulo, do Rio Grande do Sul, entre outros, deram sugestões de suas inclusões nessa plataforma e ideias importantes. Intercâmbio sempre, mas tem que ser de mão dupla!

25) RM: Qual o panorama da música instrumental no nordeste?

Márcio Menezes: Tenho visto um crescimento na área de festivais, workshops, etc. Mas ainda acho que os Estados do Nordeste não dialogam bem entre si. E acaba sendo mais mercado para os músicos o eixo Rio de Janeiro e São Paulo, que sempre estão presentes nesses eventos, em detrimento de uma maior atuação dos músicos da região.

26) RM: Qual é sua opinião sobre a Lei de “Intimidação Cultural” em Teresina – PI?

Márcio Menezes: Em Teresina existe uma lei aprovada e outro projeto de lei, sobre obrigações culturais: – A primeira da Deputada do PT Francisca Trindade (in memorian), obriga donos de rádios comerciais, a executar 30% de música piauiense, na sua grade de programação. – O segundo, um projeto de lei, do Deputado Edson Melo – PSDB quer tornar obrigatório, que shows de artista de fora, tenham como contrapartida, no mesmo evento, um show de artista local: Vamos por partes, antes de dar minha opinião sobre o assunto, vou relatar alguns fatos. A época que tive a ideia do meu estúdio de gravação, se tornar uma produtora fonográfica, editora e distribuidora. Abandonei o projeto por fatores como pirataria, falta de grana para investimento, falta de parcerias comercias locais e artísticas. E através das consultorias de Jorge Mello, artista e advogado na área de direito autoral, da minha associação Amar-Sombrás, regularizei cadastro de ISRC como pessoa jurídica, para ter, como artista independente, controle e ser dono do meu trabalho autoral,  receber meus direitos conexos, por shows , gravações e algumas vezes pela execução de meus fonogramas. Mas isso me trouxe uma dúvida: será que os artistas locais, teriam seus ISRC’s regularizados e a nossa produção fonográfica local, poderia suportar 30% de todas as execuções das rádios privadas? Arregacei as mangas e comecei a ligar para todos os artistas que conhecia, pedindo sua discografia, indo a lojas de CDs que revendiam musica piauiense, para assim ter base na minha pesquisa de campo. E puder com certeza saber se uma produtora, editora e distribuidora seria uma opção financeira viável, para ambos os lados, minha empresa e os  artistas. Qual meu espanto, quando constatei que músicas como Teresina (Aurélio Melo e Zé Rodrigues) e de outros compositores, foram gravadas por artistas de renome nacional e não geraram um centavo sequer aos seus autores. Foram enganados pelos escritórios dos artistas, os fizeram assinar uma liberação de uso dessas músicas, ao invés de cessão de direitos para replicar uma quantidade acordada de acordo com o contrato. Veja um caso que eu chamaria de clássico da “contravenção” musical: O ilustre artista Vavá Ribeiro, ao produzir um de seus CDs de maior sucesso comercial, enviou a máster para Fortaleza-CE, para ser replicada duas mil copias pela CD +, mas quando pedi a ele as copias do ISRC do trabalho, constatei que ele, Vavá Ribeiro estava registrado apenas Interprete. E quem aparecia como produtor fonográfico era o escritório que ele tinha contratado como intermediário entre ele e a CD+ para replicar seu material. Esse escritório mudou os nomes de todos os músicos que tinham participado das gravações originais e colocou os nomes de músicos ligados ao escritório, que na verdade era uma produtora fonográfica. No ISRC, Vavá Ribeiro era apenas interprete/autor, com seu percentual dos direitos conexos, mas quer era o dono da obra, produtora fonográfica,  era o tal  “ escritório de replicar CDs. Resumindo, 90% de todo a discografia da música piauiense que pesquisei, estavam irregulares em vista as associações de direito autoral. E nenhum artista, digo nenhum desses 90% de artistas pesquisados, ganhou um centavo de direito autoral, seja pela realização de shows ou pela execução de rádios. Qual seria então o papel de uma lei antiquada, impor a rádios comerciais, que tem na sua origem o lucro, impor aos seus anunciantes, patrocinadores e publico alvo, tocar 30% de uma música que não interessa ao negocio deles. E que para os artistas, não iria gerar nenhuma renda, porque pelo sistema do ECAD  de pontuação, que sorteia mensalmente  a música que tocou “x” vezes”, essa  é sempre paga para tocar mais pela gravadora do artista, pelos anunciantes, que veiculam seus produtos e serviços  através de grandes corporações de marketing. E quanto ao projeto do ilustre Deputado Edson Melo? Vejamos um exemplo: show do Roberto Carlos em Teresina, o produtor local, obrigado pela lei, comunica ao produtor que tem que ter um artista local na programação? O produtor não aceita e diz que o público presente veio para prestigiar o Roberto Carlos e não um artista local e ponto final e não aceita essa imposição. Tirando as contradições dessa lei absurda, o fato é que se o agente de shows local, tivesse em sua produtora,  um casting  de artistas, poderia sugerir essa parceria,  sem precisar de lei nenhuma. Porque é dessa forma que o show business se propagou pelo mundo até agora, tendo como modelo empresarial as “majors”, produtores, agentes de artistas, movimentando este mercado dinâmico. Quem não lembra da banda X, tendo seu show de abertura na turnê feita pela banda Y? Até hoje o mercado do show business funciona assim, através de parcerias entre artistas, produtoras, agentes, empresas anunciantes e não é com leis como essa  que o mercado vai girar.

27) RM: Quais os projetos futuros?

Márcio Menezes: Continuar produzindo meu trabalho autoral. E está sempre aberto a novas ideias musicais. E ouvir a moçada nova, que vem contribuindo com muita coisa boa. E me profissionalizar a cada dia como produtor e tentar contribuir de maneira efetiva para a música produzida no Piauí.

28) Márcio Menezes, Quais seus contatos?

Márcio Menezes: Bumba Records Music Store Av.Dom Severino 3999 | www.bumbarecordsmusicstore.com.br

(86) 3233-2463 | 86-9413-8770 | [email protected]

| Skype: bumbarecords1 | MSN: [email protected]


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Uma Revista criada em 2001 pelo jornalista, músico e poeta paraibano Antonio Carlos da Fonseca Barbosa.