Manno G, rapper brasileiro independente, representante da cultura nordestina, nascido em Itapebi no Sul da Bahia e mora em São Paulo desde o 1988.
Começou a carreira musical em 2001, retratando nas suas letras as conquistas e sofrimentos do povo nordestino, ou imigrante de demais lugares, expressando como é chegar às grandes cidades e nelas sobreviver.
Participa de vários projetos sociais nas periferias de São Paulo entre eles Hip Hop de rua, foi um dos fundadores do Coletivo Clã na zona norte de São Paulo, participou nas seguintes coletâneas: Reverse Record’s com a música “Do Nordeste pra cá”. Da Mixtape volume 01 do Coletivo Clã com a música “Quando eu cheguei por aqui”. Da primeira Coletânea de RAP feita no Ceará com a música “Jogo o Jogo parte 1”.
Manno G reproduz a cultura nordestina, que é um verdadeiro celeiro musical, e um grande “palco” que abre espaço para vários ritmos e artistas. O rapper leva o ritmo nordestino para o Brasil e o mundo, reunindo sons envolventes e muito característicos.
Sua música é uma semente construída com palavras que saem do coração – repletos de sentimentos de fé, esperança e poesia. Assim se faz o Rapper Manno G buscando força e abrindo novos horizontes e caminhos.
Em 2012, lançou a mixtape “Quando eu cheguei por aqui” com sua antiga Banda Bica 1702. No mesmo ano lançou na internet o seu primeiro vídeo clipe “Quando eu cheguei por aqui”, direção do VRAS77.
Em 2013 fez a abertura da apresentação do DJ Norte Americano, o pai do hip hop Africaa Bambataaaaa, no Céu do Jaçanã, zona norte de São Paulo.
Segue abaixo entrevista exclusiva com Manno G para a www.ritmomelodia.mus.br, entrevistado por Antonio Carlos da Fonseca Barbosa em 16.01.2023:
01) Ritmo Melodia: Qual a sua data de nascimento e a sua cidade natal?
Manno G: Nasci no dia 17/05/1983 em Itapebi – Bahia. Registrado como Germinio dos Santos Andrade.
02) RM: Fale do seu primeiro contato com a música.
Manno G: Eu sempre estive muito ligado com a música, por influência da minha mãe que até hoje escuta música brega: Bartor Galeno, Reginaldo Rossi, João Junior, entre outros. Era uma vitrola tocando o dia todo (riso). O meu contato com o RAP foi em 1995 em uma barraca de Feira. Uma Feira que tem até hoje na Vila Zilda no distrito do Jaçanã/Tremembé zona norte de São Paulo.
Ao chegar perto da barraca vir uma fita K7 com uma foto de um Boy com o cabelão bem Black Power, eu pedi para escutar as músicas. Eu comprei a fita e me apaixonei pelo RAP Brasileiro.
03) RM: Qual a sua formação musical e/ou acadêmica fora da área musical?
Manno G: Eu pedir meu pai quando eu tinha 5 anos de idade (1988), foi quando minha mãe me buscou na Bahia e me trouxe para viver em são Paulo. Nunca tive oportunidade de estudar, com 7 anos de idade eu trabalhava para ajudar a minha mãe nas despesas de casa. Estudei bem pouco e fiz até o sexto ano do ensino fundamental. Tenho algumas profissões que aprendi na raça e outras que fiz cursos. Entre essas profissões: Mestre em Obras, Segurança Patrimonial, Escolta armada. Na música sou autodidata, fiz algumas aulas de canto e estudei violão e contrabaixo.
Sou cantor, compositor, microempreendedor individual, empresário na área musical e da construção civil. Diretor de Culturas Periféricas e do Instituto Internacional Olhar da Língua Portuguesa no Mundo. Sou ativista social, cultural, produtor de eventos. Atualmente sou conselheiro de saúde da UBS Jova Rural bairro da zona norte de São Paulo. Em 2016, fui eleito pelo povo como Conselheiro Participativo da Prefeitura de São Paulo.
04) RM: Quais as suas influências musicais no passado e no presente. Quais deixaram de ter importância?
Manno G: Sempre fui muito fã do Lenine, Zeca boleiro, Caju e Castanha, Bob Marley, Bezerra da Silva, entre outros. Todos têm a mesma importância até hoje, fizeram músicas que nos fazem refletir.
05) RM: Quando, como e onde você começou a sua carreira musical?
Manno G: Meu início na carreira musical foi em 2001. Ano em que mudei para o Jardim Felicidade distrito do Jaçanã. Quando alguns amigos Tom, Sandro, Gean me convidaram para criarmos um grupo de RAP.
06) RM: Quantos CDs lançados?
Manno G: Tenho dois Mixtape lançados: em 2013 – “Quando eu cheguei por aqui”, com quatro músicas. Em 2016 “Universo confuso” com 13 músicas.
Fiz algumas participações, entre elas: Talles e Diego Banda Maneva, Juara Hoots, Erivan produtos do morro, Davi2 P, Djose man, Kazane Blues, Danilo Guilherme, Davi, Carlos café do Pandeiro, Cabe Violeiro, Alan cruz, Jonas Paulo, DJ Dhu, Mano ÁLA, Mano Vanso, Michael Apolinário, entre outros.A mixtape foi produzida em Fortaleza – Ceara no Estúdio Produtos do morro Rec. Pelo renomado produtor Erivan produtos do morro.
07) RM: Como você define seu estilo musical dentro do RAP?
Manno G: Eu canto as conquistas e as lutas do povo nordestino. E como é chegar em uma grande cidade e nela sobreviver. Também luto contra todo e qualquer tipo de descriminação, racismos, preconceito e todo tipo de intolerância…
08) RM: Você estudou técnica vocal?
Manno G: Fiz aulas de canto em um curso na Fábricas de Culturas no bairro do Jaçanã – zona norte de São Paulo.
09) RM: Quais as cantoras (es) que você admira?
Manno G: Bob Marley, Reginaldo Rossi, Bezerra da Silva, Barrerito, e todos que vivem o que cantam.
10) RM: Como é o seu processo de compor?
Manno G: Geralmente eu escolho o tema e faço algumas pesquisas sobre o assunto.
11) RM: Quais são seus principais parceiros de composição?
Manno G: Tenho alguns parceiros: Juara Hoots, Andre29, Givaldo Fernandes, Reginaldo Poeta. Gosto de dividir as composições, pois assim ganhamos muito mais riqueza nos detalhes das letras.
12) RM: Quais os prós e contras de desenvolver uma carreira musical de forma independente?
Manno G: Os prós é que eu canto o que gosto e o que acho que vem para edificar e que passe uma mensagem de paz, amor, vitorias, de lutas e autoestima para o público. Os contras é que, quem tem os contatos do grandes festivais e eventos nunca passam os caminhos para entrar no circuito. Temos que criar o nosso próprio circuito cultural e muitas das vezes tirando do próprio bolso para fazer os investimentos necessários.
13) RM: Quais as estratégias de planejamento da sua carreira dentro e fora do palco?
Manno G: Como somos músicos independentes seguimos fazendo nosso próprio circuito, então criamos alguns eventos e nos apresentamos em alguns lugares que rolam os convites. Nos apresentamos em alguns espaços culturais de São Paulo. O planejamento é ir divulgando no sistema formiguinhas, cada familiar e amigos nos ajudam a levar a nossa mensagem para mais pessoas. Também tocamos em algumas rádios e TVs comunitárias do Brasil e de outros cantos do mundo.
14) RM: Quais as ações empreendedoras que você pratica para desenvolver a sua carreira?
Manno G: Quando senti que tinha que ter uma documentação específica para que pudéssemos vender meus shows, eu criei em 2017 o Selo Musical, North Record’s. E sempre estou investindo em materiais de imagem: vídeos clipes, fotos, etc. E também temos um sincronismo de impulsionamento por algumas redes social e plataformas digitais.
15) RM: O que a internet ajuda e prejudica no desenvolvimento de sua carreira?
Manno G: A internet ajuda e muito, uma vez que não conseguimos apoio da grande mídia. A internet ajuda muito no quesito visibilidade, pois acabamos sendo ouvidos e seguidos por pessoas de vários países. E levamos a nossa arte em lugares nunca imaginados, inclusive lugares que nem mesmo a própria TV ou radio do Brasil conseguiriam nos levar.
Os contras da internet não existem para os músicos, uma vez que só veio para ajudar, mas os golpes financeiros que ocorrem através são prejudiciais. Em algumas questões é uma terra sem lei, e em muitas vezes perigosa para as crianças, jovens e adolescentes que sofrem assédio sexuais por pessoas sem respeito e sem amor pelo próximo. Os pais fiquem atentos com as amizades de seus filhos nas redes sociais.
16) RM: Quais as vantagens e desvantagens do acesso à tecnologia de gravação (home estúdio)?
Manno G: A vantagem é que ficou barato gravar músicas, uma vez que os grandes estúdios eram para os artistas com carreiras consolidadas ou das gravadoras. Não existem desvantagens, uma vez que a tecnologia só veio para ajudar a todos.
17) RM: No passado a grande dificuldade era gravar um disco e desenvolver evolutivamente a carreira. Hoje gravar um disco não é mais o grande obstáculo. Mas, a concorrência de mercado se tornou o grande desafio. O que você faz efetivamente para se diferenciar dentro do seu nicho musical?
Manno G: Minhas músicas são muito particulares, acabo atingindo pessoas que passam a ser fã, amigo e divulgador da nossa ideologia, que é, a de igualdade para todos. Para que no futuro possamos viver em um mundo que ninguém seja descriminado pela sua raça, religião, região ou opção de gênero.
Sobre a concorrência artística, eu ajudo todos como posso, uma vez que tenho a visão de que quanto mais juntos estivermos menos iremos sofrer. Não trato os demais artistas como concorrentes, mas como parceiros culturais. E faço um convite para quem queira se unir aos nossos projetos, podem entrar em contato comigo para que juntos possamos fazer a diferença.
18) RM: Como você analisa o cenário do RAP brasileiro. Em sua opinião quais foram as revelações musicais nas últimas décadas e quais permaneceram com obras consistentes e quais regrediram?
Manno G: Nas últimas décadas vejo que alguns grupos de RAP surgiram com trabalhos muito bons, entre eles: Alex Man, Emmy CDT, Keith B Angola, Erivan Produtos do Morro, Edy Dias, Gueg, Vras77, Nego Helio, entre outros.
Sobre os antigos do RAP temos vários nomes que vem com o som consciente até hoje. Mas tenho uma crítica aos mesmos, eles deveriam dar mais visibilidade e ajudar de alguma forma aos que ainda não são conhecidos amplamente pelo público. Dessa forma existirá uma renovação e continuidade do movimento RAP e Hip Hop.
Quando eu falo ajudar, não é dar dinheiro, mas levar os novos artistas para abrirem show e compartilhar nas redes deles, fazer parcerias em músicas, entre outras ações. Seria essencial para o crescimento e revelação de vários talentos que temos espalhados não só no Brasil, mas de vários cantos do planeta.
19) RM: Quais os músicos já conhecidos do público que você tem como exemplo de profissionalismo e qualidade artística?
Manno G: Os artistas conhecidos e que tenho amizade e admiro são: Maneva, Lakers e Pa, Marcio Arte, Caju e Castanha, Vras77, Leci Brandão, Martinho da Vila, Zeca Baleiro, entre outros.
20) RM: O que lhe deixa mais feliz e mais triste na carreira musical?
Manno G: Fico Feliz quando encontro jovens que cresceram ouvindo minhas mensagens e que hoje são cidadãos de bem. Geralmente eles me falam que através da minha mensagem musical buscaram forças para vencer. Triste fico em ver quem já está no topo não fazer nada pelos que estão chegando na cena musical. Os famosos não têm obrigação, mas poderíamos criar um circuito cultural dentro do movimento hip hop em que todos teriam seu espaço e apareceriam para o grande público. E através dessa visibilidade poderíamos fazer mais pelos nossos projetos sociais.
21) RM: Você acredita que sem o pagamento do jabá as suas músicas tocarão nas rádios?
Manno G: Acredito que nas rádios comerciais se tivessem acesso sim! Graças a Deus temos anjos que fazem minha música circular pelas rádios comunitárias de vários cantos do Brasil. Gratidão a todas essas rádios, entre elas: Rádio Heliópolis FM – São Paulo; Broto FM – Boquira – Bahia; Rádio a Voz do Povo – Salto da Divisa – MG; Onda Caieiras – Caieiras São Paulo; Rádio Paraisópolis – FM – São Paulo. Também agradeço a todas rádios web que tocam minhas músicas.
22) RM: O que você diz para alguém que quer trilhar uma carreira musical?
Manno G: Digo para o músico entrar na carreira musical sabendo que terá que abrir mão de muitas coisas. É muito importante se organizar e se preparar para quando surgem as oportunidades. É importante no hip hop o artista cantar realmente o que vive. Temos vários no RAP que cantam uma coisa e vivem outra. Eu poderia ficar 10 dias aqui falando sobre o mundo musical uma vez que tenho 20 anos de muitas vivencias e com muitas vitórias, encontros e desencontros, mas uma coisa ninguém nunca me tirou, o Dom e a missão que me foi dada por Deus.
23) RM: Quais os prós e contras do Festival de Música?
Manno G: Até hoje só participei do Festival 6 Continentes e foi um momento único e que me trouxe muita visibilidade nacional e internacional.
24) RM: Como você analisa a cobertura feita pela grande mídia da cena musical brasileira?
Manno G: A cobertura feita pela grande mídia da cena musical brasileira só dar espaço para quem pode pagar, não importa o talento, mas o saldo bancário.
25) RM: Qual a sua opinião sobre o espaço aberto pelo SESC, SESI, Itaú, Banco do Brasil e CAIXA Cultural para cena musical?
Manno G: Sempre restritos aos que já são muito famosos. Tenho essa impressão, quando ficamos sabendo dos editais, eles já foram encerrados ou na maioria das vezes já estão divulgando os que já foram contemplados.
26) RM: O circuito de Bar na sua cidade é uma boa opção de trabalho para os músicos?
Manno G: Sim, já passamos por tantos problemas no nosso dia a dia, então quando saímos é para descontrair e renovar o espírito para os dias seguintes. Canto em qualquer lugar que tenha ao menos uma pessoa disposta a ouvir minha mensagem.
27) RM: Quais os seus projetos futuros?
Manno G: Seguimos com nossos projetos culturais e sociais dentro e fora do Brasil. Também quero deixar o convite para quem queira nos ajudar nas causas sociais e uma delas é uma aldeia indígena que ajudamos a cerca de cinco anos.
28) RM: Quais seus contatos para show e para os fãs?
Manno G: (11) 95226 – 2966 | [email protected] | https://www.instagram.com/mannogoficial
Canal: https://www.youtube.com/@mannogoficial
Manno G – Terceiro Mundo Feat Cruz e Erivan Produtos do Morro: https://www.youtube.com/watch?v=E4Qc45nAW4Y
Sucessos do Manno G: https://www.youtube.com/watch?v=Z0OrHXY4kv4
SP2 | 40 anos do SP2 | Globoplay: https://globoplay.globo.com/v/11279088/
Muito bom. Parabéns pela entrevista. Grande abraço.