O flautista mineiro Leandro Porfírio iniciou seus primeiros estudos em Campinas – SP e mais tarde ingressou na Universidade Estadual de Campinas – UNICAMP.
Já em 1994 foi admitido no Curso Superior de Música da Escola Nacional de Música e Dança de Paris – França (Communne de la Ville d’Avray), na classe de Flauta Transversal do prof. Patrice Bocquillon, e Música de Câmara do prof. Jacques Vandeville.
Premiado durante o curso, ele obteve o diploma no Curso Superior de Música em Flauta Transversal em junho de 1997 e Diploma de Aperfeiçoamento em junho de 1998, na classe de Flauta Transversal do prof. Gilles Burgos e Música de Câmara da profa. Maria Belooussova, aperfeiçoando-se em Flauta Piccolo, Flauta em Dó, Flauta em Sol, Flauta Baixo.
Estudou o repertório do período barroco, ornamentação e improvisação nos Concertos Royals I, II, III, IV de François Couperin ao período Contemporâneo Berio, Dick, Fenelon, Boulez, Ballif, Maderna, Bocquillon, Taira, Landuzzi, etc.
Foi aluno de grandes Mestres Franceses: J. P. Rampal, P. Y. Artaud, Alain Marion, Philipe Bernold, Patrice Bocquillon, Cecile Daroux, Patrick Gallois, Vicent Pratis, Sophie Cherrier, Philipe Pierlot, Geniève Amar, Andras Adorjan, Pierre André Valade e outros.
Segue abaixo entrevista exclusiva com Leandro Porfírio para a www.ritmomelodia.mus.br, entrevistado por Antonio Carlos da Fonseca Barbosa em 16.06.2015:
01) Ritmo Melodia: Qual a sua data de nascimento e a sua cidade natal?
Leandro Porfírio: Nasci no dia 08 de fevereiro de 1967 em Araxá – MG.
02) RM: Fale do seu primeiro contato com a música?
Leandro Porfírio: Sou bisneto de Elias Porfírio de Azevedo, Maestro e Cantor Lírico, seus 17 filhos enveredaram se para a música. Sou uma quarta geração de família de músicos. Deu se início no berço de minha família, mãe pianista (Rochele Porfírio de Azevedo), meu avô Lamartine Porfírio de Azevedo tocava Sousafone (Trata-se de uma tuba especial que o executante apoia no ombro para que possa executá-la enquanto anda ou marcha. É o maior dos instrumentos de sopro) na Banda Musical Santa Cecilia em Araxá – MG. E meu tio avô Evandinack era Flautista. Como todos tinham ligação na música fui cobrado a iniciar meus estudos musicais, meu primeiro professor foi João Dias Carrasqueira no Conservatório Carlos Gomes em Campinas – SP, posteriormente, eu estudei com Valdilei de Assis flautista da Orquestra Sinfônica de Campinas. Estudei o repertório erudito e popular, anos mais tarde estive em Paris – França ao lado de grandes nomes como Patrice Bocquillon, Pierre Yves Artaud, Pierre André Valade, Jean Pierre Rampal e outros.
03) RM: Qual a sua formação musical acadêmica?
Leandro Porfírio: Minha formação musical abrange todos os setores da música, desde o Barroco (François Couperin, etc) até a Música Contemporânea (Berio, Taira, Almeida Prado, e outros), também toco choro, MPB, Jazz e músicas de várias etnias. Estudei na Unicamp em 1994 e 1995, em Campos do Jordão – SP como bolsista do Festival e fui informado sobre as possibilidades de estudos em Paris – França, Ecole Nationale de Musique, e Conservatoire Nationale Superieur de Musique, não hesitei em partir naquele mesmo ano.
04) RM: Quais as suas influências musicais no passado e no presente. Quais deixaram de ter importância?
Leandro Porfírio: Meu maior legado foi o Choro, me deu muita informação a respeito da flauta, minhas condições técnicas se basearam nesse estilo e tudo ficou mais fácil: Bach, Mozart, André Jolivet, etc. Lia essas partituras em pouco tempo com a mesma vivacidade do Choro. No momento estou realizando Concertos com as obras de Niccolo Paganini, transcrito para a flauta pelo flautista Patrick Gallois, nesse mesmo trabalho utilizo técnicas contemporâneas, para se aproximar da performance do violino, são timbres bem diferentes que deixam o som da flauta transversal mais rico em possibilidades de cores na interpretação.
05) RM: Quando, como e onde você começou a sua carreira musical?
Leandro Porfírio: No Brasil, quando era estudante de bacharelado de Flauta Transversal na Unicamp – SP, eu fui primeira flauta solo na Orquestra Sinfônica de Ribeirão Preto – SP, e atuava como flautista como bolsista nos Festivais do Brasil. Em Paris – França, minha ascensão foi meteórica, em pouco tempo fui primeira flauta na Orquestra Sinfônica da Academia de Música de Paris, realizando tournés e gravando CDs. Nas minhas horas de folga, realizava concertos na formação flauta e piano, sempre tocando obras de compositores brasileiros. Obtive várias premiações em Concursos Nacionais e Internacionais na França.
06) RM: Quantos CDs gravados?
Leandro Porfírio – Através do Prêmio da Secretaria Municipal de Cultura de Campinas – FICC Campinas, gravei com o percussionista Dalga Larrondo o CD – Respiração, tendo 10 músicas. São obras contemporâneas escritas para a formação Flauta Transversal e Percussão múltipla. Todas as músicas do CD são de nossa autoria, misturamos vários gêneros musicais, passamos por vários países, buscamos escalas pentatônicas nas tribos ancestrais da África, Ásia, Japão, Brasil, etc. E improvisamos no estilo free jazz com uma grande fusão harmônica e técnicas contemporâneas nos cadernos do Conservatoire de Paris – Pierre Yves Artaud. Dentre várias faixas do CD a música Que Cimento Global; foi escrita para Flauta e Berimbau, utilizamos trechos orquestrais de compositores franceses acompanhado ao ritmo do berimbau, na cadência fiz uma homenagem ao Ian Anderson, Jethro Tull e improvisei suas músicas mais conhecidas fazendo da voz cantada no bocal o pedal harmônico da improvisação.
07) RM: Como você se define como Flautista?
Leandro Porfírio: Tenho um grande conhecimento sobre a Escola Francesa de Flauta, fui namorado de uma grande flautista (Catherine Ballend) de Marseille, ela estudou com Joseph Rampal e Jean Pierre Rampal, graças á ela obtive grande parte do conhecimento da tradição da Escola Francesa, detalhes técnicos e interpretativos. E com toda essa estrutura posso viajar pelo universo musical e interpretar vários estilos e gêneros musicais com a mesma simplicidade que toco a música popular brasileira. A flauta é simples, é como parte de seu corpo, essa é a chave de tudo, como dizia os mestres franceses. Atualmente minha flauta é uma Burkart em ouro 9 quilates, me realizo com esse instrumento, me deixa á vontade para tocar o que for preciso.
08) RM: Você toca todos os tipos de Flautas?
Leandro Porfírio: Eu toco Flauta Transversal, Flautim (Piccolo), Piccoleto (uma oitava acima do Piccolo), Flauta em Sol, Flauta Baixo, e Octobasse. No CD Respiração, utilizei várias flautas indígenas, e didgeridoo.
09) RM: Quais as principais técnicas o Flautista tem que conhecer para está pronto para tocar em qualquer estilo musical?
Leandro Porfírio: Para o estudo da técnica ligada á Flauta Transversal, os Cadernos para Flauta de Pierre Yves Artaud, são de extrema importância para todo o conhecimento técnico instrumental. Esses três métodos que citarei são muito utilizados no Conservatoire Nationale Superieur de Musique de Paris: FLÛTES AU PRÉSENT – Pierre Yves Artaud – Edição Gerard Billaudot. HARMONIQUES POUR LA FLÛTE – Pierre Yves Artaud – Edição Gerard Billaudot. LA FLÛTE MULTIPHONIQUE – Pierre Yves Artaud – Edição Gerard Billaudot. Os Métodos do Flautista Patrice Bocquillon: TERRITOIRES pour trois ensembles de flûtes. FEUILLES D´ALBUM pour um nombre de flûtistes déterminé ou non. E o mais conhecido de todos: Méthode Complète de Flûte – Taffanel et Gaubert – Paris Edition Musicale. Entrando nos detalhes, no período Barroco o estudo de ornamentação e improvisação, seguido de estudos ligados ao virtuosismo no século XVIII, variações operísticas, no modernismo, estudos ligados a polirritmia, exemplo disso as obras de Stranvinsky para Orquestra, excertos orquestrais para flauta, e obras contemporâneos como Sequenza UNO de Luciano Berio, VOICE pour flûte solo de Toru Takemitsu. Essas notações citadas acima são ligadas ao trabalho da flauta erudita, não podemos esquecer o nosso repertório brasileiro, O CHORO. Temos um bom material para ter uma excelente técnica instrumental.
10) RM: Quais os Flautista que você admira?
Leandro Porfírio: Emmanuel Pahud é o grande nome do momento, uma inteligência musical além de muitos já existentes. Primeira Flauta da Filarmônica de Berlim. Jean Pierre Rampal, Patrice Bocquillon, Patrick Gallois, me influenciaram e muito na maneira como eu toco hoje, João Dias Carrasqueira me deixou com o gosto pela música brasileira, Valdilei de Assis pela formação no Choro, o Mestre Pixinguinha além de suas obras ouvi suas gravações naqueles antigos discos de várias rotações (risos), nem sei quantas, o mesmo posso falar de Pattapio Silva. Esses me influenciaram e muito.
11) RM: Como é seu processo de compor?
Leandro Porfírio – Eu componho no estilo contemporâneo, sempre na formação flauta e percussão múltipla. Utilizo pesquisas em repertórios e desenvolvo a interpretação, e módulos de improvisação, como laboratório eletroacústico, após vários exercícios o resultado vem naturalmente.
12) RM: Quais são seus principais parceiros de composição?
Leandro Porfírio: Estou sempre na formação Duo com o percussionista Dalga Larrondo. Ele fez seus estudos em Paris – França, temos quase a mesma formação musical, isso facilita muito o desempenho musical.
13) RM: Quais os prós e contras de desenvolver uma carreira musical de forma independente?
Leandro Porfírio: O mercado de trabalho e o material de consumo das gravadoras, em relação ao custo e beneficio, elas sempre investem em música de baixa qualidade, infelizmente, é o que a grande massa consome hoje, Funck, Sertanejo, e outras formas musicais bem ao estilo povão. O repertório acadêmico ou de Salão de Concertos, obras eruditas atingem um público restrito, digamos que na faixa de uns 20 por cento da população. O que se torna difícil viver de concertos no Brasil, uma carreira de músico clássico como solista ou camarista, não é uma realidade no momento, mas nossos músicos de vanguarda como Hermeto Paschoal, Egberto Gismonti, Hamilton de Hollande entre outros conseguem uma agenda para o ano todo.
14) RM: Quais as estratégias de planejamento da sua carreira dentro e fora do palco?
Leandro Porfírio: Como pedagogo no Conservatório Carlos Gomes em Campinas – SP, estou formando uma nova geração de flautistas, trabalho esse desenvolvido no curso técnico, após alguns anos, lecionando, tenho uma aluna que obteve bolsa de estudos de aperfeiçoamento na Itália, é apenas um começo. Como Concertista estou realizando um trabalho com pianista, para me apresentar em vários palcos pelo Brasil, com um repertório diferenciado e de bom gosto. Estou pesquisando obras para flauta de compositores do século XX e XXI.
15) RM: Quais as ações empreendedoras que você pratica para desenvolver a sua carreira musical?
Leandro Porfírio: Nesse ano de 2015 tenho um contrato com a Produtora ZAP Projetos em São Paulo. Trabalhamos juntos projetos para editais culturais, concertos e apresentações pedagógicas. Pretendo gravar nesse ano mais um CD, obras de compositores brasileiros. Estou terminando de escrever um projeto para a criação de uma Orquestra Filarmônica com apoio de empresas da região. Pretendo divulgar as obras de Niccolo Paganini, como recital em várias capitais do Brasil, seus Concertos e Caprichos, alguns já estão no youtube, basta acessar Leandro Porfirio – Niccolo Paganini.
16) RM: O que a internet ajuda e prejudica no desenvolvimento de sua carreira musical?
Leandro Porfírio: A internet ajuda na divulgação do meu trabalho, me torna mais conhecido dentro e fora do Brasil. Posso acompanhar o que vem acontecendo nos palcos, e isso me deixa mais situado dentro dos acontecimentos culturais. Posso pesquisar técnicas expandidas, novos conceitos, trabalho de beat box na flauta, e múltiplos sons existentes. No aspecto negativo tenho poucas coisas a dizer, ainda não tive muitos problemas com a internet, minhas músicas sempre foram solicitadas, em MP3, pdf, até o momento ninguém me rackeou, ou fez uso ilegal de meu trabalho. A internet ajuda no meu trabalho pedagógico, meus alunos crescem pesquisando interpretações de outros flautistas.
17) RM: Quais as vantagens e desvantagens do acesso a tecnologia de gravação (home estúdio)?
Leandro Porfírio – Nos anos de 1960, o talento superava a tecnologia, nessa época temos as melhores gravações de todos os tempos, dito na flauta transversal, o uso de um simples microfone e um play era necessário para a gravação, não tinha como colar e montar as frases, a tecnologia era insuficiente e o talento dos músicos acima da média de hoje, mas a tecnologia em nossos tempos supera a deficiência de talento, hoje qualquer músico comum pode se tornar um virtuose nas gravações graças à tecnologia.
18) RM: No passado a grande dificuldade era gravar um disco e desenvolver evolutivamente uma carreira musical. Hoje gravar um disco não é mais o grande obstáculo, mas, a concorrência se tornou o grande desafio. O que você faz efetivamente para se diferenciar dentro do seu nicho musical?
Leandro Porfírio: Hoje temos a quantidade, mas não temos a qualidade, se formos peneirar o mercado sobram poucos. O que precisa para ser diferença é a qualidade do seu instrumento e sua formação musical. Quando você se torna algo diferente de todos, você começa a ter visibilidade, mas não precisa somente tocar bem, tem que ter bom gosto musical nas suas interpretações, sonoridade com vários timbres, vários tipos de estacato, não deixar a música uniforme, mas com um colorido em cada frase, fazer música realmente como ela é, dar o máximo de si mesmo quando toca.
19) RM: Como você analisa o cenário da música instrumental brasileira. Em sua opinião quem foram às revelações musicais nas duas últimas décadas e quem permaneceu com obras consistentes e quem regrediu?
Leandro Porfírio: O Cenário da Música Instrumental Brasileira vive de altos e baixos, momentos bons e ruins, difícil analisar ano após ano. O que eu acredito é que estamos perdendo espaço para músicas de baixa qualidade, música Funck, música de rodeio, e outros gêneros da pior espécie, mas é a cultura do povão o que se toca nas rádios e televisão é o que se consome culturalmente. No mais, as últimas revelações foram Danilo Brito no Bandolim e Yamandú Costa no Violão, Hamilton de Hollanda um grande músico, meu amigo Charles da Flauta, no quesito obras consistente repito Hamilton de Hollanda, Hermeto Paschoal, e Almeida Prado que faleceu há algum tempo.
20) RM: Quais as Orquestras Sinfônicas que você já tocou?
Leandro Porfírio – Orquestra Sinfônica Internacional de Paris; Orquestra Sinfônica da Academia de Música de Paris; Orquestra Sinfônica do Centro de Paris; Grupos de Câmara sob diversas formações; Orquestra Sinfônica Municipal de Campinas – SP; Orquestra Sinfônica da Unicamp – SP; Orquestra Sinfônica de Ribeirão Preto – SP; Orquestra Sinfônica de Americana – SP; Orquestra Sinfônica do Theatro da Paz; Amazonas Filarmônica – AM; Orquestra Sinfônica do Festival de Campos do Jordão – SP.
21) RM: Quais os prós e contras de ser músico de uma Orquestra?
Leandro Porfírio: A rotina de trabalho não faz bem ao músico de orquestra, tem que haver renovação sempre. Uma orquestra quando apresenta algum vício musical, ou mesmo o naipe que se trabalha, o músico deve ficar atento á esses problemas para que não prejudique sua técnica. E com o tempo e sem perceber vamos nos associando aos vícios dos demais músicos e sem perceber. O vibrato quando não bem trabalho musicalmente se torna um grande problema na orquestra. Dentre outros elementos musicais, o Maestro tem por obrigação equilibrar os naipes para boas respostas nos concertos, quando o Maestro é bom a Orquestra fica motivada, mas o que se vê hoje, são funcionários públicos exercendo sua função, com o tempo a qualidade do instrumento vai retrocedendo, o estimulo musical perde seu valor. O lado bom de uma orquestra é a estabilidade profissional, pode se trabalhar meio período durante a semana, e poucas horas de concertos após, garantia trabalhista, aposentadoria. Poucos são os músicos hoje que estão em uma boa orquestra, infelizmente no cenário brasileiro temos 11 orquestras que pagam relativamente um bom salário em que o músico pode viver dignamente, a grande maioria dos profissionais são freelancer.
22) RM: A Orquestra Sinfônica Brasileira passou por uma crise quando o maestro Roberto Minczuk informou que na sua gestão os músicos passariam por avaliação contínuo do seu instrumento. Você acompanhou essa crise? Qual a sua opinião sobre a avaliação contínua dos músicos de orquestra?
Leandro Porfírio: Eu acompanhei essa crise do começo ao fim, o facebook foi meu o cotidiano de informações. Uma vez que o músico é aprovado no concurso, ele passa por um período probatório comum nas orquestras do mundo todo, é nesse momento que ele será avaliado, no seu quotidiano, após o período caso ele permaneça não será necessário uma nova avaliação. No caso da Sinfônica Brasileira houve um excesso por parte do Maestro, músicos que já ocupavam seu cargo há mais de 20 anos, foram questionados por sua competência, alguns estavam quase aposentando, isso gerou uma revolta no mundo artístico, e várias personalidades internacionalmente se manifestaram contra o Maestro Roberto Minczuk. Houve boicote nas provas de admissão, os candidatos se inscreviam, mas ninguém aparecia no exame. Na verdade o maestro Roberto Minczuk, queria colocar músicos estrangeiros na Orquestra, isso daria um ar internacional ao seu trabalho, algo comum de se vê por aqui, o estrangeiro é sempre melhor que o brasileiro, o que não é verdade. Perdemos espaço por razões fúteis como essa.
23) RM: Qual a sua opinião sobre o músico de Orquestra que tem outros trabalhos musicais paralelos que atrapalham o seu desempenho na Orquestra?
Leandro Porfírio: Os trabalhos paralelos impedem que o músico se ocupe totalmente do repertório da orquestra, e não estude o suficiente. E com o tempo isso gera comodismo, ou o famoso jeitinho brasileiro para consertar em vez de estudar, acaba enganado a si mesmo, isso se torna vira vício cotidiano.
24) RM: Fora do Brasil o músico de Orquestra pode ter trabalhos musicais paralelos?
Leandro Porfírio: Ele exerce carreira como solista, realizando tournées e gravações, geralmente são os chefes de naipe ou spallas, os melhores sempre requisitados, mostram suas habilidades nos instrumentos.
25) RM: O que lhe deixa mais feliz e mais triste na carreira musical?
Leandro Porfírio: Feliz foi ter estudado com os maiores flautistas do mundo, e comprar uma Flauta Transversal Burkart Boston de ouro 9 quilates. E realizei-me tocando nas melhores salas de concerto da Europa, e conheci várias culturas no mundo todo através da música. Sinto-me realizando profissionalmente. Mas o que me deixa triste é ter mais reconhecimento no exterior do que no Brasil.
26) RM: Quais os prós e contras de trabalhar como música no exterior? Quais os países que você já morou?
Leandro Porfírio: Eu morei sete anos em Paris – França. E conheci praticamente toda a Europa realizando tournée com as orquestras que atuei, fiquei morando um mês na Holanda, em Amsterdã, dentre os países que realizei concertos foram Portugal, Espanha, Itália, Alemanha, França, Inglaterra, Suíça, Holanda, Grécia etc… No exterior há mais respeito com o músico, mais ética no trabalho e mais apoio dos políticos. Temos mais satisfação em exercer a profissão, e o crescimento profissional é pleno. No exterior eles dão preferência aos músicos de origem do seu país para ocuparem as vagas do emprego, a única instituição aberta ao mercado internacional é na Alemanha e Suíça, em outros países á restrição aos número de estrangeiros.
27) RM: Você fez mestrado e doutora? Qual foi o seu objeto de pesquisa?
Leandro Porfírio: Tenho mestrado em Villa Lobos, obras Camerísticas para Flauta Transversal. Especialização em Flauta em Dò, Flauta Sol, Piccolo, Flauta Baixo – repertório contemporâneo. Doutorado, eu ainda não consegui equivalência no Brasil, problemas com o MEC.
28) RM: Quais os vícios técnicos o Flautista deve evitar?
Leandro Porfírio: Dependendo do nível de estudo aparece um vício diferente, eles existem e não conseguimos sermos perfeitos na performance, passaria o dia todo para citá-los aqui. Existem muitas maneiras de se tocar a Flauta Transversal, o que é certo para um é errado para outro, mas o que mais me chocou foi ver flautistas de orquestra fazerem vibrato com a bochecha, de longe parece um sapo.
29) RM: Quais os erros no ensino de Flauta deve ser evitado?
Leandro Porfírio: Respirar fazendo barulho, bater os dedos nas chaves quando tocar, mãos mal posicionadas, dedos elevados demais, postura errada no palco, cabeça baixa ao soprar entre outros. No youtube tem muitos flautistas ensinando errado, esse é o problema da internet, excesso de informações e erradas. Enganam-se muitas pessoas, acreditam em tudo que veem.
30) RM: Tocar muitas notas por compasso ajuda ou prejudica a musicalidade do Flautista?
Leandro Porfírio: Tudo depende da maneira como você toca, lógico que quando mais você avança no nível técnico, mais notas vão surgir e sua musicalidade com isso deve aumentar também. Mas, muitas notas sem musicalidade é virtuosismo em vão. O público não sente carisma na sua interpretação, muitas notas rápidas numa grande sala de concerto se não forem bem executadas os últimos da fileira não vão entender muito bem.
31) RM: O que você diz para alguém que quer trilhar uma carreira musical?
Leandro Porfírio: Primeiro tem que saber estudar, não estudar muito, mas saber como estudar, tirar o máximo de aproveitamento em pouco tempo, isso reduz stress e a concentração se desgasta menos. Ter um professor renomado, isso ajuda nos contatos e também na vida política. Avaliar as perspectivas do mercado de trabalho, qual o melhor Estado do Brasil que oferece as melhores oportunidades, quais as capitais que a cultura vem se desenvolvendo de uma maneira mais ordenada. E pensar em estratégia de ação, preencher espaços vazios, e para se ter uma longa vida musical pense em se dar bem com todos.
32) RM: Como você analisa o mercado de trabalho para o Flautista no Brasil?
Leandro Porfírio: Um Apocalipse, Versículo 13. Explico, no Brasil o mundo da Flauta está na “U.T.I” (Unidade de Terapia Intensiva) sob os cuidados do “S.U.S” (Sistema único de Saúde). Um mercado que não se renova ao longo dos anos e o que se vê são os mesmos profissionais, nos mesmos lugares tocando as mesmas coisas. Não há novos talentos, não se cria espaço e um grupo reduzido liderando tudo e todos aliado é um bando de puxa sacos. Um circulo vicioso que infesta nossa cultura musical: pobre, envaidecida, indo direto ao buraco negro. Vamos aguardar novos séculos para novas transformações, pois essa atual já era!
33) RM: Quais os seus projetos futuros?
Leandro Porfírio: São vários, pretendo voltar ao exterior em 2015. Em 2013 morei por dois meses em Montreal – Canadá, mas o frio superou todas as minhas expectativas, seis meses de neve e temperaturas próximas a menos 40 graus. Realizei concertos e contatos profissionais, em pouco tempo minha ascensão profissional foi muito grande, já no segundo mês me apresentei no Clube do Choro de Montreal, com parceria do restaurante Chez Les Portugais. Voltei em Maio de 2015 para realizar concertos divulgando os compositores brasileiros, tanto no gênero erudito como no popular. Após o meu pedido de residência, vou manter esse fluxo entre Brasil e Canadá, mantendo o meu trabalho realizado no Brasil e uma carreira internacional. Não posso recusar um convite quando as portas se abrem novamente. O nível musical na Europa é o mais elevado no mundo todo. Quero colocar um pé fora do Brasil e outro dentro. Acredito que devo voltar para a Europa, tenho alunos que se classificam nos concursos europeus e tenho que acompanhar a tendência do mercado.
34) RM: Leandro Porfírio, Quais seus contatos para show e para os fãs?
Leandro Porfírio: [email protected] | (19) 98161 – 6019 (WhatsApp) | Skype : leandrogomes98 | www.facebook.com/leandroporfirio012