O pianista, tecladista, compositor, arranjador e produtor musical, o artista mineiro Kiko Continentino, radicado em Niterói – RJ já lançou nove álbuns instrumentais com farta produção autoral. Trabalha com músicos de projeção mundial em diversos segmentos: do jazz a bossa nova, da mpb a pop music.
Compõe o legendário grupo AZYMUTH desde 2015, ocupando a vaga de José Roberto Bertrami. O álbum FÊNIX (disponível em vinil, CD e streaming pela gravadora inglesa Far Out) conta com seis composições de Kiko Continentino, entre parcerias com seus companheiros Alexandre Malheiros e Ivan Conti Mamão, fundadores deste fabuloso grupo cultuado mundialmente, que completa 50 anos de carreira discográfica em 2023!
Kiko Continentino iniciou carreira de músico profissional em Belo Horizonte – BH no início de 1985, aos 16 anos de idade. Tocou em vários estabelecimentos, ajudando seu pai a administrar o PIANÍSSIMO STUDIO BAR, clube do jazz que marcou época em MG.
Tocou 25 anos com Milton Nascimento (seu parceiro em três canções: “Vozes do vento” gravada no álbum Pietá faixa onde participam as cantoras Marino Machado, Simone Guimarães e Maria Rita Mariano; “Zomba”, gravada por Simone Guimarães e pela japonesa Kumi Hara. Temos também “Imagem e Semelhança”, uma tripla parceria: sua melodia, com Bernardo Lobo e letra de Milton Nascimento).
Milton Nascimento com quem rodou o mundo gravando CDs, DVDs, especiais de TV e documentários – contribuindo também com arranjos e parcerias. Seu nome está associado a uma constelação internacional da MPB, Jazz e Pop music, com quem realizou concertos, gravações, shows, recitais, workshops, festivais, oficinas, eventos corporativos, institucionais e projetos de toda espécie.
Divide palco e estúdio com: Gilberto Gil, Milton Nascimento, Caetano Veloso, Djavan, Maria Bethânia, Edu Lobo, João Bosco, Chico Buarque, Maurício Einhorn, Paulo Jobim, Marcos Valle, Toninho Horta, Jane Duboc, Leila Pinheiro, Leny Andrade, Emílio Santiago, Ivan Lins, Altay Veloso, Elza Soares, Hélio Delmiro, Paulo Russo, Wayne Shorter, Ron Carter, Billy Cobham, Dave Liebman, Raul de Souza, Tim Ries (dos Rolling Stones).
Ali Shaheed Mohamed, Adrian Younge, Didier Lockwood, Leo Amuedo, Eddy Palermo, Jan Dumée, Dione Warwick, Curtis King Jr, Magnus Lindgren, Andrew Potter, Arthur Maia, Cláudio Zoli, Eumir Deodato, Os Cariocas, Fernanda Abreu, Seu Jorge, Ivete Sangalo, Lô Borges, Pepeu Gomes, Erasmo Carlos, Martinália, Zélia Duncan, Robertinho Silva, Criolo, DJ Nuth, Marcelo D2, João Donato, Filó Machado, Alcione, Negra Li, Edi Rock (dos Racionais MC’s), Hyldon, Jorge Dubman, Rincon Sapiência.
Carlos Dafé, Nelson Angelo, Maúcha Adnet, Jacques Morelenbaum, João Carlos Martins, Roberto Minczuck, João Carlos Assis Brasil, Wagner Tiso, Ira Levin, Chico Batera, Bebeto Castilho (do Tamba Trio), Simone Guimarães, Nivaldo Ornelas, Mauro Senise, Ricardo Silveira, Carlos Malta, Bernardo Lobo, Silvio César, Arthur Verocai.
Dalto, Marco Sabino, MPB4, Quarteto em Cy, Vítor Santos, Nelson Faria, Maria Rita, Jorge Ben, Marco Lobo, Dominguinhos, Elba Ramalho, Wilson das Neves, Quinteto Violado, Áurea Martins, Nana Caymmi, Pery Ribeiro, Billy Blanco, entre muitos e muitos artistas excepcionais.
Se apresenta frequentemente em Nova York, em palcos consagrados como o Carnegie Hall, Lincoln Center (duas vezes), Blue Note (duas temporadas), em duas edições do prestigiado Festival de Montreaux, no Cité de la Musique e Barbican Centre (Londres/ Paris, duas edições, cada), nos festivais North Sea Jazz, Umbria Jazz (duas edições), Jazz à Vienne (duas edições), Lugano Festival, Dekmantel Festival (quatro edições), London Jazz Festival e Stokolm Jazz Festival (duas edições cada), Salzburg Jazz & the City, Womadelaide (Austrália), El Gran Rex (Argentina), Zócalo Plaza (México), além de centenas de festivais e projetos de extrema relevância pelo Brasil, Ásia, Europa, Américas, África, Oceania…
Seu nome é citado na obra de escritores e críticos como Ruy Castro, José Domingos Raffaelli, Luiz Orlando Carneiro, Carlos Calado, Roberto Muggiatti, Chico Amaral, Willie Woopper (Japão), Mark Houlston e Brian Zorak (EUA), entre tantos.
Integrou o Quarteto Jobim Morelenbaum substituindo Daniel Jobim (neto do Maestro Soberano). Com este grupo de formação camerística realizou apresentações pelo Brasil. Foi convidado a prosseguir em tournées internacionais, mas teve que declinar em virtude de outros compromissos profissionais.
Em 27 de janeiro de 2007, idealizou e dirigiu um show histórico na Lagoa Rodrigo de Freitas (Rio de Janeiro), comemorando os 80 anos de Antônio Carlos Jobim. Nessa mesma noite, apresentou 80 composições jobineanas, com dezenas de convidados especiais.
Em 31 de julho de 2019 foi a vez de produzir um show comemorando seus 50 anos, tocando 50 músicas autorais com o auxílio luxuoso dos maiores músicos em atividade no Rio. Repertório extraído de uma obra que conta com mais de 600 composições autorais.
Segue na estrada com Azymuth em tours mundiais (em 2022 foram cinco!), eventualmente em apresentações com Milton Nascimento, além de produzir projetos especiais como o “Chansong – a música de Tom Jobim e Michel Legrand” com Lucynha Lima, Valerie Lu e Marcello Ferreira, lançar o segundo álbum do MAKIMATRIO (“Combustão Global”) com Marcelo Maia e Renato Massa (participação de Paulinho Guitarra), reativar o grupo ContinenTrio com seus irmãos Alberto e Jorge Continentino e lançar na Califórnia, dos EUA pro mundo (em plena pandemia), o álbum vinil duplo “Azymuth – JID4”.
Produzido em associação com precursores do hip-hop do Brooklin – pela série “Jazz is dead” (co-parceria de Continentino nas oito faixas), este álbum teve grande repercussão internacional, com entrevistas e críticas de publicações de todos os continentes – incluindo uma resenha na icônica revista Down Beat – maior publicação mundial de jazz desde 1939.
Em 2022, Kiko Continentino excursionou três vezes com o Azymuth pela Europa, realizando também viagens para Austrália e Estados Unidos, entre dezenas de outros países. No total, foram cinco grandes Tours internacionais no mesmo ano! Segue em apresentações por todo canto do mundo, trabalhando em estúdio, escrevendo arranjos para gravações e realizando direção musical para diversos espetáculos, como o show que a Prefeitura de Niterói promoveu em homenagem aos 50 anos do Clube da Esquina. Foram mais de 30 convidados especiais, com arranjos e direção musical de Kiko Continentino.
Autodidata, o músico também atua como professor de piano, jazz, harmonia e improvisação ministrando aulas, cursos e workshops por todo país. Em 2022 lançou um Curso de Repertório pelo Fica a Dica Premium (de Nelson Faria), uma das maiores plataformas de ensino musical on-line do país.
Segue abaixo entrevista exclusiva com Kiko Continentino para a www.ritmomelodia.mus.br, entrevistado por Antonio Carlos da Fonseca Barbosa em 04.10.2023:
01) Ritmo Melodia: Qual a sua data de nascimento e a sua cidade natal?
Kiko Continentino: Nasci no dia 31 de julho de 1969 em Belo Horizonte – MG. Registrado como Lincoln Continentino.
02) RM: Fale do seu primeiro contato com a música.
Kiko Continentino: Muito provavelmente através do meu pai Mauro Continentino que tocava um pouco de piano clássico (estudou com Berenice Menegale) e já devia ser um amante do jazz quando nasci. Minha avó Ruth (mãe do meu pai) tocava piano clássico. Era muito bonito ouvi-la, de forma que sempre havia um piano por perto…
03) RM: Qual a sua formação musical e/ou acadêmica fora da área musical?
Kiko Continentino: Na música, sou autodidata. Na escola formal, tenho ensino médio concluído muito tempo depois.
Meu pai me estimulou abandonar os estudos quando estava no segundo ano do segundo grau para trabalhar profissionalmente com ele, 24 horas por dia, sete dias por semana.
Iniciei-me profissionalmente com 16 anos de idade, em março de 1985. Essa foi minha grande formação musical, embasada na vasta discoteca de LPs que meu pai possuía. Música de qualidade, selecionada a dedo. Muitos discos. Ouvíamos música o tempo todo, desde a hora em que acordávamos. Basicamente Jazz e Bossa Nova, bastante Tom Jobim.
Desde os 9 anos de idade, já era também ávido pesquisador. Ia na casa dos amigos e familiares que possuíam discos, colecionar versões de uma mesma composição, por exemplo. Tinha muito interesse em analisar a diferença de estilos. Sempre me interessei por esse tipo de informação e registrava tudo nas fitas cassete, onde anotava meticulosamente a ficha técnica de cada gravação. Acredito que tudo isso fez parte da minha formação musical, profundamente.
04) RM: Quais as suas influências musicais no passado e no presente. Quais deixaram de ter importância?
Kiko Continentino: Nada deixa de ter importância com o passar do tempo, às vezes é até o contrário que ocorre – o que confirma que fui estimulado a ouvir de fato um material relevante. Basicamente, minhas maiores influências iniciais foram Tom Jobim, Thelonious Monk, João Donato, Duke Ellington, João Gilberto, Oscar Peterson, Bill Evans, Miles Davis, entre muitos outros…
05) RM: Quando, como e onde você começou a sua carreira musical?
Kiko Continentino: Foi em 1985 (16 anos de idade) em Belo Horizonte – MG, no La Taberna, restaurante do espanhol Carlos Carretero. Pertinho da Praça da Liberdade. Toquei lá num piano elétrico Rhodes, 6 vezes por semana (durante uns 8 meses) em dueto com meu pai Mauro Continentino no contrabaixo acústico. Tocávamos todas as noites, sempre por couvert artístico.
Paralelamente, ensaiava no Bar que meu pai tinha com Marisa Gandelman, chamado PIANÍSSIMO STUDIO BAR. Finda a temporada na Taberna, assumi a programação musical no Pianíssimo, em várias formações. Foram quatro anos de intensas atividades e muita ralação…
06) RM: Quantos CDs lançados? Cite os CDs que já participou como Tecladista/Pianista?
Kiko Continentino: Já participei de centenas de fonogramas (e uma infinidade de projetos). Como artista principal (e compositor), lancei nove álbuns: “O Pulo do Gato” (Niterói Discos, 2002), “ContinenTrio” (CR independente, 2004), com meus irmãos Jorge e Alberto Continentino (participação de André Queiroz).
Com o grupo Sambajazz Trio (com Luiz Alves e Clauton Sales), lançamos dois álbuns “Agora Sim!”, Guanabara Discos, 2006 e “Alegria de Viver”, Diebold, 2012).
Em 2008 fui convidado por Mauro Senise e Leonardo Amuedo para gravar em Trio o álbum “Caixa de Música” (Delira Música).
Com o MAKIMATRIO, outro grupo instrumental que montei com Marcelo Maia e Renato Massa, lançamos dois álbuns semi – independentes com apoio da Prefeitura de Goiânia: “Fronteiras” (2010), com participação de Ricardo Silveira e Carlos Malta e “Combustão Global” (2018), com participações de Paulinho Guitarra, Las Gatas Mañosas, Jorge Continentino, entre outros artistas.
E depois, entrei no fantástico grupo AZYMUTH em 2015 com Alex Malheiros e Ivan Conti Mamão (que fez a passagem em maio de 2023). Até agora lançamos dois álbuns: “FÊNIX” (Far Out Recordings, 2016) e o “Jazz is Dead 4”, lançado durante a pandemia covid-19 de 2020 – em associação com os produtores Adrian Younge, ativo produtor de trilhas em Hollywood (Califórnia) e Ali Shaheed Muhammad, do Brooklin NYC, um dos precursores do Hip-hop. Os dois últimos álbuns, lançados mundialmente em todos os formatos, inclusive vinil – pra minha felicidade.
07) RM: Como você define o seu estilo musical?
Kiko Continentino: Sou basicamente um pianista brasileiro de formação jazzística, improvisador, compositor, arranjador, tecladista e produtor musical – aberto a todos os tipos de manifestações musicais que me façam sonhar. E voar.
08) RM: Como é o seu processo de compor?
Kiko Continentino: O mais variado, diversificado e inesperado o possível – ou impossível… A inspiração pode vir a qualquer horário e de todas as formas, inclusive sem o instrumento.
09) RM: Quais são seus principais parceiros de composição?
Kiko Continentino: Tenho muitos. E excelentes. Difícil relacionar todos. Vou tentar me lembrar daqueles com quem já tenho músicas lançadas: Milton Nascimento, meus irmãos Jorge e Alberto, Simone Guimarães, Bernardo Lobo, Alex Malheiros, Ivan Conti, Murilo Antunes, Altay Veloso, Marcelo Maia, entre outras parcerias, todas abençoadas e honrosas pra mim.
10) RM: Quais os prós e contras de desenvolver uma carreira musical de forma independente?
Kiko Continentino: A favor, temos a independência da massiva Indústria fonográfica, sempre pensando mais nas cifras do que na qualidade do material artístico. E contra, temos as dificuldades da falta de apoio de uma estrutura mínima que nos possibilite chegar aos ouvidos e corações do mundo.
11) RM: Quais as estratégias de planejamento da sua carreira dentro e fora do palco?
Kiko Continentino: Os trabalhos vão aparecendo e são eles que pautam minha carreira. Tudo isso se dá de forma desordenada, portanto é sempre muito difícil um planejamento específico e adequado.
12) RM: Quais as ações empreendedoras que você pratica para desenvolver a sua carreira musical?
Kiko Continentino: Acima de tudo muita batalha e muita garra, sempre buscando um equilíbrio mínimo para manter a inspiração em alto nível. Eu diria: “Missão Impossível”. Que realmente não sei como, venho conseguindo tornar possível, ao longo de quase 40 anos como profissional.
13) RM: O que a internet ajuda e prejudica no desenvolvimento da sua carreira musical?
Kiko Continentino: Possibilita canais mais democráticos de divulgação, mas por outro lado os custos de produção recaem sob os artistas. A Internet multiplicou exponencialmente (de forma insana) a quantidade de informação, o que deixa o público muito mais confuso na hora de depurar a música que deseja conhecer.
14) RM: Quais as vantagens e desvantagens do acesso à tecnologia de gravação (home estúdio)?
Kiko Continentino: Vejo mais vantagens em relação a isso. Os custos são menores, o que possibilita que se faça mais trabalhos na área de gravação. Por outro lado, o escoamento nas redes é mais difícil, por todas as questões de distribuição que citei acima.
15) RM: No passado a grande dificuldade era gravar um disco e desenvolver evolutivamente a carreira. Hoje gravar um disco não é mais o grande obstáculo. Mas, a concorrência de mercado se tornou o grande desafio. O que você faz efetivamente para se diferenciar dentro do seu nicho musical?
Kiko Continentino: Gravar um disco pode não ser tão difícil – reconhecendo que cada disco é um caso diferente, porém trabalhar esse disco e lança-lo no mercado é bem mais difícil, de forma independente. Tento imprimir minha marca em todos os trabalhos que faço e tenho a consciência de que esse resultado pode ser percebido lá na frente, no futuro. Há que se ter uma dose descomunal de persistência, paciência e perseverança.
16) RM: Como você analisa o cenário musical brasileiro. Em sua opinião quais foram as revelações musicais nas últimas décadas e quais permaneceram com obras consistentes e quais regrediram?
Kiko Continentino: É a resposta mais difícil pra mim! Por milhares de razões, inclusive éticas. Se começar a relacionar nomes, teria que citar todos – e são muitos, dezenas, provavelmente centenas. Infelizmente, não há nenhum em especial que me chame tanto a atenção (pela voz do coração), apesar de reconhecer a grande qualidade da produção artística que vem surgindo no mercado.
17) RM: Quais as situações mais inusitadas aconteceram na sua carreira musical (falta de condição técnica para show, brigas, gafes, show em ambiente ou público tosco, cantar e não receber, ser cantado, etc)?
Kiko Continentino: Já aconteceu de tudo. Inclusive todas as coisas relacionadas na pergunta acima. E muito mais ainda, causos hilários, surreais, trágicos, dramáticos, emocionantes, espirituais, tragicômicos…
Ao invés de responder elegendo esta ou aquela situação, se me permite, farei uma breve reflexão sobre o nosso ofício usando uma palavra que meu pai Mauro Continentino inventou a muitos anos atrás: simplesmente “improvisível”, a profissão de um músico…
20) RM: O que lhe deixa mais feliz e mais triste na carreira musical?
Kiko Continentino: Difícil especificar emoções tão difusas de forma prática e rasteira, mas vou tentar aqui um esforço pra responder à pergunta: felicidade numa carreira musical é trabalhar com algo que envolva sensibilidade, inspiração, criatividade e motivação.
Em relação à tristeza, não há nada de novo no que vou dizer: a falta de reconhecimento e sucesso para tantos talentos relevantes (alguns de fato espetaculares) na música brasileira, diz por si só. Mas não estamos aqui nesta vida para cultivar tristeza, não é mesmo?
21) RM: Quais os estudos técnicos para independências das mãos?
Kiko Continentino: São muitos estudos técnicos e cada um deve encontrar o seu caminho, mas o que eu posso recomendar é estudar, praticar bastante, trabalhar cada mão independente, solitariamente, para depois unir as duas. Tudo isso como estudos alternados, tipo 10 a 15 minutos de cada situação.
É bom que essas variações vão estimulando, fornecendo combustível de inspiração e motivação para o estudo, que é sempre uma tarefa árdua. Outra sugestão é tentar tocar compassos diferentes em cada mão, por exemplo: 4/4 na esquerda e 3/4 na direita. Diferenciar o tipo de divisão em cada mão, tentando unir as duas em contraponto também ajuda. Lembrando que tudo isso é na verdade um desenvolvimento sem fim, aprendizado eterno – estudo que não se encerra nunca…
22) RM: Quais os estudos técnicos para o desenvolvimento da técnica das “três mãos” mão esquerda fazendo a linha do Baixo, a mão direita fazendo acordes e melodia?
Kiko Continentino: Difícil, mas posso tentar resumir: tente fazer um pouquinho de cada coisa, vá alternando e buscando a dosagem certa pra cada situação, logicamente dependendo do repertório onde ela será aplicada. Inclusive o repertório é um componente fundamental nesta equação…
Mais uma resposta: Estude bastante, à exaustão, todas as inversões, voicings, contracanto e contraponto. Procure encaixar por vezes a melodia dentro dos acordes em blocos (ouça George Shearing e seus “bloch chords”).
Outras vezes, interprete a melodia solitária, tanto na mão direita quanto na mão esquerda (tente sempre alternar e inverter os papéis), como se fosse um instrumento de sopro. Outra coisa: tente cantarolar junto com a melodia, mesmo que não seja cantor.
Ajuda bastante na inspiração – que na verdade é o mais importante neste processo do estudo, da prática diária. Inspiração gera prazer, né? E estudar sem prazer diariamente, ninguém merece…
23) RM: Você acredita que sem o pagamento do Jabá as suas músicas tocarão nas rádios?
Kiko Continentino: Não tenho essa expectativa do mega sucesso, até porque não o desejo. Mas é óbvio que desejamos ter nossa música executada nas rádios e mal ou bem a gente vai batalhando pra tornar esse processo, por muitas vezes injusto e imoral, em algo mais democrático. Muito há que se lutar nessa “guerra fria”. Considerando inclusive que o jabá hoje em dia possui outros nomes…
24) RM: O que você diz para alguém que quer trilhar uma carreira musical?
Kiko Continentino: Cultive sua fé, perseverança e um poder de decisão quase que irreversível. Foco. Se é isso mesmo que deseja fazer, se atire de cabeça, mas de forma organizada. E tenha sempre todos os planos possíveis, de A a Z. Quando você menos esperar, outras saídas serão fundamentais…
25) RM: Quais os Pianistas e Tecladistas que você admira?
Kiko Continentino: Bill Evans, Luiz Eça, Tom Jobim, Scott Joplin, Ernesto Nazareth, Horace Silver, João Donato, Herbie Hancock, João Sebastião Bach, Duke Ellington, Joseph Zawinul, Rachmaninoff, McCoy Tyner, Keith Jarrett, Thelonious Monk, Ray Charles, entre muitos e muitos outros…
26) RM: Quais os compositores eruditos que você admira?
Kiko Continentino: Johann Sebastian Bach, Ludwig van Beethoven, Claude Debussy, Chopin Frédéric François Chopin, Ígor Fiódorovitch Stravinsky, Antonio Carlos Jobim, Joseph Maurice Ravel, Gabriel Urbain Fauré, Heitor Villa-Lobos, Wolfgang Amadeus Mozart.
27) RM: Quais os compositores populares que você admira?
Kiko Continentino:
Tom Jobim, George Gershwin, Ary Barbosa, Edu Lobo, Michel Legrand, Dorival Caymmi, Baden Powell, Bill Evans, Cartola, Duke Ellington, Milton Nascimento, Henry Mancini, Nelson Cavaquinho, Kevin Richard Parker, Johnny Alf, Jerome Kern, Caetano Veloso, Gilberto Gil, Richard Rodgers, Francis Hime, Cole Porter, Chico Buarque, Burt Bacharach, Ernesto Nazareth, Stevie Wonder, Pixinguinha, Neil Young, Toninho Horta, Bronisław Kaper, Moacir Santos, Nelson Angelo, Luiz Bonfá, Radamés Gnattali, entre muitos outros, também geniais
28) RM: Quais os compositores da Bossa Nova que você admira?
Kiko Continentino: Especificamente da Bossa Nova, Carlos Lyra, Newton Mendonça, Roberto Menescal, Vinícius de Moraes, João Gilberto, com pouquíssimas composições, porém irresistíveis.
29) RM: Quais os compositores do Jazz que você admira?
Kiko Continentino: Duke Ellington, John William Coltrane, William Henry Monk, Oliver Nelson, Benny Golson, Chick Corea, Herbie Hancock, Wayne Shorter, Bill Evans.
30) RM: Quais as principais diferenças entre as técnicas de Piano e Teclado?
Kiko Continentino: De certa forma, um paradoxo. Genericamente, o Piano Acústico tem as teclas mais pesadas e o Teclado, as teclas são mais leves. Mas não é tão simples assim! Tudo vai depender de cada instrumento (pois cada instrumento tem a sua personalidade) e do touchè de cada pianista. Ou tecladista. E, sim: é possível se tornar os dois.
31) RM: Quais as principais técnicas que o aluno deve dominar para se tornar um bom Pianista/Tecladista?
Kiko Continentino: Primeiramente tentar extrair o melhor de cada instrumento, onde se possa desenvolver ao máximo sua própria assinatura – o que é algo também de extrema relevância, artisticamente falando.
De forma geral, tudo: pesquisa, experiência, técnica, escalas, harmonia, interpretação, melodia, tecnologia, performance, dinâmica, nuances, sutilezas, independência, ritmo, composição, groove, modos, beat, arranjo, tempo, estilos, fraseologia, vocabulário, patterns, laboratório, testes, enfim…
Tentar desenvolver seus próprios exercícios, específicos para cada situação, aplicados diretamente na direção artística do que se pretende – dentro do inesgotável universo dos instrumentos de teclas.
Instrumentos que não apenas podemos tocar, mas também pilotar. Essa “pilotagem” a meu ver, é também componente essencial, dentro deste intrincado processo…
32) RM: Qual a importância dos conhecimentos tecnológicos para o Tecladista?
Kiko Continentino: Importante estar sempre pesquisando, porém é importante ressaltar que existe uma diferença do tecladista especialista, aquele que devora manuais e tem maior domínio sobre a tecnologia, para o pianista/ tecladista que utiliza o arsenal de teclados em busca de novas cores e possibilidades – aplicando essas possibilidades dentro de um conceito artístico e não tecnológico. Deste, não há sentido de se exigir o mesmo domínio e conhecimento tecnológico formal do especialista, inclusive porque um pode ajudar o outro, de forma associada. Há inclusive uma certa confusão, nesse sentido…
33) RM: Você é adepto ao uso de VST e VSTI? Quais você indica para o Tecladista?
Kiko Continentino: Não utilizo em palco, por enquanto. No estúdio, acho excelente. Mas ao vivo considero ainda instável. E de certa forma questionável transportar e montar essa parafernália (laptop, placa de som, muitas vezes HD, conversores, etc) pro palco, quando existem bons teclados que podem desempenhar excelente performance ao vivo.
Mas tudo está em aberto, novas tecnologias estão chegando constantemente, principalmente no que se refere ao armazenamento digital e conexões. Tudo pode mudar, num curto período de tempo.
34) RM: Quais os principais vícios e erros que devem ser evitados pelo aluno de Piano/Teclado?
Kiko Continentino: Por exemplo, utilizar demais o pedal de sustain. Entre milhões de outras coisas…
35) RM: Quais os principais erros na metodologia de ensino de música?
Kiko Continentino: Eis aí um assunto polêmico para se abordar, principalmente no meio acadêmico brasileiro onde considero que ainda existe um universo a se percorrer, avançar, absorver – e evoluir…
36) RM: Existe o Dom musical? Como você define o Dom musical?
Kiko Continentino: Não sei se existe da forma romântica como costumam querer acreditar. Aptidão natural com certeza é algo que acontece, não apenas na música, mas em qualquer atividade. E é de certa forma inexplicável. Vai depender de cada um o processo pessoal de desenvolver essas aptidões.
O ritmo de aprendizado é algo que envolve vários fatores, como escola, professores, mas principalmente o interesse e empenho neste desenvolvimento – algo que muda de pessoa pra pessoa. Até hoje, nunca vi uma forma padronizada nesse sentido.
O que tenho visto geralmente são grandes músicos, cada um com sua própria história, que começaram justamente através do ofício, ou seja: a necessidade de sobreviver da música foi fundamental para que se desenvolvessem como profissionais e artistas, simultaneamente – o que, convenhamos, é algo difícil, mas não impossível.
37) RM: Quais os prós e contras dos métodos sobre Improvisação musical?
Kiko Continentino: Como são muitos métodos, correntes e linhas de aprendizado, fica difícil responder de forma abrangente, teria que citar cada um deles. Como sou de formação autodidata, fica ainda mais complicado e suspeito classificar qualquer método de improvisação.
Mas posso dizer que pra se desenvolver plenamente a improvisação, além do conhecimento técnico, fraseológico, melódico, harmônico e rítmico, é importante não se deixar contaminar ou se sugestionar totalmente pela metodologia. Até porquê a metodologia em si já é oposta à liberdade da improvisação – filosoficamente falando.
Não se “aprende a criar”. Criação é algo que se desenvolve, porém não deveria em cima de fórmulas, quero crer que não. Obviamente, boas dicas, ganchos, sacadas, métodos e técnicas podem ser bem-vindas, dentro do vasto aprendizado. Porém, penso que não deve se resumir a isso.
O que deve se primar no desenvolvimento da improvisação é a busca pela liberdade; pelo “frescor de uma ideia”. E com o mesmo impacto, aceitar a inexorável responsabilidade proposta pelo conceito de “improvisar musicalmente”, ou seja: criar algo realmente novo, naquele instante momento. Instantaneamente, inventar. E possivelmente, revolucionar. Este é o princípio básico e filosófico da improvisação, na minha opinião.
38) RM: Qual a definição de Improvisação para você?
Kiko Continentino: Consegui traduzir musicalmente seu estado de espírito naquele específico instante, de forma que você mesmo se surpreenda.
39) RM: Existe improvisação de fato, ou é algo estudado antes e aplicado depois?
Kiko Continentino: Como respondi nas questões anteriores, acredito no conceito amplo e filosófico da improvisação, sim. Acho que de fato ela existe, porém não considero nada fácil e simples. Acho inclusive que a improvisação deve ser constantemente “perseguida” como um estado de plenitude, dentro de todo o processo.
E por que não é simples? basta observar este imenso arsenal de metodologias em busca de se “aprender a improvisar”. Considero que o que foi pensado antes para ser aplicado depois, não deve ser considerado improvisação – em sua essência. Pode até passar por improviso para muitos, porém consigo até com uma irritante facilidade, perceber se é material realmente improvisado, livre dos vícios de estudo e prática constante, ou se são os famosos “licks” – aquelas células musicais que, por melhor que sejam, são pré-concebidas.
Sem desmerecer todo o estudo e a prática para se conseguir uma performance musical satisfatória, não considero improvisação um texto montado em cima de colagens. Aliás, vejo a improvisação parecida com um texto, só que concebida na hora! Repente? Partido alto, desafio? Me remete à literatura, poesia, história, jornalismo, um texto bem escrito… Musicalmente, você deve contar uma história e essa história deve ser interessante (ou cabe a você tornar o assunto interessante), contando de uma forma diferente, original e criativa.
40) RM: Quais os prós e contras dos métodos sobre o Estudo de Harmonia musical?
Kiko Continentino: Tenho uma opinião delicada a respeito disso porque, se por um lado considero válidos vários tipos de metodologia, acho que não devemos nos prender a nenhuma delas. Até porque considero harmonia uma matéria em aberto. E ela continua se desenvolvendo e se expandindo através dos tempos, é danada, ninguém consegue classificá-la totalmente…
41) RM: Você toca outros instrumentos musicais?
Kiko Continentino: Não. Apesar de achar que às vezes posso até tocar, reconheço minhas limitações. E mal e porcamente vou seguindo, só nas teclas mesmo (riso).
42) RM: Quais os seus projetos futuros?
Kiko Continentino: Estou com vários trabalhos e projetos como arranjador e diretor musical na fila pra finalizar. Após isso, pretendo lançar um álbum de canções; seguindo com o fabuloso AZYMUTH através do mundo – já que somos agraciados com o carinho da juventude em vários continentes (falta a Antártida…).
Pretendo também expandir o piano na noite niteroiense e postar mais vídeos de piano jazz solo – quem sabe um álbum, participando de recitais e workshops nesse formato; desenvolvendo também projetos com minha esposa Lucynha Lima, tanto produzindo seu novo álbum, quanto prosseguindo nosso dueto (que aborda repertório do Samba, Choro, Bossa Nova, MPB e música mineira. E também com nosso grupo CHANSONG – a música de Jobim & Legrand, com Valerie Lu e Marcello Ferreira.
43) RM: Quais seus contatos para show e para os fãs?
Kiko Continentino: (21) 98837 – 0157 (WhatsApp) | (21) 98893 – 0086 (Gabriel Continentino, produtor executivo) | [email protected]
| https://www.instagram.com/kikocontinentino
| https://www.facebook.com/kiko.continentino
Canal: https://www.youtube.com/@kikocontinentino5098
Canal: https://www.youtube.com/@continenkiko
VOZES do VENTO (Kiko Continentino/ Milton Nascimento) – Pietá – Milton Nascimento com part. de Marina Machado, Simone Guimarães, Maria Rita Mariano: https://www.youtube.com/watch?v=UOyd4QK_Os4
Zomba (Kiko Continentino / Milton Nascimento / Bena Lobo) por Simone Guimarães: https://www.youtube.com/watch?v=HH9vfdrrmA0
Imagem e Semelhança (Milton Nascimento / Kiko Continentino / Bena Lobo) – Milton Nascimento part. de Marina Machado: https://www.youtube.com/watch?v=BbrA_H7_fho
Rota de Colisão (Kiko Continentino/ Altay Veloso) – LUCYNHA LIMA: https://www.youtube.com/watch?v=d4cJm_l3YNQ
SARRO (Mauricio Einhorn/ Arnaldo Costa/ Kiko Continentino) – Lucynha Lima: https://www.youtube.com/watch?v=KeikPRqvGl8
“GERAES AUTORAIS” por Kiko Continentino Projeto /Live “KIKO in Concert”: https://www.youtube.com/watch?v=Vbp5weUUx-4
Playlist de músicas autorais: https://www.youtube.com/watch?v=UOyd4QK_Os4&list=PLm5pLypQ7VJl89CK_eHZ0Z-3kbiBpeuiU
Playlist: https://www.youtube.com/watch?v=Vbp5weUUx-4&list=PLm5pLypQ7VJlCIwOfJBrHLRNWVPqvk32m
Kiko Continentino | Repertório para piano popular | Autumn Leaves: https://www.youtube.com/watch?v=atFalYKw3jg
KIKO CONTINENTINO TRIO (com MAURO CONTINENTINO) – STRAIGHT no CHASER (T. MONK): https://www.youtube.com/watch?v=VFIVpShGqrU
KIKO CONTINENTINO TRIO – INFLUENCIA DO JAZZ (Carlos Lyra): https://www.youtube.com/watch?v=HXGgF4jAzFQ
Um Café Lá em Casa com Kiko Continentino e Nelson Faria: https://www.youtube.com/watch?v=ANs3cCR7Clc
Entrevista com KIKO CONTINENTINO (Milton Nascimento, Banda Azimuth, Bossa Jazz): https://www.youtube.com/watch?v=7_e3Wv9NMpo
Há inúmeras características extraordinárias para se classificar algo como espetacular! A trajetória, o conhecimento, a discografia e a universalidade que não se enfeixa em nacionalidades, de Kiko, o tornam espetacular! Parabéns, pela rica entrevista! A música é universal e assim deve ser valorizada!!!
Muito obrigado Antônio, parabéns pela Revista. Valeu, querido Doctor!
Gratidão mestre Kiko por registrar sua bela trajetória na RitmoMelodia e mestre Judi com sua sabedoria e generosidade acompanhando as entrevistas da revista.
Maravilha de entrevista, o Antônio sempre trazendo obras gigantescas, percebemos a generosidade de Gênios compartilhando conhecimentos, parabéns…