More Kelen Mendes »"/>More Kelen Mendes »" /> Kelen Mendes - Revista Ritmo Melodia
Uma Revista criada em 2001 pelo jornalista, músico e poeta paraibano Antonio Carlos da Fonseca Barbosa.

Kelen Mendes

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A cantora e compositora afroamazônida acreana Kelen Mendes em suas músicas, costuma falar da natureza, de questões políticas, paixões, gênero, raça e da potencialidade das mulheres.

Em sua estética musical, procura demarcar o diálogo das Américas negras diaspóricas, com influências que vão da música de raiz acreana, MPB, passando pelo rock e pela black music. Dessa mistura, a compositora busca apresentar sonoramente, sua vida na cidade floresta e a contemporaneidade que a cerca.

Atualmente está apresentando o show Ancestralidade, onde apresenta seu terceiro trabalho, todo autoral e os temas escolhidos, eram urgentes de serem cantados para Kelen, que fez a maior parte das músicas, durante a pandemia do covid-19. Agora espera apresentar o show pela região Norte do país.

Segue abaixo entrevista exclusiva com Kelen Mendes para a www.ritmomelodia.mus.br, entrevistada por Antonio Carlos da Fonseca Barbosa em 11.12.2023:

01) Ritmo Melodia: Qual a sua data de nascimento e a sua cidade natal?

Kelen Mendes: Nascido no dia 15/06/1973 no Rio Branco – AC. Registrada como Kelen Pinto Mendes. Sou filha do coração de Rosa Dávila Pinto e Elysaldo Mendes, cheguei com três meses de vida, e aos seis anos de idade soube que era adotada e sou filha única do coração. Mas tenho onze irmãos biológicos e conheço minha família biológica por parte de mãe. Meus pais biológicos são Armênia e Marciano.

02) RM: Fale do seu primeiro contato com a música.

Kelen Mendes: Na infância, eu aprendia a cantar as letras e melodias com facilidade, então abria a boca e cantava alto em vários lugares onde sentisse vontade, pois na verdade, eu gostava de me apresentar (risos).

Eu lembro de uma viagem de ônibus para um município do Amazonas, aqui perto, chamado Boca do Acre; nesse trajeto, eu cantei alto e os passageiros do ônibus riam e aplaudiam, eu devia ter uns cinco anos; minha primeira apresentação.

Tenho antes ainda, uma fita K7, gravada aos três anos de idade pelas minhas tias paternas, onde se ouve diálogos e canções; eu canto algumas (risos) e essa memória me animou a cantar por muito tempo.

03) RM: Qual sua formação musical e/ou acadêmica fora da área musical?

Kelen Mendes: Sou bacharel Cientista Social, habilitada em Sociologia; sou pós graduada em psicopedagogia e mestre em Letras: linguagem e identidade. Pesquisadora da música regional acreana.

04) RM: Quais as suas influências musicais no passado e no presente. Quais deixaram de ter importância?

Kelen Mendes: A memória mais forte eu chamo de back music: discoteca (anos 80 quando fui criança – disco music) rock nacional, soul nacional com Tim Maia, Sandra de Sá, Dalton, Gal Costa; Samba Rock: Jorge Benjor, Bebeto.

Ouvi muita rádio AM também (Samba, Choro, Forró, Cumbia), quando criança ainda não tínhamos rádios FM no Acre e tocava muita MPB, tocava um pouco de tudo, gêneros nacionais, o que foi enriquecedor e depois com a FM veio a black music, eu já tinha uns 11 – 12 anos.

Quase nada deixou de ter importância, mas algumas coisas passei a ouvir e entender melhor, nisso entrou muita coisa boa, que também criança não dá pra entender ainda (risos); então passei a gostar de Elis Regina, João Bosco. 

Desde criança gostei de Clara Nunes, Tim Maia, Jorge Ben, Sandra de Sá, Rita Lee, Baby Consuelo, Gal Costa, Fafá de Belém, Moraes Moreira, Fagner, Belchior, Raul Seixas, Zé Ramalho, Luiz Gonzaga, Elba Ramalho, Caetano, Gil, Djavan, Zizi Possi (infância), essa eu não ouço mais; entrou a Elza Soares, Legião Urbana, Chico Science e muitos novos: Baiana System, Flaira Ferro, Luedji Luna, Liniker, Maju, muitos…

05) RM: Quando, como e onde você começou sua carreira musical?

Kelen Mendes: Em 1981 no Rio Branco – AC, cantei quando criança na escola, entre 8-13 anos de idade; depois parei e retomei aos 18 anos (1991), já na Faculdade, e participei de um grupo musical na UFAC (MPB e regional); comecei cantar em bares e participei de Festivais de Música locais.

Depois que venci o Festival Acreano de Música Popular (FAMP 1992) eu não parei mais; porém a compor eu comecei um pouco antes de 2004, ano em que venci o Festival da Canção do Purus (FACAP –AM). O meu primeiro show no Teatro é mais ou menos de 1998.

06) RM: Quantos CDs lançados?

Kelen Mendes: Três. Inundação (2008); Rio Acre (2018); Ancestralidade (2023).

07) RM: Como você define seu estilo musical?

Kelen Mendes: Entre MPB e Word Music, porque embora cante apenas em português, exploro diversos ritmos do mundo, além da música de raiz acreana.

08) RM: Você estudou técnica vocal?

Kelen Mendes: Sim.

09) RM: Qual a importância do estudo de técnica vocal e cuidado com a voz?

Kelen Mendes: Eu senti necessidade de ter mais informação sobre algumas técnicas que pudessem me ajudar a cantar determinadas melodias ou desenvolver melhor minhas ideias cantadas (risos).

A voz precisa te acompanhar até o fim; precisa de cuidados que são também autocuidado; de hidratar, descansar, se alimentar bem e cuidar da saúde mental.

10) RM: Quais as cantoras (es) que você admira?

Kelen Mendes: Na atualidade estou gostando muito da Liniker e da Luedji Luna. Sou apaixonada por Elza Soares, amei Amelinha quando criança, e gosto da Lia de Itamaracá, mas também gosto da Iza; coisas bem diversas.

11) RM: Como é seu processo de compor?

Kelen Mendes: Gosto de pensar primeiro no ritmo, mas já musiquei poemas de amigos, gosto muito também. Nas letras eu gosto de falar sobre coisas que acredito: natureza, paixões, questões de gênero e raça aparecem também com alguma frequência, assim como classe social.

12) RM: Quais são seus principais parceiros de composição?

Kelen Mendes: Tenho poucos e uma única canção com cada um deles, mas tenho um parceiro arranjador que me acompanhou muito tempo, o Charles Sampaio, que é também violonista.

13) RM: Quais os prós e contras de desenvolver uma carreira musical de forma independente?

Kelen Mendes: No meu caso, acho que o pró é que não se torna muito cansativo, eu faço minha agenda e a música não é a única atividade que me sustenta. E paradoxalmente, não conseguir viver de música é triste, quando você gosta e acredita na força da arte musical; então é também uma meta, eu alcançar esse objetivo.

14) RM: Quais as estratégias de planejamento da sua carreira dentro e fora do palco?

Kelen Mendes: Eu estou estudando para gerenciar minha carreira, de modo que eu possa planejar e vir a alcançar um público maior para minhas canções; no palco eu tenho buscado ampliar a qualidade musical e cênica do show atual, que é o “Ancestralidade”.

15) RM: Quais as ações empreendedoras que você pratica para desenvolver a sua carreira musical?

Kelen Mendes: Estou investindo numa mentoria de gerenciamento de carreiras e sou a produtora executiva do meu trabalho; produzo meus shows em teatros locais e tenho buscado além dos lançamentos nas plataformas, sendo eu a dona dos fonogramas, estou procurando financiamento para um intercâmbio, através de shows pela região Norte.

16) RM: O que a internet ajuda e prejudica no desenvolvimento de sua carreira musical?

Kelen Mendes: A internet ajuda a música chegar fora de onde vivo, possibilitando intercambiar mesmo a distância, e não consigo enxergar prejuízos na ferramenta, uma vez que onde moro, o deslocamento físico é complexo e tem altos custos.

17) RM: Quais as vantagens e desvantagens do acesso à tecnologia de gravação (home estúdio)?

Kelen Mendes: Só vejo vantagens no acesso; acho que a desvantagem é que nem todos podem adquirir a melhor tecnologia, mas isso pode vir a ser superado.

18) RM: No passado a grande dificuldade era gravar um disco e desenvolver evolutivamente a carreira. Hoje gravar um disco não é mais o grande obstáculo. Mas, a concorrência de mercado se tornou o grande desafio. O que você faz efetivamente para se diferenciar dentro do seu nicho musical?

Kelen Mendes: Eu procuro não perder minhas raízes; isso começa na MPB, passa por regional e chega na black music mundial; eu não tenho como negar minhas raízes e optei por cantar minha própria narrativa; já que moro na periferia do país, então que eu me mostre como sou: Acre.

19) RM: Como você analisa o cenário da Música Popular Brasileiro. Em sua opinião quais foram as revelações musicais nas últimas décadas? Quais artistas permaneceram com obras consistentes e quais regrediram?

Kelen Mendes: Acho que quase tudo mudou, porque mudaram as sonoridades, os intercâmbios culturais se ampliaram, se você pensar de forma positiva (risos) eu gosto ainda dos baianos; brinco que comandam a MPB, então já citei a Liniker, que junto com a Majur e a Luedji me revigoram; gosto do Bayana System, me identifico com essa renovação negra, que sai da Bahia. Consistente acho que foram a Elza Soares, o João Donato, e regredir? Zélia Duncan (?) Maria Rita (?), isso é muito pessoal, difícil falar.

20) RM: Quais as situações mais inusitadas aconteceram na sua carreira musical (falta de condição técnica para show, brigas, gafes, show em ambiente ou público tosco, cantar e não receber, ser cantado etc)?

Kelen Mendes: Falta de condição técnica depois de passar o som, e chegar para fazer o show e ter que se adaptar tudo diferente, e mudanças para pior, já no palco, na hora do show; é preciso muita…concentração.

21) RM: O que lhe deixa mais feliz e mais triste na carreira musical?

Kelen Mendes: Felicidade é conhecer pessoas, trocar ideias, se rever a cada apresentação, a cada entrevista; triste é não ver o trabalho crescer em audiência, em público nos shows, dificuldades de divulgação, venda de shows, circulação, preconceitos, enfim, eu só reflito sobre minha situação na música, mas deve ter algumas semelhanças com outras carreiras.

22) RM: Existe o Dom musical? Como você define o Dom musical?

Kelen Mendes: Acho que sim. Dom é nascer com o ouvido, a afinação ou entonação das alturas corretas, a facilidade com a linguagem de um determinado instrumento musical; colocar a mão no instrumento e tocar, muitas vezes sem o estudo formal, ou sem nenhum estudo; isso eu acho que é nascer quase pronto; é o dom musical.

23) RM: Qual é o seu conceito de Improvisação Musical?

Kelen Mendes: Brincar, se arriscar, buscar muitas referências para saber brincar sem cair (risos) ou se recuperar rápido.

24) RM: Existe improvisação musical de fato, ou é algo estudado antes e aplicado depois?

Kelen Mendes: Eu sou muito intuitiva; creio que tudo pode ser estudado, melhorado, ampliado; depende de onde você quer ir, ou onde quer chegar. No violão, eu teria dificuldades de improvisar pois não tenho técnica suficiente; mas na voz eu me arrisco por acreditar no meu desenvolvimento e nas minhas referências.

25) RM: Quais os prós e contras dos métodos sobre Improvisação musical?

Kelen Mendes: Como autodidata eu acho que se você tem muitas referências, vai encontrar o melhor método para você se desenvolver. Como eu já disse, no canto eu sou bastante intuitiva e no violão tenho pouca técnica.

Improviso quando brinco com os saltos melódicos e crio novas melodias; como compositora eu acredito na minha facilidade de lidar com essa matéria-prima que expresso principalmente com minha voz, mas meu dom é aliado a observação, audições, e reflexões sobre o que quero apresentar, que é o onde quero chegar do qual falei, anteriormente.

26) RM: Quais os prós e contras dos métodos sobre o Estudo de Harmonia musical?

Kelen Mendes: É que nenhum método sozinho dá conta de todo o estudo da harmonia musical; você pratica e entende mais e os métodos vão complementando com algumas informações novas, e de acordo com a cultura, onde o músico que propôs o estudo se desenvolveu.

27) RM: Você acredita que sem o pagamento do jabá as suas músicas tocarão nas rádios?

Kelen Mendes: Creio que não o suficiente para serem realmente conhecidas porque a forma hoje é jabá digitalizado através de plataformas, play list, rede sociais etc.

28) RM: O que você diz para alguém que quer trilhar uma carreira musical?

Kelen Mendes: Tenha vários projetos diferentes dentro da música e se desenvolva em várias áreas também, como marketing digital, web designer, engenheiro de som, jornalismo cultural, gestor de projetos, entre outros; você vai precisar de tudo isso.

29) RM: Festival de Música revela novos talentos?

Kelen Mendes: Acho que Festival de Música não revela mais novos talentos.

30) RM: Como você analisa a cobertura feita pela grande mídia da cena musical brasileira?

Kelen Mendes: A cobertura feita pela grande mídia da cena musical brasileira é bem incompleta. Quase inexistente. Ainda é bem cara. Altos custos.

31) RM: Qual a sua opinião sobre o espaço aberto pelo SESC, SESI e Itaú Cultural para cena musical?

Kelen Mendes: Talvez pela cena musical ser muito grande e muito rica, tudo, ainda é muito insuficiente; não dá conta.

32) RM: Quais os seus projetos futuros?

Kelen Mendes: Continuar compondo, gravando e tentando distribuir, mesmo com toda a dificuldade a mais, enfrentada por quem mora na região Norte.

33) RM: Quais seus contatos para show e para os fãs?

Kelen Mendes: (68) 99961 – 0559 | [email protected] | https://www.instagram.com/kelenmendesac

| https://www.facebook.com/kelendoacre

Canal: https://www.youtube.com/@kelenmendes3780 

Caboclo Ligeiro (Audio Original) – Kelen Mendes: https://www.youtube.com/watch?v=DwH4tNWVN1E 

Quão veloz – Kelen Mendes (Clipe Original): https://www.youtube.com/watch?v=JILolzmb0ic 

Segredos Da Floresta (Audio Original) – Kelen Mendes: https://www.youtube.com/watch?v=EtiD_IV3x_8 

Rio Acre (Audio Original) – Kelen Mendes: https://www.youtube.com/watch?v=1M3EeXdQfPw 

Música Descoberta Kelen Mendes: https://www.youtube.com/watch?v=QO_hPKddwps 

Festival Norteadas – Yaneza Entrevista Kelen Mendes: https://www.youtube.com/watch?v=SW62F0safcA


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    1. Grata Márcia! Vdd! Essa revista já pode ser premiada; patrimônio (IPHAN tem um prêmio viu A. Carlos)! Tem q inscrever essa pérola de revista!

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Uma Revista criada em 2001 pelo jornalista, músico e poeta paraibano Antonio Carlos da Fonseca Barbosa.