A cantora e compositora carioca Kátia Moraes chegou em Los Angeles – Califórnia – EUA em 1990 planejando ficar durante um ano enquanto seu companheiro musical, o Mario Costa, estava estudando na Grove School of Music.
Eles trouxeram um disco debaixo do braço e conseguiram seu primeiro trabalho. E Kátia cantando com uma banda formada por músicos americanos começou a se inteirar do que estava acontecendo na comunidade brasileira e internacional aqui na Califórnia. Cantou com Sérgio Mendes, Airto Moreira, Oscar Castro -Neves, George Duke, Praful, Alex Acuña e Justo Almario, além da Orquestra Feijoada Completa, Samba Society, Bloco Nove, Falso Baiano, The Rio Thing, Badauê, Midnight Drums, Sol & Mar, Viver Brasil Dance Company, Folk Ballet of Brasil e Man and Machine. A sua primeira banda se chamava “Sambaguru” (com o guitarrista Sanjay Divecha e o percussionista Kevin Ricard). Gravaram cinco CDs independentes: “Ten Feet and the Sun”, “Ginga”, “Live at La Ve Lee”, “Navegar ao Sol”, e “Tribo” (que entrou na primeira lista eliminatória do Grammy Latino em 2009).
“CABEÇA” é o seu primeiro EP solo em parceria com a produtora/engenheira de som/compositora irlandesa Lynne Earls (K.D.Lang, Airto Moreira, Flora Purim, entre outros). Além de cantora e compositora, também produz o show “Brazilian Heart, a Celebration” que homenageia um artista brasileiro anualmente (2012 – Elis Regina, em 2013 – Clara Nunes e em 2014 – Maria Bethânia). Sua voz já apareceu nos filmes: “Woman on Top”, “Everyday”, “The Last Word”, “Arrested Development” e no Cult de animação japonês “Cowboy Bebop”.
Ela recebeu os prêmios: em 2013 – Artista World Music de 2013 – The Beverly Hills Outlook. Em 2012, 2011, 2010, 2009 and 2008- Nomeada como “Cantora de Destaque” & “Cantora de Atuação Local” pelo International Brazilian Press Award. Em 2007 – Kátia Moraes e Bill Brendle ganhadores do terceiro lugar no World Music na Competição Internacional de Composição com “Tribo Gandhista”. Em 2006 – Projeto Pure Samba – ganhador do “L.A. Treasure Award” (California Traditional Music Society- City of Los Angeles Cultural Affairs Department e The California Traditional Music Society). Em 2005 – Nomeação- Melhor Artista Latino – New Times Newspaper Music Awards. Em 2003-2004 – Vencedora do Showcase Awards Vocal Music do Arts Council Los Angeles Valley College. Em 2001e 2002 – Nomeado – Sambaguru – Best World Music – New Times Newspaper Music Awards. Em 1998 – Kátia Moraes e Bill Brendle – Canção finalist- ”Não Vá” – The World Music no John Lennon’s Songwriting Contest.
Segue abaixo entrevista exclusiva com Kátia Moraes para a www.ritmomelodia.mus.br , entrevistada por Antonio Carlos da Fonseca Barbosa em 16 de agosto de 2014:
01) Ritmo Melodia: Qual a sua data de nascimento e sua cidade natal?
Kátia Moraes: Eu tenho uns “120” anos. Nasci em uma casa no bairro de São Cristovão – Rio de Janeiro em um domingo em 25 de junho mais ou menos ao meio-dia. Canceriana com libra.
02) RM: Fale do seu primeiro contato com a música.
Kátia Moraes: Barriga da mamãe! Ela gostava de cantar. Minha mãe me contou que fiquei maluca quando vi a cantora italiana Rita Pavone na Televisão. Aí ela me deu o compacto de Datemi un Martello e eu ficava dançando e cantando. Depois meu tio Mauro (hoje em dia ele é médico) me ensinou a primeira canção: “Teletema” de Antonio Adolfo e Tibério Gaspar (tema da novela Véu de Noiva de 1969/1970).
03) RM: Qual a sua formação musical e acadêmica fora música?
Kátia Moraes: Não fiz escolar de música. Aprendi na estrada e com algumas aulas de canto e teoria aqui e ali.
04) RM: Quais as suas influências musicais no passado e no presente? Quais deixaram de ter importância?
Kátia Moraes: As primeiras influências foram o que meus pais tocavam em casa. Eles tinham uma coleção de LPs de música clássica que era muito legal. Ouviram muito Altemar Dutra, Noel Rosa, Ciro Montero, Elizeth Cardoso, Roberto Carlos, Nelson Gonçalves. Depois fui achando meu próprio gosto: Elis Regina, Rita Lee, Alcione, Maria Bethânia, Elba Ramalho, Alceu Valença, Boca Livre. Ouvi muita coisa da gravadora Mowtown nas festinhas e na rádio também. Stevie Wonder, Jackson Five (assisti o show deles no Maracanãzinho – Rio de Janeiro), James Brown, John Lennon, Janis Joplin. E adorava os shows de seresta e chorinho perto do meu bairro lá no Maracanã.
05) RM: Quando, como e onde você começou a sua carreira musical?
Kátia Moraes: Eu sempre me enfiava nos grupinhos de música e dança de escola. Uma vez um amigo me levou para cantar com uns meninos no Colégio Laranjeiras – Rio de Janeiro. Mais tarde olhando para foto tirada no show, reconheci o Guto Goffi que se tornou baterista do Barão Vermelho e o guitarrista Marcelo Azevedo do grupo Yahoo. Em 1982 fiz um curso de teatro com o pessoal do Asdrubal Trouxe o Trombone (Regina Casé e Luis Fernando Guimarães foram meus professores). E o Luis Fernando pediu para gente apresentar uma cena fazendo aquilo que a gente fazia de melhor. Eu fiquei na dúvida, mas resolvi cantar. Todo mundo ouviu e no final ele disse: “É isso, você tem que cantar.” Em 1983 o Cláudio Barreto me viu no Parque Lage fazendo o papel de “Cantora” no Círculo de Giz Causasiano do Bertolt Brecht e me convidou pra fazer parte do grupo que ele estava montando: O Espírito da Coisa.
06) RM: Quantos CDs lançados (quais os músicos que participaram nas gravações)? Qual o perfil musical de cada CD? E quais as músicas que se destacaram em cada CD?
Kátia Moraes: Eu gravei dois CDs com “O Espírito da Coisa” pela Top Tape no Rio de Janeiro nos anos 80. A música “Ligeiramente Grávida” foi o principal sucesso (apresentação em 1984 no programa musical da Rede Globo – Chacrinhas: https://www.youtube.com/watch?v=uE5cmU_MMv0#t=51 | a letra: http://letras.mus.br/o-espirito-da-coisa/214181/ ).
“O Espírito da Coisa” também gravou um compacto simples com a música “Verônica” de Lula Queiroga. Nessa época fiz a voz da personagem Xixa, uma lagarta cigana no filme Super Xuxa Contra o Baixo Astral. Antes de ir para Los Angeles com o Mário Costa (Manhas e Manias, Saga, Casseta e Planeta) nós montamos um pocket show chamado Katita e Marito que fizemos no Rio de Janeiro, São Paulo, El Salvador e México. Aqui vai um link da gente em 1988 no camarim da Rede Manchete naquela época. http://www.youtube.com/watch?v=JFIosUl6lws&feature=relmfu . Foi em Los Angeles, na California – EUA, que eu comecei a cantar todo tipo de música. Depois eu e Mário Costa montamos uma banda chamada The Rio Thing com um repertório que incluía Lulu Santos, Gilberto Gil, Caetano Veloso, Djavan e muitos outros. A rapaziada local amou. Só tinha banda de Lambada, Bossa Nova e músicas de MPB das antigas. Volta e meia tinha show do Ivan Lins e do Milton Nascimento na cidade. Veja aqui o som do Mário Costa chamado Total Unknown. http://www.mariocostamusic.com . Quando cheguei em Los Angeles gravei “Chegando” (música do americano Tom Regis e letra minha) no álbum – Dance Around the World. Meu primeiro CD – Ten Feet and the Sun com a banda Brazil Nuts (Dez pés e o Sol). Todas as músicas são minhas com o Bill Brendle (pianista). A banda era: Tony Shogren na bateria, Hussain Jiffry no baixo (Herb Albert, Sergio Mendes) que é do Sri Lanka e a Chana Smith no back up. Depois a Chana saiu e entrou o percussionista Kevin Ricard (que tocou com Stevie Wonder e muitos mais) e o indiano Sanjay Divecha na guitarra. Gravamos os CDs Ginga, Live at La Ve Lee, Navegar ao Sol e Tribo. O CD – Tribo entrou na seleção preliminar do Grammy Latino em 2009. Em 2012 a banda se desfez e eu lancei um EP com quatro músicas compostas com a irlandesa Lynne Earls.
07) RM: Como você define o seu estilo musical?
Kátia Moraes: A Eclética.
08) RM: Como você se define como cantora/interprete?
Kátia Moraes: Eu deixo as definições para quem precisa delas.
09) RM: Você estudou técnica vocal?
Kátia Moraes: Estudei aqui em Los Angeles com um professor particular e no Valley College.
10) RM: Quais as cantoras(es) que você admira?
Kátia Moraes: Elis Regina, Ella Fitzgerald, Maria Bethânia, Gal Costa, Billie Holiday, Joni Mitchell, Zélia Duncan, Alanis Morrissetti, Marisa Monte, Etta James, Aretha Franklin, Chaka Khan, Maria Gadu. E Gilberto Gil, Sting, Lenine, Djavan, Stevie Wonder, Prince, Bill Withers, Zé Renato.
11) RM: Você compõem? Quem são seus parceiros de composição?
Kátia Moraes – Sim, componho. Escrevi “Chegando” com Tom Regis quando cheguei em 1990 em Los Angeles. Em 1992 comecei a compor com Bill Brendle (diretor musical da minha banda Sambaguru). Depois passei a escrever mais letras. Quando comprei meu primeiro laptop comecei a compor sozinha usando o programa Garage Band. Deu-me uma revigorada maravilhosa. Meus parceiros com links pra escutar as músicas Lynne Earls, Grecco Buratto, Jack Majdecki, Ivan Santos, Hussain Jifry, Bill Brendle e Sanjay Divecha: http://www.reverbnation.com/katiamoraes ; Praful: http://www.youtube.com/watch?v=1fmV754cpZU ; Tribo with Sambaguru: http://www.youtube.com/watchv=it3vO9YJbps&context=C48ab7dbADvjVQa1PpcFOzojT1BN3EKEn3reKQiE6YYt35JpEa_f8 = Meu primeiro vídeo clipe com o paulista Caesar Lima da primeira música que compus usando o programa Garage Band. Chama-se XTRUTH: http://www.youtube.com/watch?v=tS52XjuOcms . Os meus parceiros são: Grecco Buratto, Bill Brendle, Sanjay Divecha, Jack Majdecki, Ivan Santos, etc.
12) RM: Como é o seu processo de compor?
Kátia Moraes – Composição é inspiração. Pode bater a qualquer hora.
13) RM: Quais os prós e contras de desenvolver uma carreira musical de forma independente?
Kátia Moraes: Prós: eu faço o que quero; na hora que eu quero; com quem eu quero. Penso e organizo tudo que crio/componho e apresento para o público. Contra: porque faço tudo, muitas vezes fico ocupada com o business (negócio) e de assistir mais shows, do que ler mais, ver mais exposições. Enfim, viver e absorver a parte maravilhosa da vida!
14) RM: Como você analisa o cenário musical brasileiro. Em sua opinião quem foram às revelações musicais nas duas últimas décadas e quem permaneceu com obras consistentes e quem regrediu?
Kátia Moraes: Não analiso.
15) RM: Quais os músicos já conhecidos do público que você tem como exemplo de profissionalismo e qualidade artística?
Kátia Moraes: Lenine, Maria Gadú, Gilberto Gil, Marisa Monte, Caetano Veloso, Maria Bethânia, Djavan, Elis Regina, Ivan Lins, Zé Renato… Ah, tanta gente boa!
16) RM: Quais as situações mais inusitadas aconteceram na sua carreira musical (falta de condição técnica para show, brigas, gafes, show em ambiente ou público tosco, cantar e não receber, levar cantada e etc)?
Kátia Moraes: O que você chama de inusitado? Eu acredito tanto nessa ideia de viver o “momento presente” que acabei esquecendo muitas coisas ruins. Cantar à beira do Rio Negro no Amazonas foi uma experiência maravilhosa. Mais ou menos às 17:00 h a chuva caiu, colocaram uns plásticos encima do som e depois de cinco minutos a gente voltou a cantar. Um visual inesquecível. Quando passei pelo público, ouvi uma mulher dizer: Nossa, ela é tão baixinha (risos). Fiquei amiga da Lidoka da banda Frenéticas quando fiz o curso de teatro com a Regina Casé. Um dia ela me levou na casa da Regina. Quase desmaiei quando o Caetano Veloso abriu a porta. Sempre sinto um friozinho na barriga quando encontro com um ídolo ao vivo. O Paulinho Braga foi vê o show do Katita e Marito no Off em São Paulo e depois do show ele olhou para o meu pé e disse que parecia com o pé da Elis Regina(risos). Dormi feliz da vida naquele dia (risos)! Uma noite quando O Espírito da Coisa fazia um playback em um clube do subúrbio carioca o palco caiu. Eu tive um ataque de risos. Ainda bem que ninguém se machucou. Em outra vez, o Paulo Guerra resolveu fazer uma cena maluca e se jogou em um buraco no meio do palco. Saiu ileso, mas caiu em um porão empoeirado da porra (risos). Na época eu era riponga (hipper) e não raspava as axilas. Imagina os comentários da rapaziada do subúrbio que assistia aos shows (risos). Festa na casa de uma amiga pianista que fez também o curso da Regina Casé. Altas horas da noite chega o Cazuza e a Bebel prá lá de viajadões. Não tiveram dúvida, se atiraram na piscina de roupa e tudo para surpresa da turma presente. Show em um cruzeiro de jazz perto da costa do México com o saxofonista da Holanda chamado Praful. Numa das noites em que todos os artistas se revezavam no palco, uma cantora americana estava cantando Mas que Nada. Para surpresa do público presente eu entro no palco enrolada em uma bandeira do Brasil e crio um improviso. Não tenho ideia do que fiz, mas a galera veio abaixo. Cantar para cem mil pessoas no Festival de Sydney, Austrália foi com o Oscar Castro-Neves foi emocionante. Na hora da checagem de som durante a tarde, vimos uma revoada de uma quantidade inacreditável do que achávamos serem passarinhos. Depois ficamos sabendo que eram morcegos que moram nas árvores do parque onde estava armado o palco.
17) RM: O que lhe deixa mais feliz e mais triste na carreira musical?
Kátia Moraes: Nada.
18) RM: Nos apresente a cena musical na cidade que você mora?
Kátia Moraes: O cenário musical já mudou muito desde que cheguei aqui em Los Angeles – Califórnia – EUA. A crise financeira bateu forte e muitas casas fecharam. Tem muita banda de salsa, rock and roll, folk, DJs. O último show que vi foi do Prince. Impressionante.
19) RM: Quais os músicos ou/e bandas que você recomenda ouvir?
Kátia Moraes: Os que te atraírem.
20) RM: Você acredita que sem o pagamento do jabá as suas músicas tocarão nas rádios?
Kátia Moraes – E isso (jabá=pagar para um música ser tocada sistematicamente nas rádios) ainda existe, meu Deus?
21) RM: O que você diz para alguém que quer trilhar uma carreira musical?
Kátia Moraes: Siga seu sonho. Talento é o grau da sua capacidade de observação.
22) RM: Quais os prós e contras de desenvolver uma carreira musical nos EUA?
Kátia Moraes: Tudo é prol. Você só aprende nessa vida. Estou em uma fase muito zen.
23) RM: Quais as obrigações legais para exercer a profissão de músico no EUA?
Kátia Moraes: A única obrigação é você ser bom músico.
24) RM: Você já teve estresse musical. Não querer ouvir música ou ministrar aula?
Kátia Moraes: Estresse faz parte da vida. Você tem (estresse), observa e aprende a lição.
25) RM: Quais as estratégias de planejamento da sua carreira dentro e fora do palco?
Kátia Moraes: Depende de cada projeto que eu desenvolvo. Por exemplo, nesse terceiro show do Brazilian Heart, a Celebration que produzi em 2014 e que homenageou a cantora Maria Bethânia, o planejamento começou no ano anterior. Leva tempo pra pesquisar as músicas, a história dela, as poesias que ela usou e as que eu quis usar (em inglês), etc.
26) RM: O que a internet ajuda e prejudica no desenvolvimento da sua carreira musical?
Kátia Moraes: Internet só ajuda.
27) RM: Quais as vantagens e desvantagens do acesso a tecnologia de gravação (home estúdio)?
Kátia Moraes: Ajuda em tudo. Tempo, custo, controle, criatividade.
28) RM: No passado a grande dificuldade era gravar um disco e desenvolver evolutivamente uma carreira musical. Hoje gravar um disco não é mais o grande obstáculo, mas, a concorrência se tornou o grande desafio. O que você faz efetivamente para se diferenciar dentro do seu nicho musical?
Kátia Moraes: Eu não penso em me diferenciar; eu crio.
29) RM: Quais os seus projetos futuros?
Kátia Moraes: Estou produzindo e ensaiando o show que faço anualmente chamado Brazilian Heart, a Celebration em que presto homenagem a um artista brasileiro. Em 2012 foi para a Elis Regina. Em 2013 para Clara Nunes. Em 26 de abril de 2014 foi para Maria Bethânia no CAP Studio em Sherman Oaks. Continuo cantando com bandas diferentes, como Pure Samba, Samba Society e com a companhia de dança Viver Brasil. Tô respirando e me inspirando para o próximo CD/show.
25) RM: Kátia Moraes, Quais os seus contatos para show?
Kátia Moraes: [email protected] | (310) 908-0835 – Los Angeles – Califórnia – EUA | www.katiamoraes.com | www.facebook.com/brazilianheart
Links de vídeos:
http://www.etsy.com/people/katiamoraes
http://www.youtube.com/watch?v=it3vO9YJbps&feature=plcp
http://www.youtube.com/watch?v=uQWPH_hzVH4
Baixar as Músicas de Kátia Moraes:
http://www.cdbaby.com/cd/katiamoraes2
http://www.cdbaby.com/cd/sambaguru