More Júlio Santin »"/>More Júlio Santin »" /> Júlio Santin - Revista Ritmo Melodia
Uma Revista criada em 2001 pelo jornalista, músico e poeta paraibano Antonio Carlos da Fonseca Barbosa.

Júlio Santin

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O violeiro Júlio Santin é da região da Alta Paulista e até hoje divide seu endereço entre sua terra natal Irapuru e São Paulo capital.

A vivência rural da infância e adolescência norteia seu trabalho autoral. A origem caipira o levou ao saber fazer do caipira e assim nasceram as primeiras violas de cedro na mesma fase que nasciam suas primeiras composições, quando gravou seu primeiro trabalho em 2006.

Explora a riqueza e possibilidades da viola caipira, suas afinações, ritmos tradicionais do cancioneiro caipira, além da temática contemporânea. Dedica-se intensamente à promoção e preservação da música e cultura caipira na região onde nasceu.

Foi idealizador do Caipirapuru (Festival Caipira de Irapuru) e fomentador do festival até sua décima quinta edição.

Ao longo da sua vida musical, participou em gravações de músicos como Levi Ramiro, Índio Cachoeira, Socorro Lira, Cristina Saraiva, Simone Guimarães, Xoán Curiel e Uxia Senle (Galiza-Espanha), Layde e Laura, Celso Adolfo, dentre outros.

Lançou recentemente um livro de partituras e tablaturas A viola e um caipira, que contém os álbuns Sentimento Matuto e Capim Dourado e algumas pequenas prosas sobre as composições.

No final de 2022, lançou seu terceiro trabalho autoral instrumental de viola caipira, No Meu Canto.

Segue abaixo entrevista exclusiva com Júlio Santin para a www.ritmomelodia.mus.br, entrevistado por Antonio Carlos da Fonseca Barbosa em 08.11.2023:

01) Ritmo Melodia: Qual a sua data de nascimento e a sua cidade natal?

Júlio Santin: Nascido no dia 13/09/1966, em Pacaembú – SP e criado em Irapuru – SP. Musicalmente minha história está ligado à Irapuru e por isso uso Irapuru como cidade referência.

02) RM: Fale do seu primeiro contato com a música.

Júlio Santin: Aos 13 anos idade, fiz uns seis meses de aula de violão popular.

03) RM: Qual sua formação musical e/ou acadêmica fora da área musical?

Júlio Santin: Não tenho formação musical. Sou médico especialista em ecocardiografia Geral Pediátrica e fetal. Tenho Mestrado e Doutorado em ciências.

04) RM: Quais as suas influências musicais no passado e no presente. Quais deixaram de ter importância?

Júlio Santin: Comecei ouvindo música caipira em programas de rádio, única fonte de informação no local onde fui criado (Zé Bétio, Linha sertaneja Classe “A” dentre outros).

Na viola os primeiros mestres foram Tião Carreiro, Bambico e Renato Andrade. Depois descobri através dos vinis Zé do Rancho, Zé Coco do Riachão, Tavinho Moura, Almir Sater, Gedeão da Viola, Nestor da Viola. Todos sempre estão na memória. Todos violeiros contemporâneos me influenciam (Zeca Collares, Milton Araújo, Levi Ramiro, Rainer Miranda, Rogério Gulin, Ivan Vilella, Roberto Correia, dentre outros).

05) RM: Quando, como e onde você começou sua carreira musical?

Júlio Santin: Meu primeiro trabalho foi gravado em 2006. Sentimento Matuto. Eu vinha tocando viola em encontros de violeiros, participações em shows e em 2004 eu descobri a composição. Sempre tive um contato intenso com o universo musical da viola caipira em paralelo ao meu trabalho médico.

06) RM: Quantos CDs lançados?

Júlio Santin: São três: Sentimento Matuto (2006), Capim Dourado (2013) e No Meu Canto (2022).

Participações em CDs:

“Viola de Todos os Cantos”, de Levi Ramiro e Vento Viola, 2000;
“Viagens nas Cordas”, do violeiro Rio Pardo, 2001;
“1o Prêmio Syngenta instrumental de viola caipira-2004”, com a música “Irapuru”, que abre o CD;

“As liras pedem Socorro”, da cantora e compositora Socorro Lira;
“Mais uma Saudade”, do violeiro Levi Ramiro;
“Solos de Viola Caipira por Índio Cachoeira”, Índio Cachoeira;
“Violeiro Bugre- solos de viola caipira por Índio Cachoeira;

“Circuito Syngenta de Viola Caipira Instrumental”- 2010;

DVD “ Leyde e Laura”- Vinte anos de carreira, 2010;

Uxia Senle, 2010;
“Chão de Aquarelas” Simone Guimarães e Cristina Saraiva, 2012;
Entre mares e desertos- Socorro Lira, 2013;
Ecuacions – Xoán Curiel, 2015;
Viajante, Cristina Saraiva,2016.
No Meu Canto, 2022

07) RM: Como você se define como Violeiro?

Júlio Santin: Essencialmente tradicional, compondo de permeio,  temas contemporâneos. Sempre tive muita identidade com o ritmo cateretê e isso acabou ficando marcante em meu trabalho autoral.  Minha região, a Alta Paulista, encontra-se na barranca do Rio Paraná onde chegam ritmos platinos. Depois morei seis anos no Mato Grosso do Sul onde aprofundei o contato com nossa fronteira platina inspirando composições como Guarânias e chamamés.

08) RM: Quais afinações você usa na Viola?

Júlio Santin: Cebolão em Mi e Ré. Rio Acima Maior e menor, Rio Abaixo. Boiadeira.

09) RM: Quais as principais técnicas o violeiro tem que conhecer?

Júlio Santin: O estudo de um instrumento deve sempre ser norteado pela busca daqueles músicos que se dedicaram àquele instrumento. Os mestres. Essa busca mostra identificação e cada um descobre seu jeito de pontear ou de se acompanhar com a viola. Incialmente ou aprendi solar viola com dedeira e depois fui trocando pela unha. Foi natural pra mim, sem nenhuma pretensão de estudo de técnica.

10) RM: Quais os violeiros que você admira?

Júlio Santin: Tem vários amigos que eu ouço e curto. Já citei alguns anteriormente e além deles, gosto da viola percussiva do Fabrício Conde por exemplo,  da viola de cocho do Daniel de Paula. Tem muita gente nova tocando viola com alegria. Gosto das composições do Cesar Petená.

11) RM: Como é seu processo de compor?

Júlio Santin: Eu gravo minhas ideias em vídeo ou menos frequentemente em áudio. Tenho meus momentos com o instrumento e dali saem minhas músicas.

12) RM: Quais as principais diferenças técnicas entre a Viola e o Violão?  

Júlio Santin: Eu uso violão apenas pra fazer base, de maneira simples. Não estudei técnica de solo, escalas e etc. Não posso comparar.

13) RM: Quais os prós e contras de desenvolver uma carreira musical de forma independente?

Júlio Santin: Nos dias atuais, creio que todo mundo da viola caipira tenha uma carreira independente.

14) RM: Quais as estratégias de planejamento da sua carreira dentro e fora do palco? 

Júlio Santin: A internet hoje é a principal catalisadora de oportunidades para que mais pessoas entrem em contato com sua obra e você consiga apresentações. No entanto, criar material nem sempre é fácil. Eu não tenho facilidade ou às vezes falta tempo. Exige muita disciplina como tudo na vida. Divulgo minhas apresentações e isso ajuda a levar o pessoal que se identifica com minhas composições para o show. Outra maneira é explorar editais contando com uma equipe profissional é outro caminho.

15) RM: Quais as ações empreendedoras que você pratica para desenvolver a sua carreira?

Júlio Santin: Tento estar mais presentes nas redes sociais.

16) RM: O que a internet ajuda e prejudica no desenvolvimento de sua carreira?

Júlio Santin: Como disse é um catalizador mas não vejo como sendo salvadora. Quanto mais um músico produz, mais chances ele tem de ser achado, de ser requisitado. Trabalhar com profissionais diversos, na área da cultura, é muito importante e abre novas perspectivas.

17) RM: Quais as vantagens e desvantagens do acesso à tecnologia de gravação (home estúdio)? 

Júlio Santin: Pra mim é tudo de bom. Fundamental ter essa facilidade. Eu fiz um curso de audio e não me arrependo. Estar aliado à tecnologia  é muito importante.

18) RM: No passado a grande dificuldade era gravar um disco e desenvolver evolutivamente a carreira. Hoje gravar o CD não é mais o grande obstáculo. Mas concorrência de mercado se tornou o grande desafio. O que você faz efetivamente para se diferenciar dentro do seu nicho musical?

Júlio Santin: O músico pode aproveitar a facilidade do home estúdio para produção de trilhas para documentários, teatro, além de seu trabalho.

19) RM: Como você analisa o cenário da música Sertaneja. Em sua opinião quem foram às revelações musicais nas duas últimas décadas e quem permaneceu com obras consistentes e quem regrediu?

Júlio Santin: Infelizmente a nossa cultura colonial tende sempre buscar referências fora. A maneira de vestir, dançar, etc… Não foi diferente com a nossa musica caipira que foi sofrendo influências no seu instrumental, na vestimenta e culminou com temática de alto teor romântico.

20) RM: O que lhe deixa mais feliz e mais triste na carreira musical?

Júlio Santin: Tocar é cura pra alma. Sinto imensa alegria de poder fazer isso com minha viola e ajudar as pessoas.  A nossa sociedade valoriza mal os artistas financeiramente. Ainda não entendeu que a cultura deve ser uma prioridade antes até da própria educação. Antes de ir pra escola a gente tem os primeiros contatos com a música que nossos pais ou próximos estão ouvindo. Não há responsabilidade social nenhuma por parte da grande mídia aliado à ausência de vontade política no estimulo às artes na primeira infância e adolescência.

21) RM: Quais os outros instrumentos musicais que você toca?

Júlio Santin: Violão. Faço um pouco de base acompanhando ritmos tradicionais.

22) RM: Como você analisa o cenário da música Sertaneja. Em sua opinião quais foram as revelações musicais nas últimas décadas? Quais artistas permaneceram com obras consistentes e quais regrediram?

Júlio Santin: Sinto falta de duplas raizes com nova leitura do mundo regional. Como falei os mestres devem ser um ponto de partida mas a gente precisa escrever a nossa história dentro do universo da viola caipira.

23) RM: Quais os vícios técnicos o violeiro deve evitar?

Júlio Santin: Não tenho estudo pra análise de técnica. Tem sempre que colocar o coração nas interpretações.

24) RM: Tocar muitas notas por compasso ajuda ou prejudica a musicalidade?

Júlio Santin: Tudo depende da interpretação.

25) RM: O que você diz para alguém que quer trilhar uma carreira musical?

Júlio Santin: A gente tem que seguir o nosso coração. Eu sempre fui amante da musica e de repente fui para faculdade de medicina.  Mas, quando eu entrei na faculdade eu ganhei uma viola. E deu nisso.

Aprendi muito com mestres , violeiros contemporâneo e nas rodas de viola. Enfim fui buscando uma maneira de seguir essa sina de ser violeiro sempre dividindo minha vida médica. Sempre acreditei na minha paixão pela viola. O que ela representa historicamente e tô aqui pra defende-la.

26) RM: Quais os principais erros na metodologia de ensino de música?

Júlio Santin: Sempre fui autodidata. Não tenho condição de avaliar os métodos que estão sendo elaborados.

27) RM: Existe o Dom musical? Qual a sua definição de Dom musical?

Júlio Santin: Existe o conceito físico do ouvido absoluto, em que uma pessoa consegue automaticamente  identificar as frequências  musicais que são chamadas de notas musicais. Isso facilita o aprendizado seja ele a partir de uma metodologia ou de forma autodidata.

No entanto por trás dessa condição natural existe a a vontade pela música resultante de fatores sociais e pessoais, natos daquela pessoa.  Então deve ter atletas com ouvido absoluto mas não foram tocados pela música. São atletas. O resto fica por conta da interpretação de cada um, da sua crença.

28) RM: Qual a sua definição de Improvisação?

Júlio Santin: Muito estudo ou muita familiaridade com aquilo que se toca.

29) RM: Existe improvisação de fato, ou é algo estudado antes e aplicado depois?

Júlio Santin: Um pouco de tudo.

30) RM: Quais os prós e contras dos métodos sobre Improvisação musical?

Júlio Santin: Nunca estudei improvisação.

31) RM: Quais os prós e contras dos métodos sobre o Estudo de Harmonia musical?

Júlio Santin: Nunca estudei harmonia.

32) RM: Como você analisa a cobertura feita pela grande mídia do cenário musical brasileiro?

Júlio Santin: A cobertura feita pela grande mídia do cenário musical brasileiro é tendenciosa sempre. Estamos na efervescência do capitalismo.

33) RM: Qual a importância de espaço como SESC, Itaú Cultural, Caixa Cultural, Banco do Brasil Cultural para a música brasileira?

Júlio Santin: Fundamental como garantidor de local de “mostra”.

34) RM: Quais os seus projetos futuros?

Júlio Santin: Estamos finalizando a transcrição do terceiro álbum “NO Meu Canto” para partituras e tablaturas. Em 2022 lancei o livro “A viola e um caipira” com as transcrições do Domingos de Salvi do Capim Dourado, e do Sentimento Matuto (transcrito incialmente por Zeca Collares e Silvana Carneiro). Estamos elaborando um minidoc da composição Geada-1975 com o apoio do cineasta Mário de Almeida.

35) RM: Quais seus contatos para show e para os fãs? 

Júlio Santin: http://www.juliosantin.com

| https://www.instagram.com/juliosantin_violeiro

Canal: https://www.youtube.com/@juliosantin 

8º Episódio DA WEBSÉRIE NO MEU CANTO – CHORO DAS RABECAS: https://www.youtube.com/watch?v=08rfqREpyiE 

Sonho de Luna- Júlio Santin: https://www.youtube.com/watch?v=UcvOAnYw1E8 

Rio Paraná-Pontal – Júlio Santin/Levi Ramiro: https://www.youtube.com/watch?v=zzpRJChFAMw 

Toada para um amigo – Júlio Santin/Zeca Collares: https://www.youtube.com/watch?v=2yQ4-YSAilE 

Júlio Santin no CAIPIRAPURU 2006, música Irapuru: https://www.youtube.com/watch?v=ECYgC5wb1LE


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Uma Revista criada em 2001 pelo jornalista, músico e poeta paraibano Antonio Carlos da Fonseca Barbosa.