A cantora, compositora e produtora cearense Izza radicada em Belo Horizonte há mais de dez anos, estabelece um diálogo sensível entre a MPB e a música indie.
Sua voz marcante mistura delicadeza e intensidade através de domínio da técnica e emoção. Com formação no teatro e na música, Izza consegue levar para suas canções e apresentações a expressividade que aproxima o público, explorando o melhor de cada linguagem artística.
“Cosmópolis” (2017), EP de lançamento de sua carreira solo, é seu trabalho mais autoral, íntimo e pessoal, trazendo referências contemporâneas que sempre permearam a criação da artista. Com o lançamento do DVD – “Izza & a Kombi Azul Ao Vivo” (2019) consolida sua banda, formada por músicos mineiros que abraçam seu repertório autoral, trazendo uma nova roupagem ao seu trabalho.
O projeto ganhou palco de festivais importantes, como Savassi Festival, Sonora – Ciclo Internacional de Compositoras, Música Itinerante, Big Dia da Música e foi contemplado em diversas capitais brasileiras, como Belo Horizonte, Recife, Fortaleza e São Paulo, sendo premiado em 2019 com primeiro lugar do Festival da Canção Rosas de Abril.
Realizou circulação em 7 cidades de Portugal, em sua primeira turnê internacional. Também estive em cidades no interior do estado de Minas Gerais, tais como Congonhas, São Gonçalo, Itabira e Pará de Minas. Nesta última realizou apresentação com a Orquestra Arte Nossa, projeto que culminou na circulação “Izza & Orquestras Brasileiras”, com concertos e residências artísticas nas cidades de Itabira, Pará de Minas (MG) e Fortaleza (CE).
Izza é graduada em Teatro com formação complementar em Música pela UFMG. Formou-se em canto pela Bituca Universidade de Música Popular e em música na Fundação de Educação Artística. Lecionou disciplinas de Expressão Vocal em escolas importantes de Minas Gerais, tais como Curso de Teatro do Cefart Palácio das Artes, Teatro Universitário da UFMG e Escola de Teatro da PUC Minas.
Por seis anos esteve à frente dos vocais do grupo Oxente Uai, com o qual lançou o álbum “Feito Passarim” (2016), trabalho autoral com direção musical de Fernanda Gonzaga. Na interseção entre teatro e música, participou da preparação vocal e criação de trilha sonora de mais de 14 espetáculos da capital mineira, recebendo uma indicação ao 6º Prêmio Copasa Sinparc de Artes Cênicas por Melhor Trilha Sonora Original.
Realizou intercâmbio artístico com Francesca della Monica na Itália, onde integrou o elenco do espetáculo Rifrazioni di Alice (2014), e ministrou laboratório de estudos vocais com a mestra (2019). É referência da metodologia vocal de Della Monica no Brasil, sendo pesquisadora de seu método há quase uma década.
Segue abaixo entrevista exclusiva com Izza para a www.ritmomelodia.mus.br, entrevistada por Antonio Carlos da Fonseca Barbosa em 06.01.2022:
01) Ritmo Melodia: Qual a sua data de nascimento e a sua cidade natal?
Izza: Nascido no dia 12 de julho de 1989 em Fortaleza – CE. Registrada como Raísa Campos Pinheiro.
02) RM: Fale do seu primeiro contato com a música.
Izza: Sempre tive uma relação muito forte com as artes em geral desde criança. Então fui aquela criança que estava no grupo de teatro da escola, no coral, que fiz aulas de piano. Sem falar que sempre me expressei de forma artística para brincar, estudar, etc. Então quando fui escolher a minha profissão aos 18 anos, naquele clássico momento de escolher para qual curso prestar vestibular, foi bem natural escolher o campo das artes.
03) RM: Qual sua formação musical e/ou acadêmica fora da área musical?
Izza: Izza é graduada em Teatro com formação complementar em Música pela UFMG. Formou-se em canto pela Bituca Universidade de Música Popular e em música na Fundação de Educação Artística. Lecionou disciplinas de Expressão Vocal em escolas importantes de Minas Gerais, tais como Curso de Teatro do Cefart Palácio das Artes, Teatro Universitário da UFMG e Escola de Teatro da PUC Minas.
Realizou intercâmbio artístico com Francesca della Monica na Itália, onde integrou o elenco do espetáculo Rifrazioni di Alice (2014), e ministrou laboratório de estudos vocais com a mestra (2019). É referência da metodologia vocal de Della Monica no Brasil, sendo pesquisadora de seu método há quase uma década.
04) RM: Quais as suas influências musicais no passado e no presente. Quais deixaram de ter importância?
Izza: Sempre tive influência da música brasileira, do jazz e da música indie. No meu projeto autoral as grandes referências sempre foram Jeff Buckley, Kimbra, Beach House, The Do, Men I Trust, The Marías. Mas sempre sou e sempre serei atravessada por Elis Regina, Maysa, Tom Jobim, Chico Buarque, Caetano Veloso, enfim, tantos artistas brasileiros que nos formam como musicistas independente do gênero que seguimos.
05) RM: Quando, como e onde você começou sua carreira musical?
Izza: Considero que o marco foi a estreia do show de voz e piano que realizei com o pianista Thiago Quintino, chamado “Pele e Cor”, datado em 10 de julho de 2010.
06) RM: Quantos CDs lançados?
Izza: Em 2016 – Feito Passarim – Oxente Uai. Em 2017 – Cosmópolis – Izza. Em 2019 – Izza & a Kombi Azul Ao Vivo. Em 2023, “Frisson e outras coisas”: “Frisson” (Izza): na voz: Izza, na guitarra: Matheus Lucena, na direção musical: Izza e Matheus Lucena. “Somethings” (Izza), na voz: Izza, no Ukulele: Matheus Lucena, nas cordas: Gilmar Iria, na direção musical: Izza. “Sunflower” (Ben Ash / Alexander James O’Connor), na voz: Izza, na guitarra: Matheus Lucena, nas cordas: Gilmar Iria, na direção musical: Izza, Gilmar Iria e Matheus Lucena. “Estou viva” (Izza), na voz: Izza, no violão: Matheus Lucena, nas cordas: Gilmar Iria, na direção musical: Izza.
07) RM: Como você define seu estilo musical?
Izza: Um misto de Indie com MPB.
08) RM: Você estudou técnica vocal?
Izza: Bastante, inclusive dou aulas de canto também. Minha mestra de voz, Francesca della Monica, é uma das grandes referências da vocalidade no mundo.
09) RM: Qual a importância do estudo de técnica vocal e cuidado com a voz?
Izza: Ele permite que você faça uso profissional da voz na rotina de trabalho, de forma a não de machucar e de maneira a te auxiliar a se expressar melhor musicalmente.
10) RM: Quais as cantoras (es) que você admira?
Izza: Francesca della Monia, Amy Winehouse, Kimbra Olivia Merilaht, Maria Zardoya, Elis Regina, Maysa, Marisa Monte, Roberta Sá, Ney Matogrosso, Ella Fitzgerald, Nina Simone, Jeff Buckley, Silvia Pérez Cruz, só para citar algumas…
11) RM: Como é seu processo de compor?
Izza: Às vezes parte de uma melodia que fica na minha cabeça, às vezes parte de um poema que escrevi, mas geralmente componho letra e melodia simultaneamente, trabalhando muito com improvisação.
12) RM: Quais são seus principais parceiros de composição?
Izza: Gosto muito de criar com meus músicos. às vezes roubo ideias deles, de um rif de guitarra do Matheus, ou uma melodia da viola do Gil e transmuto isso em canção. Meus parceiros são os músicos que estão comigo na estrada.
13) RM: Quais os prós e contras de desenvolver uma carreira musical de forma independente?
Izza: A vantagem é a liberdade que se tem no processo criativo. Geralmente tudo sai exatamente da forma que imaginou. A desvantagem é as dificuldades materiais que implicam ter uma carreira independente.
14) RM: Quais as estratégias de planejamento da sua carreira dentro e fora do palco?
Izza: As estratégias são múltiplas e variam de acordo com o momento e o projeto. Mas o principal é separar as horas semanais de trabalho da Izza artista e da Izza produtora.
15) RM: Quais as ações empreendedoras que você pratica para desenvolver a sua carreira musical?
Izza: Já fiz vários cursos de formação nesse campo e adoro integrar feiras de música, como o Música Mundo, para trocar informações, contatos, aprender novas estratégias e afins.
16) RM: O que a internet ajuda e prejudica no desenvolvimento de sua carreira musical?
Izza: A internet já foi bem interessante para os artistas independentes. Mas claro que empresas como Spotify, Instagram, Facebook, YouTube e afins são imperialistas que mudam as regras do jogo a todo momento em benefício próprio. Então o artista independente acaba sendo engolido nessas plataformas. A não ser que você tenha uma equipe de comunicação com você e uma boa verba pra investir e fazer seu material chegar nas pessoas. No mais, acabamos restritos à nossa bolha.
17) RM: Quais as vantagens e desvantagens do acesso à tecnologia de gravação (home estúdio)?
Izza: Adoro gravar em home estúdio, inclusive o Cosmópolis tem essa pegada de um projeto gravado em casa, assim como Elliott Smith fez com seus primeiros discos. Acho que nesse sentido o acesso do artista independente ao processo de gravação tornou-se bem mais democrático que no século passado.
18) RM: No passado a grande dificuldade era gravar um disco e desenvolver evolutivamente a carreira. Hoje gravar um disco não é mais o grande obstáculo. Mas, a concorrência de mercado se tornou o grande desafio. O que você faz efetivamente para se diferenciar dentro do seu nicho musical?
Izza: Faço o que acredito. E me conecto com pessoas que se identificam com o que faço.
19) RM: Como você analisa o cenário da Música Popular Brasileiro. Em sua opinião quais foram as revelações musicais nas últimas décadas? Quais artistas permaneceram com obras consistentes e quais regrediram?
Izza: Não sou a pessoa ideal para responder essa pergunta. Até porque sou bem apegada a ouvir os trabalhos que me tocam, independentemente de ser artista revelação. Geralmente escuto coisas bem lado Z.
20) RM: Quais as situações mais inusitadas aconteceram na sua carreira musical (falta de condição técnica para show, brigas, gafes, show em ambiente ou público tosco, cantar e não receber, ser cantado etc)?
Izza: Teve uma vez voltando de um Festival de Olinda – PE que perdemos o nosso voo e pagamos uma nota por novas passagens. Estávamos eu e Matheus, tínhamos levado o formato duo pro Sonora-Olinda. E acabou que esse dia trágico se tornou um dos mais incríveis da minha vida, pois deixamos nossas coisas no aeroporto e saímos pra dar rolê na cidade. Fomos na praia, andamos de bicicleta, de barco, tomamos sorvete num restaurante que ficava na beira de um rio, vimos um filme antigo em um cinema histórico da cidade, enfim… tivemos um dia maravilhoso graças a esse contratempo do voo.
21) RM: O que lhe deixa mais feliz e mais triste na carreira musical?
Izza: O triste de uma carreira musical é ter de conciliar tempo de produção com tempo de produção artística. Gostaria de ter mais tempo para o processo criativo e pesquisa artística, mas nem sempre é possível.
O que me deixa mais feliz é estar no palco performando, trocando com o público. Saber que algo que você criou e que te tocou profundamente também tocou o outro. Essa parte é muito gratificante, de ver o eco da sua poesia no público que acolhe sua arte. Quase como um espelho que reconhecemos no outro por intermédio de uma identificação, de um sentimento em comum.
22) RM: Existe o Dom musical? Como você define o Dom musical?
Izza: Não acredito em dom, mas em experiências de outras vidas que a pessoa vem desenvolvendo. Muitos já chegam nessa vida com uma grande maturidade artística que, na minha visão, vem de um processo de outras vidas. Então, qualquer pessoa pode vir a se desenvolver artisticamente, basta ter paciência, constância, boas orientações, boas trocas e entrega.
23) RM: Qual é o seu conceito de Improvisação Musical?
Izza: Gosto da imagem do sufista na onda, na qual ele se equilibra na prancha sempre em diálogo com o que as águas oferecem. Esse é o meu conceito de improviso musical.
24) RM: Existe improvisação musical de fato, ou é algo estudado antes e aplicado depois?
Izza: Sim, existe a improviso musical, mas claro que passa por todas as nossas referências e o que guardamos em nossa memória musical.
25) RM: Quais os prós e contras dos métodos sobre Improvisação musical?
Izza: Não vejo contras, só prós, que é possibilitar a recriação de algo novo, inusitado, proporcionar liberdade artística.
26) RM: Quais os prós e contras dos métodos sobre o Estudo de Harmonia musical?
Izza: Nunca estudei Harmonia Funcional.
27) RM: Você acredita que sem o pagamento do jabá as suas músicas tocarão nas rádios?
Izza: É necessário contratar um assessor de imprensa para fazer a ponte entre o artista e a rádio.
28) RM: O que você diz para alguém que quer trilhar uma carreira musical?
Izza: Eu diria o mesmo que Fernanda Montenegro disse para quem quisesse trilhar a carreira de ator: “Eu geralmente, quando me perguntam o que é que você diria para um ator que está começando, eu sempre digo: desista! Não passe perto! Saia disso! (…) Agora, se morrer porque não está fazendo isso, se adoecer, se ficar em tal desassossego que não tem nem como dormir, aí volte, aí venha aqui, mas se não passar por esse distanciamento e pela necessidade dessas tábuas aqui, não é do ramo! Não é do ramo!”
29) RM: Festival de Música revela novos talentos?
Izza: Claro!
30) RM: Como você analisa a cobertura feita pela grande mídia da cena musical brasileira?
Izza: Não consumo a grande mídia.
31) RM: Qual a sua opinião sobre o espaço aberto pelo SESC, SESI e Itaú Cultural para cena musical?
Izza: Super importantes!
32) RM: Quais os seus projetos futuros?
Izza: Esse ano farei lançamento de quatro novos singles, inclusive um sairá em breve, no 12 de janeiro. “Frisson e outras coisas” é o nome que leva o meu novo trabalho autoral, uma quadrilogia de singles e clipes. Criado durante o isolamento social provocado pela pandemia do Covid-19, o projeto é uma experiência sonora e audiovisual que mira na potência poética do cotidiano e nas transformações dos sentimentos ao longo da passagem do tempo. Nesse sentido, as estações do ano compõem um pano de fundo simbólico para os singles e clipes a serem lançados ao longo de 2023. O primeiro, “Frisson”, chega em todas as plataformas digitais em janeiro.
A interrupção das rotinas de trabalho e o confinamento em casa me levaram a reflexões sobre o propósito dos artistas no caos: Eu queria um projeto que falasse da poesia do cotidiano, trazendo nosso olhar para o banal, o simples, para que possamos enxergar potência na fragilidade. Porque a arte tá em tudo, tá na vida como ela é, não apenas nos meios da espetacularização. O que sobra de uma artista sem os holofotes?
Inspirada pelas óticas poéticas de figuras como Clarice Lispector e Matilde Campilho, confeccionei minhas músicas como se fossem passagens de um diário, escrevendo sobre seus sentimentos que atravessam a passagem do tempo e que se transformam assim como o mundo à sua volta se transforma.
Criados juntamente com músicos Matheus Lucena e Gilmar Iria, que também participaram dos dois últimos lançamentos, Izza & a Kombi Azul Ao Vivo (2019) e Cosmópolis (2017), os singles e clipes me retratam atravessando diferentes sonoridades e temáticas, mas sempre de olho na relação do ser humano com seus sentimentos. “Frisson”, o single que inaugura a quadrilogia, retrata a força da paixão em seu estado primaveril com uma textura etérea das guitarras. Na sequência, teremos “Somethings” (abril), “Sunflower” (agosto) e “Estou Viva” (dezembro), trabalhos com diferentes propostas estéticas e sensoriais.
Os singles são sempre acompanhados por obras audiovisuais, mas o que vemos na tela não são clipes de música tradicionais. Eu confecciono poemas visuais que remetem aos antigos vídeos caseiros que, assim como suas composições, fitam o cotidiano e revelam o extraordinário.
33) RM: Quais seus contatos para show e para os fãs?
Izza: www.instagram.com/somdaizza | www.youtube.com/somdaizza
Playlist – Frisson e outras coisas: https://www.youtube.com/watch?v=myO4CGXrRPU&list=PL9DOb1-eUugIIqcmdYlnsp-04tIl0UhLS
Izza & a Kombi Azul Ao Vivo – DVD Completo: https://www.youtube.com/watch?v=Kx3MP-oUnvE
Playlist álbum cosmópolis, 2017: https://www.youtube.com/watch?v=8wgf-bEunAE&list=PL9DOb1-eUugKU4ktRpskM_IMiryPxCfP4
ZÁS COSMÓPOLIS COM IZZA E A KOMBI AZUL: https://www.youtube.com/watch?v=XxyoofWwlrw
PAPEANDO E MUSICANDO com IZZA #40: https://www.youtube.com/watch?v=oERGqh3r7aQ&list=PL9DOb1-eUugKCxrHDULT-TnbHlldmKEQ2&index=5
Ótima entrevista, tem lançamento de música no dia do meu aniversário, vou escutar, parabéns…
Sempre uma fonte de conhecimento sobre a Música Brasileira!!!