O trabalho de Izabel Padovani despontou na cena musical brasileira desde sua volta ao país depois de uma década vivendo na Áustria. Em 2005 vence um dos mais respeitados concursos de música, o Prêmio Visa de Música Brasileira, fato que serviu como ponte para sua volta definitiva ao Brasil.
A cantora vem participando de eventos como o Festival de Inverno de Ouro Preto, Oficina de Música de Curitiba, Festival de Música de Tatuí, Rumos Cultural Itaú, Virada Cultural Paulista, Semana da Canção de São Luís do Paraitinga, Metso Cultural, Unimúsica da UFRGS, Arte na Praça da UFU, Disco de Ouro do Sesc Pompéia, onde se apresentou ao lado de nomes como Zizi Possi, Renato Brás, MPB4 e Miúcha.
Em 2011 com o baixista Ronaldo Saggiorato, participa do projeto Duos Brasileiros ao lado de Monica Salmaso, Teco Cardoso, Ná Ozzetti e André Mehmari. Participou ainda de projetos com músicos como André Marques, Dante Ozetti, Nenê, Mané Silveira, Benjamin Taubkin, Nelson Ayres, Alessandro Kramer, Guinha Ramires, Trio Curupira, Ronaldo Saggiorato, Oficina de Cordas de Campinas, Marcio Tubino, Marcelo Onofri, Thomas Kugi, Fernando Paiva, Thomas Gansch, Alegre Corrêa, Bebê Kramer, entre outros.
Com uma carreira também voltada para o exterior, se apresentou em representativos clubes de jazz europeus como Porgy&Bess ,Unterfahrt, etc e em Festivais como Wien Jazzfest, Kassel World Music Festival, Lunz Am See Musik Festival, etc. Em 2009 é artista convidada do 34.Internacionales Musikfest no Konzerthaus, um dos mais renomados teatros da capital Austríaca.
Seu CD – Desassossego, lançado pela gravadora Eldorado, ganhou elogios da crítica e foi indicado para o Prêmio Tim e Grammy Latino em 2007. O trabalho conta com a participação de músicos como Proveta, Renato Brás, Nenê, Vinícius Dorin, Alessandro Kramer, entre outros.
Ao lado do baixista Ronaldo Saggiorato em 2005 lança o CD – Tons – bass and voice. O trabalho reúne um time de músicos internacionais e é indicado para o Prêmio da Crítica Schallplattenkritik na Alemanha.
Lança em 2008 o CD- Mosaico sobre o tema: Compositores Contemporâneos. O CD é bem recebido pela crítica, traz um panorama da música brasileira atual. Em duo com o pianista Marcelo Onofri lançou o CD – Hein? em 2000 e o CD – Mar&Bel em 1996.
A cantora é graduada em Educação Musical pela Universidade Federal de São Carlos – SP e professora de Técnica Alexander, formada pelo The Alexander Technique Teacher Trainning Centre em Viena.
Tem sido convidada para ministrar workshops e oficinas sobre Técnica Alexander e o uso da Voz, em importantes eventos como: Oficina de Música de Curitiba, e os Festivais de Música Itajaí, Tatuí, Ouro Preto, Festival de Teatro da UFU, e em universidades de música como UFRGS, Unicamp, Universidade de Cuyo na Argentina, Casa do Brasil na Alemanha, Escola Canto do Brasil, etc.
Segue abaixo entrevista exclusiva com Izabel Padovani para a www.ritmomelodia.mus.br, entrevistada por Antonio Carlos da Fonseca Barbosa 11.01.2016:
01) RitmoMelodia: Qual a sua data de nascimento e a sua cidade natal?
Izabel Padovani: Nasci em Campinas (SP) no dia 26 de abril de 1964.
02) RM: Fale do seu primeiro contato com a música.
Izabel Padovani: Minha família é muito musical, sempre houve um violão e cantorias em casa. Eu me interessava muito, gostava de ir a shows, tinha amigos músicos e ia aos ensaios, e comecei a ter aulas de canto e flauta doce quando tinha uns 14, 15 anos de idade.
03) RM: Qual a sua formação musical e acadêmica fora música?
Izabel Padovani: Eu sou formada em Licenciatura em Música e sou professora de Técnica Alexander. A formação do prof. de Técnica Alexander é muito séria, são 3 anos de curso. Minha formação foi em Viena (Áustria), na época ainda não havia cursos de formação no Brasil. Agora já temos dois e de um deles, o Centro de Estudos da Técnica Alexander em São Paulo, sou vice-diretora.
04) RM: Quais as suas influências musicais no passado e no presente? Quais deixaram de ter importância?
Izabel Padovani: Sempre gostei de música brasileira. Em casa tinha aquela coleção da Abril Cultural com Orlando Silva, Carmem Miranda, Nelson Cavaquinho, todo mundo. Eu adorava na adolescência e continuo adorando até hoje.
05) RM: Quando, como e onde você começou a sua carreira musical?
Izabel Padovani: Por causa desse gosto e interesse pela música, acabei sendo convidada para trabalhar em um grupo de música instrumental para fazer vocais, eu tinha uns 16 anos de idade e a partir daí nunca mais parei.
06) RM: Quantos CDs lançados (quais os músicos que participaram nas gravações)? Qual o perfil musical de cada CD? E quais as músicas que se destacaram em cada CD?
Izabel Padovani: Tenho 6 CDs lançados, o último lançado em novembro 2015, se chama “Aquelas Coisas Todas” em duo com o baixista Ronaldo Saggiorato, tivemos o prazer de ter o Marcelo Pretto e o Thibault Delor de convidados. É um projeto premiado pelo FICC da Secretaria de Cultura de Campinas-SP. Tenho ainda dois com o pianista Marcelo Onofri – “Mar&Bel” e “Hein?”. Com o baixista Ronaldo Saggiorato gravei também o “Tons-bass&voice” e depois tenho ainda o “Desassossego” e “Mosaico”. O primeiro com clássicos da MPB e com grandes músicos convidados como o Nenê na bateria, Vinicius Dorin no sax, e muitos outros. O “Mosaico” é um CD que ressalta novos compositores e tem o violeiro Paulo Freire e o pianista Rafael dos Santos como os convidados, e arranjado pelo meu parceiro Ronaldo Saggiorato. A música que a gente faz tem uma forte roupagem instrumental, com improvisação e uma preocupação com os arranjos. O Marcelo Onofri e o Ronaldo Saggiorato são grandes músicos e grandes arranjadores. O “Tons” é um CD mais experimental com uma base de baixo e voz, com composições autorias.O duo de baixo e voz é um trabalho que eu gosto muito e que existe há mais de 10 anos. O “Mosaico” é um CD que foi gravado com poucos recursos e que não esconde um gosto meu pelas composições complexas. Gravamos um Guinga em parceria com a Simone Guimarães, uma linda composição. Mas gravamos também compositores mais jovens como o Fred Martins e o Thiago Amud. O que se destaca nos CDs são os arranjos, como por exemplo, no CD – Desassossego a canção “Onde A Dor Não Tem Razão” do Paulinho da Viola teve arranjados para quarteto de sopro. No CD – Mosaico gosto, por exemplo, do arranjo de “Capital” do Guinga e Simone Guimarães. No CD – Tons tem “Mano a Mano” do Chico Buarque e João Bosco, tem também “Desafinado” do Tom Jobim no “Mar&Bel” que eu gosto. Mas eu sou uma péssima pessoa para falar sobre o meu trabalho, depois de gravado e acabado vejo só os defeitos, não gosto de ouvir os meus CDs.
07) RM: Como você define o seu estilo musical?
Izabel Padovani: Acho que a MPB vem se transformando nos últimos tempos e os espaços para solos instrumentais ganham terreno. A música que eu faço tem uma forte característica instrumental, tem solos, tem uma densidade poética também característica da boa música brasileira.
08) RM: Como você se define como cantora/interprete?
Izabel Padovani: Sou uma cantora que gosta de usar a voz como um todo. Gosto de ruídos; de sons diversos, acho bacana a estética da música “Nova”, de fazer temas instrumentais, sem letra. Minha busca é a de poder a usar a voz de várias formas, integralmente.
09) RM: Você estudou técnica vocal?
Izabel Padovani: Tive aula com a Andrea Daltron. Ela é citada pelo Gilberto Gil na música “Sandra”… “Andréa na estreia, no segundo dia seus laços de fita…” Estudei com a Anna Maria Kieffer uma grande cantora e pessoa humana que admiro muito. E tenho aulas pontuais até hoje.
10) RM: Quais as cantoras que você admira?
Izabel Padovani: Carmem Miranda, Orlando Silva, Maria João, Ademilde Fonseca, tanta gente. A Gal Costa, Elis Regina, nossa como temos bons exemplos dentro da canção popular.
11) RM: Você compõem? Quem são seus parceiros musicais?
Izabel Padovani – Eu não componho muito; não sou compositora não, mas já compus para o CD – “Tons” por ex. meu grande incentivador é meu parceiro Ronaldo Saggiorato.
12) RM: Quais os prós e contras de desenvolver uma carreira musical de forma independente?
Izabel Padovani: Nunca tive uma carreira que não fosse independente. O CD – “Desassossego” foi lançado pela Eldorado, mas isso não mudou nada, pois a gravadora não investiu no projeto. Hoje em dia o mercado musical mudou muito e é possível estar nas mídias com ou sem gravadora. Por outro lado, o investimento em propaganda ainda alavanca muitos trabalhos, em geral trabalhos muito ruins não é? Um popular vulgar e sem nenhum vínculo com a trajetória incrível da MPB. Cadê as letras maravilhosas, as melodias e as harmonias tão ricas da nossa música brasileira?
13) RM: Como você analisa o cenário musical brasileiro. Em sua opinião quem foram às revelações musicais nas duas últimas décadas e quem permaneceu com obras consistentes e quem regrediu?
Izabel Padovani: Temos grandes cantoras, sou fã da Ná Ozzetti, da Monica Salmaso, do Alessandro Kramer acordeonista fantástico, enfim tem muito músico bom no Brasil. E muitos que a gente não houve falar muito, o que é uma pena, pois junto a essa música de massa que não se veicula muito, há músicos e uma música muito consistente que infelizmente a gente ouve falar menos.
14) RM: Quais os músicos já conhecidos do público que você tem como exemplo de profissionalismo e qualidade artística?
Izabel Padovani: Temos nossos ícones não é? O Milton Nascimento, Caetano Veloso, Rosa Passos, Lenine, Yamandú Costa, várias gerações de músicos fazendo trabalhos incríveis.
15) RM: Quais as estratégias de planejamento da sua carreira dentro e fora do palco?
Izabel Padovani: Eu procuro continuar mantendo contato com a Europa onde eu morei muitos anos. Procuro fazer uma turnê por ano por lá e hoje, a internet é uma nova maneira de divulgar os trabalhos com menos apelo comercial e consequentemente com espaço menor nas mídias de massa.
16) RM: Quais as ações empreendedoras que você pratica para desenvolver a sua carreira musical?
Izabel Padovani: Para a divulgação uso meu site, o facebook. Temos uma sociedade que se comunica muito por imagens, então a produção de vídeos e clips é também uma maneira de se aproximar do publico. Acho que o desenvolvimento continuado é importante em todos os sentidos, então continuo estudando, no momento curso mestrado na Unicamp – Campinas – SP.
17) RM: O que a internet ajuda e prejudica no desenvolvimento de sua carreira musical?
Izabel Padovani: A internet é bacana, mas para navegar pela internet é preciso discernimento. Então, a formação de publico é um fator que me preocupa, a internet é um ótimo meio de divulgação, mas é preciso políticas públicas de apoio à cultura, precisamos de escolas públicas de qualidade, de uma indústria fonográfica que apoie mais a diversidade, ou seja, não acho que a internet seja a salvação dos artistas, mas claro que é uma ferramenta de divulgação, no entanto precisa de boas estratégias.
18) RM: Quais as vantagens e desvantagens do acesso a tecnologia de gravação (home estúdio)?
Izabel Padovani: Acho vantajoso em todos os sentidos. É muito gostoso gravar em casa, é barato, o som fica menos manipulado. Por outro lado, muitas vezes, parcerias são enriquecedoras. É bom também não se preocupar com a qualidade da gravação, ir para o estúdio e pensar só na música, confiar e até permitir a troca de ideias com outras pessoas quanto ao resultado final do trabalho. A tecnologia nos estúdios profissionais é enorme e pode fazer coisas muito interessantes usando esses recursos.
19) RM: No passado a grande dificuldade era gravar um disco e desenvolver evolutivamente a carreira. Hoje gravar o CD não é mais o grande obstáculo. Mas, a concorrência de mercado se tornou o grande desafio. O que você faz efetivamente para ser diferencia dentro do seu nicho musical?
Izabel Padovani: Eu acho que voltamos ao ponto em que tocar diretamente para o publico é o mais importante meio de divulgação do trabalho. São nos shows que se vendem CDs, então a estratégia de voltar todo ano para tocar na mesma cidade por exemplo, é uma maneira de criar seu publico. Além disso, as mídias eletrônicas estão aí para nos ajudar.
20) RM: Quais as situações mais inusitadas que aconteceram na sua carreira musical?
Izabel Padovani: Uma coisa que eu sempre me lembro: um show que fizemos no interior da Áustria em uma cidadezinha no alto de uma montanha. Não havia um teatro, o show foi no salão do corpo de bombeiros. E o técnico de som era um morador da cidade que não era profissional, enfim, a impressão não era nada boa, mas ao final tínhamos um salão lotado, e tudo funcionando direitinho. Esses shows são patrocinados pelo Estado. Isso me faz acreditar muito nos pontos de cultura como alternativa para a cultura. Pontos subsidiados fazem com que os artistas alcancem um grande número de pessoas e em todos os lugares. Sou muito a favor dos pontos de cultura.
21) RM: O que lhe deixa mais feliz e mais triste na carreira musical?
Izabel Padovani: Estar no palco é sempre uma felicidade. O mais triste é conseguir produzir os shows, é muita burocracia, escrever projeto, muito correr atrás para coisa poder acontecer.
22) RM: Nos apresente a cena musical na cidade que você mora?
Izabel Padovani: Campinas (SP) já foi uma cidade muito interessante culturalmente. Hoje um dos Teatros está fechado, o outro acaba de ser reaberto depois de uma reforma que durou oito anos para ser concluída. Temos alguns espaços alternativos que salvam a cidade no bairro de Barão Geraldo. Mas é pouco para o porte da cidade, além disso, Cinema só no Shopping. Odeio essa única alternativa.
23) RM: Quais os músicos ou/e bandas que você recomenda ouvir?
Izabel Padovani: Alessandro Kramer, Patricia Bastos, Livia Nestrovski, Regina Machado, Ronaldo Saggiorato, Mario Conde, Marcelo Onofri, Marcio Tubino, Isa Taube, Alegre Correa, Willy Gonzales, Tatiana Parra, Chico Pinheiro, Andrea dos Guimarães, Ana Luiza e Luis Felipe Gama, André Marques, um montão de gente, poderia ficar horas aqui escrevendo nomes.
24) RM: Você acredita que as suas músicas tocarão nas rádios sem pagar o jabá?
Izabel Padovani: Pode tocar em algumas Rádios. Eu tenho música tocando em Curitiba – PR, nas rádios Educativas e com propostas desse tipo, mas essa loucura de tocar milhões de vezes por dia até grudar na cabeça dos ouvintes acho que não. Aliás, com tanta gente boa por aí seria bacana ter uma diversidade nas rádios não seria? O meu mundo ideal não teria nem jabá e nem essa lavagem cerebral através das mídias.
25) RM: O que você diz para alguém que quer trilhar uma carreira musical?
Izabel Padovani: Estude e aprenda desde cedo a entender como se produzir.
26) RM: Quais os seus projetos futuros?
Izabel Padovani: Gravação do CD e DVD do projeto “Crônicas de Amor” que é um show que enfatiza os grandes letristas brasileiros falando sobre o tema amor, seja pelo futebol, o efêmero amor no carnaval, etc.
27) RM: Quais os seus contatos para show?
Izabel Padovani: [email protected] ou pelo www.izabelpadovani.com