O violonista, cantor, compositor, arranjador, baixista paulistano Ife Tolentino. Tem uma extensa carreira no Brasil iniciada em 1970 onde se apresentou e gravou com artistas como Naná Vasconcelos, João Donato, Nara Leão, Toninho Horta, Ednardo, Amelinha, Fagner, Dominguinhos, Sivuca, Tutty Moreno, Paulo Moura, Wagner Tiso, Guinga, Pepeu Gomes por todo o Brasil.
Foi membro da banda Santarén (banda de apoio de Fagner) e sob a produção do mesmo, lançou o LP homônimo em 1980 no festival do Guarujá. Tem parcerias com Fausto Nilo, Ingrid Laubrock, Amelinha, Ednardo, Clare Foster, Clodo e Climério Ferreira, Petrúcio Maia, Monica Vasconcelos, Manassés de Sousa, Alano Freitas entre outros.
Mudou-se para Inglaterra em 1992 e envolveu-se em vários projetos, gravações, concertos e festivais de jazz trabalhando com alguns dos grandes músicos de jazz europeus como John Parricelli, Ingrid Laubrock, Liam Noble, Julian Siegel, Paul Clarvis, Steve Lodder, Paul Jayasinha, Chris Wells, Ben Davis, Eythor Gunnarsson, Omar Gudjonsson, Skúli Sverrisson para citar apenas alguns.
Em 2012 ganhou o Brazilian Press Award UK 2012 (prêmio de melhor CD de artista brasileiro radicado no Reino Unido) com o álbum “Brazil in Black and White” – a portrait of Chico Buarque.
Seu penúltimo álbum, “Você Passou Aqui” em parceria com Óskar Gudjónsson, foi gravado na Islândia com músicos islandeses e lançado na capital Reykjavik em dezembro de 2012 depois de uma turnê pela ilha. Em 2013 o lançou em São Paulo/Brasil (Painel Cultural) em Brasília (Clube do Choro) e também no tradicional Vortex Jazz Club de Londres.
Em 2014 fez uma série de shows em Brasília onde incluiu espaços como o tradicional Clube do Choro, o 10 0 13 Jazz Pub e o Fulô do Sertão, para citar alguns. No mesmo ano excursionou pela Inglaterra como músico e arranjador da cantora brasileira Mônica Vasconcelos que mora em Londres e com quem trabalha desde 1992.
De lá voou para a Islândia para outra turnê onde liderou novamente músicos islandeses na execução de parte da sua obra original e releituras de alguns dos grandes autores brasileiros. Em dezembro de 2014 apresentou com Mónica Vasconcelos o show da turnê inglesa (Brazilian Freedom Songs) no Espaço Cachuera em São Paulo/Brasil.
Os dois gravaram esse material no Brasil e o renomearam The São Paulo Tapes. As gravações foram então levadas para Londres para serem concluídas por músicos locais sob a direção de Robert Wyatt (Soft Machine). Em agosto/setembro de 2015 voltou à Inglaterra para ministrar workshops de música brasileira e também Islândia para mais uma turnê onde fez outra série de shows na capital Reykjavik e ao redor da ilha durante abril, maio e junho. Também participou do lançamento do álbum The São Paulo Tapes no Vortex Jazz Club em Londres, seguido de uma turnê inglesa.
Em 2017 continuou fazendo vários shows com Mônica e banda, mas iniciou um novo projeto com o guitarrista inglês Steve Pierce, às vezes adicionando o pianista Sam Watts.
Ainda em 2017 o show/lançamento do São Paulo Tapes foi realizado no Festival de Jazz de Berlim. Também Ife e Mônica foram contratados pelo Arts Council para compor novas músicas para um novo projeto. Em 2018, Ife e Steve realizaram 10 shows em Reading (Inglaterra) num diálogo com a Temporada de Música e Cinema Brasileiro Contemporâneo na Reading University.
Voltou à Islândia e percorreu a ilha se apresentando por cerca de 7 semanas. Em 2019, embora tenha se concentrado mais sobre seu novo projeto, Ife continuou trabalhando em Londres com o novo projeto de Mônica Vasconcelos, sua dupla com Steve Pierce e também com cantoras de jazz como a inglesa Heidi Vogel, a japonesa Yuko Yokoi e a italiana Adriana Vasques.
Ele também voltou à Islândia como vem fazendo desde 2002 para mais uma rodada de apresentações ao vivo (julho/agosto de 2019). Em 2020 durante a pandemia, decidiu voltar a morar no Brasil, porém antes disso, gravou seu segundo álbum na Islândia em formato de LP (seu terceiro álbum solo que contém apenas material original) e com sua banda islandesa o pré-lançou.
O lançamento oficial do mesmo só foi possível depois da pandemia, em junho de 2023. Para 2024, com novo material, a volta à Inglaterra e à Islândia é certa.
Segue abaixo entrevista com Ife Tolentino para a www.ritmomelodia.mus.br, entrevistado por Antonio Carlos da Fonseca Barbosa em 12.08.2024:
01) Ritmo Melodia: Qual a sua data de nascimento e a sua cidade natal?
Ife Tolentino: Nasci no dia 29/01/1952 em São Paulo – SP. Registrado como Luiz Carlos Franco Tolentino.
02) RM: Fale do seu primeiro contato com a música.
Ife Tolentino: Minha família era muito musical, mas ninguém foi profissional além de mim e de minha irmã mais velha Thais, embora temporariamente. Ela tinha estudado piano clássico por 8 anos.
Tínhamos um rádio onde escutávamos todos os gêneros nacionais e estrangeiros sem preconceito desde muito cedo. Nossas idas anuais de férias para o interior de São Paulo enriqueceram muito nosso lado caipira. Aos domingos meu pai, eu e nosso cachorro assistíamos aos Concertos Matinais às 10 horas da manhã pela extinta TV Tupi.
Já na adolescência, minha irmã Thais, sempre muito musical, aprendeu sozinha a tocar violão e nós 4 (filhos), apaixonados pelos Beatles, fizemos uma bandinha caseira e cantávamos em harmonia (vocais). Éramos duas meninas e dois meninos. Aos 14 anos aprendi a tocar minha primeira música no violão e quem me ensinou foi justamente ela, a irmã mais Thais. A música era I Need You do George Harrison (Beatles). Virar piloto de avião deixou de ser o meu sonho. A música venceu.
03) RM: Qual sua formação musical e/ou acadêmica fora da área musical?
Ife Tolentino: Não tenho formação acadêmica. Virei músico profissional aos 18 anos de idade, porém intuitivo. Foi uma ótima experiência meu primeiro ”emprego” ser numa banda de baile onde a gente tinha que tocar repertório variado.
Pouco depois senti a necessidade de entender o que eu e outros músicos fazíamos e fui estudar na Escola Municipal de Música. Aprendi bastante e quase concluí, mas não pude pois me casei e aí as contas chegaram. Lógico que continuei estudando, aliás o faço até hoje.
04) RM: Quais as suas influências musicais no passado e no presente. Quais deixaram de ter importância?
Ife Tolentino: Foram ou são muitas influências. Como disse anteriormente, não tínhamos preconceito musical em casa. Simplesmente adorávamos música. Então música caipira, bolero, tango, samba, foxtrot, rock’n’roll das antigas e depois o rock dos anos 60/70, o rock progressivo, barroco, clássico, baião, xote, bossa nova, guarânia paraguaia e mais músicas que a família escutava.
Apesar de sempre respeitar demais o Tom Jobim, João Gilberto e outros grandes da Bossa Nova, meu coração ficou ligado no rock por um bom tempo. Um dia eu acordei pro universo da Bossa Nova, Samba, e ritmos nordestinos e fui estudá-los a fundo. Sinto que enriqueci imensamente.
Hoje, nas minhas composições, misturo tudo, mas ”a base é uma só”, ou seja, MÚSICA BRASILEIRA! Morei em Londres – Inglaterra por 26 anos e tanto lá quanto no resto da Europa o que eu faço é Brazilian Jazz. Que nada mais é do que música brasileira bem elaborada tanto harmonicamente como ritmicamente e que dá espaços para improvisos criativos. Eles acham um grande desafio tocar meu repertório que consiste em minhas composições e rearranjos de grandes autores brasileiros de diversas épocas.
05) RM: Quando, como e onde você começou sua carreira musical?
Ife Tolentino: No começo de 1970 aos 18 anos de idade completados pouco antes, eu estava escutando e cantando junto com a gravação da música Oh Darling dos Beatles dentro de um fusca de um amigo.
Conosco estavam mais duas pessoas e uma delas era o namorado da minha irmã que tinha uma banda de baile. Ele se impressionou comigo cantando junto com o Paul McCartney (inclusive aqueles agudos … eu era jovem) e me convidou pra entrar na banda sabendo inclusive que eu já tocava guitarra direitinho. A banda já tinha um cantor.
Entrei na banda tocando guitarra, renovei o repertório e até o ensinei a tocar alguns solos, pois ele era o dono da banda e ”tinha” de ser o solista. Minha irmã Thais tocava órgão e nós dois fazíamos os vocais também. Isso aconteceu em São Paulo – SP.
06) RM: Quantos CDs lançados?
Ife Tolentino: Em 1980 eu era baixista dos cantores Fagner e Ednardo. Sob a produção de Fagner, lançamos pela CBS um LP de sua banda de apoio (Banda Santarén) com nossas composições e arranjos. Ou seja, eu era o co-líder da banda.
Em Londres – Inglaterra participei de muitos projetos dos quais em quatro deles eu também fui o co-líder. Foram eles: As Meninas (Nóis 4), como violonista, backing vocalista e um dos arranjadores. Nóis 4 como violonista, um dos compositores, backing vocalista e um dos arranjadores. Brasiliance como baixista, violonista e um dos compositores/arranjadores. Claridade como baixista, violonista e um dos cantores/compositores/arranjadores.
Sob meu nome: Ainda em Londres gravei em 2005 um álbum tributo ao Chico Buarque: Brazil in Black and White (a portrait of Chico Buarque) o qual foi premiado pelo Brazilian Press Award como o melhor álbum de artista brasileiro radicado no Reino Unido. Nele toquei violão, cantei e dividi os arranjos com o produtor e percussionista inglês Chris Wells.
Islândia: Você Passou Aqui é um álbum gravado e lançado na Islândia em 2012 (lançado também no Brasil e Inglaterra) com composições minhas e rearranjos de obras de alguns dos grandes autores brasileiros. Nele toco violão, canto e faço os arranjos.
O LP IFE também foi gravado na Islândia e lançado em 2023. Esse álbum contém 8 faixas, todas compostas por mim no Brasil e Europa ao longo de diversos anos.
Nele toco violão, canto e arranjo. Então se contarmos os oito álbuns dos quais participei, em cinco fui co-líder e sob meu nome foram três.
Afora isso, participei de dezenas de álbuns no Brasil e Europa como músico baixista e/ou violonista vide biografia.
07) RM: Como você define seu estilo musical?
Ife Tolentino: Diria que basicamente faço música brasileira com influências diversas inclusive estrangeiras. Música brasileira do mundo.
08) RM: Você estudou técnica vocal?
Ife Tolentino: Não estudei técnica vocal. Simplesmente canto de maneira intuitiva. Embora meu canto agrade a quem o escute, me considero um músico que gosta de cantar. Só isso.
09) RM: Qual a importância do estudo de técnica vocal e cuidado com a voz?
Ife Tolentino: Acho importante, mas não imprescindível. Mas também depende do gênero. Para um cantor de ópera, por exemplo, sem dúvida a técnica vocal e o cuidado com a voz são sim imprescindíveis. O cantor popular dá um jeitinho, mas é aconselhável se cuidar antes de algum show ou temporada.
10) RM: Quais as cantoras (es) que você admira?
Ife Tolentino: São muitos (as) e de diversas tendências, por exemplo: João Gilberto, Elis Regina, dos Beatles o John, Paul e George, Ella Fitzgerald, Tonico & Tinoco, Aretha Franklin, Luciano Pavarotti, Dalva de Oliveira, Ademilde Fonseca, Núbia Lafayette, Leny Andrade, Plácido Domingo, Gal Costa, Billie Holiday, Yma Sumac, Jackson do Pandeiro, José Carreras, Al Jarreau, Gilberto Gil, Janis Joplin, Luiz Gonzaga, Al Green, Maria Bethânia, Greg Lake, Caetano Veloso, Jack Bruce, Marinês (do grupo Marinês e Sua Gente), Sylvia Telles, Tina Turner, etc. A lista seria muito maior.
11) RM: Como é seu processo de compor?
Ife Tolentino: Meu processo varia. Pego o violão, faço alguns acordes a esmo, a melodia vem vindo aos poucos e vou adaptando com os acordes e vice versa … ou, do nada aparece um pedaço de melodia a qual escrevo ou gravo para desenvolver na sequência da mesma maneira. Tenho períodos mais férteis e outros menos. Depende muito do meu estado de espírito (alegre, nostálgico, ansioso, triste, indignado, radiante, etc).
Em geral estou alegre, mas gosto de compor coisas nostálgicas. Gozado, né? …. mas não só. Música engraçada, bem humorada, piadista mesmo sem letra é um desafio. Também consigo fazer isso.
12) RM: Quais são seus principais parceiros de composição?
Ife Tolentino: Geralmente escrevo música sozinho (harmonia, melodia e ritmo). Poucas vezes escrevi uma harmonia e pedi pra outro compositor ”inventar” a melodia. Também já fiz um pouco do oposto …. escrevi a melodia para outro músico harmonizá-la.
Mas quando se trata de música com letra, prefiro ter o poema primeiro para então musicá-lo, mas também já ocorreu o oposto. Nesse caso, meus principais parceiros diriam que são os irmãos piauienses Climério e Clodo Ferreira, a cantora paulistana radicada em Londres há muitos anos Mônica Vasconcelos.
Tenho parcerias também com os cearenses Ednardo, Fausto Nilo, Amelinha, Alano de Freitas, Petrúcio Maia. Pouquíssimas vezes ousei escrever letra pois não é minha especialidade.
13) RM: Quais os prós e contras de desenvolver uma carreira musical de forma independente?
Ife Tolentino: Os prós lhe dão completa liberdade para criar quando for, onde for e da forma que se deseje sem qualquer imposição. Os contras lhe consomem muito tempo e energia para administrar os negócios burocráticos.
14) RM: Quais as estratégias de planejamento da sua carreira dentro e fora do palco?
Ife Tolentino: Como passei muitos anos fora do Brasil (Londres) e sempre estive envolvido com bandas, outros músicos ou agentes se encarregavam de fazer essa parte mesmo quando meu nome era o principal nos álbuns.
De volta ao Brasil estou aprendendo a me incumbir dessa parte. Acho que no momento, para mostrar o trabalho, as alternativas são as mídias sociais como YouTube, Facebook, Instagram, WhatsApp etc. O Spotify apesar de pagar pouquíssimo, também acho importante para divulgação.
Fora do palco seria a organização do trabalho (composição e arranjo), seleção de músicos (formação da banda), ensaios, gravação e também contatos profissionais para apresentar projetos para, por exemplo: os SESCs, os Editais, contatos estrangeiros como o Arts Council da Inglaterra e o departamento de cultura da Islândia a qual frequento desde 2002 e onde já gravei dois álbuns, fora as inúmeras turnês.
No palco, além da comunicação com o público (contando casos, descrevendo como algumas ideias musicais aconteceram ou outros casos interessantes, mas sem exagerar no tempo), importante também é dar espaços para que os outros músicos mostrem suas habilidades criativas, pois sem eles o show não seria tão rico.
15) RM: Quais as ações empreendedoras que você pratica para desenvolver a sua carreira musical?
Ife Tolentino: Como disse na resposta à pergunta anterior, estou aprendendo a lidar com essa parte. O ideal seria ter um agente para me preocupar apenas com a arte. Mas o plano em princípio está contido na resposta anterior.
16) RM: O que a internet ajuda e prejudica no desenvolvimento de sua carreira musical?
Ife Tolentino: Ajuda por conta da divulgação, mas prejudica por não gerar suficiente receita, pelo menos por enquanto. O músico tem que fazer uma boa divulgação para poder gerar receita através de shows e não mais por venda de produtos (CDs, LPs, Vídeos) além dos shows.
17) RM: Quais as vantagens e desvantagens do acesso à tecnologia de gravação (home estúdio)?
Ife Tolentino: Mais vantagens do que desvantagens, porém o custo do home estúdio não é baixo pois equipamentos custam. Mas a longo prazo, suponho ser mais vantajoso além do fato de se poder criar uma atmosfera aconchegante, coisa que não acontece em todos os estúdios.
18) RM: No passado a grande dificuldade era gravar um disco e desenvolver evolutivamente a carreira. Hoje gravar um disco não é mais o grande obstáculo. Mas, a concorrência de mercado se tornou o grande desafio. O que você faz efetivamente para se diferenciar dentro do seu nicho musical?
Ife Tolentino: Apenas tento ser eu sem pensar em comparações. Gosto do que faço e acredito que meu trabalho seja honesto. Isso é o bastante para mim. Se vão gostar ou entender já não dependerá mais de mim.
19) RM: Como você analisa o cenário da Música Popular Brasileira. Em sua opinião quais foram as revelações musicais nas últimas décadas? Quais artistas permaneceram com obras consistentes e quais regrediram?
Ife Tolentino: Infelizmente a grande mídia também divulga coisa ruim, mas o Brasil está repleto de grandes artistas. Ah … se a grande mídia percebesse isso… Uma porção de artistas de norte a sul do país é completamente desconhecida. Nas últimas décadas a cena do Choro se fortaleceu demais e apesar de não ser minha especialidade, adoro e admiro muito mesmo.
Brasília – DF é um grande exemplo e celeiro de grandes músicos de diversos gêneros como Hamilton de Holanda, seu irmão Fernando Cesar, Marcos Moraes, Rafael dos Santos, Túlio Borges, Vinícius de Oliveira, Rodrigo Bezerra etc.
Nas últimas décadas, nomes como Rafael Rabello, Yamandu Costa são dois dos que mais se destacam para mim. Também gosto muito da Mônica Salmaso, Chico César, Lenine, Chico Science, Guinga, Racionais, Moreno Overá, Zeca Pagodinho, Almir Sater etc. Essa lista também poderia ser bem grande.
A pior regressão acontece principalmente no tal do cenário Sertanejo. Nem vou citar nomes pois são tantos (nem decorei). É basicamente horrível. No geral as melodias são sofríveis, as harmonias pobres, as letras ruins e por aí vai. Bom, essa é uma opinião muito pessoal.
20) RM: Quais as situações mais inusitadas aconteceram na sua carreira musical (falta de condição técnica para show, brigas, gafes, show em ambiente ou público tosco, cantar e não receber, ser cantado, etc)?
Ife Tolentino: Bem, sou um músico veterano, então já passei por todas essas situações mencionadas na pergunta.
21) RM: O que lhe deixa mais feliz e mais triste na carreira musical?
Ife Tolentino: O que me deixa mais feliz é sentir que minha música ou as que eu reinterpreto tocam os corações das pessoas. Recentemente recebi uma mensagem da Islândia onde um artista diz que tem escutado muito meu recente álbum e também que o LP é de uma beleza verdadeira. Muitas vezes vi gente se emocionar durante meu show. E mais triste é quando a arte que a gente faz tão honestamente, simplesmente é ignorada.
22) RM: Existe o Dom musical? Como você define o Dom musical?
Ife Tolentino: O dom é um mistério. Com certeza existe gente mais sensível e/ou com mais facilidade para fazer arte (isso seria um dom?). Se existe um dom musical, suponho que nasça com a pessoa.
Quem nasce sem isso, acho que ainda assim pode ser ‘’adestrado’’, mas tem que ter muita perseverança. Conheci um músico assim. Tive que, com muito jeitinho, despedi-lo da banda. Anos mais tarde virou um músico muito competente embora no começo tenha tido muitos problemas.
23) RM: Qual é o seu conceito de Improvisação Musical?
Ife Tolentino: Criar ideias, frases melódicas, acordes e ritmo que expressem sentimentos no momento da execução. Para tal são necessários anos de experiência e prática para poder ter tudo incorporado e para poder aplicar o que um dia foi estudo, mas de uma maneira sensível, espontânea e criativa.
24) RM: Existe improvisação musical de fato, ou é algo estudado antes e aplicado depois?
Ife Tolentino: Para mim existe, mas depende exatamente de muito estudo, prática e experiência para ser aplicado espontaneamente e automaticamente porque já está incorporado, como disse na resposta anterior. Algo que permita se expressar sem pensar em regras ou pensar muito pouco em regras.
25) RM: Quais os prós e contras dos métodos sobre Improvisação musical?
Ife Tolentino: Acho tudo válido desde que o aluno ache seu próprio caminho, ou seja, não vire uma maquininha de fazer som. Existem cursos muito legais atualmente, mas também é preciso tomar cuidado porque nem todos os cursos são tão legais assim.
26) RM: Quais os prós e contras dos métodos sobre o Estudo de Harmonia musical?
Ife Tolentino: Volto à questão anterior. Válido, mas é preciso tomar cuidado. Eu cursei a Escola Municipal de Música de São Paulo a partir de 1972. Aprendi muita coisa e foi uma experiência muito boa. Porém o intuito da escola era formar músicos clássicos para um futuro ingresso na Orquestra Sinfônica.
Era outra mentalidade e abordagem. Eu já tocava desde 1966 e virei profissional em 1970. Antes da escola eu já ousava ”criar” algumas ideias. Gostava muito de algumas delas. Durante o curso descobri que existiam regras e algumas coisas eram proibidas. Passei a seguir as regras e por consequência notei que passei a criar ideias musicais, mas engessadas ou duras.
Inclusive naquelas ideias de antes da escola, notei que eu tinha feito coisas ”proibidas”. Só que eu gostava delas pois soavam bem para mim. Coloquei um ”filtro”, voltei a ter ideias e só depois de concluídas, eu analisava se havia algo ”proibido”. Se fosse proibido, mas se soasse bem pra mim, ignorava as proibições. Mantenho isso até hoje. Bem, os tempos são outros, né?
27) RM: Você acredita que sem o pagamento do jabá as suas músicas tocarão nas rádios?
Ife Tolentino: Não sei dizer, mas provavelmente não. A menos que eu exploda nas redes sociais, nacionalmente e/ou internacionalmente.
28) RM: O que você diz para alguém que quer trilhar uma carreira musical?
Ife Tolentino: Digo que não é fácil, mas que pelo menos pra mim, tem valido a pena. Que música faz bem pra alma, se é que a gente tem uma ou nos traz paz interior, satisfação ou algo desse tipo. Pro bolso, nem sempre, mas eu encorajo.
29) RM: Festival de Música revela novos talentos?
Ife Tolentino: Revela novos nomes, mas nem sempre novos talentos. E alguém nem tão talentoso pode virar uma grande estrela, pois é…
30) RM: Como você analisa a cobertura feita pela grande mídia da cena musical brasileira?
Ife Tolentino: Mostram coisas boas, mas vejo muito lixo também.
31) RM: Qual a sua opinião sobre o espaço aberto pelo SESC, SESI e Itaú Cultural para cena musical?
Ife Tolentino: Imprescindível. Tipo primeiro mundo. Fico muito feliz com essas iniciativas.
32) RM: Quais os seus projetos futuros?
Ife Tolentino: Quero muito me apresentar com alguns dos grandes músicos brasileiros e gravar pelo menos um álbum com eles. Estou falando de Heloísa Fernandes, Toninho Carrasqueira, Sizão Machado, Proveta, Walmir Gil, André Magalhães.
Por outro lado, quero trazer dois ou três músicos islandeses (quem sabe quatro ou cinco), me apresentar e gravar mais um álbum com eles aqui pois interpretam meu repertório de uma forma super original. São super especiais. Me emocionam, pois, entendem minha música direitinho.
O outro projeto é lançar um álbum com 12 músicas dos Beatles rearranjadas de uma maneira brasileira e cantadas por mim. Ele já existe, mas o que falta é a mixagem, masterização e o pagamento dos direitos autorais. Nele toco os violões, canto, faço os vocais, toco dois baixos em uma faixa, percussão, viola caipira e alguma bateria programada discretamente.
Cada música tem um convidado solista. São três pianistas, quatro guitarristas, um trompetista / flugelhorn, uma vocalista, um baixista acústico, um saxofonista, um flautista e um arranjador para uma das faixas que tem quatro cordas sinfônicas (um violoncelo, uma viola e dois violinos) que serão dobradas = 8.
Os convidados são todos estrangeiros, com exceção de um brasileiro, Toninho Carrasqueira, na flauta. Os outros músicos são sete da Inglaterra, três da Islândia, um de Israel e um arranjador das cordas que é um alemão / luxemburguês. Os músicos das cordas, ainda a decidir.
33) RM: Quais seus contatos para show e para os fãs?
Ife Tolentino: +44 7791 112 781 (WhatsApp) |www.ifetolentino.com | [email protected] | Facebook: https://www.facebook.com/IfeTolentinoMusic
Instagram: https://www.instagram.com/ifetolentino
Canal: https://www.youtube.com/@ifetolentino1024
Ife Tolentino – Samba e Amor: https://www.youtube.com/watch?v=qMncO4Co_fk
Ife Tolentino & Óskar Guðjónsson – Palpite infeliz: https://www.youtube.com/watch?v=EE52HMdDmmY
Ife Tolentino – Como num conto: https://www.youtube.com/watch?v=PrSP-pjRqDs
Outra bela entrevista, trazendo a realidade do artista e toda a sua trajetória marcada por talento e dedicação.