O compositor, professor, arranjador, multi-instrumentista, pesquisador baiano Ian Zargo é licenciado em História pela Universidade Federal do Recôncavo da Bahia – (UFRB) e pós graduado em Educação em Gênero e Direitos Humanos pela Universidade Federal da Bahia – (UFBA) e licenciando em Licenciatura em Música – Universidade Estadual da Bahia (UNEB).
É pesquisador na área de cordofones, nos respectivos instrumentos: Violão (Erudito e Popular); Guitarra; Viola Brasileira, (Caipira, Machete, Fandango). E com a Viola Caipira, se dedica em linhas de pesquisas na área de cultura popular, nas manifestações de reisados, samba de roda e folia de reis, nos estados da Bahia e de Minas Gerais. Já com o violão, vem construindo produções literárias, estudos para violão, suítes, prelúdios, jogos infantis, entre outras propostas metodológicas que auxiliem o processo de aprendizado do instrumento.
Alguns dos seus trabalhos musicais: “Uma Viagem Rio Acima” – 10 peças autorais para Viola (2013); “Sucintas” – 07 peças brincantes para violão solo (2020 – 2021); “10 estudos para Violão” (2020 – 2021). Projetos em andamento: “07 Prelúdios para Violão Solo” (2021) (Em andamento); “Ciclos Parcimoniosos” – Suíte com 05 peças para violão solo (2021). Livros em processo de conclusão para lançamento; “Vila Sonora” – O centro Tonal dos Sons (2020/2021). Método (Livro): “Sucintas” – 07 peças brincantes para violão solo (2020 – 2021). “As Escalas Musicais” – Um Guia rápido para consulta com: Modos, Gráficos Shapes e dicas de aplicações. Trilhas para documentários seriados, reisados, dentre outras, são também outras áreas de sua atuação. Festivais de viola, de canções e alguns concursos de Violão, também fizeram e fazem parte de sua trajetória musical.
Ian Zargo ganhou prêmio de revelação na categoria Instrumentista no Festival de Música de Morro do Chapéu – BA/FEMUP em 2001. Pesquisa sobre as vertentes da viola no Sertão da Bahia – Reisado de São Gabriel. Fez apresentação no Palco Livre do Voa Viola no Sesc Venda Nova em Belo Horizonte – Minas Gerais em 2012 (Musicas: Rose e Lamento Cigano). Recital de lançamento do disco “Uma viagem Rio Acima” em cidades do recôncavo baiano em 2013. Participação no III Festival Nacional de Violeiros de Cruzeiro dos Peixotos – FENACRUPE, Uberlândia – MG, na categoria instrumental com a música: “Uma Viagem Rio Acima” (julho 2013). Ele foi atração do Festival Instrumental em Irecê – BA (2014). Fez participação no Primeiro Prêmio Chico Mário de Violão – Belo Horizonte (MG).
Segue abaixo entrevista exclusiva com Ian Zargo para a www.ritmomelodia.mus.br, entrevistado por Antonio Carlos da Fonseca Barbosa em 24.01.2022:
01) Ritmo Melodia: Qual a sua data de nascimento e a sua cidade natal?
Ian Zargo: Nasci no dia 27.12.1981 em Salvador – BA. Registrado como Ian Ferreira Nunes Zargo.
02) RM: Fale do seu primeiro contato com a música.
Ian Zargo: Meu primeiro contato com a música, foi na fase da adolescência, por volta dos 15 a 16 anos. Ao contrário de como “normalmente” acontece com muitos músicos, não nasci em um ambiente musical efervescente, ou tive referências musicais em meu seio familiar. Encontrei-me com a música através de um violão que estava abandonado por décadas, na casa de um parente, onde seus filhos e esposa, não se interessavam por aquele pinho, o classificavam até, como um objeto que atrapalhava os móveis da casa. Sempre que ia na casa desse senhor, de forma inexplicável, algo me levava ao encontro daquele instrumento. Depois de muita insistência de minha parte, com o instrumento já quebrado e totalmente empoeirado, esse “tio” me doou o violão, nascendo assim, uma relação de complementação entre mim e o pinho, minimizando a solidão em que me encontrava na juventude.
03) RM: Qual sua formação musical e/ou acadêmica fora da área musical?
Ian Zargo: Sou Licenciado em História pela Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB). Durante toda a graduação, me enveredei em pesquisas na área musical, dando ênfase a Viola Brasileira (Caipira), analisando a sua atuação em manifestações culturais da Bahia, e de Minas Gerais. Foi um importante aprendizado, pois tive a sorte de pesquisar e frequentar eventos pertencentes ao universo da cultura popular, como: reisados, samba de roda, folias de reis etc.
Já como educador, e lecionando na educação básica, fiz uma especialização (Pós Graduação) em Educação em Gênero e Direitos Humanos na Universidade Federal da Bahia (UFBA). A música como sempre, se fez presente em todo e qualquer processo discursivo em minha carreira, visto isso, meu desafio nesse ciclo, foi compreender o protagonismo de mulheres ciganas Calons, em um acampamento no recôncavo baiano. Me encantei com sotaque musical contido no idioma, e nos dialetos desse povo, juntamente com as melodias de seus cantos que ecoavam durante a condução dos afazeres cotidianos na comunidade. Infelizmente, pontos positivos relativos aos povos ciganos, não são “perceptíveis” de imediato para nós ocidentais, devido a um processo de invisibilidade e estigmatização, presente até os dias atuais. A curta convivência em que passei no acampamento com os povos ciganos calons, me possibilitou uma considerável ampliação do meu olhar, não apenas para música, mas sim, para a vida.
A Licenciatura em Música, veio depois na Universidade Estadual da Bahia (UNEB), como forma de “quitação” de uma dívida comigo mesmo. Consegui realizar esse sonho antigo, preenchendo uma espécie de hiato que me acompanhava desde de adolescência.
Fiz aperfeiçoamento profissional: Workshops e Palestras com Henrique Pinto, Mario Ulhoa, Turíbio Santos e Aderbal Duarte (Solfejo Rítmico). Violão Clássico na oficina da Universidade Federal da Bahia – UFBA e no Musical Clube. Harmonização, escalas, modos gregos, Musical Clube, Professor Marcelo Avatá. Introdução ao violão clássico, pauta, clave no Musical Clube e Oficina de violão e Guitarra. Curso de Técnicas de Slide com Álvaro Asmar (Harmonização no Blues). Fórum de Música Popular na Academia. Universidade Federal da Bahia – UFBA, outubro de 2011. Seminário Voa Viola – Encontro Nacional de Viola Caipira, Vertentes da Viola no
Brasil: Tradição e Inovação. Músico e Ouvinte. Belo Horizonte – MG, maio de 2012. Seminário Repensando Os Sertões. Universidade Federal do Recôncavo Baiano – UFRB. Músico e ouvinte. Cruz das Almas – BA. Abril de 2012. Recital de viola no Lançamento do Livro e Exposição Ciganos, de Rogerio Ferrari. Abril de 2012. Projeto Duo 16 cordas. Formato de Work Shop. Oficina Ministrada na UFRB referente a pesquisa da Viola caipira para alunos do Curso de Jornalismo. Cachoeira – BA, novembro de 2012. Mostra Sesc de Música 2012. Palestra com Aderbal Duarte. Salvador – BA. Oficina de viola caipira com o grupo de Reisado da Cidade de São Gabriel – BA, com o professor Clendson Barreto em dezembro de 2012.
Paralaxe. Festival de Pesquisa em Musica UFBA Dezembro 2016. Reverberações Cerebrais: A música, a prática interpretativa e as estratégias de aprendizado e memorização musical. (UFS) 2021. Capacitação Agente Cultural (Universidade Aberta do Nordeste Fundação Demócrito Rocha) 2020/2021. Curso Músicas negras do Brasil (Escola BATEKOO) 2021. Laboratório de Performance Violonística (UERN) 2021. Jornada Integrada de pesquisa e extensão (JIPE) UNEB 2021 – Atração Cultural. II Workshop de Pedagogias musicais UFOP 2021. XI Simpósio Internacional de Musicologia e Congresso de Musicologia (UFG).
04) RM: Quais as suas influências musicais no passado e no presente. Quais deixaram de ter importância?
Ian Zargo: Acredito, que a importante sempre estar aberto no que se refere a influências que compõem a nossa escuta. Procuro escutar de tudo, de tudo mesmo, pois nem sempre o que agradável nos movimenta. Fascina-me a proposta de Debussy, com sua magnitude impressionista e “colorida”. Escuto com a mesma paixão e surpresa, desde obras com teor religioso de Bach, ao serialismo dodecafônico de Arthur Shoemberg. Cativa-me o nacionalismo presente nas obras de Bela Bartok e Heitor Villa Lobos, como também me comove, os duetos existentes nas modas de viola. Como era lindo o Axé Music dos anos 80/90, principalmente quando nos presenteava com histórias de personagens do continente africano, nas letras das canções. Visto isso, todo esse “coquetel”, faz parte da minha escuta musical, por vezes prazerosa, e as vezes, analítica.
05) RM: Quando, como e onde você começou sua carreira musical?
Ian Zargo: Minha carreira musical se inicia, nos meados da década de 90, em Salvador – BA. Em meu início de carreira, sempre procurei compreender a música como oportunidade de trabalho, contudo, uma forma de subsistência. Em uma época complexa e de poucas oportunidades, (principalmente para mim, jovem da periferia), aprender um instrumento não era diversão ou lazer, aprender um instrumento de harmonia, era uma oportunidade de emprego, pois naquele momento, existia uma procura para instrumentistas de corda, visto que nas imediações do bairro onde morei, havia garotos de minha idade, que já se destacavam em bandas, como percussionistas. Compreendendo o cenário, optei em me dedicar, para conseguir tocar bem o que era solicitado no violão, visando alternativas para me inserir em formações de bandas ou grupos locais. As dificuldades não me permitiram frequentar conservatórios ou escolas de música, isso era extremamente distante da minha realidade. Meu contato inicial com o pinho, se deu pela oralidade, com algumas “orientações aleatórias”, de pessoas que tocavam violão de ouvido pelas imediações. Também contei com auxílio de revistas de cifras em bancas, (apenas consultando, pois não tinha condição de comprar as revistas). E por fim, a escuta do rádio, todas as canções que ouvia, eu tentava reproduzir as melodias no violão.
06) RM: Quantos CDs lançados?
Ian Zargo: Uma Viagem Rio Acima (2013) – 10 peças autorais para viola Brasileira; Trabalhos futuros para serem lançados em breve: 10 estudos para Violão; 10 prelúdios para Violão; “Sucintas”: 07 obras para violão (solo) em homenagem as crianças; Ciclos parcimoniosos: Suíte com 05 obras com elementos de escalas simétricas.
07) RM: Como você se define como Violeiro?
Ian Zargo: Para mim, esse é um ponto de crucial importância, pois não sei se me considero especificamente como “violeiro”. Talvez, eu tente me permitir a cumprir o papel de pesquisador em formação, que se apaixonou pelo seu objeto, diante do universo de possibilidades, percursos e trajetos que a viola proporciona.
08) RM: Quais afinações você usa na Viola?
Ian Zargo: Cada afinação utilizada, é um novo portal que se abre, e esse arsenal de afinações da viola, me proporcionou canções, transcrições, capítulos de artigos, entre outras produções dentro e fora da universidade. Busquei de forma demasiada, experimentar todas as afinações possíveis. No meu disco: Uma viagem Rio acima, utilizei as seguintes afinações: Rio abaixo, Cebolão (em ré), Cana verde, Rio acima (1 tom e meio abaixo). Na faixa Bonsai de Lótus, utilizei um experimento para composição dessa obra, resultando em um acorde menor com os intervalos de 7ª e 9ª (m7/9). Já na faixa Terra dos Arcanjos, na afinação Rio abaixo inserir o intervalo de 7ª maior, e na faixa Matagal, alterei a afinação cebolão, inserindo a 3ª menor, e o intervalo de 11ª. Conforme exposto, no trato das afinações, sempre me permitir a todas experimentações possíveis.
09) RM: Quais as principais técnicas o violeiro tem que conhecer?
Ian Zargo: Qualquer instrumentista precisa se permitir a conhecer o idiomatismo do seu instrumento, certamente facilitará seu trabalho. Não acredito que o ser humano domine um instrumento vivendo apenas uma vida, pois a música, sempre nos presenteia com novos desafios, nos cabe, estar abertos para enfrenta-los e desfrutar dos deleites do processo até a chegada. Portanto, acho mais sensato, estabelecer uma relação de complemento, entre ser humano e instrumento.
10) RM: Quais os violeiros que você admira?
Ian Zargo: Diante dos tantos talentos que habitam esse país, de dimensões continentais, sei que esquecerei de muitos, por isso, citarei violeiros que se encontram em atividade: Fernando Deghi; Sidnei Oliveira; Ivan Vilela; Fernando Sodré.
11) RM: Como é seu processo de compor?
Ian Zargo: Meu processo composicional sempre foi experimental, porém ultimamente, venho utilizando eixos temáticos como ponto de partida. Nos últimos anos, costumo escolher um tema específico, e verifico os elementos presentes no mesmo, seja em escalas ou nos empilhamentos melódicos presentes. Nessa fase em que encontro, a investigação vem dando o norteio para surgimento das composições, resultando em materiais didáticos para escuta e análise. Utilizei esse formato nos 10 estudos para violão, na Suíte com 05 peças para violão (Ciclos Parcimoniosos), entre outros trabalhos que foram concluídos. Como as inquietações são bem vindas para nós artistas, atualmente, venho trabalhando em um novo projeto que consiste na fragmentação escalar, no intuito de construir “micro peças” para violão, envolvendo apenas elementos das tríades, tétrades e outros formatos híbridos existentes no discurso musical. Confesso que tem sido uma empreitada interessante, pois, é muito mais complicado ser criativo quando não se tem “fartura” de notas. Compor dessa forma, exige uma exploração geográfica do braço do instrumento mais cuidadosa, exigindo do compositor novas abordagens no que se refere texturas e técnicas no pinho.
12) RM: Quais as principais diferenças técnicas entre a Viola e o Violão?
Ian Zargo: Essa pergunta é um ótimo objeto para projetos de pesquisa (acadêmicos ou não), que certamente renderia bons artigos, dissertações ou teses. Elencar essas diferenças, certamente proporcionaria uma discussão muito ampla. Portanto, aqui, de forma resumida, eu poderia destacar o cuidado ao ferir as cordas com a mão direita nos dois instrumentos, visto que a viola, é um cordofone de cordas duplas (pares), e o violão, é composto com as seis cordas uníssonas. O espaçamento dessas cordas interfere diretamente na escolha e aplicação da técnica de dedilhado. Ressalto que essa espécie de “dica”, é destinada para quem toca viola ou violão com os dedos, pois existem os violeiros que tocam com “dedeiras” presas no polegar, e violonistas que fazem uso de paletas, em suas atividades profissionais.
13) RM: Quais os prós e contras de desenvolver uma carreira musical de forma independente?
Ian Zargo: Na verdade, ser independente é um constante exercício de reinvenção. A sensação de cansaço de tanto remar contra a maré, as vezes se torna um aliado, devido ao fato de sempre estarmos inquietos, arquitetando um novo projeto e possíveis formas de sobrevivência em nosso meio. Nós seres humanos, fomos contemplados com a vida para viver, e por isso, sobreviver é penoso e extremamente cansativo. Na conjuntura atual, onde vivemos em um sistema que “rege” os feitos através da competição, viver como músico em formato independente, significa colocar a música como atividade secundária, por não conseguir prover as despesas básicas, investimento em equipamentos, a escassez de trabalhos, entre outras questões, que foram cada vez mais explicitadas com a pandemia de Covid – 19.
14) RM: Quais as estratégias de planejamento da sua carreira dentro e fora do palco?
Ian Zargo: Confesso que esse é um ponto que venho tentando traçar, compreender, para “harmonizar” e inserir nos passos da minha carreira. A verdade, é que o artista atual precisa dialogar com esse “novo”, por isso, precisamos de ajuda. Compreender que um artista não detém todos os saberes das ramificações da sua prática, pode ser e acredito que é um grande passo. Planejar, traçar metas, plano de carreira, etc., são tópicos imprescindíveis na contemporaneidade, onde a atividade musical para ser rentável, necessita desses “cuidados” harmonizado com o fazer musical, no palco e fora dele.
15) RM: Quais as ações empreendedoras que você pratica para desenvolver a sua carreira?
Ian Zargo: Conforme dito acima, construir essas ações, vem sendo um dos maiores desafios na carreira como instrumentista. Mesmo assim, continuo seguindo e produzindo, tentando me inserir nesse “novo”, respeitando as pausas, pois essas, são geradoras da beleza da música.
16) RM: O que a internet ajuda e prejudica no desenvolvimento de sua carreira?
Ian Zargo: Atualmente, nós músicos podemos ser ouvidos com mais facilidade, é consenso. Mas como, diante dessa realidade de produção voraz, onde verbo principal infelizmente não é ouvir, e sim “engajar”, como fazer que nosso material tenha mais alcance? Quem dialoga com as ferramentas dos algoritmos (injetando muita grana), consegue fazer que suas produções artísticas musicais cheguem a muito mais gente, e o setor do entretenimento é inteiramente “conectado” com tais práticas, executando seus poderes com destreza e maestria. Alguns questionamentos nascem diante desses conflitos. São eles: como fazer com que nossos feitos cheguem a mais pessoas? como construir os percursos dos algoritmos investindo menos grana? Nós artistas, precisamos adquirir habilidades em outras áreas do conhecimento, para assim tentar “driblar” esses mecanismos, e responder a essas perguntas. Ou seja, precisamos entrar no jogo.
17) RM: Quais as vantagens e desvantagens do acesso à tecnologia de gravação (home estúdio)?
Ian Zargo: Para quem tem acesso, deve ter mais vantagens do que desvantagens. Não tenho propriedade para discorrer sobre essa questão, pois não tenho acesso a esses equipamentos, e não teria como adquiri-los no momento. O cenário não é dos melhores para investir em equipamentos musicais, regidos pelo dólar.
18) RM: No passado a grande dificuldade era gravar um disco e desenvolver evolutivamente a carreira. Hoje gravar o CD não é mais o grande obstáculo. Mas concorrência de mercado se tornou o grande desafio. O que você faz efetivamente para se diferenciar dentro do seu nicho musical?
Ian Zargo: Seguir produzindo, tentando me inserir nesse “novo”, respeitando as pausas, pois essas, são geradoras da beleza da música.
19) RM: Como você analisa o cenário da música Sertaneja. Em sua opinião quem foram às revelações musicais nas duas últimas décadas e quem permaneceu com obras consistentes e quem regrediu?
Ian Zargo: Não acompanho muito as produções desse nicho específico.
20) RM: O que lhe deixa mais feliz e mais triste na carreira musical?
Ian Zargo: A tristeza e a alegria, equilibram a práxis do artista, uma depende da outra. Quando fui ficando mais “velho”, senti algumas frustações acerca da nossa realidade que me fizeram refletir, sobre as oscilações vividas em nossa carreira, tais como: a invisibilidade da profissão no que tange a direitos, plano de saúde, ausência de piso salarial, 13ª, auxílio doença, INSS, etc. Esses e outros tópicos, pretendo colocar em um livro que está em fase de desenvolvimento. Estou na fase de levantamento de dados, relatos e leituras para esse futuro projeto. Penso que escrever sobre esses conflitos, possa minimizar certas dores de muito de nós músicos, e outras categorias da arte. Normalmente, quanto mais o tempo vai passando, alguns pensam na desaceleração, aposentadoria, etc. Nós músico, não temos esse direito.
21) RM: Quais os outros instrumentos musicais que você toca?
Ian Zargo: Somente violão ou viola caipira. Já toquei guitarra em bandas de diversos estilos.
22) RM: Como você analisa o cenário da música Sertaneja. Em sua opinião quais foram as revelações musicais nas últimas décadas e quais permaneceram com obras consistentes e quais regrediram?
Ian Zargo: Conforme abordei anteriormente, quem é bem articulado com mecanismos da tecnologia e as ferramentas do universo virtual, injetando muita grana e tem retorno. Esse nicho especificado na pergunta acima, dialoga muito bem com grandes corporações de cervejarias e do agronegócio, o que resulta em um combo perfeito gerador de receita em vários setores da cultura, conseguido fazer com que suas produções artísticas musicais cheguem a muito mais gente. Repito, o setor do entretenimento é inteiramente “conectado” articulado com tais práticas, executando seus poderes com destreza e maestria. Visto isso, duplas ou grupos que se integraram e reinventaram formando parcerias com as grandes corporações vão se mantendo firmes no processo.
23) RM: Quais os vícios técnicos o violeiro deve evitar?
Ian Zargo: Não chamaria de vícios, mas, pude perceber em muitos violeiros que tive contato, uma espécie de resistência que era justificada pela valorização da tradição.
24) RM: Quais os erros no ensino da Viola?
Ian Zargo: Conforme relatei na pergunta anterior, alguns dos métodos de ensino em que tive contato, davam muita ênfase a tradição, em especial ao contexto caipira, seus atores e produções. Percebi nesse contexto, pouca abordagem por exemplo sobre a História da Viola, afinações alternativas, etc. Tudo isso, atrelado a uma ausência de fontes na construção desses métodos. A viola é um instrumento com séculos de idade, bem anterior ao violão na história, contudo, não cabe rótulos ou singularização da mesma. Compreender esse instrumento mágico e repleto de simbolismos, em apenas uma vertente na afinação cebolão em mi, destinando sua “exploração” apenas nessa escala e seus empilhamentos, é muito pouco diante da imensidão que a viola oferece.
25) RM: Tocar muitas notas por compasso ajuda e prejudica a musicalidade?
Ian Zargo: Ajuda muito se todas estiverem bem tocadas e audíveis. Quando se é jovem, confundimos a música com as olimpíadas, realçando a velocidade. Com o tempo e amadurecimento, percebemos que a escolha de uma nota certa no momento exato, é um evento similar ao êxtase.
26) RM: O que você diz para alguém que quer trilhar uma carreira musical?
Ian Zargo: Poderia dizer para esse aventureiro (a), que todos os cenários para arte em qualquer momento cronológico da história não foram tão convidativos, sobretudo no Brasil. Não pense que a música está ligada em uma relação de sucesso ou glamour, isso gerará muitas frustações, pra muitos músicos isso não existe, o que existe, e é real no setor musical, é trabalho árduo, e como toda carreira tem seus altos e baixos, por isso é preciso lidar com oscilações e saber “surfar” em todas as ondas, aprendendo a “lida” com o fluxo das marés. É importante ter a consciência que o talento, não é pré requisito de sucesso. O Talento sem estudo ou comprometimento, é comparável a um carro de luxo sem motor. Diante dos referidos expostos, se tiver disposição sempre para reinvenções, seja bem-vindo (a). E lembre-se, seja sempre honesto e gentil, não deixando de ser firme. Por fim, curta inteiramente o processo, pois a conclusão ou chegada, só aconteceu por conta dos meios.
27) RM: Quais os principais erros na metodologia de ensino de música?
Ian Zargo: Durante a licenciatura em música, tive contato com vários autores, métodos, maravilhosas propostas na educação musical, nos variados contextos como: educação infantil, básica, ensino médio, EJA, superior, no ensino conservatorial de instrumentos, em ONGS, filarmônicas, projetos sociais diversos em que tive oportunidade em atuar lecionando, em todos os formatos que contemplavam a relação de ensino de música em seus espaços. O que pude perceber, é que em vez de discutir erros na metodologia de ensino, é de crucial importância, nos atentarmos a discutir sobre a implementação e cláusulas da lei 11.769, que determina a obrigatoriedade da música na escola, que desde 2008 ainda não é levado a sério em vários estados da federação. Enquanto não compreendermos os erros e acertos da lei, a efetividade de sua aplicação permanecerá sem êxito por mais décadas. Para criticar métodos, identificar erros nos mesmos, precisamos estar locados em postos de atividade, executando o nosso trabalho e experimentando as teorias, seja para concordar com elas, ou confrontá-las.
28) RM: Existe o Dom musical? Qual a sua definição de Dom musical?
Ian Zargo: Acredito muito no esforço e treinamento, obviamente sempre pautado na parcimônia. Nesse ponto, nós professores devemos sempre estar atentos na percepção das habilidades do nosso aluno, verificando formas de construção e propostas metodológicas que estimulem cada vez mais, as potencialidades de cada indivíduo.
29) RM: Qual a sua definição de Improvisação?
Ian Zargo: A improvisação é uma ferramenta musical que proporciona o contato com os “sotaques” de vários estilos musicais. Porém, para ter acesso a esse “portal”, o músico necessita de um certo “domínio” teórico. Apenas o lirismo e empirismo, não dará conta para o Êxito em um fraseado.
30) RM: Existe improvisação de fato, ou é algo estudado antes e aplicado depois?
Ian Zargo: Todo o sentimento é muito bem-vindo no ato de improvisar. Contudo, ressalto que o conhecimento teórico possibilita a construção de “pontes” mais sólidas, nos deixando com mais segurança, na tomada de decisões, na utilização de gráficos em sentidos mais ousados no fraseado, ou em fugas, buscando contatos atonais, etc… Portanto, o conhecimento é libertador, e na música permite percursos verdadeiramente encantadores.
31) RM: Quais os prós e contras dos métodos sobre Improvisação musical?
Ian Zargo: Sem pós ou contras em relação a métodos… Dos que tenho como referência, que me ajudam sempre em meus escritos, improvisos e composições, abordam as mesmas colocações que relatei em perguntas anteriores, e que sigo defendendo em minha atuação profissional. Ênfase na sensibilidade aliada ao conhecimento técnico, para assim chegar próximo a estética e sotaques dos mais variados estilos musicais.
32) RM: Quais os prós e contras dos métodos sobre o Estudo de Harmonia musical?
Ian Zargo: Depende de qual método específico. Deixo uma crítica a respeito de alguns materiais que circulam em muitos sites na internet. Esses artigos merecem atenção devido ao perigo do Ctrl (c) e Ctrl (v) presente nesses conteúdos, resultando em um material altamente frágil, devido à ausência de fontes para sua elaboração. Durante a garimpagem que realizei, para um guia de escalas musicais exclusivo para músicos, (método que desenvolvi evidenciando apenas escalas musicais), foi maravilhoso perceber, a quantidade de material disponível que nos é ofertado na internet, ao mesmo tempo, é preciso ter cautela para escolher um material confiável.
33) RM: Quais os métodos que você indica para o estudo de leitura à primeira vista?
Ian Zargo: Para as crianças indico: Métodos da Filosofia Suzuki; Ciranda das seis cordas Henrique Pinto; Violão Amigo, do mestre Turíbio Santos para demais faixas etárias, todas as obras citadas acima também podem ser utilizadas, visto que, a importância é o alinhamento do processo inicial para leitura da pauta musical, e todas as referidas obras citadas, contemplam essa iniciação, mesmo estando direcionada ao público infantil. Acrescentaria a obra clássica, do Henrique Pinto: Iniciação ao Violão; Livros como: BONA, Bohumil Med, Método de Abel Carvelaro, entre outros importantes auxiliadores no desenvolvimento da leitura do estudante, (independente da faixa etária).
34) RM: Como chegar ao nível de leitura à primeira vista?
Ian Zargo: Não sou um expert em leitura, mas procuro ser um leitor assíduo do discurso musical. Eu admiro as obras para violão repleta de ornamentos, os códigos e sinais do texto musical, ao meu ver, as considero como uma obra de arte. A leitura de pauta é um novo idioma que aprendemos, portanto requer treino. Eu indico aos meus alunos, a ouvirem a música com a obra escrita na pauta, em mãos. Importante que o aluno já tenha o conhecimento das notas das linhas e espaços, para realizar essa escuta acompanhada.
35) RM: Como você analisa a cobertura feita pela grande mídia do cenário musical brasileiro?
Ian Zargo: É uma cobertura singularizada regida pelo entretenimento apenas, infelizmente. A riqueza e pluralidade da música existente do Brasil, é pouco explorada.
36) RM: Qual a importância de espaço como SESC, Itaú Cultural, Caixa Cultural, Banco do Brasil Cultural para a música brasileira?
Ian Zargo: É um Importante espaço para artistas Brasileiros apresentarem suas obras.
37) RM: Apresente seu método de Violão.
Ian Zargo: Escrevi alguns livros que estão em processo de lançamento são eles: Vila Sonora (Aventuras musicadas); 10 estudos para Violão; “Sucintas” 07 peças brincantes para Violão Solo; As Escalas Musicais (Guia rápido para consulta).
38) RM: Fale sobre suas experiências.
Ian Zargo: Fui professor substituto do Musical Clube em Salvador – BA, de 2000 e 2001. Ministrei cursos e aulas de Violão em cidades baianas e mineiras como: Jacobina, Cruz das Almas, Cachoeira, Salvador, Belo Horizonte e Região Metropolitana. Sou ´professor de Viola Caipira: Oficinas, Workshops, Shows, Palestras. Professor de Harmonia e Improvisação: atuando no formato de direção de cursos paralelos de harmonia em Oficinas e Workshops. Trabalhos em Casa de Cultura de Cruz das Almas – BA: Projeto solidário. Fui professor de violão
de fevereiro de 2009 até dezembro 2010. Trabalhei na Escola Semifusa de Cruz das Almas – BA: Professor de Violão, Guitarra e Viola Caipira, Musicalização Infantil, de maio de 2011 a novembro de 2012. Trabalhei com Produção musical e Arranjos: MPB, Bossa Nova, Harmonia improvisação, Viola Caipira, em discos de vários artistas. Curso Livre de Música – CLM: Salvador – BA / Professor e Músico da Escola, entre setembro de 2010 e março 2011. Instrutor de musicalização em atividades educativas (Educação Integral) Contagem – MG.
39) RM: Quais os seus projetos futuros?
Ian Zargo: Desejo de verdade lançar discos que estão prontos, e todas as produções escritas. Em suma, fazer uma boa colheita desse material que foi elaborado nesses últimos anos em que venho contribuindo para a literatura violonística. No mais, desejo finalizar alguns projetos que estão em desenvolvimento, e fazer música, e trabalhar, pois, como um autêntico capricorniano, o trabalho para mim, é combustível para caminhada.
40) RM: Quais seus contatos para show e para os fãs?
Ian Zargo: [email protected]
| https://www.palcomp3.com.br/ianferreira
Instagram: https://www.instagram.com/ianzargo.mg
Facebook: https://web.facebook.com/ian.zargo
Canal: https://www.youtube.com/channel/UCe42ejGoeZu9wyfGD9GjcAA
Álbum – Uma Viagem Rio Acima (2012 -2013) – IAN ZARGO:
https://www.youtube.com/watch?v=poPUFNi3Law
Prelúdio No.5 Heitor Villa Lobos: https://www.youtube.com/watch?v=5VaErKb8_kM
Lamento Sertanejo – (Dominguinhos/Gilberto Gil) By: Ian Zargo (Classical Guitar): https://www.youtube.com/watch?v=MsBnAjQax28
Passarim: Antônio Carlos Jobim (1987) By: Ian Zargo: https://www.youtube.com/watch?v=eDA9wCrlYtM
https://www.youtube.com/watch?v=Iq2fvVsMjbo : 10 estudos temáticos para violão, compostos por mim entre 2020/2021. Espero que curtam, compartilhem:
Faixa 01: Estudo n.01 – “Tráfegos no Modo Lídio”
Faixa 02: Estudo n.02 – “Prelúdio em 04 Cordas”
Faixa 03: Estudo n.03 – “Arpeggios Diminutos”
Faixa 04: Estudo n.04 – “Passagens Dodecafônicas”
Faixa 05: Estudo n.05 – ” Partita em Fm”
Faixa 06: Estudo n.06 – “Allegro non Troopo”
Faixa 07: Estudo n.07 – ” Baião Hexafônico”
Faixa 08: Estudo n.08 – ” Adágio Moderato”
Faixa 09: Estudo n.09 – “Trajetos Cromáticos”
Faixa 10: Estudo n.10 – “Sendas do Modo Lócrio”